quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Reportagem JN sobre gasto de energia com IA

O que é uma internet? Todo brasileiro bem ou mau sabe responder. Agora, o que deveria ser uma internet, esta é uma pergunta que não sei quantos sabem responder. O que temos como internet pode ser considerada uma internet digna de um dos países mais ricos, portanto  mais adiantados do planeta, como o Brasil, a 11º economia?


Em 2007 o I-ce, Interface for Cycling Expertise, ONG holandesa, levou um grupo de brasileiros para participar do Velo City, o mais importante congresso sobre segurança no trânsito de ciclistas, realizado então em Munich. De lá fomos levados para conhecer o que se faz pela bicicleta, leia-se pela cidade, na Holanda. Foram dias memoráveis, principalmente meu primeiro contato com Internet holandesa no hotel (maravilhoso) de Utrech.
No mesanino estavam os computadores para os hóspedes. Zé Lobo foi o primeiro a sentar e abrir. Deu um sorriso enigmático e trabalhou. Vagou o computador ao lado, lá fui eu, sentei na banqueta alta, digitei o endereço e a coisa abriu tão rápido que tomei um susto e quase cai para trás. Zé Lobo tirou um sarro, perguntou se eu tinha gostado e seguiu trabalhando.
Nas viagens posteriores que fiz para Europa e Estados Unidos descobri que a internet que tínhamos (e continuamos a ter) aqui no Brasil está mais para carro de boi, nem carroça é. Melhorou muito, mesmo assim é obsoleta, falha, lenta, não raro dá pau...


O JN, Jornal Nacional, colocou no ar a matéria "Inteligência artificial: tecnologia demanda geração colossal de energia elétrica" (24/01/2025; 21h07). O resumo da ópera é que o mostro que suporta a internet instalado em Barueri tem o gasto de energia correspondente a uma Brasília, Capital Federal. E no Rio Grande do Sul estão construindo uma nova que consumirá 10 vezes o consumo de Brasília, simples assim.
Tendo dito isto, tenho a dizer: nossa! que maravilha! temos postes, tudo está pendurado em postes! Brilhante!

Só lembrando, Brasil é o 11º PIB do planeta. Até quando? Se a dependência de internet, mundo digital e inteligência artificial cresce numa velocidade que assusta até quem trabalha com o assunto, como ficamos? Empostados? Emaranhados? 
Viva o poste! 
OK, provavelmente todo sistema de alimentação e distribuição destas estações deve ser subterrâneo, mas dali em diante...

O que foi aproveitado do esforço dos holandeses em mostrar quais são os caminhos para ter cidades mais humanas? Com eles, especialistas em transformações para uma vida de qualidade alta, aprendemos que as mudanças visam as cidades e todos, não especificamente os ciclistas. Bicicleta é um instrumento. Em outras palavras, não só sobre quantos km de ciclovias, como se quer aqui. O que aprendemos com eles? Sei lá, mas a gritaria é por quantos mais quilômetros melhor. Será? O resto que se dane?

Mais ou menos na mesma época a Sabesp lançou o Projeto Córrego Limpo. Com apoio da Prefeitura de São Paulo, o esgoto clandestino tinha fim, as margens eram tratadas, e em vários córregos foi realizada uma reurbanização com criação de parques lineares. O primeiro que vi na TV foi o córrego São José, na Guarapiranga. Logo fui atrás e fiquei maravilhado com o projeto, que óbvio foi jogado numa gaveta com a mudança de administração e partido político.  

Lá, na Holanda, a internet funciona porque todo sistema que a suporta funciona. Em outras palavras, não cai a energia, nem os cabos de fibra ótica correm o risco de serem cortados por um caminhão caçamba, a cidade não gera tensões sociais desnecessárias e os roubos de cabos não acontecem, o número de problemas urbanos diminuem o que faz com que as autoridades possam se preocupar com o que realmente faz diferença...
Postes? A bem da verdade não me lembro, o que por si já é uma maravilha visual. 

O número de acidentes fatais que temos é altíssimo para um país dito civilizado. Peço aos caríssimos leitores que a próxima vez que forem caminhar reparem que postes alinhados forma uma barreira visual para o trânsito que passa. Peço também que olhem com atenção para cima, para o céu. Será normal ver o azul do dia picotado por fios para tudo quanto é lado? Peço, por favor, que nas esquinas contem quantos postes tem, os de sinalização, de fiação elétrica e internet, e outros que sempre existem. Quando eu fazia o Bike Repórter da Rádio Eldorado FM, contei ao vivo na esquina da av. Faria Lima com a Al. Gabriel Monteiro da Silva exatos 29 postes. Fiz o mesmo com outras esquinas. Moral da história: fui literalmente ameaçado de morte sei lá por quem.

A quem interessa os postes? Por que não se aterra tudo, ou pelo menos o que mais importa? 

Se você tiver a pachorra de conversar com o pessoal de manutenção das prestadoras de serviço vai ouvir que muitos dos fios pendurados ninguém faz ideia de quem são. Foram esticados lá em cima, usados, e quando trocados por novos muitos simplesmente foram largados onde estavam. Mais, uma boa parte não tem sequer autorização para estar instalado onde está. Enfim, uma baderna.
O que isto tem a ver com enterrar a fiação? Tudo. A possibilidade de acabar na justiça é grande, e parou lá esquece.

Estive com dois cardeias da CET SP e um deles disse que finalmente os mapas das consecionárias está sendo entregues a Prefeitura e cruzados. E outras palavras, é possível que venhamos a ter mapas de subsolo que sejam confiáveis, o que ainda não tínhamos, ou não temos, sabe-se lá.
O que isto tudo tem a ver com as centrais de internet e inteligência artificial? Mais ou menos a mesma coisa que ter um Porche, Ferrari ou um treco do gênero e só poder sair nos fins de semana escolhendo ruas menos esburacadas que não quebrem o fundo ou a frente dos carros. 
Ou o Brasil embarca de vez na era digital, o que não fizemos até agora, ou...

Nossa que maravilha, IA! É mesmo? E o resto, como fica? 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

São Paulo, cidade: o último que sair apaga a luz

Segundo pesquisa da Nova São Paulo, divulgada na Rádio Eldorado FM, 62% dos paulistanos se pudessem sairiam da cidade. Razões não faltam.
Depois das chuvas torrenciais, eu também, a remo.


"
São Paulo não pode parar", puta besteira! Besteira em vários sentidos, sendo o mais claro, o que está acontecendo já faz um tempo, verdade inegável: quando São Paulo não está quase parada (pelo trânsito), ela está completamente parada (pelas enchentes). Tem solução? 
Tem solução, óbvio que tem solução, mas alguém se interessa? Quem quer?

Nós nos acostumamos com o ruim. 

Ontem estive num evento com dois dos cardeais da CET, senhores que trabalharam praticamente toda a vida na empresa, conhecem o recado de ponta cabeça e de trás para frente, e estão lá, aposentados, porque gostam e porque o atual presidente da empresa pediu que ficassem. Por que? Simples, porque eles têm experiência, conhecimento e sabem o que se tem que fazer. E porque a nova geração, afirmo eu, não tem km rodados (na vida), cultura e experiência para tocar aquilo tudo para frente. Claro que tem gente boa, que é bem capaz, mas falta km, como disse o cardeal. Um outro que estava na conversa contou que as novas gerações assistem aulas ou fazem reuniões com um olho na aprovação ou no salário e outro no celular, muito mais prático e atual que um olho no peixe e outro no gato, o que é bem provável que nunca tenham ouvido falar, nem conseguem imaginar o que signifique.
 
Dirão os críticos de sempre é ocasião: "A CET é uma merda, não sabe o que faz, e o trânsito de São Paulo é o que é por causa deles". É mesmo? Por favor, explica? A culpa aqui no Brasil sempre é do outro. Mesmo sem saber a história completa, sem saber detalhes, bastidores, sem saber se havia e há apoio e colaboração da população para a coisa funcionar. Óbvio que a culpa é do outro, a culpa sempre é do outro, não resta dúvida.

Estou velho, meu grande prazer é pedalar e trabalhar. Adoro onde moro, a bagunça durante a hora do almoço, no fim de tarde e aos fins de semana, o silêncio e tranquilidade à noite, mas estou cansado de ter que me locomover pela cidade e não conseguir passar nem de bicicleta. Estou cansado de ouvir baboseira, fórmulas mágicas, burrices risíveis que não se pode rir no momento. Estou cansado de não conseguir colaborar para melhorar, aliás, é o que mais me dói. 

Estou desesperado para dar uma fugida não tanto da cidade que me cansa, mas de uma série de problemas pessoais que estão me atropelando irremediavelmente no dia a dia. Se fugir, provavelmente volto mais calmo e consigo respirar um pouco mais a cidade que amo.

Fato é que a cidade fez 471 anos, o que pouco significa. Como assim? A cidade que que as gerações mais antigas (?) conheceram e amavam praticamente desapareceu, foi linchada. Uma coisa é transformação urbana, outra é a barbárie que vem acontecendo nestes últimos anos, já disse isto e ainda não estou cansado de repetir. Quem te viu, quem te vê. 

Placa de sinalização furada a tiros

Outro dia fui ao Tatuapé, que conhecia bem, e simplesmente não consegui reconhecer. Mandaram abaixo tudo e transformaram num treco alto e chique, sei lá para quem e para que. É assim por tudo quanto é canto. A história da vida na cidade está sendo apagada sem piedade e com a concordância dos mesmos que não sabem o que significa um olho no peixe e outro no gato. Eles são o futuro. Futuro? 

Quando mandaram abaixo um dos pontos mais importantes da história desta cidade, o Largo da Batata, parada dos tropeiros, e criaram uma praça que era um deserto e hoje é um pátio cimentado com árvores, caiu minha ficha que São Paulo estava morrendo. Aquela morreu e seu restos forram jogados sabe-se lá onde no meio do entulho da demolição. 

Quem te viu, quem te vê. A pesquisa da Nova São Paulo diz muito.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Avião dos deportados

Fórum dos Leitores
O Estado de São Paulo

É literalmente deprimente a forma como Trump e seu governo estão tratando a questão dos ilegais, tão deprimente que está encobrindo questões que não deveriam ser esquecidas, como por exemplo a segurança de vôo. Qualquer passageiro que saia do comportamento normal e esperado durante um vôo pode colocar em risco todos. Supor que todos (os 80 e tantos) deportados vão se comportar como passageiros que vão fazer turismo na Disney ou votam para pegar uma praia tropical é ser mais que inocente, é de uma imprudência inominável. Numa situação destas, a possibilidade de surgir um "herói libertador" deve ser seriamente considerada, portanto conter os passageiros com algemas e outros não espanta. Já, deixá-los nas condições precárias que vieram é outra história. Aliás, por que só viemos descobrir a história das algemas agora, quando sempre foram prática dos americanos nas deportações?
Os passageiros deportados relataram para autoridades brasileiras falta de ar condicionado e, muito pior, falha em um dos motores. Estando em território brasileiro e não sendo avião oficial do Governo Americano, não seria obrigação das autoridades reter o avião para checagem e, caso necessário, revisão e manutenção antes de partir? O que aconteceria caso o avião caísse em território nacional com todos deportados abordo? O que aconteceria se caísse na região da América Central? Qual seria a reação de Trump e seu governo? Acusaria qual governo de derrubar os deportados? Usaria como álibi para uma ação militar, ação esta que já afirmou querer realizar?
 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

O julgamento do atropelamento da Marina Harkot

Estou no grupo da Bicicletada no WhatsApp. Estou orgulhoso deles. Tiveram o estômago de ir ao fórum acompanhar o julgamento do atropelador, coisa que definitivamente não tenho. Já fui atrás de B.O. de acidente que vitimou conhecidos, amigos, e outros, o que não é muito fácil de encarar. Por aí descobri que alguns acidentes a dita vítima tinha sido o causador de sua própria morte. Descobrir a causa real, ouvir depoimentos pesados, até ver fotos, consigo encarar. Julgamento, definitivamente não, principalmente com nossa baderna legal, precariedade na perícia e do trabalho legista, e ignorância geral sobre segurança viária, o que me revira o mais fundo de minhas dores e raivas.
No Brasil morre se as pencas por achismo, que começa e termina nas autoridades e no sistema legal que os suporta. Educação?

Conheci Marina um pouco antes de seu atropelamento fatal. Era uma jovem brilhante, destas que um país não pode se dar ao luxo de perder. 

O que li no WhatsApp Bicicletada sobre o andamento do julgamento é... A defesa do motorista usou tudo o que podia, não podia e não deveria para passar a culpa do atropelador para a vítima atropelada, inclusive argumentos que não encontram respaldo na lei, capacete em particular. Não li uma palavra sobre o juiz dizer "menos" para o advogado da defesa, o que nem sei se pela lei processual brasileira é permitido. Com o nível educacional que temos provavelmente baboseira deve ser tomada como licença poética mesmo num julgamento, imagino eu.

Marina estava fora da ciclovia por medo de ser assaltada. Responsabilidade do poder público. Segundo a defesa a responsabilidade do acidente é dela. 

Hoje, estive numa bicicletaria e lá, com o dono e uma ciclista semi profissional, veio a conversa sobre medo de pedalar nas ciclovias e ciclofaixas. Conheço vários ciclistas para valer e profissionais que têm pânico de pedalar no sistema cicloviário que temos, pelas mais diversas razões. Vão pela rua, exatamente como fazia Marina.
Nenhum cidadão é obrigado a expor-se ao perigo por erro ou ausência do poder público. 

O motorista estava a 92 km/h em uma via, e cidade, onde o limite é de 50 km/h. Falta gravíssima pelo CTB. Ponto final, ou inicial.
Pelos noticiários soube que há indícios claros que ele havia bebido, falta gravíssima pelo CTB. 
Falta gravíssima pelo CTB? O que significa na prática? Alguém aí pode explicar?

Falando nisto, como estão os processos dos motoristas dos Porches? 

Não faço ideia no que vai dar este julgamento. Tenho muitas razões para acreditar que pode ser mais um no qual a vitima sai mais vitima ainda, ou até culpada. 
Ou que a defesa do réu use recursos mais recursos mais recursos mais recursos e ou saia limpo por tempo corrido ou amenize tudo pela mesma razão. 

O julgamento desta mais outra morte violenta começa passados 4 anos, o que só ajuda o réu. E, tendo em vista o que normalmente acontece, 4 anos é pouco, começou cedo. 

Fato é que morre se as pencas. Quem se interessa? Só quando é um dos seus. De resto, como dantes no quartel d'Abrantes.

PS.: minha crítica às perícias e legistas vai à precária condição de trabalho que eles têm, não aos profissionais, os quais não tenho dados para julgar. Mas, perícia aparecer horas depois, ou laudo dos legistas demorar, com frequência é noticiado, é uma prova de precariedade. Aliás, nem precisa ir tão longe. Deixar precário parece ser uma estratégia de certas certezas se transformarão em nãotãocertezas, principalmente as que vão em benefício de alguns.

A lei, ora a lei!


quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Quem tem mais poder, as moto taxi ou as autoridades?

Esta história das moto taxi vai muito além da permissão oficial. Expõe a brutal crise da autoridade legalmente constituída neste Brasil. Será a apoteose do samba do crioulo louco que esqueceu de cantar que aqui tem lei que cola e lei que não cola?

A verdade é que a tropa que invadiu os três poderes nem precisava. A depredação do poder e da autoridade, está aí como sempre esteve. Vem do íntimo de cada brasileiro. O nosso atávico jeitinho especial de cada dia que o diga.

Como reverter? Reverter? Não! Medão de uma reversão. Voltar a uma depredação reguladora? Não

Como estabelecer credibilidade civilizatoria? Como construir uma autoridade crível?

As moto taxi que nos digam. A resposta parece não estar mais no centro de poder eleito.

Autoridade? Quem? O que?



A discussão é muito mais profunda. De qualquer forma o que está claro é que o sentido de autoridade está indo ou já foi para o saco. A história ensina que temos tudo para não dar certo.
Eu gosto ou não gosto desta ou daquela autoridade definitivamente não é critério para estabelecer a efetividade desta autoridade. 
Como se deve relacionar com as autoridades, esta é a questão. Ou, melhor, e mais em baixo, quem de fato é autoridade. Há uma grande diferença entre a autoridade do momento e os que são autoridade de fato. "Eu vou fazer...", primeiro é uma afirmação perigosa e não raro vazia. "Precisa ver quais são as variáveis...", ou o "não sei" costuma ser caminho mais seguro para a cosntrução do correto. 
Com as redes sociais o "eu quero já e da minha forma" é uma realidade, a bem da verdade, a realidade mais perigosa que se pode ter.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

O que se faz numa situação desta?

No meio da tempestade furiosa, o carroceiro para ao lado da caçamba de entulho vazia e descarrega nela todas as sete paredes divisórias que transportava sabe-se lá de onde. A caçamba vazia foi contratada para o entulho de uma reforma que será realizada num apartamento cujo dono sei quem é. Com tudo que foi colocado pelo carroceiro, a caçamba está praticamente cheia. Se eu convencer o carroceiro a retirar as divisórias da caçamba ele as levará para uma pracinha que tem um pouco mais a frente e largará tudo ali mesmo, como todos fazem.  
Pergunta: o que se faz numa situação destas? 

Numa igreja, pequena e lotada, foram colocadas cadeiras do lado de fora até o portão de entrada da rua. Os que vão chegando atrasados, missa já começada, vão entrando e para isto fazem com que a senhora sentada na cadeira quase encostada no portão tenha que se levantar para dar passagem. Das vinte pessoas contadas que pediram "licença", nem todas, a bem da verdade, só uma teve a inteligência, sensibilidade e educação de simplesmente fechar o portão para passar sem incomodar a senhora sentada.
Pergunta: o que se faz numa situação destas?

A criança passa aos berros de lá para cá e seus pais pouco se importam que todo o povo que está no restaurante queira um pouco de paz para almoçar. O incomodo geral é patente porque a criança é espalhafatosa. O pai dá corda para a algazarra do filho menor, enquanto a mãe continua mandando em voz alta que o maior, pré adolescente esparramado na mesa, largue o celular e coma a comida.
Pergunta: o que se faz numa situação destas?

Em cima da hora, aliás, passado da hora, acabo sabendo que tudo que preparei com carinho para receber uma pessoa não vai valer para nada. A convidada passou batido pelo meu endereço, dispensou o que ela própria tinha pedido, foi para casa da irmã, onde, aliás, ela tem sérias restrições, da irmã e do local. Mais uma vez me sinto um idiota. Não é primeira vez que acontece.
Pergunta: o que se faz numa situação destas?

A pessoa é de uma cultura e inteligência incrível. Sair com ela são duas experiências concomitentes; ouvir histórias e análises interessantíssimas, e ficar (quieto) muito ansioso, temeroso de quando vem a discussão ou briga que ele certamente vai ter com o garçom ou quem quer que seja que esteja lá ou passe por perto. Na maioria das vezes de certa forma ele tem razão, mas não consegue em nada ceder para ter um convívio social aceitável.
Pergunta: o que se faz numa situação destas?

Cansei de me sentir um trouxa. Cansei de ser bonzinho e tomar tapa na nuca. 
Só mais velho é que caiu minha ficha que há uma diferença enorme entre fazer-se de trouxa e ser condescendente. Ou ser bom ou bonzinho. Gentileza gera gentileza, disto não tenho duvida, mas na bagunça que vivemos gentileza pode ser tida como "bonzinho", aí no sentido pejorativo. E uma reação de desagrado pode ser tomada como sei o que, o que eleva o problema a níveis mais desagradáveis. 
Pergunta: o que se faz numa situação destas?

Já faz um bom tempo que tomei bronca por tentar colocar em ordem ou consertar o que é bem público, como, por exemplo catar lixo das ruas e jogá-lo no devido lixo. De fato estava exagerando. Exagerando? Sim, para Brasil eu estava exagerando. Lá fora seria e é dever de cidadão. Que as ruas fiquem sujas, assim mantenho meu equilíbrio mental. Este é o preço?

O que fazer? Como agir? Esta é a pergunta que não sai de mim no meio desta baderna que vivemos.

Devo ir até o carroceiro e mandar ele esvaziar a caçamba, colocar as paredes divisórias de volta na carroça? Se fizer, ele vai descarregar na praça, calçada ou rua, como muitos fazem e ninguém faz absolutamente nada, inclusive a polícia.
Na igreja devo pegar todos que pediram licensa para a senhora e interromperam seu ato de fé e mostrar que o simples movimento do portão, que existe para ser movimentado, cria espaço para passar sem incomodar ninguém?
No restaurante devo ir até os pais e contrariar a "boa educação" que eles estão dando aos filhos? Se eu for e assim fizer, o que acontecerá com meus convivas e com o resto do restaurante? Vão agradecer ou ficar mais tensos ainda? Como os pais vão reagir? Nada indicava que reagiriam bem. Então, fazendo assim, da criança que incomoda passo a fazer todos em volta sentirem um mal estar com a minha reação?

Pergunta: o que se faz numa situação destas? 

Ontem, enquanto pedalava, vi um carro fechando outro de forma muito agressiva. Seu motorista abriu a janela, começou a gritar com o outro, fechando a passagem definitivamente. O motorista fechado desceu do carro com uma automática imensa e foi para a janela do outro discutir. Larguei a bicicleta e fui acalmar a situação, o que consegui. O idiota gritava que o armado o tinha fechado e xingado lá trás. A mulher dele desceu do carro e teve um ataque histérico indossando a posição do marido. O armado me ouviu, voltou para o carro, onde estava toda sua família que permaneceu olhos esbugalhados e calada.
A verdade é que o idiota que fechou e gritou estava completamente errado perante a lei, o CNT, perante a civilidade, e o bom senso, desde o momento que havia iniciado a situação, lá atrás. Tivesse desacelerado uns segundos chegaria em casa em paz e sem o risco de tomar um tiro. Adiantava falar? 
E o armado... não preciso dizer. Adiantava falar?

Pergunta: o que se faz numa situação destas? Deixa que se matem? É, parece que é. Parece que hoje esta é a resposta para tudo.
Pelo jeito, a torcida é pelo "que se foda!" e "fodam-se todos!"

Entro no banheiro do cinema e dou com um sujeito mijando propositalmente na parede ao lado do mictório. Vou falar com o gerente que me diz que acontece sempre. 
O que fazer numa situação destas?

Inacreditável é que não falta quem acredita que só maluco resolve situação. Hoje viramos uma página da história e confesso que não quero sequer ver o noticiário. Deprimente!

Preciso repetir a mesma pergunta? 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Liberou geral nas redes, uma oportunidade

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Sobre a regulação das redes sociais.
É possível olhar o liberou geral de uma outra forma? Será a primeira vez na história da humanidade que o zoológico furioso estará completamente "livre" e com autorização oficial para fazer o que bem entender, o que pode fornecer dados valiosos sobre quem ou o que de fato somos. Até aqui havia uma "liberdade" que de certa forma restringia uma boa parcela da população, aqueles que por medo de uma possível vigilância, ou "censura", ou por timidez restringiram suas opiniões ou se imponham limites.
No final da década de 30 nem todos embarcaram de corpo e alma no nazismo, nem mesmo em seu auge, mas acompanharam ou se integraram para não ter problema ou ser caçado, literalmente (um outro tipo de "censura").
Nem todos que votaram em Trump, Bolsonaro, Milei, Lula e outros, estavam de pleno acordo, mas expressaram de certa forma sua insatisfação. Expressar em voto é expressar em silêncio, sem palavras, sem o fundo da questão. 
Este pessoal insatisfeito vai embarcar no liberou geral que está vindo aí? Por que sim, embarca? Por que não? Se o fizer, e é provável que muitos o façam, não será uma oportunidade de ouro para saber de fato para onde caminha a humanidade?

É no extremo, no limite, na faca afiada no pescoço, que vem à tona quem realmente se é.
Se ainda não chegamos ao limite, então quem somos nós?

Não tenho a mais remota dúvida que não estamos sequer perto do limite. O ponto final deixamos para trás faz tempo.

Bravo! João Fonseca

Rádio Eldorado FM

Bravo! João Fonseca

Muito  feliz com o sucesso do tenista João Fonseca. Espero que tenhamos, nos brasileiros e governos, aprendido que um ótimo esportista deve ser alavanca para o desenvolvimento de um esporte. Temos que parar de desperdiçar os valores que temos por aqui.

Guga, Guga..., carinho por tudo que é e fez, mas do que ele deixou, de suas conquistas, restaram pouco mais que lembranças, nada mais. Tenistas novos formados pós Guga? Foi e é assim em todos esportes. O desperdício que temos de boas oportunidades no Brasil é absurdo.
 
Precisamos de uma política esportiva inteligente, ou seja, com viés de saúde pública. Sim, saúde pública. Feito isto o resto vem a reboque, resto 

Futebol, ótimo. Só futebol, que mediocridade! Futebol bet? Pense bem! Quem acha legal que se levante um monumento a Castor de Andrade e seu Bangú. Como dizia o canto de sua torcida,

"Bangú, bola na rede e pau no cú". Profético.
Vai firme, trouxa, aposta nas bets para pagar suas dívidas!

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

99 e moto táxi e o "eu faço o que quero"

Foram inúmeras as mensagens para a Rádio Eldorado FM sobre a chegada na cidade dos moto taxis, a maioria deixando sua discordância baseado nos "perigos da moto". Só um dos ouvintes relatou que usou o serviço de moto taxi na Bahia e teve uma experiência segura. 
Um dos ouvintes falou sobre um perigo além do trânsito, o assalto, possibilidade real não só para levar a moto, como também uma mochila mais ajeitada que o passageiro possa estar usando.  

Fato é que faz alguns bons anos ocorriam 70/dia motociclistas acidentados que precisavam atendimento no local por bombeiros ou SAMU. Qual será o número hoje? De qualquer forma, o custo cidade / econômia é absurdo, fora o já sabido "foi para o hospital". 
A maioria dos acidentes são causados por ciclistas jovens, inexperientes. Não duvido que por erros de condução básicos. Quanto mais velho e experiente o motociclista, menor o índice de acidente. Quem serão os condutores destas moto taxi? Como serão escolhidos? Um outro ouvinte mandou mensagem que o medo dela seria estar de passageira numa moto roubada.

Por outro lado, a 99 não difere de outras empresas que pensam e agem no "faço o que quero". Segundo a Eldorado, Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, teve uma reunião com eles, 99, faz alguns meses, quando disse não para as moto taxis na cidade. A razão para a 99 começar a operar mesmo sem autorização é simples: o poder regulatório dos governos praticamente inexiste nos dias atuais. Virou um esculhambo já faz tempo. "Eu faço o que quero" é regra aceita por toda a sociedade, com raríssimas excessões.

Para terminar, morre-se as pencas no trânsito brasileiro porque quem conduz bate o pé na certeza de que "eu sei o que estou fazendo", o que vai no mesmo caminho da forma que agem algumas empresas (ou muitas, sabe-se lá). 
Repito, somos um país onde cada um faz o que quer, ou pelo menos tem um grau de permissividade absurdo. Foda-se o outro, foda-se tudo, eu estou certo e ponto final.

Conclusão: tem lei que cola e lei que não cola. 

Agora a tarde a justiça mandou parar a operação das moto taxi. Conhecendo como funciona a coisa digo: aguardem os próximos capítulos.

Terceira pista para Santos e Trens

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Quem já viajou de carro ou ônibus para Santos em qualquer dia do ano sabe da urgência de se resolver o caos que se forma ao se aproximar da cidade e de seu porto. Se for época de safra pior ainda. Urge uma nova pista para descer e subir a serra ou a economia deste país ficará mais estrangulada que já está. O projeto apresentado para a terceira via fala sobre uma descida mais suave que as existentes para que possa facilitar a movimentação de caminhões. A recomendação técnica é que a via ideal seja de 5% de declividade, não muito longe da declividade máxima permitida para trens que é de 3%. De 5% para 3% parece que é pouco, mas não no projeto de engenharia. Não sei qual será a declividade, já que para caminhões varia entre 12% máxima aos 5% ideais. Deixo uma pergunta como leigo, mas também como cidadão preocupado com o futuro: porque não projetar a terceira via de forma que no futuro possa ser transformada em ferrovia? É de conhecimento que o transporte por caminhões não é o ideal, principalmente na escala que se tem da produção nacional, assim como para o fluxo ideal e necessário no porto de Santos. Tenho plena consciência que o problema é muito mais complexo, mas por que não investir já pensando em possíbilidades futuras? A pergunta é pertinente. Especialistas dizem que o correto seria levar em consideração desde já a ampliação viária que se fará necessária a médio prazo. 


Ainda  sobre trens, copio a resposta que dei num Whatsapp:

Eu amo trens, uma paixão que vem desde pequeno quando eram maria fumaça, ou a vapor. Tenho memória vivida das vezes que viajei em maria fumaça. Também lembro bem de minha ida de São Paulo para Corumbá e Bolívia em trem, bancos de madeira. 

Tenho livros sobre o assunto, li um pouco, trabalhei com holandeses, enfim, conheço superficialmente o assunto e algumas coisas posso afirmar sem errar.

Trem de passageiro é muito deficitário em todo planeta. Para ser viável é necessário que o sistema de trens de carga funcione bem e seja muito rentável, o que não acontece aqui por diversas razões.

Ficamos falando a besteira de trem bala quando sequer fazemos a união de trilhos bem. Aliás o brasileiro no geral não faz ideia que um trem de passageiro normal da Europa consegue rodar numa média de 180 km/h, basta que o sistema funcione. 

Uma viagem São Paulo - Rio a 180 km/h demoraria um pouco mais que de avião, se tanto. Simples, para pegar um avião você tem que chegar com antecedência, mais o tempo de voo, mais o tempo de desembarque. Ou seja, de trem seria algo por volta de 3 horas, mais ou menos a mesma coisa que em avião. Trem bala? para que?
Implantar trens normais é uma coisa, uma engenharia, um custo, um tempo, tudo realizado a partir do que já existe. Mais, urge a modernização da linha existente, a de carga. 
Já o trem bala, custos, engenharia, trajeto, tudo novo... 

Em outras palavras, precisamos mudar o foco da discussão. Trem sim, com certeza, mas o que realmente precisamos ter para que seja real, fazer funcionar, ser viável? A meu ver, primeiro passo, saber sobre o que se está falando e acertar a conversa. Pensar errado custa caro.

Vamos ver como caminha o trem para Campinas, que creio seja o primeiro passo para uma solução realista. 

Trem para Santos... que saudades. Era divino. Infelizmente deixaram tudo apodrecer. Triste. Perdemos mais um patrimônio histórico valiosíssimo.

Trem de passageiros para Santos? A velha não dá, não agora. Restaurando, só para turismo histórico, de pequena escala. O que seria necessário para ser viável a descida que passa pela linha que corre passando pelo Grajaú e de lá desce a Serra do Mar? Uma das coisas que diziam os especialistas seria o anel ferroviário que viabilizaria as cargas, dando outra escala econômica. Provavelmente reformar tudo, rever ou trocar trilhos e dormentes, o sistema de tráfego e sei lá o que mais, que mui provavelmente deve estar obsoleto.

Piuiii! Adoro! Torço para que volte ontem.

abraços



sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Cicatrizes da vida



Acho que foi através de uma música do Sting que descobri que o Alcorão fala sobre o aprendizado relacionado às dores. Somos, melhor, estamos a sociedade das alegrias, prazeres, da vida sem dores, do tudo legal, do bom e do melhor, senão não valeu. A verdade definitivamente não é esta. Como se diz, o que acharíamos do tudo bom caso não houvesse momentos difíceis? A resposta vem num "que chatice!"

Desconhecia esta declaração da Rita Lee. Boa!

"Amor cura tudo". Quanta besteira! Começando porque a palavra "amor" virou carne de vaca, aliás, nem isto é mais porque quem ama de verdade não mata (portanto amor é vegetariano, vegano ou afins). 
Quem ama de verdade? O que é amor? Fomos tão longe em nossas besteiradas que é provável que tenhamos amor politicamente correto ou não. Não duvido nem um pouco. 
Quantos de nós sabem de fato o que é amor? Qual amor, perguntarão? Pelo menos o genérico, o que faz efeito, mas não tem marca definida. 

Estou com o pescoço travado. Tensão. Saco cheio além dos limites. Estou tendo que controlar os "amores" de uma figura louca por uma prima. Namoraram na década de 60, cada um fez seu caminho, e a figura resurgiu do nada, elouquecido. Ela esta com Alzheimer, e ele acredita com todas as letras que pode voltar ao que era então daqueles anos dourados. Amor? Será isto amor? Ou o que? 

A vida vai ensinando, ou não. Amor de verdade é difícil de definir, mas definitivamente não é paixão, aquela que queima no peito, vai arrefecendo e morre. Paixão, ah! a paixão! que bela encrenca. "Amor é bom enquanto dura", repetia o eterno apaixonado Vinícios de Moraes. Apaixonado, paixão, passageira. 

Nesta vida aprendi que a dor, as cicatrizes da vida, é que constroem o sentimento de amor. Rita Lee falou em cima da sabedoria que só os atentos pescam da vida. Quando tudo beleza, maravilha, se está no campo da paixão, que acaba quando vem a primeira pedra do caminho ou uma nova paixão. 
Amor se constrói. Pode até começar com uma paixão, mas acaba sendo fruto de uma construção sobre bases sólidas e algumas marteladas no dedão.

"Amor é amor e dor é um horror", quanta besteira! E aí? O que acontece no meio destes dois extremos? Respondo eu: a vida!

Amor: uma madrugada, voltando pedalando da casa de minha "amada", fazendo zig-zags com a bicicleta pela rua deserta, a roda da frente fechou, eu voei tipo supermam no asfalto, e ralei toda minha pele esquerda das pernas, peito e braço. Limpar a sujeira no banho foi bem divertido (?!?), digamos, fazer a estupidez de dormir no lençol e acordar com ele grudado na pele, foi mais divertido ainda. Abrir a porta e dar de cara com minha mãe, mais ainda. Amor: a santa me enfiar debaixo do chuveiro e desgrudar o lençol encharcado de sangue dezendo em voz paciente: meu filho, toma jeito.

Este voo no asfalto foi o começo do relacionamento amoroso com a bicicleta, mas não foi sem várias dores futuras. O amor é assim, sendo construído nos prazeres e dores. O recheio, o que estava entre a delícia do pedalar livre com vento na cara e alguns tombos, inúmeras quebras e defeitos (as bicicletas daqueles anos eram uma bosta), foi o que construiu este amor que tenho hoje. Igualzinho aos relacionamentos humanos.

Um dia a namorada de um amigo colocou o famoso "Ou eu, ou as bicicletas". Ele deu mais um gole no café, levantou-se, foi até o quarto deles, fez a mala dela, passou pela cozinha com a mala na mão, abriu o portão, deixou a mala no meio da calçada, voltou para continuar seu café sem dizer uma palavra. E olha que ele afirma até hoje que gostava para valer dela, em outras palavras, a amava. Acabou achando um amor verdadeiro e continuou com seu dito "amor" pelas bicicletas, amor possessivo. Amor possessivo? Amor possessivo? 

Posse faz parte do amor? Posse se refere ao "eu" e "meu". Amor tem pouco a ver com propriedade, com eu e meu. Tem tudo a ver com nós. Amor possessivo?

No mesmo contexto está a dor. Sabemos o que é a dor do outro? Nossa dor é a referência? Com certeza damos conselhos. Se conselho fosse bom era vendido. Tirando a piada, dor é quase particular de cada um, e bons conselhos, melhor, acarinhamento podem ajudar e muito. De novo, conselho é uma coisa, acarinhar é outra. Conselho: eu. Acarinhar, de verdade, ele. O bom e correto acarinhar: amor. 

Algumas cicatrizes e tatoos da vida eu dispensaria, mas tenho consciência que cheguei onde cheguei através delas. Muitas poderiam ser evitadas, talvez. Bastaria ter ouvido. Ou lido. Ouvido é mais completo, vai mais fundo, mas quem sabe ouvir?

"Fui mais forte que aquilo que me feriu...", depende. E muito.