Implantar
um sistema ciclo viário num traçado urbano pouco carregado e de trânsito muito tranquilo
é muito mais fácil do que na situação caótica que se encontram nossas cidades
hoje. Conflitos sociais têm reflexos diretos no trânsito e a situação piorou
muito depois da irresponsabilidade do IPI Zero.
Pensar
em sistema cicloviário é novidade e novidades dificilmente são aceitas como um
passar manteiga em pão quente. Em 2008, num dos muitos projetos cicloviários
apresentados para a Prefeitura de São Paulo, um bairro de classe média alta e
trânsito local restrito faria parte do caminho dos ciclistas, mas os
responsáveis pelo projeto receberam um simpático recado "Ciclista não vai
passar pelo nosso bairro"; e foi ponto final. Hoje ainda temos este tipo
de tensão, ou pressão, como queira, mas em uma escala muito menor e normalmente
contornável.
As
cidades brasileiras sempre conviveram com três situações distintas para a
questão da bicicleta: 1 - a dos trabalhadores ciclistas de periferia que são
praticamente invisíveis até para as autoridades, incluindo as de trânsito, por
que entram muito cedo no trabalho, portanto circulam fora do horário de pico; 2
- a massa dos ciclistas de fim de semana que pedalam por lazer ou esporte que
até pouco eram os socialmente mais visíveis; 3 - e a novidade dos ciclistas da
classe média que hoje chamam muito a atenção. Parece até que antes deles, abastados
que pedalam nos centros das cidades, nunca se usou bicicleta no Brasil, o que é
uma besteira sem tamanho. Para cada situação é preciso pensar o sistema
cicloviário de maneira particular, quase que específica, por que a
disponibilidade de espaço, densidade de trânsito, comportamento social e a qualidade
da bicicleta, dentre outros são também particulares, algumas vezes únicos.
Um
pecado comum é o projeto cicloviário ser montado no computador ou no papel, distante
da realidade, e ou fazer tudo no estrito da lei e normas técnicas. É crucial
entender qual é a população que vai ser atendida, onde ela pedala, como pedala,
para que usa a bicicleta, como é vista a bicicleta na localidade, quais as
particularidades de cada trecho e cruzamento, qual o ambiente e meio ambiente, e
principalmente ter inteligência para dar flexibilidade ao projeto. Ego e
inteligência arruínam qualquer coisa, principalmente a segurança. Para isto o
ideal é que quem esteja envolvido na construção do projeto tenha um mínimo conhecimento
geral sobre a cultura da bicicleta e do pedalar, dirija automóveis, e finalmente
seja realmente pedestre, do contrário saem umas ciclovias que até o mais
fanático cicloativista acha risível.
Creio que o maior
pecado que se faz hoje é pensar excessivamente na segurança do ciclista. Somos uma
sociedade focada na cultura do medo. Entrega-se terror para vender
mediocridades populistas. Fazer bem feito é enfrentar de frente os problemas,
mesmo que a princípio levem a algumas casualidades. A diferença para o populismo
é que no populismo as más notícias são censuradas.
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