quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

O julgamento do atropelamento da Marina Harkot

Estou no grupo da Bicicletada no WhatsApp. Estou orgulhoso deles. Tiveram o estômago de ir ao fórum acompanhar o julgamento do atropelador, coisa que definitivamente não tenho. Já fui atrás de B.O. de acidente que vitimou conhecidos, amigos, e outros, o que não é muito fácil de encarar. Por aí descobri que alguns acidentes a dita vítima tinha sido o causador de sua própria morte. Descobrir a causa real, ouvir depoimentos pesados, até ver fotos, consigo encarar. Julgamento, definitivamente não, principalmente com nossa baderna legal, precariedade na perícia e do trabalho legista, e ignorância geral sobre segurança viária, o que me revira o mais fundo de minhas dores e raivas.
No Brasil morre se as pencas por achismo, que começa e termina nas autoridades e no sistema legal que os suporta. Educação?

Conheci Marina um pouco antes de seu atropelamento fatal. Era uma jovem brilhante, destas que um país não pode se dar ao luxo de perder. 

O que li no WhatsApp Bicicletada sobre o andamento do julgamento é... A defesa do motorista usou tudo o que podia, não podia e não deveria para passar a culpa do atropelador para a vítima atropelada, inclusive argumentos que não encontram respaldo na lei, capacete em particular. Não li uma palavra sobre o juiz dizer "menos" para o advogadoda defesa, o que nem sei se pela lei processual brasileira é permitido. Com o nível educacional que temos provavelmente baboseira deve ser tomada como licença poética mesmo num julgamento, imagino eu.

Marina estava fora da ciclovia por medo de ser assaltada. Responsabilidade do poder público. Segundo a defesa a responsabilidade do acidente é dela. 

Hoje, estive numa bicicletaria e lá, com o dono e uma ciclista semi profissional, veio a conversa sobre medo de pedalar nas ciclovias e ciclofaixas. Conheço vários ciclistas para valer e profissionais que têm pânico de pedalar no sistema cicloviário que temos, pelas mais diversas razões. Vão pela rua, exatamente como fazia Marina.
Nenhum cidadão é obrigado a expor-se ao perigo por erro ou ausência do poder público. 

O motorista estava a 92 km/h em uma via, e cidade, onde o limite é de 50 km/h. Falta gravíssima pelo CTB. Ponto final, ou inicial.
Pelos noticiários soube que há indícios claros que ele havia bebido, falta gravíssima pelo CTB. 
Falta gravíssima pelo CTB? O que significa na prática? Alguém aí pode explicar?

Falando nisto, como estão os processos dos motoristas dos Porches? 

Não faço ideia no que vai dar este julgamento. Tenho muitas razões para acreditar que pode ser mais um no qual a vitima sai mais vitima ainda, ou até culpada. 
Ou que a defesa do réu use recursos mais recursos mais recursos mais recursos e ou saia limpo por tempo corrido ou amenize tudo pela mesma razão. 

O julgamento desta mais outra morte violenta começa passados 4 anos, o que só ajuda o réu. E, tendo em vista o que normalmente acontece, 4 anos é pouco, começou cedo. 

Fato é que morre se as pencas. Quem se interessa? Só quando é um dos seus. De resto, como dantes no quartel d'Abrantes.

PS.: minha crítica às perícias e legistas vai à precária condição de trabalho que eles têm, não aos profissionais, os quais não tenho dados para julgar. Mas, perícia aparecer horas depois, ou laudo dos legistas demorar, com frequência é noticiado, é uma prova de precariedade. Aliás, nem precisa ir tão longe. Deixar precário parece ser uma estratégia de certas certezas se transformarão em nãotãocertezas, principalmente as que vão em benefício de alguns.

A lei, ora a lei!


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