Agora estou escutando Joe Jackson - Summer in the City, Live in New York e a faixa Home Town me toca profundamente, como sempre. Estou numa fase diferente da minha forma de ouvir música. Durante muito tempo pela manha só ouvia música clássica, o que passasse pela frente, independente de estilo ou autor. Tenho algumas preferências, como óperas, alguns compositores; Wagner e seu Die Meistersinger - http://www.youtube.com/watch?v=OuKy1DIktYw&feature=related na ária do ato III onde ele coloca 5 vozes juntas num diálogo delicadíssimo; The Planets to Gustav Holst; os americanos Gershwin e Bernstein em seu maravilhoso West Side History original com a trupe que se apresentou na Broadway; o russo Musorsky com Quadros em uma Exibição musicado por Ravel ou com um pianista que leva a peça de maneira dura e agressiva; e outros tantos. Não me preocupo com nomes, nem os sei, mas com a sonoridade. No geral não gosto das composições dodecafônicas e dos experimentalismos modernos.
No final da manha vai bem uma pitada de jazz, principalmente a geração mais velha, bem sulista; as dixie; as maravilhosas black ladies; big bands; e até uma coisinha ou outra do acid, que para mim vai muito longe e não raro espana no pó. Mas é matinal e normalmente fico nas mais alegres e leves. A mistura depre e “é de manha” talvez só em música de fossa-nova.
O começo da tarde fica um pouco mais agitada, com tudo que veio pós anos 60, principalmente rock. Década de 70, principalmente nos seus primeiros anos, tem coisas geniais. Mais um pouco de anos 80 e 90, toca tudo numa batedeira, e som nas caixas. A tarde se vai, com paradas de silêncio total e café expresso, e de volta ao computador e as boas caixinhas JBL. Som de má qualidade é preferível o silêncio total. Som distorcido é para quem não sabe ouvir.
Já no meio da tarde entra a seleção mais pesada. Depois de muito tempo redescobri o Led Zeppeling através de um CD tributo, o Encomium, que tem algumas versões punks muito interessantes. Gostaria de ouvir novamente o Close to the edge do Yes tocado num show na Austrália quando o baixista substituto tem clara formação de heavy metal e dá uma cadência bem pesada e marcada à abertura. É de arrepiar. Ou o melhor disco ao vivo da história, o Live at leads do The Who. Tempest, Captain Beyond - http://www.youtube.com/watch?v=WFfzUdNjwQc , Montain principalmente o disco Nantucked Slayride, Dust, Free, Ten Years After - Good Morning Little School Girl. Ou coisinhas mais emocionais como Rare Earth ou Blood, sweat & tears, Bread, Carpenters, Paul McCartney, Beatles, etc... Enfim, passou pela frente ouvimos.
Santana Amigos, Michel Camilo, Sting, muito balanço quando o rufar do bumbo dos tambores do rock já cansou. Infelizmente no meu mezanino de trabalho não dá para sair dançando ou posso cair lá em baixo sobre os guidões das bicicletas. Seria uma alucinada e dolorosa sensação de ser carregado pela multidão de magrelas como fosse um pop star, um pseudo punk.
Alguns realmente são especiais. Tem disco que tenho que me fazer parar de ouvir. Van der Graff Generator Godbluff e Pilgrins é um dos casos. É muito denso, precisa educar o ouvido, e a maioria dos amigos demora para entender e acaba odiando, mas é obra prima. King Krinson vai pelo mesmo caminho. Infelizmente não ouvi nada da faze que eles tocavam com duas guitarras, dois baixos, e duas baterias, mas dizem que é inacreditável. Raul and King of Spain do Tears for Fears é outro caso, geralmente deixado para a espera de embarque nas viagens ou para quando o espírito quer arrebentar. Concert for George (Harrison) é fora de série tanto no CD como no DVD. E o fenômeno Susan Boyle que é completamente desconcertante. Já ouvi umas tantas dezenas de vezes sua versão para White Horses e toda vez simplesmente fico pasmo com a qualidade da voz e com o que acredito ser imaturidade de vida refletida na forma de cantar. Aprendi mais ouvindo ela do que em décadas de boa música. Ela consegue mudar completamente a personalidade da voz durante uma única música. Uma hora é uma cantora lírica, outra é uma jazz ladie, um pouco mais adiante passa para uma cantora pop ou de rock. Incrível! Em Cry Me a River ela canta como uma ladie, mas no único momento que tem que ter sofrimento amoroso vivenciado sua voz mostra imaturidade pessoal e até fragilidade musical. Ela não consegue resolver a questão porque não tem estofo. Fico me perguntando no que dará dentro de uns anos. Espero que um dia eu a ouça cantando bom tradicional jazz com uma pequena banda. Afinal, se Billie Holiday tem gravações onde escorrega feio e a banda muda sutilmente para não deixá-la no vazio, porque um fenômeno com um pouco mais de 1 ano de público não ser imatura?
Nunca mais ouvi alguns albuns dos quais sinto saudades, como o You Broke My Heart So I Busted Your Jaw do Spooky Tooth. Ou Rare Bird, que vendi e me arrependi amargamente. Gostaria de ouvir Flash novamente. E uma infinidade que nunca mais tive notícias. Parece que ainda há de tudo no Japão, mas são CDs muito caros e não é para meu bico.
É complicado escrever este texto porque as músicas vão passando pela cabeça como num jukebox. Amo música desde criança quando meu pai não deixava chegar perto do piano para não desafinar. Sobrou um ouvido bem educado ao som de amplificadores a válvulas, caixas de alta precisão, e infelizmente muito pouco piano tocado ao vivo.
Faz muito tempo que praticamente não ouço música brasileira. Estou desiludido com tudo que está acontecendo, com os rumos do país, e o que gosto me faz lembrar uma época que lutávamos para construir um pais de fato melhor, não este factóide que está ai. Gostaria de conseguir uma versão digital do disco “São Paulo” de Cezar Camargo Mariano, uma obra prima pouco conhecida. Deveria ouvir nossas obras primas todo dia. O que faço comigo mesmo é quase criminoso. Teria que deixar pulando a agulha de Luiz Gonzaga para Noel, Canhoto, Tom Jobim, um Lamartine Babo de leve para debochar da vida com o roubo da cueca, para um Egberto Gismonte Palhaço, Elis, João Bosco, Chico, o cada vez mais respeitado Caetano... Quanta coisa maravilhosa, mas difícil de ouvir nestes tempos de deslumbramento. A classe média vai ao paraíso, ou melhor diria, os pobres chegaram à 25 de março. Viva o pagode e o churrasquinho de gato!!! Samba is dead! Viva o samba! Se ouvir Ivan Lins Aos nossos filhos tenho um troço!
Infelizmente somos um povo que adora muito barulho. Dói no ouvido e n’alma. Mas o que não dá mais para agüentar é o som do complexo de inferioridade das malditas Ferraris e Harley- Davidsons. Pior que pagode e outros do gênero.
Nas ruas o que gosto mesmo é do silêncio. É com imenso prazer que pedalo uma bicicleta da qual só se pode ouvir o som das rodas encostando no asfalto e nada mais. Ouvir o som da natureza e vida que cerca as ruas, que não raro é complementado por cheiros de plantas ou de boa cozinha. Há uma espécie de palmeira cuja flor exala um cheiro doce que me lembra o maravilhoso Guarujá de minha infância. Há algumas casas, que dependendo da hora, me dão vontade de seqüestrar a cozinheira. Sopa com aipo, feijão sem cozido, vários churrascos, pão saindo do forno, pizza... Cheiros que se fortalecem no silencio. E flores, principalmente as damas da noite, que me fazem chegar em casa na paz de espírito preparatória para um bom sono.
E peço desculpas a todo som ou ruído agradável que aqui esqueci de citar. Ouvir é mágico
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