Amanheceu um dia bonito e sem nuvens. Ótimo, vou lavar roupas. E não fosse uma olhada no celular, eu teria lavado. A previsão era que a partir das 9h30 haveria possibilidade de tempestades. Mudei meu plano, peguei a bicicleta e fui fazer o que precisava com ela antes da chuva. Entrei na ciclovia do rio, onde se tem uma visão ampla do horizonte, e havia uma outra outra nuvem, nada especial. Busquei uns papéis com uma amiga, uns 7 km sul de casa, falei sobre a previsão e ela me disse para me apressar porque seu filho, com acabara de falar e que estava a uns 15 km mais ao sul, lá por Interlagos, disse que o tempo estava fechando muito rápido e que vinha tempestade.
Consegui terminar o que precisava fazer, voltei para casa com o céu mais nublado, mas ainda sem cara de tempestade. Almocei, sai de dentro da casa, olhei as nuvens, e aí estava com cara de chuva, nada demais. Pouco depois caiu uma tempestade que me assustou, não pela intensidade, que já vi piores, mas pelo barulho forte, como se tivesse um jato comercial parado sobre minha casa. O corredor encheu de água, meu tonel de 220 litros que capta água do telhado demorou menos de 10 minutos para transbordar, muita água!
O celular não parou de dar alertas sobre tempestade. Pelo aplicativo deveria ter tido mais uma outra tempestade, que não veio, pelo menos aqui. Liguei para amigos para saber como estava a tempestade por lá, um a 4 km sul, o outro 4 km norte. Os dois responderam que estava forte, mas nada excepcional. Caiu só aqui. E nas represas? Isto que interessava. Não sei.
Jantando acabei assistindo mais uma vez este The Future com Hanna Fry sobre a crise mundial da água e as possíveis soluções. Coisa séria para pensar.
São Paulo mais uma vez entrou numa crise hídrica. Quando ainda não tínhamos o problema de falta de água na magnitude que estamos tendo, muito tempo atrás, um dos maiores especialistas em recursos hídricos deu uma entrevista declarando que São Paulo era uma das cidades mais secas do mundo, mesmo estando assentada sobre uma vasta rede de rios e corregos. E explicou com uma conta simples: número de habitantes X consumo médio : pela disponibilidade de água. Muita gente, pouca água. Estou falando de uma entrevista dada faz algumas décadas. Ninguém levou a sério, como de praxe.
O cálculo hoje leva em consideração mais fatores, como distância de captação, sistemas interligados, mesmo assim o resultado continua sendo o mesmo, ou pior. O índice de perda melhorou um pouco, mas ainda é altíssimo para os padrões internacionais. A conta não fecha, temos uma crise hídrica, mas quem se importa?
A baderna urbana que estamos vivendo, construção imobiliária desregrada e desenfreada, ainda não entrou nos cálculos, ninguém sabe, ninguém viu, mas estejam certos que vai entrar, e não vai ser por aumento ou concentração populacional, mas pela visível interferência ambiental que até cego vê. Interferência ambiental no solo, aérea e subterrânea; ou, de drenagem, ventos e pontos de calor, e fluidez das águas subterrâneas e lençol freático. Meus termos podem estar incorretos, mas dá para entender o que estou falando, e aí sei sobre o que se trata.
Tivemos que nos mudar da casa de minha infância, em 1966, porque o terreno secou e a casa começou a afundar, o que é mais comum nesta cidade do que possa crer. Agora moro numa casinha próxima do rio Pinheiros, em terreno de turfa. Construíram um edifício nos fundos, entre a casinha e o rio, o que mudou a fluidez das águas subterrâneas. Resultado? A casa se movimenta muito, a ponto de portas abrirem ou não dependendo do tempo estar seco ou chuvoso.
Não faz muito estive na casa de amigos que vivem na Represa de Guarapiranga. Todos afirmam que a represa não é a mesma faz muito, que o nível da água é muito mais baixo. Na última crise hídrica passei por várias represas e o que vi foi assustador. Novamente vivemos a mesma situação, basta ter um mínimo de interesse e acompanhar o nível das represas pelo aplicativo. Mesmo as autoridades não tendo declarado emergência hídrica, saber que temos só 20% de água é assustador. Quem se importa?
Há desinteresses que são próximos ao suicídio a prestação. Um deles, talvez o mais gritante, é a questão hídrica. Água! Sem ela não há vida,simples assim. Parece que nós, brasileiros, ainda não nos demos conta do tamanho do problema. Quem se dá conta age, e não agimos, não tomamos providências. Reclamar da falta de água definitivamente não serve para nada. Soluções há, são conhecidas, são multi disciplinares, basta começar a agir. Mas falar o que, se até quando se abre uma rua para consertar um vazamento todos gritam contra?
https://youtu.be/FDY2McKLvlM?si=fdbViUEhvIWk8puQ