segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

café expresso e Serra do Cafezal

Café expresso com broinha de milho, receita moderna da política do café com leite. As broas mineiras são mais airosas e saborosas que esta aqui industrializada, mas o café mineiro, aguado, continua sendo um horror. Faz mais de 30 anos, não existia café expresso, pelo menos aqui no Brasil, e o café de coador, bem passado e forte, era bem saboreado. Tínhamos tempo e calma suficiente para parar na mesa de casa ou na padaria para ver o vapor subindo, sentir o aroma, olhar a broa crescendo no forno e conversar, conversar e pensar...
Um dia entramos, eu e tio Renato (Brandão), uma figura especial à beira do limite da normalidade, na padaria da rua principal de Cambuquira, Circuito das Águas e Sul de Minas, e demos no canto a direita com uma mesa cheia de fazendeiros conversando. Ao ver tio Renato chegar um deles foi logo chamando e perguntado: “Ô Renato, meu caro, o que você acha? Mantemos os cafezais ou mandamos tudo para o chão? Plantamos café novo outra coisa?”. Na época as fazendas de café da região produziam um café de baixa qualidade e cada dia menos rentável. Tio Renato era conhecido e tido com algum respeito na região por que havia começado uma granja modelo de porcos com procedimentos de qualidade desconhecidos então, o que assustava a mineirada cabocla tranquila ainda perdida no passado. A resposta, detalhista, típica de quem sabe que é socialmente chato, mas respeitado por ter boa informação, terminou com um “....Por tudo isto, derruba tudo e planta café da mais alta qualidade”.  A expressão de todos, mesmo os que até então não tinham levantado o rosto da mesa e xicara de café ralo e frio, foi forte, decisiva. Sei que tio Renato não foi a palavra final, mas também sei que dali, daquela mesa com os principais fazendeiros de café da região, incluindo da cidade vizinha Três Corações, teve origem o ótimo pó de café que acabou de fazer o delicioso expresso que acabo de tomar.
Na época ainda circulavam os últimos velhos, lentos, poluentes, barulhentos e muito fortes FNM (Fábrica Nacional de Motores), os primeiros caminhões nacionais, conhecidos como “fenemê”. O Brasil era outro, muito menor, infinitamente mais tranquilo, mais lento. Mesmo assim a Rodovia Regis Bittencourt já era um perigo e um problema, principalmente nas serras. Já se falava na sua duplicação, na necessidade de redução dos acidentes, na maior rapidez da viagem, na importância vital desta ligação rodoviária entre a Região Sul e a Sudeste, as propulsoras da economia nacional.
Nestes 40 anos a estrada foi recebendo alguns melhoramentos, mas a Serra do Cafezal continuou igual com todos seus problemas, desastres, estrangulamento de trânsito, lentidão... Principalmente por causa deste trecho a Regis é conhecida com “Estrada da Morte”. Foram inúmeras as razões para que o problema não tenha sido resolvido, principalmente a questão ambiental, mas o Brasil cresceu muito e junto com ele a importância estratégica da Regis. Só agora está sendo feito a duplicação da pista na Serra do Cafezal. Quando ficar pronta vai ser um imenso progresso, mas provavelmente a obra já vá ser entregue aquém da demanda... Mas não este não é o ponto.
Qualquer que tenha sido a razão, a Serra do Cafezal é prova inequívoca que vivemos num país que não tem futuro. Estes estúpidos 19 km devem ter representado uma perda para o país, portanto todos nós, quase imensurável em todos aspectos, do econômico ao ambiental, da erradicação da pobreza ao passo seguro para o futuro. A Serra do Cafezal é prova de nossa falta de inteligência e capacidade de realizar. Em 30 anos teria sido possível abrir tuneis a mão, com inchadas, pás e burros de carga. Ou, se houvesse menos indolência e desinteresse, teríamos pensado e realizado alguma solução. Nada, absolutamente nada, além de atraso e mortes, uma atrás da outra, sempre.

Ontem demorei 9 horas de Curitiba a São Paulo, sendo 3 horas para cruzar a Serra do Cafezal. Ou seja, numa mula teria sido mais rápido, menos custoso, mais eficiente. Dentro do confortável ônibus, vendo um filme colocado para acalmar ânimos, me senti mais uma vez envergonhado com meus silêncios. Como poderia ter lutado para que esta estupidez já tivesse sido resolvida? 

Um comentário:

  1. Olá Arturo!

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