Acordei assustado e ofegante. Dentro de uns dias volto ao Brasil e já comecei a sonhar com as coisas de nosso país. Pesadelos, melhor dizer. Sonhei (ou tive um pesadelo) no qual estava na casa do Abílio Diniz (?????) e no meio da reunião entra um sujeito bem vestido tranquilamente e dá um tiro mortal na cabeça do mordomo e um segundo tiro para machucar na namorada do Diniz. No meio do tumulto fala alguma coisa que não posso entender, mas é um recado ou ameaça, e então sai de cena tranquilamente. Corpos estendidos no chão, convidados mais calmos; saímos pela porta da frente e ganhamos a rua. Um pouco mais a frente encontramos o executor, sujeito tranqüilo e educado, que tenta explicar o que havia feito. Não outra forma de escapar da situação a não ser continuar caminhando ao seu lado. O pânico se multiplica em dois: não ter certeza do que o assassino nos reserva e o pânico de saber que a segurança do Diniz é pessoal do “mossad”, a elite do exército israelense que faz uns bicos no Brasil. “Quem será mais perigoso?” me pergunto constantemente. Passamos por uma mendiga clicando uma velha máquina fotográfica, das que usam filme. O assassino arranca a máquina da mão dela e segue clicando até desaparecer na multidão. Não deixo de pensar um segundo que o mossad já deve ter visto eu junto ao assassino. Sei que minha vida daqui para frente será absolutamente insegura, que minha vida está definitivamente em perigo, não importa o que eu faça ou tente explicar. Acordo. O quarto está praticamente escuro. A luz forte da luz passa pela cortina. A janela aberta deixa entrar o barulho da avenida que passa na frente do hotel. Levanto, abro a cortina e me apoio na janela. A lua está maravilhosa, cheia, brilhante, o céu límpido está cheio de estrelas. Ar puro e fresco. Coisa raríssima em uma São Paulo tão poluída. Onde estão nossas estrelas? O silêncio no bairro é muito agradável. São 3h00 da madrugada, não há ninguém nas normalmente calmas ruas deste bairro de edifícios, todos em 5 andares. Há umas poucas janelas com luzes e uma única com TV ligada. Fico admirando a paisagem e tendo espasmos apavorantes com meu sonho, ou pesadelo. Dentro de mais uns dias estarei de volta ao Brasil e esta sensação de completa tranqüilidade, de absoluta segurança, ficará aqui na Turquia. Isto aqui dá mais segurança que Nova Iorque, Paris, ou Barcelona. Tanta segurança quanto em Munique. São Paulo, sob este ponto de vista, é apavorante. A cada volta para minha casa é uma sensação desagradável de fragilidade, de estar exposto a um assalto. A lua vai baixando, brilhante. Lá em baixo há só dois jovens revirando o lixo de uma festa de casamento que aconteceu no hotel. Lixo aqui fica dentro de caixas fechadas. Os dois catadores tomam grande cuidado para não fazer barulho e só os percebi por causa do movimento. “Isto aqui é incrível! Que inveja desta tranqüilidade.” E as imagens do pesadelo voltam angustiantes.
Pego o carro. As ruas estão vazias. Me dou conta que não há seguranças, nem homens disfarçados caminhado pelas ruas. Quando há segurança ela é pública e bem clara. Nos museus há segurança armada, muitas vezes com metralhadoras leves. Em Istanbul entrei numa joalheria sofisticadíssima, imensa. Eu estava vestido com uma bermuda velha e de camiseta provavelmente já bem amassada pela viagem, mesmo assim me foi dado na mão um maravilhoso anel de US$ 3.000,00. Nada de segurança particular vigiando o local. Nada de porta fechada. Escancarado. Impensável no Brasil.
Nossos políticos e o pessoal do judiciário têm a coragem de dizer que estamos no estado de direito e em plena normalidade. Para quem? Só se for para eles. Normalidade é isto aqui. Normalidade é o direito do cidadão de sair para a localidade que bem entenda, mesmo com cara de gringo, e não sentir o mais remoto constrangimento, desconfiança ou mesmo o menor receio. É ridículo ter pesadelos sobre violência porque sei que dentro de uns dias volto para minha pátria e lar.
No final de contas não é só a questão da insegurança que pega. Tudo por aqui funciona muito melhor. As piores estradas são boas, os aeroportos são funcionais, as pessoas são educadas e atenciosas. É incrível o cuidado que este pessoal tem com suas crianças. Foram pouquíssimas as crianças que fizeram pirraça e as broncas, raramente necessárias, são dadas com carinho. O pessoal fala baixo, não há fuzuê nos bares, mesmo com a TV ligada no futebol. Não ouvi uma discussão sequer nestes mais de 10 dias. Há um grande cuidado com os outros, com o coletivo. Prova disto é que vira-latas caninos e felinos são tratados com muito respeito e nenhum animal tem medo de se aproximar das pessoas. Muito pelo contrário. Num dos restaurantes que sentamos numa mesa na rua vi uma discussão entre a atendente e um cliente que se sentiu incomodado pelo cachorro. O vira-lata estava tranqüilo, respeitando todas mesas, mas muito interessado numa madame beagle de coleira sentada no colo da dona. A discussão, muito discreta, acabou na saída do cliente e na permanência do vira-lata. Nenhuma das outras talvez 12 mesas sequer percebeu o que aconteceu.
Sai do Brasil bastante desorientado com os acontecimentos deste ano e de minha própria vida. Aos 56 anos vejo um país que andou muito para frente em certos aspectos, mas no qual a vida está cada dia mais difícil e até em alguns momentos impraticável. As mortes violentas de Leonardo e Victor doem demais. Estou vivendo a repetição em casa das mortes brutais de Tim Lopes, repórter da Globo, e do menino João Hélio. Estamos no meio de uma guerra civil e nos acostumamos com a situação. Dentro de uns dias saio da Turquia mais consciente ainda que estamos, brasileiros, completamente loucos. Sei que vou aterrissar em Cumbica, pegar uma fila ridícula para mostrar documentos; que neste momento vou sentir profunda vergonha pelo tempo que os estrangeiros vão demorar para entrar no nosso país. Pior, vão dar com um aeroporto que mais parece uma feira livre e, ainda pior, dali vão pegar ou a Ayrton Senna ou a Dutra para cair na Marginal Tiete com suas paisagens deprimentes. Ai começa a violência, na baderna urbana, na falta de civilidade. E pode terminar encurralado entre um assassinato encomendado ou a segurança particular de um empresário bem sucedido, se o for. Depende de quem olha: se for os brasileiros ou se forem os franceses. Triste e assustador.
Nada a ver sobre o assunto mas sim o endereço de Agrigento que comentei, cujo dono se chama Carmelo, olhe no Trip Advisor
ResponderExcluirSpizzulio
Número1 de 31 restaurantes em Agrigento
5.0 de 5 estrelas 117 classificações
Panoramica dei Templi, 23, 92100 Agrigento, Sicily, Itália
++39 338 8346641
robertolacaze@gmail.com