Agora estou escutando Joe Jackson - Summer in the City, Live in New York e a faixa Home Town me toca profundamente, como sempre. Estou numa fase diferente da minha forma de ouvir música. Durante muito tempo pela manha só ouvia música clássica, o que passasse pela frente, independente de estilo ou autor. Tenho algumas preferências, como óperas, alguns compositores; Wagner e seu Die Meistersinger - http://www.youtube.com/watch?v=OuKy1DIktYw&feature=related na ária do ato III onde ele coloca 5 vozes juntas num diálogo delicadíssimo; The Planets to Gustav Holst; os americanos Gershwin e Bernstein em seu maravilhoso West Side History original com a trupe que se apresentou na Broadway; o russo Musorsky com Quadros em uma Exibição musicado por Ravel ou com um pianista que leva a peça de maneira dura e agressiva; e outros tantos. Não me preocupo com nomes, nem os sei, mas com a sonoridade. No geral não gosto das composições dodecafônicas e dos experimentalismos modernos.
No final da manha vai bem uma pitada de jazz, principalmente a geração mais velha, bem sulista; as dixie; as maravilhosas black ladies; big bands; e até uma coisinha ou outra do acid, que para mim vai muito longe e não raro espana no pó. Mas é matinal e normalmente fico nas mais alegres e leves. A mistura depre e “é de manha” talvez só em música de fossa-nova.
O começo da tarde fica um pouco mais agitada, com tudo que veio pós anos 60, principalmente rock. Década de 70, principalmente nos seus primeiros anos, tem coisas geniais. Mais um pouco de anos 80 e 90, toca tudo numa batedeira, e som nas caixas. A tarde se vai, com paradas de silêncio total e café expresso, e de volta ao computador e as boas caixinhas JBL. Som de má qualidade é preferível o silêncio total. Som distorcido é para quem não sabe ouvir.
Já no meio da tarde entra a seleção mais pesada. Depois de muito tempo redescobri o Led Zeppeling através de um CD tributo, o Encomium, que tem algumas versões punks muito interessantes. Gostaria de ouvir novamente o Close to the edge do Yes tocado num show na Austrália quando o baixista substituto tem clara formação de heavy metal e dá uma cadência bem pesada e marcada à abertura. É de arrepiar. Ou o melhor disco ao vivo da história, o Live at leads do The Who. Tempest, Captain Beyond - http://www.youtube.com/watch?v=WFfzUdNjwQc , Montain principalmente o disco Nantucked Slayride, Dust, Free, Ten Years After - Good Morning Little School Girl. Ou coisinhas mais emocionais como Rare Earth ou Blood, sweat & tears, Bread, Carpenters, Paul McCartney, Beatles, etc... Enfim, passou pela frente ouvimos.
Santana Amigos, Michel Camilo, Sting, muito balanço quando o rufar do bumbo dos tambores do rock já cansou. Infelizmente no meu mezanino de trabalho não dá para sair dançando ou posso cair lá em baixo sobre os guidões das bicicletas. Seria uma alucinada e dolorosa sensação de ser carregado pela multidão de magrelas como fosse um pop star, um pseudo punk.
Alguns realmente são especiais. Tem disco que tenho que me fazer parar de ouvir. Van der Graff Generator Godbluff e Pilgrins é um dos casos. É muito denso, precisa educar o ouvido, e a maioria dos amigos demora para entender e acaba odiando, mas é obra prima. King Krinson vai pelo mesmo caminho. Infelizmente não ouvi nada da faze que eles tocavam com duas guitarras, dois baixos, e duas baterias, mas dizem que é inacreditável. Raul and King of Spain do Tears for Fears é outro caso, geralmente deixado para a espera de embarque nas viagens ou para quando o espírito quer arrebentar. Concert for George (Harrison) é fora de série tanto no CD como no DVD. E o fenômeno Susan Boyle que é completamente desconcertante. Já ouvi umas tantas dezenas de vezes sua versão para White Horses e toda vez simplesmente fico pasmo com a qualidade da voz e com o que acredito ser imaturidade de vida refletida na forma de cantar. Aprendi mais ouvindo ela do que em décadas de boa música. Ela consegue mudar completamente a personalidade da voz durante uma única música. Uma hora é uma cantora lírica, outra é uma jazz ladie, um pouco mais adiante passa para uma cantora pop ou de rock. Incrível! Em Cry Me a River ela canta como uma ladie, mas no único momento que tem que ter sofrimento amoroso vivenciado sua voz mostra imaturidade pessoal e até fragilidade musical. Ela não consegue resolver a questão porque não tem estofo. Fico me perguntando no que dará dentro de uns anos. Espero que um dia eu a ouça cantando bom tradicional jazz com uma pequena banda. Afinal, se Billie Holiday tem gravações onde escorrega feio e a banda muda sutilmente para não deixá-la no vazio, porque um fenômeno com um pouco mais de 1 ano de público não ser imatura?
Nunca mais ouvi alguns albuns dos quais sinto saudades, como o You Broke My Heart So I Busted Your Jaw do Spooky Tooth. Ou Rare Bird, que vendi e me arrependi amargamente. Gostaria de ouvir Flash novamente. E uma infinidade que nunca mais tive notícias. Parece que ainda há de tudo no Japão, mas são CDs muito caros e não é para meu bico.
É complicado escrever este texto porque as músicas vão passando pela cabeça como num jukebox. Amo música desde criança quando meu pai não deixava chegar perto do piano para não desafinar. Sobrou um ouvido bem educado ao som de amplificadores a válvulas, caixas de alta precisão, e infelizmente muito pouco piano tocado ao vivo.
Faz muito tempo que praticamente não ouço música brasileira. Estou desiludido com tudo que está acontecendo, com os rumos do país, e o que gosto me faz lembrar uma época que lutávamos para construir um pais de fato melhor, não este factóide que está ai. Gostaria de conseguir uma versão digital do disco “São Paulo” de Cezar Camargo Mariano, uma obra prima pouco conhecida. Deveria ouvir nossas obras primas todo dia. O que faço comigo mesmo é quase criminoso. Teria que deixar pulando a agulha de Luiz Gonzaga para Noel, Canhoto, Tom Jobim, um Lamartine Babo de leve para debochar da vida com o roubo da cueca, para um Egberto Gismonte Palhaço, Elis, João Bosco, Chico, o cada vez mais respeitado Caetano... Quanta coisa maravilhosa, mas difícil de ouvir nestes tempos de deslumbramento. A classe média vai ao paraíso, ou melhor diria, os pobres chegaram à 25 de março. Viva o pagode e o churrasquinho de gato!!! Samba is dead! Viva o samba! Se ouvir Ivan Lins Aos nossos filhos tenho um troço!
Infelizmente somos um povo que adora muito barulho. Dói no ouvido e n’alma. Mas o que não dá mais para agüentar é o som do complexo de inferioridade das malditas Ferraris e Harley- Davidsons. Pior que pagode e outros do gênero.
Nas ruas o que gosto mesmo é do silêncio. É com imenso prazer que pedalo uma bicicleta da qual só se pode ouvir o som das rodas encostando no asfalto e nada mais. Ouvir o som da natureza e vida que cerca as ruas, que não raro é complementado por cheiros de plantas ou de boa cozinha. Há uma espécie de palmeira cuja flor exala um cheiro doce que me lembra o maravilhoso Guarujá de minha infância. Há algumas casas, que dependendo da hora, me dão vontade de seqüestrar a cozinheira. Sopa com aipo, feijão sem cozido, vários churrascos, pão saindo do forno, pizza... Cheiros que se fortalecem no silencio. E flores, principalmente as damas da noite, que me fazem chegar em casa na paz de espírito preparatória para um bom sono.
E peço desculpas a todo som ou ruído agradável que aqui esqueci de citar. Ouvir é mágico
Arturo Alcorta, Escola de Bicicleta, sobre a vida, rodando um pouco por tudo
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Marketing ou estímulo ao transporte alternativo?
Ontem, dia 25 de Janeiro de 2010, aniversário de 465 anos da cidade de São Paulo, aconteceu o segundo São Paulo World Bike Tour, desta vez com 6 mil bicicletas, mil a mais que na primeira versão. Por sorte o céu abriu e as chuvas que por 34 dias castigavam os paulistanos deram trégua para o sol sorrir para os inscritos. Foi uma manha festiva, organizada, tranqüila, uniformizada quase em mono cor, que rapidamente passou pela Marginal Pinheiros, pista expressa, fechada e antes do meio dia o sonho já havia terminado. A massa saiu da Ponte Estaiada, que ainda chama atenção, mas já não é novidade, e fez 9 km até chegar na Cidade Universitária da USP, mais exatamente no fechado velódromo, que agora me veio à cabeça que creio ouvi dizer pelos alto falantes que estiva aberto aos participantes. Será? Se foi assim fez-se milagre.
A maior diferença entre os dois eventos foi dado pelas bicicletas, desta vez fabricadas aqui no Brasil pela Caloi, que fez um belo trabalho. Em comparação com a do primeiro evento é um grato salto de melhoria de qualidade. No primeiro São Paulo Bike Tour o que havia de ciclista que não conseguia sair, que ficou parado no meio do caminho tentando atarraxar o pedal ou sendo empurrado com ou sem pedal na mão foi uma brincadeira. A baixa qualidade da bicicleta começava nos adesivos que não colaram direito no quadro e garfo, passava por uma suspensão que não servia para nada além de agregar peso, em câmbios desajustados, em pedais largados às pencas no asfalto e terminava no desapontamento de um percentual alto dos participantes. O pedal foi o ponto baixo de todo pedal, broxante por assim dizer, porque eram dobráveis, mas fora de centro e sem firmeza. A bicicleta foi mais um produto de marketing vagabundo que um veículo usável. Talvez tenha sido uma das razões porque se viu tão poucas, ou quase nenhuma, circulando nas ruas.
Qualquer projeto de estímulo ao uso da bicicleta começa pela qualidade da própria bicicleta. Venho batendo nisto há quase 30 anos. A intenção do World Bike Tour é justamente estimular o uso da bicicleta como modo de transporte. A bicicleta deste ano tem boa qualidade e dá a sensação que a Caloi quis dar troco ao desaforo das importadas do ano passado. Quem ganhou nesta briga são os inscritos. Nada como concorrência. A qualidade das bicicletas fez que o evento alcançasse o perfil para o qual foi criado: ciclistas recebendo suas bicicletas e saindo de lá pedalando tranquilamente. Indústria nacional quando quer faz. O único ponto negativo da bicicleta 2010 está nos pneus, muitos desalinhados, e nas câmaras, muitas esvaziando muito rápido, mesmo sem furo; problemas comuns nos modelos básicos vendidos no Brasil. Triste situação que não muda e que faz muita diferença na construção do processo de introdução da bicicleta como modo de transporte, de estruturação de um mercado descente e etc... e tal.
O que chamou atenção foi a falta de entusiasmo do pessoal pedalando. Não entendi porque tantas caras tão sérias. “Faltou uma música, faltou bagunça” disse Teresa D’Aprile. Os participantes estavam felizes como alemães, suíços ou japoneses, não como efusivos brasileiros que somos. Estranho. No meio da Marginal havia um silêncio de vozes estranho e um silêncio de motores e neuróticos maravilhoso.
Para quem quis participar e não conseguiu se inscrever o evento foi um acontecimento que poderia ser mais receptivo. Quem foi até a largada se sentiu um pouco perdido porque lá na cabeceira da Ponte Estaiada, entrada para a marginal e o passeio, teve todo tipo de informação, desde que não seria permitido qualquer penetra até que os “pipocas” sairiam atrás do passeio escoltados pela PM. Na Marginal Pinheiros passou uma quantidade razoável de ciclistas pedalando pela esquerda da via. Outros, incluindo pais com crianças em cadeirinhas, ficaram na calçada olhando as bicicletas e os uniformizados e esperando a largada na calçada para cruzar a marginal e invadir o passeio, o que logo acabou acontecendo. Eu fiquei no sonho que haveria mais penetra que inscritos, o que definitivamente não aconteceu. Segundo me disseram a Folha de São Paulo deu como local de largada o Centro de São Paulo. Mesmo entendo a necessidade dos patrocinadores do evento de ter a massa homogênea e uniformizada para fins de mídia, me pergunto se não seria mais simpático se houvesse uma orientação para nós, os “outros”, os penetras? Fico imaginando quem deve ter definido o funcionamento do evento e o porque o descarte dos “outros”. Duvido que para patrocinador não seja muito interessante ter uma massa de “invejosos” (?!?) seguindo atrás da procissão. Duvido! Ainda vai acontecer e espero que esta seja bem recebida.
O que não deu para entender foi porque um pouco antes da Ponte Cidade Universitária até o retorno foi colocada uma barreira que restringia pela metade o espaço da marginal para os ciclistas. Aliás, ninguém entendeu, sequer o pessoal da própria Prefeitura. Ou não quiseram ou puderam responder. Quem imaginou esta divisão esqueceu mais uma vez de perguntar como se brinca de pedalar e em pouco tempo o espaço vazio foi completamente invadido. Ai começou a aparecer ciclista vindo de tudo quanto é lado, inclusive na contra-mão.
O passeio passou por baixo da Ponte Cidade Universitária, fez o retorno lá na frente e voltou na contra-mão da massa pela pista local para pegar a alça da ponte e cruzar o rio. Quem vinha atrás e longe do bloco abre alas geral do passeio não entendeu bem o que deveria fazer, onde deveria retornar, o que levou a que muitos pulassem o guard-rail para chegar na ponte. Foi o único ponto confuso do curto trajeto.
Depois de terminado o circuito os participantes foram dispensados para voltar para suas casas. Estavam todos felizes, mas havia no ar alguma coisa do tipo: receberam a bicicleta, pedalaram 10 km para chegar até aqui, já estão grandinhos, viraram ciclistas, a partir daqui vocês que se virem. A CET manteve a Ponte Cidade Universitária aberta para quem quisesse voltar, mas sem sinalização. O pessoal caia na Praça Panamericana completamente desorientado de como dali voltar para a Ponte Estaiada. Está ai dado um espaço em 2011 para a “bicicletada” prestar um bom serviço e ajudar os iguais. Vamos sinalizar a volta e formar grupos para serem acompanhados por “anjos”.
Creio que eu tenha participado de boa parte dos grandes passeios promovidos pela Prefeitura de São Paulo. Do primeiro Passeio da Primavera criado por Caio Pompeu, sei lá em que ano, creio que ainda na década de 70, até a sua divisão em vários passeios porque se tornou muito grande. Saía e chegava no Obelisco e em sua última edição ali os 17km de grades avenidas de três largas pistas transbordaram de ciclistas e quando os primeiros começaram a chegar os últimos sequer tinham tido espaço para largar. Até hoje ninguém se entende sobre quantos participaram daquele passeio, mas continua sendo o maior da história de São Paulo e assim permanecerá imbatível por muito tempo. No ano seguinte foi dividido em duas largadas dadas em pontos diferentes da cidade.
O que não gosto destes eventos é sua matemática: o sujeito nunca pedalou antes, pega uma bicicleta, sorri, adora, pedala o suficiente para a bunda desacostumada doer bastante, no dia mal consegue sentar, e por um bom tempo não querer ver a bicicleta, quando olha para ela sente insegurança de pedalar sozinho nas ruas, acaba sendo esquecida na garagem e só sairá às ruas no evento do ano que vem. Hoje talvez não seja bem assim, mas não está longe disto. Eventos deste tipo é como berçários para o ciclista: se não tiver alguém para superproteger ele não se arrisca.
Outro ponto é que tudo o que está sendo feito com a bicicleta em São Paulo é segregado e o povão adora. São Paulo World Bike Tour com trânsito fechado por umas horas. O mesmo na Ciclo Faixa de Domingo. A Ciclovia Marginal Pinheiros estará entre o rio e linha férrea e terá entrada meio que controlada. A Ciclovia Radial Leste é encostada num muro, não tem cruzamentos e é acessível em poucos locais. Tudo é segregado. Jardim Helena, que é uma área cercada pelo Rio Tiete de um lado, pela linha da CPTM do outro, será feito porque o número de ciclistas/dia é altíssimo, mas também é uma gleba urbana isolada, uma ilha. O que dói é que a população aceita marketing e propaganda pura como solução para a questão da bicicleta. Infelizmente o sonho ainda é a ciclovia. Estamos longe de ter pressão popular real no sentido da construção de uma cidade melhor. O que está sendo feito é o que é possível com a situação que temos hoje, mas não deixa de ser só purpurina.
São Paulo fez 456 anos. Para a bicicleta ainda estamos praticamente no ano zero. Nem sequer conseguimos o que foi dito que se faria para os 450 anos da cidade. Aliás, cá entre nós, o São Paulo 450 anos foi o primeiro golpe do PAC que o Brasil sofreu.
A maior diferença entre os dois eventos foi dado pelas bicicletas, desta vez fabricadas aqui no Brasil pela Caloi, que fez um belo trabalho. Em comparação com a do primeiro evento é um grato salto de melhoria de qualidade. No primeiro São Paulo Bike Tour o que havia de ciclista que não conseguia sair, que ficou parado no meio do caminho tentando atarraxar o pedal ou sendo empurrado com ou sem pedal na mão foi uma brincadeira. A baixa qualidade da bicicleta começava nos adesivos que não colaram direito no quadro e garfo, passava por uma suspensão que não servia para nada além de agregar peso, em câmbios desajustados, em pedais largados às pencas no asfalto e terminava no desapontamento de um percentual alto dos participantes. O pedal foi o ponto baixo de todo pedal, broxante por assim dizer, porque eram dobráveis, mas fora de centro e sem firmeza. A bicicleta foi mais um produto de marketing vagabundo que um veículo usável. Talvez tenha sido uma das razões porque se viu tão poucas, ou quase nenhuma, circulando nas ruas.
Qualquer projeto de estímulo ao uso da bicicleta começa pela qualidade da própria bicicleta. Venho batendo nisto há quase 30 anos. A intenção do World Bike Tour é justamente estimular o uso da bicicleta como modo de transporte. A bicicleta deste ano tem boa qualidade e dá a sensação que a Caloi quis dar troco ao desaforo das importadas do ano passado. Quem ganhou nesta briga são os inscritos. Nada como concorrência. A qualidade das bicicletas fez que o evento alcançasse o perfil para o qual foi criado: ciclistas recebendo suas bicicletas e saindo de lá pedalando tranquilamente. Indústria nacional quando quer faz. O único ponto negativo da bicicleta 2010 está nos pneus, muitos desalinhados, e nas câmaras, muitas esvaziando muito rápido, mesmo sem furo; problemas comuns nos modelos básicos vendidos no Brasil. Triste situação que não muda e que faz muita diferença na construção do processo de introdução da bicicleta como modo de transporte, de estruturação de um mercado descente e etc... e tal.
O que chamou atenção foi a falta de entusiasmo do pessoal pedalando. Não entendi porque tantas caras tão sérias. “Faltou uma música, faltou bagunça” disse Teresa D’Aprile. Os participantes estavam felizes como alemães, suíços ou japoneses, não como efusivos brasileiros que somos. Estranho. No meio da Marginal havia um silêncio de vozes estranho e um silêncio de motores e neuróticos maravilhoso.
Para quem quis participar e não conseguiu se inscrever o evento foi um acontecimento que poderia ser mais receptivo. Quem foi até a largada se sentiu um pouco perdido porque lá na cabeceira da Ponte Estaiada, entrada para a marginal e o passeio, teve todo tipo de informação, desde que não seria permitido qualquer penetra até que os “pipocas” sairiam atrás do passeio escoltados pela PM. Na Marginal Pinheiros passou uma quantidade razoável de ciclistas pedalando pela esquerda da via. Outros, incluindo pais com crianças em cadeirinhas, ficaram na calçada olhando as bicicletas e os uniformizados e esperando a largada na calçada para cruzar a marginal e invadir o passeio, o que logo acabou acontecendo. Eu fiquei no sonho que haveria mais penetra que inscritos, o que definitivamente não aconteceu. Segundo me disseram a Folha de São Paulo deu como local de largada o Centro de São Paulo. Mesmo entendo a necessidade dos patrocinadores do evento de ter a massa homogênea e uniformizada para fins de mídia, me pergunto se não seria mais simpático se houvesse uma orientação para nós, os “outros”, os penetras? Fico imaginando quem deve ter definido o funcionamento do evento e o porque o descarte dos “outros”. Duvido que para patrocinador não seja muito interessante ter uma massa de “invejosos” (?!?) seguindo atrás da procissão. Duvido! Ainda vai acontecer e espero que esta seja bem recebida.
O que não deu para entender foi porque um pouco antes da Ponte Cidade Universitária até o retorno foi colocada uma barreira que restringia pela metade o espaço da marginal para os ciclistas. Aliás, ninguém entendeu, sequer o pessoal da própria Prefeitura. Ou não quiseram ou puderam responder. Quem imaginou esta divisão esqueceu mais uma vez de perguntar como se brinca de pedalar e em pouco tempo o espaço vazio foi completamente invadido. Ai começou a aparecer ciclista vindo de tudo quanto é lado, inclusive na contra-mão.
O passeio passou por baixo da Ponte Cidade Universitária, fez o retorno lá na frente e voltou na contra-mão da massa pela pista local para pegar a alça da ponte e cruzar o rio. Quem vinha atrás e longe do bloco abre alas geral do passeio não entendeu bem o que deveria fazer, onde deveria retornar, o que levou a que muitos pulassem o guard-rail para chegar na ponte. Foi o único ponto confuso do curto trajeto.
Depois de terminado o circuito os participantes foram dispensados para voltar para suas casas. Estavam todos felizes, mas havia no ar alguma coisa do tipo: receberam a bicicleta, pedalaram 10 km para chegar até aqui, já estão grandinhos, viraram ciclistas, a partir daqui vocês que se virem. A CET manteve a Ponte Cidade Universitária aberta para quem quisesse voltar, mas sem sinalização. O pessoal caia na Praça Panamericana completamente desorientado de como dali voltar para a Ponte Estaiada. Está ai dado um espaço em 2011 para a “bicicletada” prestar um bom serviço e ajudar os iguais. Vamos sinalizar a volta e formar grupos para serem acompanhados por “anjos”.
Creio que eu tenha participado de boa parte dos grandes passeios promovidos pela Prefeitura de São Paulo. Do primeiro Passeio da Primavera criado por Caio Pompeu, sei lá em que ano, creio que ainda na década de 70, até a sua divisão em vários passeios porque se tornou muito grande. Saía e chegava no Obelisco e em sua última edição ali os 17km de grades avenidas de três largas pistas transbordaram de ciclistas e quando os primeiros começaram a chegar os últimos sequer tinham tido espaço para largar. Até hoje ninguém se entende sobre quantos participaram daquele passeio, mas continua sendo o maior da história de São Paulo e assim permanecerá imbatível por muito tempo. No ano seguinte foi dividido em duas largadas dadas em pontos diferentes da cidade.
O que não gosto destes eventos é sua matemática: o sujeito nunca pedalou antes, pega uma bicicleta, sorri, adora, pedala o suficiente para a bunda desacostumada doer bastante, no dia mal consegue sentar, e por um bom tempo não querer ver a bicicleta, quando olha para ela sente insegurança de pedalar sozinho nas ruas, acaba sendo esquecida na garagem e só sairá às ruas no evento do ano que vem. Hoje talvez não seja bem assim, mas não está longe disto. Eventos deste tipo é como berçários para o ciclista: se não tiver alguém para superproteger ele não se arrisca.
Outro ponto é que tudo o que está sendo feito com a bicicleta em São Paulo é segregado e o povão adora. São Paulo World Bike Tour com trânsito fechado por umas horas. O mesmo na Ciclo Faixa de Domingo. A Ciclovia Marginal Pinheiros estará entre o rio e linha férrea e terá entrada meio que controlada. A Ciclovia Radial Leste é encostada num muro, não tem cruzamentos e é acessível em poucos locais. Tudo é segregado. Jardim Helena, que é uma área cercada pelo Rio Tiete de um lado, pela linha da CPTM do outro, será feito porque o número de ciclistas/dia é altíssimo, mas também é uma gleba urbana isolada, uma ilha. O que dói é que a população aceita marketing e propaganda pura como solução para a questão da bicicleta. Infelizmente o sonho ainda é a ciclovia. Estamos longe de ter pressão popular real no sentido da construção de uma cidade melhor. O que está sendo feito é o que é possível com a situação que temos hoje, mas não deixa de ser só purpurina.
São Paulo fez 456 anos. Para a bicicleta ainda estamos praticamente no ano zero. Nem sequer conseguimos o que foi dito que se faria para os 450 anos da cidade. Aliás, cá entre nós, o São Paulo 450 anos foi o primeiro golpe do PAC que o Brasil sofreu.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Nova tomada PNDH
Mudaram o padrão das tomadas do Brasil - literalmente - e o que servia até 2009 não serve mais. Todos novos aparelhos domésticos agora têm um encaixe de tomada que não casa com nenhum outro padrão existente aqui e no mundo. Você é honesto, trabalha, paga impostos em dia, compra um eletrodoméstico e paga mais impostos, e simplesmente não pode ligá-lo porque uma mente brilhante mudou o padrão. E não se encontra adaptadores porque, segundo os locais procurados, está proibida venda de adaptadores. Não é genial? E se cortar a ponta do fio para mudar o padrão você perde a garantia. Deve ser o PNDH dos eletrodomésticos. Oh! tomadinha simbólica! Ninguém abre a boca para falar sobre a baderna, os descaminhos e a forma autoritária com que o Brasil está sendo levado. Já que a inacreditável violência diária, o aprofundamento do desajuste social e todas as barbáries políticas não tocam o povo, vai ver que a genial nova tomada trás consigo uma reação popular.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Chão e visão
É lógico que deveria ter mantido distância do carro à frente. Só senti o impacto impiedoso associado ao barulho seco da porrada no batente da suspensão. Minha coluna sentiu, minhas mãos adormeceram, mas continuei pedalando. Um urro maldizente ficou no ar. Encostei a mão no freio para ver qual o tamanho do estrago nos aros. Limpos, perfeitos. Ainda assustado e furioso agradeci minha sensatez de haver calibrado os pneus pela manha. Parei e olhei o alinhamento do quadro, passei delicadamente a ponta dos dedos nas soldas e no tubo inferior para ver se o quadro entortara. Limpo, nada, zero! Voltei a pedalar e soltei a mão do guidão e a bicicleta estava perfeitamente alinhada. Zerada, perfeita como sempre. Um pequeno raspar soava da roda dianteira. Parei, olhei, olhei, busquei uma deformação no aro, um corte no ótimo pneu. Nada. Voltei a pedalar e lá estava o suave raspar. “Calma meu caro, pense! O aro não desalinhou; o que resta?”. Pedalando e olhando vejo o sensor do ciclo-computador desalinhado. “Ótimo, já passou. Que tal curtir a sensação de estar inteiro e pedalar em paz de volta para casa?”. E assim segui.
Não muito longe dali, daquele outra cratera de minha vida de ciclista, não tive tanta sorte. Na época, final 1989, tinha minha velha JNA de guerra, pesada, primária, simplória, ultrapassada, mas eficiente. O apego por aquela menina era total. Juntos fizemos grandes corridas, vários pódios, muitos passeios, muita diversão. Havia saído do jantar de minha avó, a rua estava escura, havia chovido muito e aquela cratera abrira do dia para a noite. Não vi nada, simplesmente senti um baque, girei 180° no ar e cai de costas com ela perfeitamente encaixada entre minhas pernas, tênis nos firmas-pé, mão na manopla, guidão alinhado, dedos nos freios, como se estive pedalando de ponta cabeça. Foi uma fração de segundo e o peso e inércia da bicicleta a fizeram voar longe de meu corpo. Enquanto ela escorregava pelo asfalto um carro abriu a curva para desviar, seu motorista olhou para mim, passou pelos dois corpos estendidos no chão e seguiu em frente sem procurar saber o que havia restado daquilo. Dei um tempo para sentir o corpo e fui até a bicicleta. As rodas com seus indestrutíveis aros KKT estavam perfeitas, assim como garfo, mas o quadro havia trincado na solda do tubo inferior atrás da caixa de direção. Eu tinha uns poucos arranhões nas costas e braços e agradeci muito por não haver quebrado a coluna. O giro no ar foi tão perfeito que não encostei a cabeça no asfalto. Agradeço aos meus protetores. Subi na velha companheira comecei a pedalar. Ela funcionava bem, mas eu sabia que estava machucada. Uma das manoplas e os passadores de marchas estavam levemente arranhados e nada mais. Mas minha menina estava ferida. E eu tive um ataque de choro saído do fundo da alma, difícil até hoje de descrever, que durou sem parar quase uma hora seguida. Não chorei pelo susto, mas pelo absurdo de haver machucado minha menina. Ela não merecia. Poucas vezes na vida senti tamanha angústia.
O susto sem conseqüências desta tarde me fez recordar os chãos que tomei e as poucas bicicletas que perdi por acidente. Talvez a mais gozada tenha sido no Cruiser das Montanhas de Campos de Jordão, em 1988, evento genial montado pela Renata Falzoni. Foi um mês de trabalheira legal, prazerosa, com direito a dois dias de folga, quando saia o grupo completo para fazer um mountain bike de verdade - para a época e as precárias bicicletas de 5 marchas. Num destas folgas fomos levados para o topo da montanha mais alta da cidade, que é óbvio que não me lembro o nome, e de lá “descemos” para cidade. Num dos morros, cortado por uma estreita e inclinada trilha de pedestres e vacas ladeada por capim, decidi sair da trilha para ver se no capim o chão era mais regular. Elas por elas, mas segui desembestado e pulando no capim. A questão é que entre o fim da descida e o começo da subida do outro morro havia um capim mais alto, um pouco diferente, por onde achei que poderia passar. A bicicleta desapareceu e eu dei de peito no chão do outro lado do riacho. Bati seco, perdi momentaneamente a respiração, mas nada além disto. Cacei a bicicleta afundada no meio do riacho e de cara vi que a roda dianteira simplesmente havia entrado. Uma Cruiser a menos e muita gozação em cima de mim.
Não fosse a excelente qualidade da bicicleta que estava pedalando provavelmente hoje teria perdido mais um quadro ou o garfo. Minha velhice já vinha me cantando a bola para que deixasse de ser velhaco comigo mesmo e não ficasse tão próximo do veículo da frente. Não pedalo colado, no vácuo, mas pedalo próximo, dentro do limite de minha segurança de capacidade de frenagem, que é muito diferente da segurança visual. Há uma regrinha que funciona bem para a segurança de quem dirige carro que diz que a distância entre você e o carro da frente deve ser de dois segundos. Nesta distância normalmente dá para frear. Eu disse “normalmente”. O mesmo não vale para ciclistas porque um carro freia muito mais rápido que bicicleta. Pior, a maioria dos ciclistas provavelmente travaria o freio dianteiro e voaria para o chão, o que só piora a situação. Mas pior que isto é não ver o que passa entre as rodas do carro que vai a frente.
Não muito longe dali, daquele outra cratera de minha vida de ciclista, não tive tanta sorte. Na época, final 1989, tinha minha velha JNA de guerra, pesada, primária, simplória, ultrapassada, mas eficiente. O apego por aquela menina era total. Juntos fizemos grandes corridas, vários pódios, muitos passeios, muita diversão. Havia saído do jantar de minha avó, a rua estava escura, havia chovido muito e aquela cratera abrira do dia para a noite. Não vi nada, simplesmente senti um baque, girei 180° no ar e cai de costas com ela perfeitamente encaixada entre minhas pernas, tênis nos firmas-pé, mão na manopla, guidão alinhado, dedos nos freios, como se estive pedalando de ponta cabeça. Foi uma fração de segundo e o peso e inércia da bicicleta a fizeram voar longe de meu corpo. Enquanto ela escorregava pelo asfalto um carro abriu a curva para desviar, seu motorista olhou para mim, passou pelos dois corpos estendidos no chão e seguiu em frente sem procurar saber o que havia restado daquilo. Dei um tempo para sentir o corpo e fui até a bicicleta. As rodas com seus indestrutíveis aros KKT estavam perfeitas, assim como garfo, mas o quadro havia trincado na solda do tubo inferior atrás da caixa de direção. Eu tinha uns poucos arranhões nas costas e braços e agradeci muito por não haver quebrado a coluna. O giro no ar foi tão perfeito que não encostei a cabeça no asfalto. Agradeço aos meus protetores. Subi na velha companheira comecei a pedalar. Ela funcionava bem, mas eu sabia que estava machucada. Uma das manoplas e os passadores de marchas estavam levemente arranhados e nada mais. Mas minha menina estava ferida. E eu tive um ataque de choro saído do fundo da alma, difícil até hoje de descrever, que durou sem parar quase uma hora seguida. Não chorei pelo susto, mas pelo absurdo de haver machucado minha menina. Ela não merecia. Poucas vezes na vida senti tamanha angústia.
O susto sem conseqüências desta tarde me fez recordar os chãos que tomei e as poucas bicicletas que perdi por acidente. Talvez a mais gozada tenha sido no Cruiser das Montanhas de Campos de Jordão, em 1988, evento genial montado pela Renata Falzoni. Foi um mês de trabalheira legal, prazerosa, com direito a dois dias de folga, quando saia o grupo completo para fazer um mountain bike de verdade - para a época e as precárias bicicletas de 5 marchas. Num destas folgas fomos levados para o topo da montanha mais alta da cidade, que é óbvio que não me lembro o nome, e de lá “descemos” para cidade. Num dos morros, cortado por uma estreita e inclinada trilha de pedestres e vacas ladeada por capim, decidi sair da trilha para ver se no capim o chão era mais regular. Elas por elas, mas segui desembestado e pulando no capim. A questão é que entre o fim da descida e o começo da subida do outro morro havia um capim mais alto, um pouco diferente, por onde achei que poderia passar. A bicicleta desapareceu e eu dei de peito no chão do outro lado do riacho. Bati seco, perdi momentaneamente a respiração, mas nada além disto. Cacei a bicicleta afundada no meio do riacho e de cara vi que a roda dianteira simplesmente havia entrado. Uma Cruiser a menos e muita gozação em cima de mim.
Não fosse a excelente qualidade da bicicleta que estava pedalando provavelmente hoje teria perdido mais um quadro ou o garfo. Minha velhice já vinha me cantando a bola para que deixasse de ser velhaco comigo mesmo e não ficasse tão próximo do veículo da frente. Não pedalo colado, no vácuo, mas pedalo próximo, dentro do limite de minha segurança de capacidade de frenagem, que é muito diferente da segurança visual. Há uma regrinha que funciona bem para a segurança de quem dirige carro que diz que a distância entre você e o carro da frente deve ser de dois segundos. Nesta distância normalmente dá para frear. Eu disse “normalmente”. O mesmo não vale para ciclistas porque um carro freia muito mais rápido que bicicleta. Pior, a maioria dos ciclistas provavelmente travaria o freio dianteiro e voaria para o chão, o que só piora a situação. Mas pior que isto é não ver o que passa entre as rodas do carro que vai a frente.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Feliz Ano Novo
Junto à padaria do supermercado um senhor bem vestido em um terno sóbrio fala baixo no celular de costas para o balcão dos pães enquanto saboreia um pequeno iogurte. O funcionário por trás do balcão tira a máscara do rosto e tenta chamar a atenção do senhor, que indiferente segue tomando a garrafinha de iogurte até terminar tudo. Então gira um pouco o corpo a ponto de ver o balcão, e assim que o funcionário volta ao seu serviço e está distraído, o sóbrio senhor joga no lixo a garrafinha e vai embora. Termino minha compra e sigo para a caixa e lá está o senhor, tranqüilo, em caixa pagando outras coisas. O iogurte foi por conta da casa.
No mesmo local, uns dias depois, vejo um dos seguranças abrir a geladeira, pegar um isotônico qualquer e passar para trás do balcão de pães. Dá um tapinha nas costas e diz algo sinicamente simpático para uma das duas atendentes constrangidas, esconde meio corpo atrás de uma parede, toma rapidamente a bebida, joga no lixo a garrafa, fica de frente para o público, agradece as atendentes que tratam de permanecer insensíveis em seu trabalhos. No caixa vejo o mesmo segurança, cara de mau, preocupado com os possíveis ladrões do supermercado.
O sobrenome é de uma das famílias mais tradicionais da época de ouro do café. Tiveram dinheiro, educaram seus filhos, formaram excelentes profissionais, mas também são até hoje conhecidos como gente de soberba acentuada. São viajados, usam esta experiência para fazer pesadas críticas pessoais, sociais, e políticas a este país, que por eles teria ordem as custas de muito sangue e “prisão dos vagabundos”. Se sentem perfeitos, pelo menos se esforçam para sê-lo dentro de seus parâmetros, procurando sempre manter a estirpe. Na saída do velório discretamente um deles desembrulha uma bala, coloca-a na boca, amassa o papel e o joga no chão. A menos de 10 metros dali jaz quieta uma cesta de lixo boca aberta.
Ontem deram a notícia que de 20 em 20 minutos, 24 horas por dia, todos dias da semana, entra alguém na Delegacia do Guarujá para fazer ocorrência de roubo ou assalto. Vão para lá os casos mais pesados. Não aparece o pessoal que não faz ocorrência porque crê que não adiante nada. De um apartamento de frente para o mar em Pitangueiras sempre foi possível a qualquer um certificar-se que esta história é muito velha. Os garotos assaltam um atrás do outro sem que se faça nada. Virou banal como o bater das ondas do mar. Como será o retorno destes garotos a suas comunidades. Como ficará a feira do rolo nestas épocas de muitos turistas na cidade. Qual o impacto social que este ciclo tem nas vidas de tantos que vivem no lado pobre?
Qual é o tamanho da contravenção para ser considerada uma contravenção com conseqüências sociais relevantes? Pequenas infrações, roubos, assaltos, latrocínios são tão comuns que não faz mais diferença. O nível de distorção da sociedade brasileira é tão absurdo que ninguém é mais sensível ao descalabro. Todos temos alguma janela de vidro, só pode ser isto, porque ninguém se anima a tentar jogar a primeira pedra. Os que tentam fazer as coisas de maneira correta são estranhos ou trouxas. Quem denuncia é dedo-duro, traidor, mal visto até por quem é do bem. Isto por que há uma politização ridícula no meio da história. Dos dois lados, esquerda e direita. Denunciar é desmontar o próprio castelo social, em cima, em baixo, à direita, à esquerda, leste, oeste, norte, sul.
Qualquer país é feito de exemplos. Somos o país das esmolas, umas nas cuecas, gordas, algumas volumosamente impensáveis; outras feitas de uns trocados para calar a boca dos pobres de dinheiro e de conhecimento de história, e que vai inchar o bolo sem ter uma forma grande suficiente para não derramar a massa. Dos velhos aos novos coronéis a técnica é mesma de compra de votos.
Quem gosta de esmola não está preocupado com exemplos. “Tia, me dá um trocado?”. Deram. Esmoleiro depois de receber o seu quer que o resto se exploda. Exemplo? Para que?
Numa destas esmolas históricas, ou estratégia política, instruíram a criminalidade para melhor se organizar. Dos dois lados. Organizaram tão bem o crime que um rouba por baixo e outro por cima. Tem uma boa faixa que vive de migalhas e sorri em nome de uma pretensa utopia. Viva os inocentes úteis!!! No meio desta bandalheira fica gente de bem que no dia a dia constrói o Brasil de verdade, feito de trabalho, tijolo sobre tijolo. É este pessoal que faz os verdadeiros milagres brasileiros. É uma massa silenciosa, distante, cumpridora dos próprios deveres, mas ausente da coisa pública, do coletivo, omissa, e por isto mesmo também criminosa.
Como tratar os “bonzinhos” que estimularam os movimentos sociais a invadir os mananciais das represas Billings e Guarapiranga? Eu não acredito que foi movimento espontâneo porque há muita gente que diz que foi orquestrado, gente de várias correntes políticas, dos que são contra aos que acham lindo. Qual a conseqüência destas invasões para a vida dos visinhos, tão pobres quanto, que estão dentro da lei? Qual a conseqüência destas ilegalidades para toda a população da cidade? Então, devemos anistiar os maestros? E o pessoal que devastou em nome de condomínios ecológicos fechados? Então, vamos anistiar porque há um campo de golfe ou uma maravilhosa marinha? Qual o lado político que devemos anistiar? Quem é bonzinho nesta história?
Nunca vi qualquer usuário de droga ilícita ficar constrangido porque morreu alguém de bala perdida. Nem porque algum parente foi assaltado na esquina. O mesmo com quem compra pirata ou de procedência inexata. Feira do rolo total. E nossos bêbados de cada dia? Parece que as conseqüências de nossos pequenos atos não importa. O segurança é pago para garantir o negócio no qual ele pratica pequenos roubos. O abastado joga no chão o papel que não ele não ousaria jogar na Europa ou Estados Unidos. O assalto a coisa pública é pior quando é realizado pela direita ou pela esquerda? A fauna e flora vale o bife? Desliza o morro, mata famílias inteiras, e foi inesperado. O jardim pantanal assume seu nome e submerge os invasores; culpe-se então o rio, processem a natureza. Esmolados, ricos e pobres, não podem ser culpados.
A sádica desintegração nossa de cada dia está se aperfeiçoando e se torna mais suave. Nosso grande futuro provavelmente não sofrerá com pequenos ilícitos ou pela ausência do poder público. Mas não se preocupe, durma bem, até que se prove ao contrário nenhum cidadão deve para a coisa pública, portanto você não tem nada a ver com isto.
Feliz Ano Novo
No mesmo local, uns dias depois, vejo um dos seguranças abrir a geladeira, pegar um isotônico qualquer e passar para trás do balcão de pães. Dá um tapinha nas costas e diz algo sinicamente simpático para uma das duas atendentes constrangidas, esconde meio corpo atrás de uma parede, toma rapidamente a bebida, joga no lixo a garrafa, fica de frente para o público, agradece as atendentes que tratam de permanecer insensíveis em seu trabalhos. No caixa vejo o mesmo segurança, cara de mau, preocupado com os possíveis ladrões do supermercado.
O sobrenome é de uma das famílias mais tradicionais da época de ouro do café. Tiveram dinheiro, educaram seus filhos, formaram excelentes profissionais, mas também são até hoje conhecidos como gente de soberba acentuada. São viajados, usam esta experiência para fazer pesadas críticas pessoais, sociais, e políticas a este país, que por eles teria ordem as custas de muito sangue e “prisão dos vagabundos”. Se sentem perfeitos, pelo menos se esforçam para sê-lo dentro de seus parâmetros, procurando sempre manter a estirpe. Na saída do velório discretamente um deles desembrulha uma bala, coloca-a na boca, amassa o papel e o joga no chão. A menos de 10 metros dali jaz quieta uma cesta de lixo boca aberta.
Ontem deram a notícia que de 20 em 20 minutos, 24 horas por dia, todos dias da semana, entra alguém na Delegacia do Guarujá para fazer ocorrência de roubo ou assalto. Vão para lá os casos mais pesados. Não aparece o pessoal que não faz ocorrência porque crê que não adiante nada. De um apartamento de frente para o mar em Pitangueiras sempre foi possível a qualquer um certificar-se que esta história é muito velha. Os garotos assaltam um atrás do outro sem que se faça nada. Virou banal como o bater das ondas do mar. Como será o retorno destes garotos a suas comunidades. Como ficará a feira do rolo nestas épocas de muitos turistas na cidade. Qual o impacto social que este ciclo tem nas vidas de tantos que vivem no lado pobre?
Qual é o tamanho da contravenção para ser considerada uma contravenção com conseqüências sociais relevantes? Pequenas infrações, roubos, assaltos, latrocínios são tão comuns que não faz mais diferença. O nível de distorção da sociedade brasileira é tão absurdo que ninguém é mais sensível ao descalabro. Todos temos alguma janela de vidro, só pode ser isto, porque ninguém se anima a tentar jogar a primeira pedra. Os que tentam fazer as coisas de maneira correta são estranhos ou trouxas. Quem denuncia é dedo-duro, traidor, mal visto até por quem é do bem. Isto por que há uma politização ridícula no meio da história. Dos dois lados, esquerda e direita. Denunciar é desmontar o próprio castelo social, em cima, em baixo, à direita, à esquerda, leste, oeste, norte, sul.
Qualquer país é feito de exemplos. Somos o país das esmolas, umas nas cuecas, gordas, algumas volumosamente impensáveis; outras feitas de uns trocados para calar a boca dos pobres de dinheiro e de conhecimento de história, e que vai inchar o bolo sem ter uma forma grande suficiente para não derramar a massa. Dos velhos aos novos coronéis a técnica é mesma de compra de votos.
Quem gosta de esmola não está preocupado com exemplos. “Tia, me dá um trocado?”. Deram. Esmoleiro depois de receber o seu quer que o resto se exploda. Exemplo? Para que?
Numa destas esmolas históricas, ou estratégia política, instruíram a criminalidade para melhor se organizar. Dos dois lados. Organizaram tão bem o crime que um rouba por baixo e outro por cima. Tem uma boa faixa que vive de migalhas e sorri em nome de uma pretensa utopia. Viva os inocentes úteis!!! No meio desta bandalheira fica gente de bem que no dia a dia constrói o Brasil de verdade, feito de trabalho, tijolo sobre tijolo. É este pessoal que faz os verdadeiros milagres brasileiros. É uma massa silenciosa, distante, cumpridora dos próprios deveres, mas ausente da coisa pública, do coletivo, omissa, e por isto mesmo também criminosa.
Como tratar os “bonzinhos” que estimularam os movimentos sociais a invadir os mananciais das represas Billings e Guarapiranga? Eu não acredito que foi movimento espontâneo porque há muita gente que diz que foi orquestrado, gente de várias correntes políticas, dos que são contra aos que acham lindo. Qual a conseqüência destas invasões para a vida dos visinhos, tão pobres quanto, que estão dentro da lei? Qual a conseqüência destas ilegalidades para toda a população da cidade? Então, devemos anistiar os maestros? E o pessoal que devastou em nome de condomínios ecológicos fechados? Então, vamos anistiar porque há um campo de golfe ou uma maravilhosa marinha? Qual o lado político que devemos anistiar? Quem é bonzinho nesta história?
Nunca vi qualquer usuário de droga ilícita ficar constrangido porque morreu alguém de bala perdida. Nem porque algum parente foi assaltado na esquina. O mesmo com quem compra pirata ou de procedência inexata. Feira do rolo total. E nossos bêbados de cada dia? Parece que as conseqüências de nossos pequenos atos não importa. O segurança é pago para garantir o negócio no qual ele pratica pequenos roubos. O abastado joga no chão o papel que não ele não ousaria jogar na Europa ou Estados Unidos. O assalto a coisa pública é pior quando é realizado pela direita ou pela esquerda? A fauna e flora vale o bife? Desliza o morro, mata famílias inteiras, e foi inesperado. O jardim pantanal assume seu nome e submerge os invasores; culpe-se então o rio, processem a natureza. Esmolados, ricos e pobres, não podem ser culpados.
A sádica desintegração nossa de cada dia está se aperfeiçoando e se torna mais suave. Nosso grande futuro provavelmente não sofrerá com pequenos ilícitos ou pela ausência do poder público. Mas não se preocupe, durma bem, até que se prove ao contrário nenhum cidadão deve para a coisa pública, portanto você não tem nada a ver com isto.
Feliz Ano Novo
Assinar:
Postagens (Atom)