sexta-feira, 3 de março de 2023

Viajar pelas estradas da Itália

- Um dia vou sair pedalando pela Itália, pegar as estradinhas do interior e ir de cidadezinha em cidadezinha, parando e comendo. Quero fazer a costa adriática inteira, de Lecce a Veneza. Descubro para onde vai o vento e vou junto. 
Quantas vezes eu repeti a mesma história de sonhos e desejos.

Agora que já fiz uns muitos quilômetros dirigindo um simpático Fiat 500 não repito mais. As estradas italianas  definitivamente não são o que sempre sonhei, são estreitas, sem acostamento, esburacadas, e mesmo tendo uma paisagem linda, em alguns trechos deslumbrante, de encher os olhos, são pouco convidativas para ciclistas. Já vi alguns poucos, contados nos dedos, pedalando nas estradas, todos devidamente paramentados. Nada de cicloturistas, pelo menos aqui no sul da Itália. Os motoristas respeitam, esperam, desviam, mas mesmo as estradinhas são bastante movimentadas e, mais complicado, tem um bocado de italiano que senta a bota.

A Adriática, que costeia e que pelo mapa imaginei ser uma estradinha, tem sido minha maior decepção. Duas pistas para cá, duas para lá, estreita, sem acostamento, um asfalto muito ruim para uma autoestrada, e muitos com pé em baixo para valer, carros de todos tipos, caminhonetes, vans, furgões e alguns caminhões. Se o limite de velocidade é 70 km/h, para os italianos é só uma mera conjectura. Se você se mantiver a 70 se formará uma fila atrás, incluindo carros antigos dirigidos por velhinhas que provavelmente estarão mandando lembranças a todos seus vivos e mortos também. 
Estava eu num trecho de 90 km/h já a 110 km/h acompanhando todo trânsito. Olhei pelo espelho retrovisor e vi um carro lá longe piscando os faróis, olhei de novo já estava bem próximo, sai e passou feito uma flecha. Olhei de novo pelo espelho e vi outra coisa branca, imensa, vindo a milhão, desta vez um furgão dos grandes acompanhando a Mercedes. Os dois estavam tranquilamente a uns 160 km/h. Passado o furgão veio um Uno dos mais novos com uma escada no teto, um pouco mais lento, mas muito acima dos 90 estabelecidos ou os meus 110 km/h. E assim vamos estrada a fora. 50 km/h, 70 km/h? Como assim? Para que serve? Sei lá, vai ver que o problema é que as placas são pequenas, comparadas ao padrão internacional, já para ninguém ver. 
O mesmo vale para as cidades, em menor proporção. Pelo menos aí param para pedestres.

Outro detalhe: Pindamonhangaba (a) 15 km; Pindamonhangaba saída 1 km:  sinalizar bem as distancias restantes e as saídas faz sentido? Pois então aproveite. A maioria da sinalização nas ruas, avenidas e estradas italianas é em cima da bifurcação e numa "frexa" pequena; você que enxergue. Passar batido faz parte. Aliás, isto quando há uma sequência de "frexa(s)" indicando o bom caminho. Ninguém respondeu "siga as praca" porque não tem como.
Mais uma vez confirmo que Itália é maravilhosa, italianos são ótimos, mas a coisa é um pouco bagunçada, até lembra filme comédia italiana, não sei porque. Branca!, Branca!, Leone!, Leone! - O Incrível Exército de Brancaleone

Voltando ao velho sonho de pedalar pela Itália. Óbvio que deve dar, ainda não descobri como. Semana que vem devo pedalar em Roma, acredito que na Via Apia Vecchia, vamos ver como é. Pelas cidades tem muito jovem em patinete, um pouco menos em bicicletas elétricas, e, interessante, nos bairros circulam velhinhos pedalando lentamente suas velhas companheiras de guerra, lindas bicicletas de décadas passadas. Vão que vão. 
Falei da autoestrada Adriática porque pelo mapa pensei, melhor, delirei, que daria para viajar pedalando por ela. Definitivamente não dá. O absurdo é que em alguns trechos não têm ruas ou estradinhas em paralelo com a autoestrada para seguir pedalando, ou tem mas a uma distância razoável, chata para um ciclista. Provavelmente por isto estão falando em construir uma estrada ciclovia do sul ao norte da costa adriática, o que seria maravilhoso. Outro ponto é que se um dia realizar o sonho, coisa que não creio, a opção será ou uma híbrida ou uma mountain bike. Buraco é que não falta na Itália. 

A comida? Sim, no geral é boa, mas não é o delírio que se fala. Tem de tudo. Me faz falta as saladas e verduras que temos aos montes e que aqui é bem menos, bem menos. A massa no geral é muito boa, sem dúvida. Frutos do mar os mais diversos e desconhecidos para nós. Pizzas, quando bem escolhidas, ótimas, as de talho ou pedaços, e as individuais. Doces... O que é impecável, de matar, é o café expresso, aí é para morar na Itália.

Esqueci dos vinhos. Preciso falar? Não peça vinho com pizza porque não é tradição deles. Uma boa birra, cerveja, que em alguns lugares vem estupidamente gelada. Tinto com peixe pode, não tem esta besteira que temos ai de com frutos do mar só vinho branco. 
Opa! um brinde à Itália!

PS.: pizza se come com as mãos. Divina!

Ironia do destino acabo de viajar de Alberobello para Matera e nestas estradas dá para pedalar com relativa tranquilidade, eu disse relativa tranquilidade. Até vi um ciclista voltando para a cidade.
Agora; a paisagem... upa! 

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