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Na minha primeira passagem por NY vi Robert Plant e Jimmy Page vestidos de roupas pretas de pelica, parados na esquina da 5ª Av. com a 57th esperando taxi sem que ninguém os incomodasse. Em NY, como toda a cidade que mereça o título de metrópole, há grande diversidade e a grande maioria é simplesmente um cidadão, independente das posições ou condição social. Mesmo os mais ricos evitam ao máximo demonstrações agressivas de poder social, que definitivamente não são chiques e bem vistas.
Infelizmente São Paulo, que é uma cidade de grande diversidade, tem problemas ridículos de intolerância como os ataques contra homossexuais na av. Paulista, o mesmo local onde acontece a maior parada da diversidade do mundo. Mas infelizmente, para esta cidade que quer ser uma das grandes metrópoles do mundo, suas intolerâncias não param por ai; muito pelo contrário. Em nome da segurança própria uma imensa parcela dos paulistanos se considera protegido atrás de muros, arame farpados, cercas elétricas, sistemas de segurança, homens de preto, carros com vidros pretos, blindados, shoppings centers, e tantas besteiras e inutilidades mais. Não faz muito eu e Jonas Hagen entramos na favela Paraisópolis para checar um trecho da proposta para o sistema cicloviário do Butantã e, não demorou muito, veio um garoto checar (provavelmente para os donos do pedaço) o que estávamos fazendo ali. Ou na vistoria da favela do Sape, km 19 (creio) da rodovia Raposo Tavares onde fui impedido de entrar. Lá, só com a mediação da Sub-Prefeitura. Ou na portaria do edifício de escritórios de nossa reunião de cada dia. Enfim, exemplos é que não falta.
Infelizmente a diversidade, a liberdade de idéias e de condição social não é artigo que possa encontrar na maioria da população paulistana. Infelizmente. Muita gente quer impor seus pontos de vista, sua individualidade, o famoso quem pode mais chora menos ou coisa que o valha. São Paulo não é coletiva. Com raras exceções, São Paulo é um amontoado de indivíduos, ou eventualmente grupelhos.
Quando começou a correr a notícia que haveria um protesto contra a declaração daquela senhora, proprietária de uma loja para ricos e famosos, segundo ela própria insinuou e afirmou, eu confesso que fiquei preocupado. No mesmo sábado pela manha encontramos um ciclista com jeitão de skinhead que havia ido numa das últimas manifestações de ciclistas na Paulista e contou que havia ficado realmente assustado com a dimensão e grau de tensão da manifestação. Ouvi notícias que havia intenção de uns poucos de ir com ovos... Ups! Não bom!
Hoje é segunda-feira e o que se tem notícia é que o protesto de Moema foi tranqüilo. Ótimo! Ufa!!! Como diz o sub-título da matéria do Estadão, caderno Cidades/Metrópole de Domingo 20 de Novembro de 2011, Ativistas pedem a manutenção da faixa exclusiva (ciclofaixa de Moema).
Sinto saudades dos protestos que fazíamos no passado. O foco, no geral, era o bom humor, que resolve mais do que deixa estragos. Quando deixa estrago é porque quem tomou a gozação é burro mesmo, então merece a (cômica) ofensa. E ai me lembrei de algumas músicas da época, como esta do Chico
Deixe a Menina
Não é por estar na sua presença
Meu prezado rapaz
Mas você vai mal
Mas vai mal demais
São dez horas, o samba tá quente
Deixe a morena contente
Deixe a menina sambar em paz
Meu prezado rapaz
Mas você vai mal
Mas vai mal demais
São dez horas, o samba tá quente
Deixe a morena contente
Deixe a menina sambar em paz
Eu não queria jogar confete
Mas tenho que dizer
Cê tá de lascar
Cê tá de doer
E se vai continuar enrustido
Com essa cara de marido
A moça é capaz de se aborrecer
Mas tenho que dizer
Cê tá de lascar
Cê tá de doer
E se vai continuar enrustido
Com essa cara de marido
A moça é capaz de se aborrecer
veja a integra em http://letras.terra.com.br/chico-buarque/85755/
À tarde fui a um churrasco e ficamos conversando sobre tempos passados, os protestos, as brincadeiras, as molecagens, o ultrapassar limites, e a conclusão de todos, incluindo os meninos de então que hoje estão na faixa dos 35 anos e na época eram moleques, é que havia inteligência, um certo charme, limite, bom senso, até quando a coisa ia além dos limites. Como disse Gino Meneguetti, famoso ladrão da primeira década do século XX, em entrevista sobre sua carreira e o crime como “ladrão” e sua crítica ao crime do fim dos anos 70, que ele dizia que só havia bandido.
Quem viveu aquela época sabe que hoje é diferente, muito diferente, quase o contrário da vida chique que se teve até os anos 80. E só fez piorar. Hoje há quase uma guerra social, uma guerra de identidades, guerra por pequenos espaços, por impor limites ao outro, ao oponente. Sociedade? Cuma???
Chique.
O que é chique? Sobre todas as coisas chique é o inteligente, o culto, o aberto, o que não agride, que não tolhe, que abre portas, compreende, aceita mesmo discordando, o coletivo, cidadania, etc....
Ciclistas chiques sempre houve em São Paulo. Não me lembro no nome da modelo que via pedalando na rua Dinamarca, Jardim Europa, lá pelo início dos anos 90. Ela era chique porque era blasé, completamente blasé. Provavelmente havia morado na Europa e a bicicleta era simplesmente uma opção de modo de transporte. Era linda, bem vestida, conversa simples, mas educada e inteligente. Ela não estava sozinha. Há muito pedalavam pela cidade ciclistas em terno, camisa, gravata finos; ou vestidos em esporte social pedalando de mocassim argentino da Guido com solado de borracha colocado na sapataria da esquina. Meninas e mulheres também vestidas socialmente, ou seja, com roupas normais do dia a dia, incluindo salto alto quando necessário. Lembro a vocês que uma das razões para o mountain bike ter virado mania foi porque este começou no meio de famílias tradicionais da sociedade paulistana (que expressão maluca!!!, mas era o que usava na época). Chiques no vestir e chiques no comportamento social. Na época pedalar era nada chique, muito pelo contrário. Boa parte da sociedade paulistana achava estes ciclistas uma aberração. Hoje é chique. Os tempos mudam, as pessoas também. O conceito de chique muda, algumas vezes empobrece. As “madame” shique, de sarto arto, socialaite e famosa ou wannabe, como queira o seu senso de humor ou mal-humor, pretensamente ou impropriamente citadas pela proprietária da loja, se forem chiques mesmo vão deixar de ir lá por vergonha da baboseira dita. Chique mesmo tem educação e cultura para não embarcar numa situação destas. Chique é discreto e gosta de discrição. Desculpe minha senhora, mas o problema não é a ciclofaixa que cruza a porta de seu estabelecimento, mas sua indiscrição. Não expor clientes é imprescindível na condução de qualquer negócio. Se a proprietária tivesse alguma finesse iria a público e pediria desculpas, especialmente a si própria.
Infelizmente alguns acreditam que só vamos ir para frente com uma luta de classes. “Ora, dona Maria, pára de pedalar e vai lavar roupa!”. “Os motoristas (todos?!?) não respeitam os ciclistas”. “É um absurdo dar mais tempo para o pedestre (cruzar a rua). Você imagina o que vai acontecer com o trânsito?”. E ai vamos até chegar ao politicamente correto particular de cada grupelho.
Discordar pode ser chique. Ter ataque histérico definitivamente não o é. Ou será um “fi-lo porque qui-lo”?
Vale a pena ler este artigo do NY Times - http://artsbeat.blogs.nytimes.com/2011/11/08/mad-about-bike-lanes-in-both-senses-of-the-word/?scp=2&sq=bikelanes&st=cse - que trata sobre esta mesma questão. Não, não é uma mulher fora de controle falando o que não deve. É sobre as discordâncias e a construção de uma nova cidade, uma nova sociedade.
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