Arturo Alcorta, Escola de Bicicleta, sobre a vida, rodando um pouco por tudo
terça-feira, 25 de agosto de 2020
Falta de critérios prejudicam o bem público
sábado, 22 de agosto de 2020
Pequenas vilas turísticas cortadas por estradinhas
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Pedalada irresponsável, mas deliciosa
Um final de tarde em Penedo deu uma coceira daquelas e saí para pedalar quase no por do sol. Fui descobrir um caminho novo que passa por cima da cidade. Depois que se sai da Dutra tem duas entradas para a cidade, a primeira quase imperceptível que só vi pelo maps.google, desta que falo, e a entrada principal mais a frente, com direito a rotatória e portal, que dá na rua principal de Penedo. A "rua de cima", como passei a chamá-la, tem várias vistas lindas, começando pela vista do centrinho que parece presépio, já que Penedo foi cidade de filandeses, terra de Papai Noel. Mais frente este caminho dá vista para as montanhas do Parque do Itatiaia e para o Vale do Paraíba no sentido de Resende. O sol foi se pondo, eu parando para fotografar e ganhando entusiasmo, e não me aguentei e caí na Dutra atrás dos últimos raios de luz. E de um triste incêndio. Cheguei até a entrada da cidade de Itatiaia apaixonado pela paisagem e pela loucura e retornei já no escuro. Não recomendo, ou não devo recomendar pedalar no breu, mas que é divertido é, muito melhor que túnel fantasma. Tomei dois sustos, um com um ciclista trabalhador sem refletores ou farol vindo na contramão que simplesmente só vi quando estava bem em cima; e numa saída para os carros onde descobri que a confusão dos faróis dos carros e caminhões não dá noção clara de distância e posicionamento deles. Para cruzar saídas no escuro se faz obrigatório parar e cruzar na certeza a 90º, na perpendicular, o mais rápido possível. Buracos e obstáculos? Deixa o corpo completamente mole e solto com os pés bem apoiados; e conta com a sorte. Ou sai com um farol, o que os sábios recomendam.
Loucuras de vez em quando não fazem mal a ninguém, muito pelo contrário. Tem que extravasar, faz parte de uma mente sadia.
domingo, 16 de agosto de 2020
obesidade assustadora
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
Subida da serra de Engenheiro Passos à Garganta do Registro
Cada subida é uma subida, disto nunca tenha dúvida. Mesmo que seja a mesma subida.
O que se pode aprender destas longas subidas? Sem dúvida que quanto mais repertório técnico, mas fácil fica pedalar e mais longe se vai.
Alguém falou sobre Engenheiro Passos, as boas pousadas próximas e a beleza da natureza. Não dei muita atenção na hora, mas quando voltei para o hotel fui xeretar para ver o que tinha por lá e dei de cara com a altimetria da subida para uma das entradas do Parque Nacional do Itatiaia, a que fica no topo da serra. Pelo Maps Google se vê uma subida constante de 1.214 metros. E começou a coceira.
Subir:
Saindo de Penedo, 26 km até Engenheiro Passos, mais 26 km de subida. O ideal seria sair cedinho, mas com esta história de Covid tive que esperar o café da manhã até as 8:30 h e sair mesmo do hotel só as 10:00 h. (Número dois)
Demorei um pouco mais que uma hora nos primeiros 26 km, da Dutra. Tive que parar num posto para tirar dinheiro e se não tivesse parado talvez fizesse em menos de 1:00h, o que poderia ter sido mais devagar para preservar forças. Comece devagar para terminar rápido. Acabei parando em Engenheiro Passos para atender o celular, o que foi uma sorte porque tomei a santa água de coco. E subi em quase batendo nas 3:00 h. Muito bom se comparado ao Desafio do Rio do Rastro.
Subir é um exercício de economia de energias. Não errar marchas, manter a cadência, não forçar em nenhum momento, ir olhando a paisagem, beber água... Excepcionalmente fui com um Cateye, portanto lendo distâncias, velocidade, tempo, média, o que gera ansiedade. Óbvio que lá em cima esqueci de ver a média. Os tempos sei por conta das marcações das fotos.
Descansar:
Lá por 1992, numa palestra de Ned Overend, um dos melhores competidores de MTB da história e mais velho que a maioria de sua geração, eu o ouvi dizendo em alto e bom tom que descanso é tão importante quanto treino, algo que não se falava na época. Desde então venho tomando cuidado com os dias seguintes de meus pedais ou corridas mais pesadas; e funciona, como funciona! Tenho diabetes infantil, tive montes de lesões, umas tantas graves, e só depois que adotei estes descansos é que praticamente acabaram meus problemas. Mais, melhorou e muito minha condição física.
65 anos, cada vez mais apaixonado por subidas.
Já desci bem, mas hoje meu olho não acompanha minha técnica de descida, ou seja, treme tudo, enxergo mal. Ademais, por causa da diabete, se tomo um chão demora... demora... demora para ficar bom. Então, se decida não dá, vamos para a subida. E subir é do cacete, é um ótimo exercício de autoconhecimento e autocontrole.
Quando vim para Penedo a ideia era subir uma única serra, a de Visconde de Mauá, 1.298 metros de altimetria, o que fiz no terceiro dia. No dia seguinte estava cansado, mas bem mais inteiro que esperava e com uma coceira sem tamanho para fazer a curta e grossa subida de Visconde de Mauá até o topo. A descida para Penedo dispenso.
No terceiro dia depois da subida fui ao excelente Restaurante Rosmarinus em Maromba, que recomendo muito. Fica um pouco pra frente de Visconde de Mauá. De lá pretendia fazer os pesados 8.8 com 310 metros de altimetria da subida, quase toda nos km finais. Uma parede. Esfomeado como sempre, terminei com bucho cheio, fui sábio e fiquei quieto; e um tanto frustrado. E aí surgiu a história de Engenheiro Passos. Opa!
Entre as duas longas subidas foram 7 dias, um período relativamente curto para a recuperação completa da musculatura de um paulistano de 65 anos que simplesmente pedala, vez ou outra faz um pedal mais longo e forte, e que não tem treino estruturado. Minha família tem um sábio ditado: "Velho não se mete a besta"; que deixo a todos como recomendação. Olhe com auto-respeito sua real condição física e não exagere; respeite-se, e nunca, jamais se meta a besta.
Nas duas subidas fui para o "se deu deu, se não deu, não deu", o que acredito que tenha ajudado a dar. E deu!
Técnicas mais que úteis.
O maratonista olímpico Jeff Galoway, criou uma técnica de corrida a pé, a Run Walk Run, que simplesmente mudou minha vida de praticante de esportes, inclusive ciclismo. Correr, caminhar, correr, esta meio paradinha faz milagres, aumentando a distância percorrida quanto melhorando o tempo. Quando você caminha está limpando a musculatura das toxinas, este é o segredo (pelo que entendi). Jeff Galoway chegou a ganhar maratonas profissionais com esta técnica. Se a distância de pedal é maior que a que está acostumado dê paradinhas. Só consegui terminar a subida de Engenheiro Passos por que parei para água de coco. No Desafio da Serra do Rio do Rastro parei para fazer pipi ou chegaria molhado, bem dito mijado, assado e fedendo. Como vêem paradinhas são mais que providenciais.
Variar o treinamento e as pedaladas: Fartlek
Não treino, mas brinco feito criança. Um dia pedalo calmo, outro dou tiros, daí mudo o caminho e pego subidas, mudo de bicicleta, faço caminhos diferentes.... Brinque de correr - gostei da expressão usada pelo site Sua Corrida. Brinque de pedalar, seja criança, seja feliz, não só no pedalar, em tudo que faz no dia a dia. Não seja monótono, faz mal a saúde.
Ressuscitar:
Muito mais importante e com melhores resultados que simplesmente pedalar constante e forte é saber pedalar com todas as técnicas possíveis, usando corretamente as qualidades que corpo e mente oferecem e driblando as deficiências. Há uma neurose no ar de "quem é melhor" e o pessoal sai e continua feito vaca louca, um erro bobo, muito comum, que deve ser evitado.
Tenho muitas décadas de pedal e - principalmente - de leitura, ouvir, procurar me informar sobre técnicas corretas de pedalar, e a bem da verdade "quanto mais sei, mais sei que nada sei". Já pedalei como vaca louca, já cometi erros básicos, já fiz muita besteira, como qualquer um. Vergonha é persistir no erro.
Há uma forma de pedalar correto e quem a definiu foi a ciência. Tem gente que acredita em terra plana, vai fazer o que.
Subi devagar, trocando marchas no tempo certo, de tempos em tempos mudando um pouco a posição no selim, que é muito importante, relaxando a musculatura das costas e braços sempre que as percebia rígidas, mas... comi uma barrinha que me desequilibrou a musculatura das pernas, que começou a ter câimbras. Aprendi faz muito pouco tempo que subir nos tamancos, ou pedalar em pé, dá uma sobrevida, e deu. Pedalando em pé você passa de um pedal aeróbico para um anaeróbico - o resto desta ciência pergunta para quem entende - e funciona.
Outro ponto é abstrair mentalmente a câimbra, um pouco mais difícil, mas possível. Se nada funcionar espanque a musculatura que está com câimbra, o que tive que fazer mais de uma vez. Mesmo assim a perna direita travou por completo por uns minutos. Grite, alongue a respiração, esmurre a perna, volte a pedalar e - por incrível que pareça - engate uma marcha mais dura por alguns 50 metros. Funcionou. Ressuscitei o que restava da perna e terminei os dois últimos km.
Desviar o pensamento, desligar da dor.
No Desafio do Rio do Rastro todos falam dos últimos 5 km, "aí o bicho pega". É o trecho mais difícil, mas foi para mim muito mais fácil que os últimos 5 km da serra de Engenheiro Passos. A diferença provavelmente é que aqui não tinha com quem conversar, brincar, o povo a estimular, e uma vista aberta para olhar. Desta vez subi só, no meio de uma mata, com poucos pontos onde a maravilhosa paisagem se abria para o olhar, com carro, caminhão ou moto passando muito de vez em quando, ou seja, sem nenhuma distração a não ser a dor nas pernas e o cansaço. No Desafio várias vezes pedalei de olho fechado sentindo a respiração e o batimento cardíaco para tirar o foco das pernas e ajudou uma barbaridade. Aqui foi com grande dificuldade que consegui desviar a cabeça do sofrimento, o que piorou a situação. Um dos treinamentos que ciclistas profissionais recebem é controlar a ansiedade, que cansa, mata. Mesmo nas ruas, quando tenho que ir muito rápido, fico boa parte do tempo controlando minha ansiedade.
Cada subida é uma subida, e esta serra de Engenheiro Passos foi a mais pesada que já experimentei. Espero um dia poder voltar e repetir as duas subidas para entender melhor o que aconteceu. Provavelmente aprenderei algo novo.
"Pense em longo termo que os resultados virão mais cedo e mais consistentes que você espera" foi um dos posicionamentos que ajudou a fazer toda diferença. Ser imediatista é ter lesões, se machucar.
Neste mesmo sentido vem o "comece a subida devagar para terminá-la mais rápido".
A maioria dos que pedalam conseguiriam subir, basta respeitar técnicas e regras.