segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Meu roteiro para caminhar e pedalar em NY

Dois passos importantes para conhecer um pouco de NY e se divertir bastante. O primeiro: vá até uma estação do subway (metro) e compre com o cartão de crédito na máquina um passe para seis dias, US$ 30,00, que valerá para metrô e ônibus, mesmo que você fique menos dias. Dá para ir para praticamente toda Manhattan e Brooking. Não vale para as barcas. 
Se quiser pedalar tem a Citi Bike, as bicicletas coletivas de NY, mas com as limitações de qualquer sistema de bicicletas bloqueadas em docas. Eu prefiro alugar uma, que sai mais caro, mas dá a liberdade de pedalar sem limite de tempo e ir para onde bem entender, mesmo onde não tenha doca da Citi Bike. Eu alugo na Master Bike que fica na 72th com a West End Ave., a uma quadra da estação 72th da Broadway. O dono é gente fina, fala espanhol, as bicicletas de aluguel são híbridas simples, bem ajustadas, só precisa chegar cedo principalmente aos sábados e domingos para conseguir uma. A saber, NY é uma das cidades onde mais se rouba bicicleta no mundo, portanto é importantíssimo também alugar uma trava. Não deixe de pegar na bicicletaria o mapa em papel do sistema cicloviário de NY, com orientação de como fazer alguns cruzamentos e acessos específicos; é uma ajuda valiosa.

A entrada do parque do rio Hudson está a uma quadra da Master Bike e é um pedal maravilhoso, tanto no sentido Downtown quanto sentido Hudson Heights. Na entrada do Hudson Park está o Eleanor Roosevelt Memorial, uma das mulheres mais marcantes, inteligentes e interessantes da história. Vale a pena procurar o documentário sobre ela.
Voltando ao passeio de bicicleta, o Central Park está logo ali, na mesma 72th sentido contrário do rio, com entrada pela esquina do edifício onde morava John Lenon. A volta completa é bem mais longa do que se pode esperar, mas tem vários locais agradabilíssimos para parar. Eu gosto de parar no laguinho onde crianças e adultos velejam seus barquinhos rádio controlados. Nem pense ir em bicicleta aos museus que estão ao lado do Central Park, incluindo o descomunal Metropolitan, onde é entrar e esquecer do tempo, tomando café e almoçando lá mesmo. E no entorno estão vários outros senhores museus, dentre eles o Guggenheim. 

escultura de Botero  no Columbus
Da 72th dá para ir até o Columbus Circus e de lá pedalar pela ciclovia do Broadway Boulevard passando por toda a divertida bagunça de NY, incluindo Times Square, Madison Square e Flatiron Building, Union Square, descendo Manhattan até chegar em Downtown. A pé ou em bicicleta é passeio obrigatório em NY. A Broadway Ave. é visita obrigatória porque só vendo para crer a vida que dá aumentar as calçadas e colocar mesinhas no meio da rua..
Lá em baixo, no extremo sul de Manhattan, está o Battery Park, onde ou se pode fazer um pic-nic no gramado ou tomar uma cerveja e comer numa mesa do deque do Pier A Harbor House. Se você chegar aí no final da tarde vai ver um belo pôr de sol atrás da Estátua da Liberdade. De lá dá para pegar a ciclovia do East River e cruzar para o Brooklyn. Ou ainda fazer a volta pela ciclovia do rio Hudson e sua sequência de deques antes de se passar ao lado do World Trade Center e depois do Hudson Yards, dentre outras construções e pequenos parques interessantes. 
Todas as pontes têm ciclovias e calçadas para pedestres e é fácil chegar no Brooklyn. Pedestre invade o espaço dos ciclistas, mas tenha paciência e respeito que com jeito eles saem da frente. Nas pontes a paisagem é mágica e todo mundo se perde, inclusive ciclistas. Pare e olhe com calma, mas sem atrapalhar os outros.
Cruzou a ponte chega-se a um outro planeta, numa cidade de interior, tranquila, gente caminhando sem pressa, moradores locais, um povo diferente do de Manhattan, lugares gostosos para tomar café, sorvete, doces ou comer de tudo, lojas diferentes, a escolha é sua. Os locais mais movimentados e divertidos estão na Bedford Av. e Berry St.. A poucas quadras delas está o rio, de onde se tem uma outra vista maravilhosa de Manhattan. Ainda está sendo reurbanizado com alguns edifícios, em sua maioria modernos, e deques agradabilíssimos. Dá para deitar nas cadeiras e tirar uma soneca, mas cuidado porque o sol deles também torra. É possível pedalar nos deques, mas com o máximo cuidado com pedestres, idosos e crianças soltas. Uma boa opção é voltar para Manhattan pelas barcas, que aceitam bicicletas.

Hudson Yards, The High Line, Soho e Little Italy recomendo que sejam percorridas a pé. Esquece o shopping do Hudson Yards; shopping é tudo a mesma coisa. Se estiver por lá na hora do almoço, recomendo um kilo na 33th, o Frame Gourmet Catery, ótimo, muito melhor que alguns restaurantes famosos. Depois das 13:00h ou a fila é grande; pega, paga, e vai comer na praça onde está a torre de babel de escadas do Hudson Yards. Daí ou tira uma soneca ali mesmo ou numa das cadeiras espreguiçadeiras do High Line a uns passos de lá.
No Soho o número de lojas interessantes é grande e em muitas delas vale a pena entrar para dar uma olhada mais detalhada. Pode ser tão instrutivo quanto ir a um museu porque o nível de refinamento chega ao status de obra de arte. Se vier pelo High Line, logo depois de descer no Meatpacking District, que foi recuperado, e andar um pouco tem a Acne Studios (54-60 8th Av.), uma marca de Estocolmo, Suécia, que tem na pesquisa sobre tecidos seu forte. Toque neles para entender. Na vitrine deles vi um vestido estranho, de tecido com uma transparência que parecia feito de garrafa pet reciclada, mas na realidade era feito de uma sobreposição de finíssimas camadas de tecidos normais, muito agradáveis ao toque, provavelmente uma releitura da técnica impressionante das esculturas em mármore carrara véu de Giovanni Strazza, como sua Virgem Maria (1850). Nem foto e menos ainda o site conseguem dar uma noção clara do refinamento das peças de roupa.

Na 129 Spring St. tem a COS, Collection of Style, também de origem sueca e parte do grupo H&N. Tem um monte de lojas COS pelo mundo, sempre com roupas muito bem desenhadas, cortadas e costuradas, num estilo fora do habitual, um clássico ousado muito chique. As coleções que vi eram de estilistas nórdicos, uma gratíssima surpresa, mais surpresa ainda quando se descobre que não custam um absurdo e que nas liquidações os preços são bem acessíveis, até para brasileiros com este Real tão desvalorizado. Há diferença entre as coleções de cada loja COS; a da 5th Ave. é muito formal, meio sem graça; a do Soho é mais ousada, cheia de graça, mais ao nível das europeias. 
Outra loja que chama atenção foi a do estilista coreano Kuho, também da Spring St. O belíssimo conjunto sóbrio de manto, saia e blusa solitário na vitrine me fez entrar. A qualidade geral deste conjunto em especial e de todas as peças é impressionante, trabalho de perfeccionistas orientais.
Estas três grifes estão linkadas, mas os sites simplesmente não têm nada a ver com o que se vê pessoalmente nas lojas. Não acompanho moda, não trabalho, não compro, até gostaria de vestir alguma cosa mais moderna, só gosto de olhar, curtir a inteligência da criação, ver os detalhes, o acabamento, ver mulheres bem vestidas, imponentes passando com charme e encantando. Os sites não dão a mais remota ideia da beleza destas roupas.

Hora do lanche. No 465 W Broadway tem uma Harbs, uma loja de bolos... Comi um bolo, Mille Crepes, feito de muitas camadas de finas panquecas com um recheio entre elas de um creme muito leve e frutas frescas. Indescritível, maravilhoso, arte culinária japonesa, sim, japonesa. Tão delicado que desmonta ao passar do garfo, mas quem se importa, não é para comer? Devorei a primeira fatia e fui para a vitrine: ó dúvida cruel! A Harbs só tem onze receitas de 'bolos' diferentes, duas delas não são bem bolo, o que não faz nenhuma diferença. Depois de muito olhar e babar fui para a segunda fatia, que são grandes, esta de 'bolo' de chocolate, também não tradicional, feito de camadas finíssimas de chocolate montadas entre camadas de uma panqueca grossa feita de uma massa que lembra um souflet achocolatado e creme. Não fui para a terceira, quarta, quinta fatia porque sou diabético, e fiquei com muita raiva. Minha terceira fatia estaria entre a Lemon Yorgurt e a Berry berry cake. A Harbs tem origem japonesa, respeita a tradição de altíssimo refinamento e delicadeza nipônica. A vitrine na rua é singela, o interior da doceria é grande, básico, com um serviço discreto, educadíssimo, silencioso, no melhor da cultura nipônica.

Voltando lá para cima, o negócio é descer a 5h Ave. a partir da 59th, onde está o Plaza Hotel, que vale uma entrada e uma visita ao subsolo onde há uma imensa praça de alimentação, que vale mais pelo zoológico que pela comida. Mais para frente tem o Rockfeller Center e seus inúmeros detalhes, incluindo as entradas dos edifícios no entorno. Um pouco mais a frente a livraria Barnes & Noble, não a maior da cidade, mas como toda livraria parada obrigatória, nem que seja pelo literário cheiro característico de livros. E andando mais um pouco o Grand Central Terminal, parte da história não só de NY, mas da humanidade. Lá um detalhe que poucos conhecem, que é seu mercado de comidas, pequeno, mas imperdível.

Voltando para a Broadway esquina com 72th e ainda falando sobre comidas, tem o tradicional hot dog do Gray’s Papaya. Na Amsterdam com 73th, a duas quadras do Papaya, tem a Salumeria Rosi para quem ama os melhores salames e embutidos da Itália, isto sem falar em queijos e outras delícias. Foi aí que descobri que ovo frito pode ser uma iguaria – se frito em manteiga com um leve toque trufado. Na Broadway entre a 74th e 75th tem o Fairway Market, um supermercado que é entrada obrigatória, principalmente se você entende de cozinha e sabe comer. Na mesma calçada, na 80th, tem o Zabars, outro supermercado tradicional de NY. Parece bobagem, mas não é, não deixe de entrar.
Na 83th quase com Amsterdam tem o Café Lalo, onde foi filmado “You’ve got a Mail” com o Tom Hanks e a Meg Ryan. Não é nada especial, mas vale pelo cenário do ótimo filme. Agora, na Amasterdam Ave., dobrando a esquina para esquerda, tem o Celeste, um dos não muitos restaurantes italianos fora da Itália que merece um almoço ou jantar, pelas entradas, pratos principais e mesmo pizzas. Seu dono é um italiano sempre presente e acompanhando tudo no pequeno espaço e poucas mesas. Só cuidado: o preço no cardápio de vinhos é por taça, não garrafa; como é comum em todos restaurantes de NY.
Não me lembro de ter soltado um texto com dicas para alguma cidade. Este primeiro saiu longo, e deveria sair muito mais longo se fosse detalhar a infinidade de coisas interessantes. Espero que gostem.

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