segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Privatização ilumina e abre até 23:00 h. ciclovia do Rio Pinheiros

Os dois parágrafos a seguir foram tirados do texto que publiquei no https://escoladebicicletacorreio.blogspot.com/2021/08/a-ciclovia-do-rio-pinheiros-no-trecho.html. Quero aqui fazer algumas colocações a respeito desta ação olhando um contexto maior.

A ciclovia do rio Pinheiros no trecho Jaguaré - Ponte Estaiada ficará aberta até as 23:00 h a partir de... daqui uns dias, não sei exatamente a data; que seja. Para pedalar a partir de 18:30 h., horário que hoje é fechada para entrada de ciclistas, é necessário fazer cadastro no endereço - https://www.ciclofriends.com.br/cadastro , site "ciclo.amigos". Receberemos uma carteirinha que deverá ser apresentada na entrada da ciclovia por motivo de segurança, com o que concordo plenamente. Aos que discordam da carteirinha lembro que o trecho de ciclovia entre a Ponte Cidade Jardim e Socorro tem o apelido de "faixa de gaza".
Me ocorre que com a abertura da ciclovia Jaguaré - Ponte Estaiada toda iluminada, provavelmente cheia de ciclistas abonados e suas bicicletas caras, o pessoal do mal vai migrar da faixa de gaza para as entradas da novidade iluminada. Em outras palavras: vamos ver se por razões de mercado melhora a segurança na faixa de gaza. ("It's the economy, stupid." - James Carville,1992).

A ciclovia do Rio Pinheiros no trecho Jaguaré - Ponte Estaiada está privatizada ou patrocinada, não sei qual é o instrumento legal e também não me importa, pelo Banco Santander. Qualquer melhoraria é bem-vinda e as melhorias de uns tempos para cá são visíveis, a última delas a iluminação e consequente abertura até as 23:00 h. Este trecho tem uso intenso por uma maioria que vai lá para principalmente para treinar, público de bom poder aquisitivo, público alvo de um grande banco. As melhorias são para todos.
Um pouco mais para frente o trecho norte, Cidade Jardim - Socorro, na outra margem do rio, também vai receber melhorias. Este trecho fica aberto 24 horas por conta do uso intenso por trabalhadores. O problema maior aí está na escada que dá acesso à Ponte Cidade Jardim, um absurdo por ser escada e por estar no meio da ponte por onde atravessam montes de pedestres. Calçada é de pedestre, ponto final. 

A cidade tem uma realidade a ser considerada, que são três espécies de ciclistas: os trabalhadores, a massa que sai para lazer aos fins de semana, e o pessoal que treina, que parece crescer a cada dia.

São Paulo não tem uma política de uso de vias públicas para quem pedala para treinar o que é um absurdo de longa data. O mínimo seria sinalizar a existência deles, como foi feito com inteligência, por exemplo, em São José dos Campos. Mais, ciclismo esportivo vive o mesmo grave problema de segurança que muitos ciclistas trabalhadores: estrada conurbada, o trecho de estrada dentro do perímetro urbano.

O projeto da Ciclo Faixa de Domingo mais que deu certo, fez explodir o uso da bicicleta numa população que há décadas empoeirava suas bicicletas na garagem, mas não aproveitou seu sucesso para fazer migrar os ciclistas que lotam as vias conificadas de domingo para o resto da cidade, em especial o interior dos bairros. O interesse dos patrocinadores da Ciclo Faixa de Domingo é óbvio, assim como onde eles querem os ciclistas; então caberia à Prefeitura dar um passo a frente, o que não fez, assim como não faz com os ciclistas esportistas.

Desde que me conheço por gente vejo o desinteresse das autoridades para com os trabalhadores de baixa renda usuários da bicicleta e continuo não vendo a mais remota indicação de um outro olhar sobre eles. 

Não inclui os ciclo turistas, os que pedalam para outras cidades e os que fazem turismo dentro da própria cidade. Lembro que, de carro, daqui, Pinheiros, até Engenheiro Marsilac, último bairro no extremo sul da cidade, são 55 km, uma viagem e tanto. Alguma coisa parecida até Iguatemi, extremo oeste. Não precisa ir tão longe para pedalar o dia todo nesta cidade, o que é fácil e um prazer, ou vários prazeres, com direito ao interessante gastronômico que temos por todas as partes desta São Paulo multicultural.

Há uma diferença brutal entre ter uma política para usuários de bicicletas e implantar ciclovias e ciclo faixas. Uma diz respeito a cidade e todos cidadãos, outro ao uso de massa de manobra.

Fico feliz pela abertura noturna da ciclovia do rio Pinheiros, mas só entro e entrarei nesta ciclovia quando está mais tranquila, vazia. Em certos horários considero impraticável, principalmente porque é insegura. Sei qual é meu ritmo de 66 anos, sei qual é minha experiência como ciclista, e por isto mesmo não me sinto confortável no meio de tanto banbanbam voando baixo. "Vai quem quer, volta quem pode" definitivamente não é meu lema. Não me lembro se nas melhorias deixaram as placas de limite de velocidade "20 km/h".
O problema é simples: tem muito ciclista para pouca ciclovia ou qualquer lugar para treinar. A solução, repito, é dever constitucional das autoridades públicas. Abrir até as 23:00 h é uma ótima, mas não a solução final. Tem que fazer bem mais.

Como detalhe vital:
Iluminação é crucial tanto para a segurança no trânsito como e principalmente para a segurança contra assaltos e roubos. Muitos cruzamentos de pedestres em São Paulo têm iluminação específica para o pedestre, um foco de luz intenso e fechado na faixa de pedestres. Todos números apontam para uma forte diminuição ou mesmo zerar os atropelamentos e provavelmente colisões envolvendo ciclistas. 
Finalmente: o CTB obriga o uso de refletores. Não preciso lembrar que um bom refletor não usa pilha ou bateria, reflete e oferece boa segurança sempre. 

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