a quarta-feira à tarde fiz uma
gravação pedalando pela av. Domingos de Moraes e av. Paulista. O dia tinha uma
luz maravilhosa, mas com um ar pesado, desagradável, como costuma ser nestes
dias de inverno sem chuva. Na quinta-feira pela manha aproveitei que tinha
entregar um documento e cruzei correndo a pé duas vezes a mesma av. Paulista e
sua poluição. À tarde a garganta começou a pegar.
Sexta-feira virou comédia. Acordei
mal. Tratei de ficar quieto em casa, mas é lógico que a pia da cozinha entupiu,
é lógico que usei um desentupidor de pia, é lógico que numa das bombadas a água
desceu, mas não porque desentupiu, mas porque o cano do sifão, enferrujado,
estourou. Tira todas as panelas, controla o vazamento, e lá vou eu para a rua, já
com febre, procurar os reparos. É lógico que comprei errado, portanto de volta
ao sol.
E este texto começou ser criado.
Queria sentar no computador e escrever, mas sabe como fica cabeça de gripado;
parece que tem um balão de festinha de criança inflado a partir do centro do
cérebro, esmagando as letras nas bordas do crânio, que acabam deformadas, sem
sentido e continuação, muito parecidas com as de um anti-span. Viva o travesseiro,
a cama, o dormir. E sábado passou assim, um horror interminável. Tossi tanto que
até os cachorros da vizinhança reclamaram. Quantos dias vou ficar assim?
Domingo pela manha acordo me
sentindo melhor. Faz outro dia maravilhoso lá fora. A sombra das folhas da
palmeira se movimentam suavemente na luz da manha que bate na parede. Ainda estou
fraco, mas já consigo sorrir. Me sinto vivo e isto é muito bom.
Não foi só a poluição da av.
Paulista. Todo bairro onde está minha casa está em obras. Operação Faria Lima. Estão
construindo um terminal de ônibus para 26 linhas e 120 mil passageiros/dia
praticamente atrás de minha pequena casa. Praticamente todas as ruas do bairro estão
sendo refeitas para receber os ônibus, aterrar a fiação elétrica e melhorar as
calçadas. Virou praça de guerra. O tradicional bairro de pequenas casas de
classe média simples vai desaparecer rapidamente.
Praça de guerra! Aconteceu comigo e
meus vizinhos. Minha casa foi invadida três vezes enquanto eu estava fora. O
mesmo aconteceu com mais nove vizinhos. O interessante do fato é que no exato momento
que parou os furtos apareceram corretores querendo comprar os terrenos em nome
de uma grande construtora. Simples coincidência. Pelo menos não gera poluição.
Todos nós que vivemos aqui
desconhecemos o que será realmente feito com o bairro. Nós não interessamos,
estamos aqui por acidente, alguns de nós desde que isto era um brejo. Aconteceu
o mesmo quando colocaram abaixo o antigo traçado do bairro em volta do Largo da
Batata. Na época alguns diziam que o resultado humano com os antigos moradores foi
um desastre. Sempre é. Hoje sinto na pele.
Vi uma avenida ser reformada em
Miami. Me impressionou a ordem e limpeza do processo. A área de trabalho era
restrita e fora dela praticamente não havia vestígio. O gran finale foi que
numa única noite eles plantaram todo o canteiro central, inclusive com imensas
palmeiras. Coloca ai uns 500 metros; e não havia uma terrinha, uma poeira, um
nada que mostrasse que um dia antes aquele trecho estava em obras. Simplesmente
perfeito.
NY sempre tem alguma obra, com
alguma sujeira, sempre contida com algum funcionário varrendo e limpando. Em
Paris as obras são mais empoeiradas, sujas, mas bem mais preocupadas com
moradores e transeuntes do que aqui. Em qualquer lugar civilizado obra tem
começo, meio e fim, respeita que não tem nada com os trabalhos e,
principalmente, depois não acontecem remendos. Quanto mais civilizado, mais
rápida e imperceptível é a obra.
Empreiteiras brasileiras vivem
fazendo trabalhos lá fora e eu duvido que o padrão de qualidade seja o que se
aplica em nossas terras tupiniquins. Lá fora nunca vi uma obra abandonada no
meio dos trabalhos, coisa tão comum por aqui.
Fora do Brasil eu nunca senti areia
nos olhos.
A qualidade do ar que temos nas grandes cidades brasileiras é, no geral, muito ruim. Sei que o maior problema está nas partículas muito finas, diferentes da que uma obra gera. É lógico que a quantidade de poeira gerada por uma obra tão grande como esta aqui, da Operação Faria Lima, também faz mal a saúde. As duas situações mostram, mais uma vez, a ausência ou desinteresse do poder público com a saúde pública.
Quanto mais fina a partícula, mais
próxima do chão ela fica. Ciclista fica com a cabeça bem mais alta que a dos
motoristas, portanto respira um ar menos ruim. Não é melhor, é menos ruim
mesmo.
Eu não caio na balela que a
bicicleta vai melhorar o ar, como muitos sonham. O ar que respiramos é tão ruim
que demanda ações em várias frentes, principalmente por parte da sociedade civil
pressionando por seus direitos e saúde. Como isto não vai acontecer tão cedo,
espero que me desejem boa sorte até minha próxima inflamação de garganta. O
mesmo para vocês.
Boa sorte até la!
ResponderExcluirUso a bicicleta como meio de transporte e percebo algumas coisas que não percebia quando ia de carro ao trabalho, mesmo de moto algumas coisas não ficam tão visíveis.
Com a bicicleta sentimos diretamente a poluição dos carros, as imperfeições das ruas e infelizmente a estupidez humana.
Poluição e imperfeição das ruas é indiscutivel. Quanto a estupidez humana, acredito que sejamos todos humanos, com suas qualidades e defeitos. Das qualidades "acreditar" seja das mais salutares e seguras para enfrentar o trânsito. Sinalizar que acredita na boa vontade é um santo remédio para o pedalar em paz, longe da estupidez
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