sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O que aprendemos desta vida?

Na volta de Campinas, onde tive uma reunião de trabalho, estava chovendo. Paramos para comer algo e acabamos jantando. Na mesa ao lado um senhor falou que São Paulo começava a parar por conta de uma tempestade. Terminamos de jantar com calma e foi o tempo correto para conseguir voltar sem parar. Para facilitar as coisas pedi para Valéria que me deixasse na Estação CEASA, que dali mais três estações estaria na Estação Pinheiros e dali finalmente em casa. Da janela do trem pude ver a marginal Pinheiros quase parada e o rio cheio. Com certeza choveu muito. Continuei na janela e a princípio não entendi o que via sobre as águas do rio, mas logo ficou claro que era um tapete de lixo e garrafas pet. Que vergonha!
O que vamos aprender desta crise de água? O que aprendemos de outras crises? O que aprendemos da vida?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
10 de Dezembro de 2014

Comissão da Verdade e o país mais violento do mundo

Estou errado ou ouvi no rádio que o Brasil foi hoje declarado pela ONU o país mais violento do mundo? Se for, é uma ironia sem tamanho que este “prêmio” venha no mesmo dia em que a Comissão Nacional da Verdade entregou o seu relatório final ao Governo Federal. Mesmo que eu tenha ouvido mal, é fato inegável que após a eleição de Lula, Dilma e seus companheiros o Brasil vem sofrendo uma escalada de violência sem precedentes na história. Não deve causar surpresa que boa parte da população esteja furiosa e disposta a qualquer coisa para tentar frear a barbárie. Boa parte da sociedade apoiou este pessoal que ai está por que eles, principalmente na época do regime militar, nos prometeram paz, justiça social, fim da corrupção, dignidade, inteligência, educação, um futuro próspero para todos... Hoje o Brasil está dividido, loteado entre os amigos, e pintado de vermelho do sangue da epidemia de homicídios. Esta é a verdade.

Mais uma vez em minha vida estou revendo meus valores, reavaliando minhas qualidades e defeitos, olhando para o passado para aprender e construir um para frente melhor. Nascido em uma família de detalhistas e perfeccionistas, pai, mãe e irmão, só para começar, fui treinado para olhar muito mais os defeitos que as qualidades. Isto me ajudou muito em algumas coisas desta vida, como, por exemplo, na relação com a bicicleta e ser ciclista, foi um desastre em outros, principalmente no que toca ao relacionamento humano. Ô falta de jogo de cintura!
Tenho lido muito, tentando recuperar leituras perdidas, o que infelizmente não conseguirei. Lido de tudo, até livros que outrora acreditei que eram secundários ou contra produtivos. Acabei os livros que encontrei em uma caçamba faz uns 10 ou mais anos. Alguns, maravilhosos, estavam em petição de miséria, como O tempo e o vento de Érico Veríssimo, Pedra Branca de José Lins do Rego, Histórias dos mares do sul de W. Somerset Maugham, dentre outros.
Um dos livros desta rica caçamba ficou jogado as traças por que sempre torci o nariz para ele: Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie. “Livro de auto ajuda? Não, não dá!” Quando terminei o imperdível “A lógica do Cisne Negro” de Nassin Nicholas Taleb, que é o estilhaçar a imensa vidraça de nossas verdades históricas em uma única estilingada, fui remexer no que havia para ler, e dei de cara com o “Como fazer amigos e influenciar pessoas”. Foi meu segundo nocaute, lona, cara inchada, boca torta, desnorteado.
Aqui me levanto da lona e digo a mim mesmo “imbecil, imbecil, como pude ser tão imbecil! Como errei em meus relacionamentos! Erros idiotas! Não precisava ser como foi.” E sem constrangimento peço perdão. O livro sempre esteve lá debaixo da cama, e se eu o tivesse lido quando o achei..., teria me comunicado mais civilizadamente. Os resultados hoje seriam outros. Piegas? Piegas é uma burrice digna de verdades de outrora, onde havia o bem e o mal e fazíamos escolhas, ficando de um dos lados. Nada mais imbecil, nada mais medíocre.
Sempre senti vergonha de meu comportamento. Agora sei por que.
A bicicleta, o pedalar no trânsito e o tempo me fizeram amadurecer, dialogar melhor. A maturidade, portanto a desaceleração biológica, me fez reagir com mais calma, com mais tempo, portanto de maneira menos emocional e mais racional, portanto sábia.
Fomos para Campinas pela rodovia Anhanguera, onde tantas vezes pedalei. Construíram um monte de viadutos e pontes ligando os dois lados da marginal Tiete, alargaram a estrada por muitos quilómetros e praticamente acabaram com um dos mais agradáveis lugares para pedalar. Não há mais espaço para os ciclistas. Passamos pelo Pico do Jaraguá e senti saudades de tempos que não voltam mais.
Pela manha, pouco antes de ir para Campinas, passei pela rua João Moura, onde implantaram mais um trecho de ciclovia. Tivesse um acesso de gargalhada com a porcaria. E logo em seguida um acesso de raiva. A noite, depois da viagem, cheguei em casa e liguei a TV para ver as notícias. O Jornal Nacional deu 25 minutos sem interrupção para mais uma grave denúncia contra a Petrobrás, coisa que nunca vi acontecer naquele jornal. No intervalo entrou uma propaganda da Prefeitura de São Paulo sobre as maravilhas das ciclovias que estão sendo implantadas. Acredita quem quer ou quem não vê de perto.

Tenho certeza que sou uma conversa dura, assim como tenho certeza que vivo num país onde o diálogo é joia raríssima. Isto não atenua meus defeitos. 

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