Na volta de Campinas, onde
tive uma reunião de trabalho, estava chovendo. Paramos para comer algo e acabamos
jantando. Na mesa ao lado um senhor falou que São Paulo começava a parar por
conta de uma tempestade. Terminamos de jantar com calma e foi o tempo correto
para conseguir voltar sem parar. Para facilitar as coisas pedi para Valéria que
me deixasse na Estação CEASA, que dali mais três estações estaria na Estação
Pinheiros e dali finalmente em casa. Da janela do trem pude ver a marginal
Pinheiros quase parada e o rio cheio. Com certeza choveu muito. Continuei na janela
e a princípio não entendi o que via sobre as águas do rio, mas logo ficou claro
que era um tapete de lixo e garrafas pet. Que vergonha!
O que vamos aprender desta
crise de água? O que aprendemos de outras crises? O que aprendemos da vida?
Fórum do
Leitor
O Estado
de São Paulo
10 de
Dezembro de 2014
Comissão
da Verdade e o país mais violento do mundo
Estou
errado ou ouvi no rádio que o Brasil foi hoje declarado pela ONU o país mais
violento do mundo? Se for, é uma ironia sem tamanho que este “prêmio” venha no
mesmo dia em que a Comissão Nacional da Verdade entregou o seu relatório final
ao Governo Federal. Mesmo que eu tenha ouvido mal, é fato inegável que após a
eleição de Lula, Dilma e seus companheiros o Brasil vem sofrendo uma escalada
de violência sem precedentes na história. Não deve causar surpresa que boa
parte da população esteja furiosa e disposta a qualquer coisa para tentar frear
a barbárie. Boa parte da sociedade apoiou este pessoal que ai está por que
eles, principalmente na época do regime militar, nos prometeram paz, justiça
social, fim da corrupção, dignidade, inteligência, educação, um futuro próspero
para todos... Hoje o Brasil está dividido, loteado entre os amigos, e pintado
de vermelho do sangue da epidemia de homicídios. Esta é a verdade.
Mais uma vez em minha vida estou
revendo meus valores, reavaliando minhas qualidades e defeitos, olhando para o
passado para aprender e construir um para frente melhor. Nascido em uma família
de detalhistas e perfeccionistas, pai, mãe e irmão, só para começar, fui
treinado para olhar muito mais os defeitos que as qualidades. Isto me ajudou
muito em algumas coisas desta vida, como, por exemplo, na relação com a
bicicleta e ser ciclista, foi um desastre em outros, principalmente no que toca
ao relacionamento humano. Ô falta de jogo de cintura!
Tenho lido muito, tentando
recuperar leituras perdidas, o que infelizmente não conseguirei. Lido de tudo, até
livros que outrora acreditei que eram secundários ou contra produtivos. Acabei
os livros que encontrei em uma caçamba faz uns 10 ou mais anos. Alguns, maravilhosos,
estavam em petição de miséria, como O tempo e o vento de Érico Veríssimo, Pedra
Branca de José Lins do Rego, Histórias dos mares do sul de W. Somerset Maugham,
dentre outros.
Um dos livros desta rica caçamba
ficou jogado as traças por que sempre torci o nariz para ele: Como fazer amigos
e influenciar pessoas, de Dale Carnegie. “Livro de auto ajuda? Não, não dá!” Quando
terminei o imperdível “A lógica do Cisne Negro” de Nassin Nicholas Taleb, que é
o estilhaçar a imensa vidraça de nossas verdades históricas em uma única
estilingada, fui remexer no que havia para ler, e dei de cara com o “Como fazer
amigos e influenciar pessoas”. Foi meu segundo nocaute, lona, cara inchada,
boca torta, desnorteado.
Aqui me levanto da lona e digo
a mim mesmo “imbecil, imbecil, como pude ser tão imbecil! Como errei em meus
relacionamentos! Erros idiotas! Não precisava ser como foi.” E sem
constrangimento peço perdão. O livro sempre esteve lá debaixo da cama, e se eu
o tivesse lido quando o achei..., teria me comunicado mais civilizadamente. Os
resultados hoje seriam outros. Piegas? Piegas é uma burrice digna de verdades
de outrora, onde havia o bem e o mal e fazíamos escolhas, ficando de um dos
lados. Nada mais imbecil, nada mais medíocre.
Sempre senti vergonha de meu
comportamento. Agora sei por que.
A bicicleta, o pedalar no
trânsito e o tempo me fizeram amadurecer, dialogar melhor. A maturidade,
portanto a desaceleração biológica, me fez reagir com mais calma, com mais
tempo, portanto de maneira menos emocional e mais racional, portanto sábia.
Fomos para Campinas pela
rodovia Anhanguera, onde tantas vezes pedalei. Construíram um monte de viadutos
e pontes ligando os dois lados da marginal Tiete, alargaram a estrada por
muitos quilómetros e praticamente acabaram com um dos mais agradáveis lugares
para pedalar. Não há mais espaço para os ciclistas. Passamos pelo Pico do
Jaraguá e senti saudades de tempos que não voltam mais.
Pela manha, pouco antes de ir
para Campinas, passei pela rua João Moura, onde implantaram mais um trecho de
ciclovia. Tivesse um acesso de gargalhada com a porcaria. E logo em seguida um
acesso de raiva. A noite, depois da viagem, cheguei em casa e liguei a TV para
ver as notícias. O Jornal Nacional deu 25 minutos sem interrupção para mais uma
grave denúncia contra a Petrobrás, coisa que nunca vi acontecer naquele jornal.
No intervalo entrou uma propaganda da Prefeitura de São Paulo sobre as
maravilhas das ciclovias que estão sendo implantadas. Acredita quem quer ou
quem não vê de perto.
Tenho certeza que sou uma
conversa dura, assim como tenho certeza que vivo num país onde o diálogo é joia
raríssima. Isto não atenua meus defeitos.
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