Chega fim de
semana e é sempre igual: o pessoal pega a bicicleta e segue sempre pelos mesmos
caminhos, quando não pedala no mesmo parque, na mesma ciclovia, na mesma ciclo-faixa
de domingo, sempre a mesma coisa. Pode até ter alguma variação, mas a curiosidade
parece não fazer parte do programa. É uma situação estranha, principalmente em
cidades grandes. São Paulo, por exemplo, é de uma riqueza rara, com variáveis urbanas
e arquitetônicas difíceis de encontrar em outras cidades, mesmo assim parece
não despertar a atenção dos ciclistas e de toda a população. Infelizmente o
brasileiro parece ter perdido o interesse pela sua própria cidade.
Lembro do
primeiro passeio ciclístico noturno organizado em São Paulo e provavelmente
também o primeiro no Brasil. Renata Falzoni convidou umas 30 pessoas para o Night
Biker´s inaugural, isto em 1988 e nos encontramos na frente do Estádio do
Pacaembu. Lembro da cara espantada do pessoal quando foram avisados que iríamos
para o Centro. Simplesmente adoraram. Foi, para eles, a descoberta de um mundo
completamente novo, um dobrar o Cabo da Boa Esperança. Passado todos estes anos
a emoção continua ainda a mesma, nos mais variados roteiros, criados ou não a
esmo; centro, norte, leste, sul, oeste e seus quase intermináveis detalhes,
sempre uma descoberta. São Paulo é quase infinita. Infelizmente muito acabou desaparecendo
em nome do progresso, mas a aventura da curiosidade continua lá. Basta ir,
pedalar, dar-se o direito de ser livre e usufruir desta liberdade.
Neste domingo
fiz um roteiro novo. Mais de quatro décadas pedalando desnorteado e ainda posso
afirmar que fiz um roteiro novo. Fantástico! Bom, vamos lá: Pinheiros, Jardins,
Moema, Aeroporto de Congonhas e até aqui tudo relativamente conhecido.
Na cabeceira de Congonhas paramos na recém inaugurada ‘Praça Memorial 17 de Julho’, criada em homenagem às vítimas do acidente da TAM. Sensação estranha, principalmente porque o formato da praça diminui muito o barulho da movimentadíssima av. Washington Luiz que passa ali. A amoreira que sobreviveu ao inferno do acidente e que está no meio da praça é uma visão estranha e forte. O espaço é leve, principalmente pelas crianças ali brincando. E de quando em quando vem o barulho quase ensurdecedor de um avião que aterrissa ou decola.
Na cabeceira de Congonhas paramos na recém inaugurada ‘Praça Memorial 17 de Julho’, criada em homenagem às vítimas do acidente da TAM. Sensação estranha, principalmente porque o formato da praça diminui muito o barulho da movimentadíssima av. Washington Luiz que passa ali. A amoreira que sobreviveu ao inferno do acidente e que está no meio da praça é uma visão estranha e forte. O espaço é leve, principalmente pelas crianças ali brincando. E de quando em quando vem o barulho quase ensurdecedor de um avião que aterrissa ou decola.
E vamos em
frente. Jardim Petrópolis, Alto da Boa Vista, Chácara Flora. Mas aqui uma diferença:
nunca havia feito a subida da rua Visconde de Porto Seguro, partindo do Parque do Cordeiro, av. Vicente Rao. Via de
regra entramos no bairro pela av. Vereador José Diniz, subimos ao topo e
descemos rápido pela rua Porto Seguro. Duas visões e duas sensações do mesmo
local. No topo cruzamos a av. Washington Luiz para entrar no desconhecido e
descobrir mais uma dita av. Manuel dos Reis Araújo, que não passa de duas ruas sinuosas
e estreitas com largo canteiro central sombreado por árvores, cheia de
pedestres caminhando, um belo parque linear não oficial criado pela população. Sem
norte, me sentido perdido, busquei continuar descendo o morro. Dobramos a direita
- “deve ser para lá” - e passamos pelo Cemitério de Congonhas, pela portaria do
São Paulo Golf Club, e vimos a continuação da Marginal Pinheiros à frente. “Nos
achamos! Estamos em Jurubatuba. Ótimo!” Entramos na avenida paralela à marginal
sentido Barragem Billings. É um espanto como esta cidade muda. Toda aquela área
era até pouco industrial, agora está cheia de condomínios. E chegamos à entrada
da Ciclovia Pinheiros. Espanto, não há qualquer sinalização na av. Miguel Yunes
para auxiliar os ciclistas, que cruzam o trânsito onde podem ou acham
conveniente. Absurdo!
“O sol já está
quente”. Daqui para frente uma reta só de volta para casa. Pedalando na
Ciclovia Pinheiros fui me perguntando por que todo aquele povo não foge do
mesmo. Uma das respostas é segurança. Mal sabem eles que as ruas internas de
bairros, por onde sempre passamos, são tão ou mais seguras que pedalar em
ciclovias, ciclo-faixas de domingo e principalmente dentro de parques, que costumam
ter índices altos de acidentalidade e assaltos que nunca chega ao conhecimento
do grande público.
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