segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O futuro das mobilidades e o voto em Mara Gabrilli

Ponto de partida, que chamarei de ponto zero:

Aproximadamente 15% da população brasileira tem alguma deficiência física ou mental, uma grande parcela sérias ou graves. A mobilidade deles é muito precária, quando possível. Muitos não conseguem sequer sair de casa. Você já teve que ficar numa cadeira de rodas? Pois bem, fiquei numa por duas semanas e ali descobri o quão é difícil ir até a outra esquina. Detalhe: isto foi Itaim Bibi, um dos melhores bairros de São Paulo, com calçadas exemplares para o padrão brasileiro. São Paulo, a cidade, tem algo em torno de 500 mil pessoas com necessidade especial que não conseguem ir para rua, que nunca saem de casa. Meio milhão de presidiários.

De uns anos para cá a situação melhorou muitíssimo para eles. Ainda estamos muito longe de uma situação da qual não devamos nos envergonhar profundamente. Meu pai teve uma prima com paralisia cerebral trancada num quarto, escondida de toda família, um monstro proibido de ser visto de quem só se ouviam alguns grunhidos, quando se ouvia. Ela nasceu, cresceu e morreu encarcerada num quarto para que os outros não tivessem contato com o horror. Era assim e infelizmente ainda o é, mesmo que bem mais suave.

O contato com entidades internacionais que trabalham com mobilidades “não motorizadas”, ou ativas, como chamamos hoje, deixou claro que o ideal é pensar o sistema cicloviário de forma que a introdução da bicicleta abra espaço para a vida de todos que tem qualquer tipo de deficiência de mobilidade.
Renata diz que não vota na Mara Gabrilli porque ela teve posições pesadas contra as ciclovias da administração Haddad. Não sei o que aconteceu, não vou atrás, mas posso imaginar pelo menos a irritação de uma tetraplégica vendo seus iguais mais uma vez sendo deixados para trás. Pelo que entendi a questão foi partidária. Será? E o que mais?
Estava trabalhando em vários projetos cicloviários quando a Secretaria de Municipal da Pessoa com Deficiência foi criada e Mara Gabrilli empassada como sua diretora pela administração Serra na Prefeitura de São Paulo. Foi a primeira secretaria do gênero na história do país, um importantíssimo passo a frente para uma imensa população até então esquecida, quando não desprezada. Não acompanhei os resultados da SMPED nas administrações que seguiram para fazer uma crítica mais apurada do que aconteceu depois, mas espero que a administração Haddad a tenha levado em frente como deve.

Por mais pesadas que tenham sido as críticas ou comentários de Mara Gabrilli ao que Haddad fez pela bicicleta não se justifica “não voto nela” quando se está no meio de uma luta pela transformação da cidade do automóvel para uma cidade mais humana, a meu ver o caminho mais curto para saírmos deste caos geral que vivemos no Brasil. Pelo pouco que conheci de Mara a causa dela é mobilidade para todos, onde a maioria são pessoas com deficiência de mobilidade séria, o que inclui mulheres, crianças e idosos. O que se aconteceu na administração Haddad foi bom para a bicicleta, mas com um foco um tanto exagerado na bicicleta, meio que sem pensar no resto. O resultado está ai, pedestres que o digam. OK, diminuição da velocidade, bom para todos, incluindo pedestres, mas esta não foi a imagem que restou. Os pedestres que o digam.

O Brasil precisa de mais mulheres no poder, disto ninguém duvida. Melhor se for sensível às causas fundamentais ainda hoje consideradas secundárias.

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