quinta-feira, 19 de setembro de 2019

NY continua mudando e para melhor

No aeroporto de Chicago sentado na área de alimentação antes do embarque para NY comecei a conversar com os dois americanos que estavam sentados ao lado. Ouvi eles falando sobre seus times de futebol, que aqui é aquela coisa de bola oval e jogadores vestidos de armadura e eu quis saber como era a vida de torcedor. O jogo deste fim de semana foi decidido literalmente no último segundo e havia muita excitação. Os dois amigos são de Portland, já viajaram praticamente todos Estados Unidos para ver jogos, um deles conhece todas as principais cidades, exceto Nova York, e pela expressão tinha certo orgulho e desprezo por nunca ter estado em NY. Ficou espantado quando desandei a falar sobre a transformação que NY vem tendo em suas ruas e a importância disto para o futuro de todos nós, americanos ou não. Mais uma vez fiquei pasmado com a falta de informação que mesmo os americanos mais bem educados, como estes dois, têm sobre o que está acontecendo nas principais cidades do mundo. "Americano (médio) só olha para o próprio umbigo" todo mundo sabe, e NY não é Estados Unidos, também é sabido, mesmo assim é preocupante o desconhecimento. O que está sendo feito aqui é muito consistente e mais cedo ou mais tarde será replicado em todas cidades americanas e do planeta. É impossível para as cidades continuarem do jeito que estão e não só por causa dos problemas causados pelo automóvel. 
Já do avião vi que estão construindo mais torres estupidamente estreitas e altas em Manhattan. Sei que está havendo uma reação dos nova iorquinos a esta completa estupidez. Só vendo pessoalmente para entender o significa um fino e longo palito residencial de 100 andares. Alguns deles construídos a um quarteirão do Central Park fazendo lá longas e profundamente incômodas sombras; e aí tudo passou da conta. A prepotência destas construções me lembra a caipirada de pequenas cidades do interior de São Paulo e Minas onde no meio de pequenos telhados de sobrados ergue-se um edifício; mimetismo complexado das cidades grandes. Quanta pobreza! NY não precisa disto, mas como sempre digo, somos todos humanos. 

A boa notícia sobre NY veio quando ainda quando estava no táxi do aeroporto para o hotel que fica na 77th. Street com Broadway. O que começou em 2007 em 20 quarteirões da Broadway Av. está não só continuando, mas indo cada vez mais longe e se espalhando pela cidade. A última vez que estive aqui, faz uns três anos, as “Ruas sustentáveis de NY”, como chamou Sérgio Abranches a retirada de espaço dos carros para dar lugar para pedestres e ciclistas, ia da 34th Av. até o Columbus Circle, na altura da 59th.. O impacto positivo foi imediato. Agora a Amsterdam Av. recebe o mesmo projeto, uma faixa de rolamento pintada de verde para a ciclovia, outra para estacionamento e pequenas ilhas para pedestres, e duas para a circulação de automóveis e outros. Na Broadway o espaço para pedestres foi definitivamente consolidado e espaço para automóveis diminuiu mais ainda, o que deve ser o segundo passo para a Amsterdam, imagino eu. Sensato repetir as etapas de um projeto bem sucedido.

Saí para andar pela Broadway, passando pela Times Square, que por incrível que pareça ainda está em obras, quatro anos depois de minha última caminhada. Fui até a novidade de NY, o Hudson Yards, um complexo de edifícios de escritório, shopping, teatro e uma espécie de torre de babel feita de escadarias, ainda não terminado. O shopping é um shopping como qualquer outro shopping do planeta, uma fórmula que começa a dar problemas em várias cidades, a meu ver felizmente. A torre de babel é muitíssimo mais interessante ao vivo que as melhores fotos e artigos que vi sobre, tão interessante que nem se percebe as escadarias que se sobe até o último andar, creio que o 10° andar, de onde se tem uma vista maravilhosa do rio Hudson e dos novíssimos edifícios que circundam as escadarias. O High Line, um maravilhoso parque suspenso construído numa antiga linha ferroviária que servia as indústrias locais, foi concluído até o Hudson Yards, passando entre velhas e novas construções, um mix de arquitetura de rara qualidade e inteligência. 
Desci do High Line e dei de cara com cruzamentos do Meat Pack District que foram completamente recuperados e estão cheios de vida. Subi a 8th Av. e cruzei as 14 e 23 Streets, duas ruas que vão de rio a rio onde os carros foram praticamente banidos para dar passagem para ônibus. Hoje fui para a 5th Avenida e lá também duas faixas de rodagem agora são exclusivas para ônibus

NY me faz pensar; como será a nova metrópole? Vamos conseguir frear o poder das construtoras, o complexo de inferioridade, o individualismo exacerbado e a pobreza de espírito urbano daqueles que vem arrebentando a cidade? Por outro lado a revolução urbana nas mobilidades que principalmente NY está fazendo não tem retorno, até mesmo porque a nova geração não está interessada em ter carro. Mas somos todos humanos, e aí reside o pequeno detalhe. 

Um comentário:

  1. Obrigado por partilhar a experiência e trazer um olhar sensato.

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