Cheguei são e salvo a minha
casinha, que felizmente está inteira e limpinha graças à santa Cida, velha
amiga e protetora da família. Fico pensando se exagerei nos meus medos.
O Aeroporto de Cumbica continua o
mesmo, velho, feio, pouco funcional, banheiros inapropriados, mas a fila para a
Polícia Federal desta vez andou. Da última vez chegaram três aviões grandes ao
mesmo tempo, havia poucos funcionários da Polícia Federal vendo os passaportes,
demorou muito, a pequena sala de recepção ficou lotada, a tensão cresceu até o
ponto que um grupo de brasileiros que estavam encalhados na escadaria e corredor
que dá para os fingers começou a gritar e quase partiu para cima dos
funcionários. Felizmente não se repetiu. As malas foram liberadas rapidamente, para
meu espanto, mas como as esteiras são muito acanhadas minhas malas ficaram
passando sem que eu conseguisse que algum bom brasileiro me desse espaço para
pega-las.
A fila do taxi até que não era
grande, segundo os funcionários. Tinha uns 20 metros para os caixas,
percorridos com certa rapidez, mais uns 40 metros para pegar o taxi propriamente
dito. Mas não havia taxis. Eles saem do aeroporto com passageiros, mas não
conseguem voltar por causa do trânsito da marginal.
“Nóis vai para que altura da rua?”,
perguntou ligando o motor o educado motorista, que dali para frente não parou
de falar. Contou sobre seu pai, que vive em Teófilo Otone, Minas Gerais. O
velhinho “ganha R$ 78,00 da Dilma. Por cada filho. Tem 26 filho. Seu João é um
folgado, não faz nada”. “É 24 filho, mas descobrimo que tem mais dois. Agora é
26. Treze da minha mãe, dona Alzira. É uma santa!”, diz ele com carinho. “A
mulher do meu pai tem 28 anos e filha mais nova de minha mãe tem 29. Ela (atual
mulher do pai) tem 3 filhos. Meu pai recebe uns R$ 2.000,00 da Dilma por filho
que nasce. Não sei o que faz com o dinheiro, mas ele está bem na terrinha, tem
umas vaca, arvore de fruta...” Confesso que não sei escrever com o português
que ele falou, mas ouvindo as histórias do simpático e falante motorista ficou
claro que francês fala francês, espanhol fala espanhol, e o brasileiro comum
fala alguma coisa que pode se parecer com o português. Está ai a diferença; ai
é que não damos certo.
O aprendizado da língua francêsa
é ato sagrado. A língua francesa tem a mesma forma e estrutura faz séculos -
literalmente. Regras claras, seguidas por todos. Há diferenças, gírias, modismos,
normais que não chegam a deformar a forma de expressão e a comunicação entre
cidadãos. O mesmo com o espanhol. É lógico que mesmo quem fala espanhol
fluente, como eu, tem dificuldade de entender o que alguns falam, mas se você
pedir para falarem devagar o problema se resolve porque eles falam espanhol. Em
qualquer país civilizado a língua é a mesma para todos por uma questão de
unidade. É muito comum ver adolescentes e jovens lendo ou carregando livros,
desde leituras leves até temas complicados, bem complicados. Um país se
estabelece ai na segurança da comunicação fluente e inteligível. Você não
precisa de um tradutor quando muda de bairro, como acontece aqui.
Os parisienses estão comemorando
os 114 anos da abertura da Exposição Universal, de 1900, aberta em 15 de abril daquele
ano. Passaram pela exposição, nos seis meses que ficou aberta, 50.8 milhões de visitantes,
a maioria turista, isto em 1900! Para a gigantesca exposição foi instalada um
grande quantidade de melhorias de mobilidade, como a primeira linha de metro, a
primeira esteira rodante para pedestres (como a que se tem hoje em aeroportos) de
longa distância, 3 pontes sobre o Sena, incluindo a Alexandre III, linhas expressas de trem lingando várias capitais europeias,
inclusive Londres do outro lado do Canal da Mancha... Não sei se foi dai que Paris
aprendeu a importância do turismo, mas a Cidade Luz virou um ótimo negócio.
Sozinha, sem o resto da cidade, a Tour Eiffel recebe por ano umas cinco vezes
mais turistas que todo o Brasil. A Espanha anunciou, com grande felicidade, que
o turismo voltou a crescer no ano passado, com 56 milhões de turistas e uma
renda 60.000.000,00 (leia-se bilhões) de Euros.
“Está tendo um curso de
especialização para os taxistas que vão trabalhar na Copa, mas eu não estou
fazendo. Gosto de trabalhar, não gosto de estudar”, diz o motorista num precário
português de vocabulário limitadíssimo e errado. Ele será um dos que receberá
os turistas estrangeiros. Como é relativamente comum na Europa alguns destes
turistas vão estudar um pouco de português antes de embarcar. A maioria vai ter
aulas do português de Portugal, bem diferente do nosso. Pior, vão chegar aqui e
encontrar uma população que fala outra língua. Talvez a vontade de visitar mais
uma vez o Brasil termine na inevitável visita ao banheiro depois de desembarcar
do avião. Com sorte haverá papel higiênico; com muito mais sorte a folha de
papel não furará ao limpar a bunda.
Abaixo uns pouquíssimos "restos e consequências" da enorme diferença que a Exposição Mundial de 1900 fez para Paris
Abaixo uns pouquíssimos "restos e consequências" da enorme diferença que a Exposição Mundial de 1900 fez para Paris
O Petit Palais de Paris está com uma maravilhosa exposição sobre Paris 1900 e o fim da Belle Epoque - http://www.petitpalais.paris.fr/fr/expositions/paris-1900-la-ville-spectacle-0. No Instituto Árabe tem uma exposição sobre o Orient Express, que dá bem uma noção do que era aquele momento da história européia - http://www.imarabe.org/activites-evenements/collections-expositions/expositions/orient-express. Infelizmente a exposição estava fechada quando fui.
O que restará depois da Copa?
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