No Museu da Porsche fui
colocado numa mesa do restaurante (do térreo, péssimo) com um americano que
jamais tinha visto. É uma situação relativamente comum em qualquer país
civilizado onde o ponto de partida não é a desconfiança. Parte-se do princípio
que é uma sociedade, que todos vivem juntos nela em paz e harmonia. Há um
acordo social que está implícito em tudo.
Para entender, eu
normalmente me visto com certa simplicidade e discrição por razões de segurança
e para não ser descriminado aqui no Brasil. Como tenho cara de “alemão” ou “gringo”,
e o povo assim me chama. Se estiver melhor vestido também sou graduado a “elite”
e ou “mauricinho” e fico muito mais suscetível à violência generalizada. Esta
situação no Brasil vem piorando muito de uns tempos para cá, principalmente depois
que iniciaram a divisão do país entre coitadinhos e malvados exploradores. “Gringos”,
“elites”, “mauricinhos e patricinhas” viraram alvo. A bem dizer, a baderna hoje
é geral e todos são alvos, inclusive trabalhadores dentro de ônibus de
periferia. A violência está completamente generalizada. Bom, enfim... Eu me
visto com simplicidade, algumas vezes mal, por que tenho medo.
No último dia de
Amsterdam, ao tentar ajudar uns portugueses perdidos, fui educadamente rechaçado,
provavelmente por ter sido confundido com um junkie, ou seja pedinte ou
drogado. A princípio fiquei chocado com a reação da portuguesa, mas um pouco
depois caiu a ficha que minha vestimenta, calça cheia de bolso, pouco
agasalhado com um velho e simples suéter preto, roupa de último dia de viagem, mochila
velha nas costas, e ainda por cima desgrenhado, no escuro, fez lembrar um junkie.
Peço desculpas aos portugueses, mesmo não fazendo ideia de quem são. Se fosse
dia e eu tivesse oferecido a ajuda com menos ênfase não teria acontecido.
Voltando
à Holanda, em Harlenn, conversando com um holandês enquanto esperava o trem perguntei
se tinha filhos. “Duas meninas, de 11 e 14 anos”. “E é difícil ser pai de uma adolescente
aqui na Holanda?” “É muito fácil por que há uma ótima rede de proteção social muito
segura em torno das meninas adolescentes”, explicou. A conversa prosseguiu e
ficou claro que a “proteção social” dita por ele traz muito além do poder
público muito de um acordo social implícito e respeitado: segurança para todos,
manutenção da paz, e uma contínua construção de uma ordem coletiva.
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