quarta-feira, 25 de junho de 2014

racha nos pedais

O ciclista dobrou a esquina e entrou na avenida uns 50 metros a frente. Está paramentado por completo; roupa de franga verde clara coladinha ao corpo, sapatilhas, meinhas e luvas pretas, capacete bem ventilado com aba, pedala montado numa híbrida de fibra de carbono e pneus 700/23; luz vermelha piscando. Eduardo vem pedalando pela avenida e vê o ciclista entrar a sua frente. Eduardo veste roupas normais, calça jeans, camiseta, tênis; pedala uma bicicleta básica, destas de supermercado, pequena para seu corpo. Vem rápido na volta para casa. Fim de dia.
A diferença entre as bicicletas é enorme, principalmente nos pneus. Quem pedala uma bicicleta básica com Levorin básico abiscoitado, pesados, borrachudos, grudentos, lentos. Eduardo olha o ciclista a frente, sente que dá para acompanhar e decide se divertir. Vai diminuindo aos poucos a diferença para a híbrida até chegar, cola a roda por um bom tempo e quando ultrapassa diz um boa noite não respondido, talvez desprezado, talvez sequer percebido; quem sabe? Não olha para trás e segue na sua cadência rápida, suave, vibrante dos pneus abiscoitados.

A resposta não tarda. O ciclista ultrapassa Eduardo, mantem-se por curto tempo no selim e logo sobe nas sapatilhas e dá um sprint. Esta aberta a brincadeira, está jogada a disputa. Eduardo vem de longe pedalando pesado, sabe que não tem forças e que um possível sprint com aqueles pneus vai ser inútil, perda de energia. Mas vê a frente o trânsito parado. Entende que o sprint do ciclista é inútil. Logo o ciclista senta e freia para passar entre os carros. Ponto contra. Eduardo, uns 10 metros atrás, ergue a cabeça, olha bem a frente com calma e vai por outro caminho. Ali, no meio do trânsito, as diferenças entre as bicicletas dão lugar a experiência do costurar. Momento de ir para frente. O sprint do outro ciclista não só foi um gasto inútil de energia, mas também uma perda crucial do tempo de olhar e estabelecer uma estratégia de onde ir, de qual o melhor caminho. Os dois correm praticamente lado a lado, paralelos entre os carros, o ciclista no meio da avenida, Eduardo entre os espelhos dos carros e o meio fio que raspa no pedal. O caminho do ciclista vai se fechando, ele vai diminuindo, e não resta outro caminho que virar a esquerda pela frente de um carro. Eduardo vê de relance por sobre a capota do carro a cabeça do ciclista girar e olhar Eduardo passa rápido raspando pela roda dianteira do ciclista. Eduardo segue em frente com uma grande vantagem olhando o semáforo a frente. Agora dá um Sprint na esperança que o sinal feche para o ciclista que deve estar vindo atrás. Eduardo nem olha para trás, põe suas forças nesta vantagem. Imagina que o erro de estratégia tenha custado uns 30 metros para o ciclista. Cruza o sinal e olha rapidamente para ver se entra o amarelo e o vermelho. Só vai olhar para trás caso entre rápido o vermelho e o trânsito nervoso siga em frente e feche o caminho do outro ciclista. Não acontece. O ciclista deve estar chegando, é inevitável que ele passe Eduardo, a diferença das bicicletas é muito grande. Acabou a brincadeira. Mas Eduardo segue pedalando muito forte na esperança do próximo congestionamento. Respira alongado para baixar o coração. Olha para trás e não vê mais o ciclista. A brincadeira acabou. Diminui o ritmo, relaxa e curte. Foi divertido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário