Mas... e
gosto, o sabor, a qualidade da comida? Ao final das contas é o que realmente
vale. Ou não?
No primeiro comi um gnochi trufado, que se não me
engano custou R$ 46,00 o prato. Estava bom, servido (ou perdido) num lindo imenso
prato fundo decorado, mas horas mais tarde continuava me acompanhando. No
segundo um bacalhau, R$ 51,00, que não estava tão bom e horas depois também me
fazia companhia, não o bacalhau, mas o excesso de azeite. Tenho companhias
melhores para passar à tarde comigo, que além de tudo e felizmente não me doem
no bolso.
Restaurantes
como o quilo barato (R$ 25,00/quilo) da Sandra, do Estação Pinheiros, visinha de minha casa, tem vários
sabores maravilhosos, como por exemplo a salada de berinjela miudinha ou a
acelga com gengibre e pimentão picadinho; e o quilo do Gustavinho, República Gastronômica, um pouco
mais caro, mas também de excelente sabor geral, principalmente no dia “árabe”
(quinta-feira, creio), são bom exemplo que comer é uma coisa, pagar por
frescura é outra.
Saber cozinhar
para valer é um dom para poucos, bem poucos. Outros se tornam bons porque se
auto disciplinam e se auto educam para o bom sabor. Trabalham sua própria
sensibilidade. Entendem a importância de seguir passos, respeitar regras, dentre
elas saber degustar. O desenho animado Ratatouille descreve genialmente o que
digo.
O fato é
que boa parte destes chefes que ai estão servem os próprios egos. A cultura de
paladar que tem provavelmente é precária ou viciada. Quantos deles tiveram a
possibilidade de comer a comidinha caseira. Dos poucos que tiveram esta
oportunidade, quantas famílias tiveram acesso a ingredientes bons, a tranquilidade
para cozinhar, a tempo para servir bem, degustar em paz?
O pior
mesmo é o público que se sente feliz em ser enganado. Esta é o pior de toda
esta história.
Em Alachati,
no Mar Egeu, Turquia, provei um dos melhores restaurantes de minha vida. Quatro
mulheres simples tocam o negócio que tem zero de engana bobo. É uma porta numa
casa pequena, simples, com uma mesa grande no meio da sala onde ficam os mais
de 10 acompanhamentos para o carneiro ao alho e arlequim que fica no forno.
Pedi todos acompanhamentos, feitos de legumes e verdes, e comemos numa das
mesinhas na rua. Simplesmente prefeito. Suave, leve, com cada gosto bem
definido, misturas equilibradas, tempo de cozimento exato. Perfeito. Gostaria
de ter dinheiro para um dia voltar. Vale a pena. Como gostaria de voltar a
comer o ovo estalado do Salumeria Rose de NY (Amsterdam próximo à Broadway). Custa,
mas vale cada centavo. E tantos mais. Mas gastar dinheiro com estes pseudo
chefes daqui não dá, definitivamente não dá.
Numa das
vezes que fui para Buenos Aires em ônibus, no meio do nada da Província de
Entre Rios e perto da hora do almoço, o motorista parou no acostamento e
perguntou aos passageiros se queríamos desviar da rota para comer a melhor
milanesa da Argentina. Aceitamos e de fato comemos milanesas com salada colhida
no quintal (alface, rúcula, tomate e muita cebola, bem picados e temperados na
terrina) que estava divino. O motorista sumiu. Reapareceu com aquela cara
indisfarçável de quem tinha dado uma ótima trepada com a dona do pequeno
restaurante no meio do nada. Milanesas inesquecíveis!
Minha mãe,
que adorava cozinhar, estudava o assunto e criava pratos maravilhosos, fazia um
suflê de polenta perfeito que mesmo respeitados chefes não conseguem repetir.
Meu pai está aposentado e hoje se dedica aos maravilhosos jantares de
terça-feira. O bouef bourguignon dele, resultado de praticamente 24 horas de
forno e fogão, é insuperável aqui ou mesmo na França. Infelizmente nunca mais
vou comer a perfeita batata palha feita na hora na casa de tia Nene, a torta pasqualina
da querida Maria, as milanesas perfeitas com salada de Yaya, o almoço de Natal
dos deuses de Dona Marta Falzoni (mostarda de Cremona, creme de trufas,
talharins, pudim de alcachofras, mouse de chocolate amargo), o arroz seco e
solto, o feijão preto e a couve milimétrica suavemente passada no alho de
Mariazinha, os pasteizinhos de queijo delicados de (tia) Milão, o bolo de nozes
quebradas na hora de minha irmã, a geleia de mexerica do rio feita em família,
as sopas de resto de Silvia... Posso dizer que tenho uma boa base de cultura culinária.
Tõ rindo até agora da história do motorista argentino, comeu e não pagou ahahahahahah
ResponderExcluirUm belo texto. Aqui no Brasil gostamos de complicar o que não devia ser complicado.
ResponderExcluirComida é uma delas.
Estamos nos achando ricos e rasgando dinheiro. Não vai dar certo. Já vimos isto aqui no passado e eu vi na Argentina, durante as minhas férias. Argentina se destroçou e segue afundando aos pedaços. Pelo jeito vamos pelo mesmo caminho
ResponderExcluir