domingo, 14 de setembro de 2014

Aeroporto

Não me lembro quando foi a primeira vez que fui pedalando a um aeroporto, mas tenho lembrança clara das várias vezes que o velho amigo Luís Fernando, o Tio Lú, nos levou para Congonhas, onde tomávamos café e íamos ver os aviões decolando e aterrissando. Era uma espécie de programa clássico. Tio Lú, que conhecia como poucos São Paulo e suas histórias, fazia de um programa piegas uma diversão consistente. Não me lembro de ter ido com ele ao Campo de Marte, o que talvez tenha acontecido, mas lembro a última vez que fomos os três, eu, ele e Teresa D’Aprile, até o Aeroporto de Guarulhos. Foi uma aventura incomum para a época, isto lá pelos idos de 1992. Chegamos, entramos com as bicicletas para o espanto geral, comemos algo nos divertindo vendo o povo passar, deixamos o sol baixar, começamos a volta parando na cabeceira da pista e voltamos pelo acostamento da rodovia Dutra até entrar em Vila Maria. Já era noite e terminamos numa deliciosa pizza na tradicional Cantina Castelões, no Brás. Com bucho cheio, duas cervejas na cabeça, os mais de 50 km rodados debaixo de sol forte, volta da pizza para casa é que foi duro.


Estou no aeroporto de Guarulhos. Vim de taxi olhando a vida ou o que resta de sua loucura pela janela. Demoramos quase uma hora para cruzar o centro da cidade e chegar na Marginal Tiete, onde o trânsito começou a andar. É inevitável fazer a comparação e até ali de bicicleta seria muitíssimo mais rápido. Não sei o que faria com a mala, mesmo assim preferia estar pedalando. Bicicleta nos deixa neuróticos. O taxista pegou a Dutra e seguiu rápido, mesmo assim deu para ver que em muitos pontos não existe mais acostamento, o que não permite mais fazer as molecagens que fizemos com o Lú. Naqueles tempos o único perigo de pedalar na Dutra era cruzar as alças de rodovia Fernão Dias, o que, se comparado com hoje, era muito menos perigoso que cruzar certas pontes do Tiete ou Pinheiros. Quando chegamos, uma hora e meia depois, cruzamos pelo bicicletário dos funcionários do aeroporto que fica na ponta do Terminal 1 e que vive lotado. Se tivesse vindo pedalando embarcaria agoniado por deixar a bicicleta parada no bicicletário, mas confesso que já desembarquei do avião com muita vontade de voltar pedalando para casa. Não dá. Já fiz isto em Congonhas, mas quando estava travando a bicicleta um funcionário do aeroporto me contou que estavam roubando todas, inclusive bicicletas mais simples dos funcionários. O jeito foi colocar a bicicleta no guarda volumes, quase o mesmo preço que ir de taxi. Não faz sentido. 

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