Faz mais de uma semana que venho quebrando a cabeça sobre como devo levar a palestra que vou dar na UFABC em Santo André. Talvez mesmo que tivesse informações mais precisas sobre o público que estará presente, que é óbvio que será universitário e estudantil, provavelmente eu continuaria a ter dificuldades em definir a linha da fala. Todas as informações que tenho sobre o meio universitário de hoje não são exatamente as que eu gostaria de ouvir. Todo professor que conheço faz duras críticas ao despreparo, precariedade e em muitos casos a falta de interesse de parte dos alunos. E eu não consigo me livrar da imagem dos bares nos arredores das faculdades cheios de garrafas de cerveja vazias. Ou de alunos que tem que lutar pela sobrevivência e não conseguem ter uma boa formação porque no final do dia estão simplesmente acabados. E finalmente tem aquela tropa dos “se há governo eu sou contra” (não sei por que, mas sou contra!). É um coquetel muito difícil de lidar e hoje só não estou dando aulas por insistentes pedidos de todos estes amigos professores. “Se você tiver oportunidade, faça qualquer outra coisa (que não seja dar aulas)”, me recomendou uma amiga no meio de uma reunião onde só havia professores. Ninguém disse o contrário.
Falar sobre transporte alternativo e bicicletas é cair sempre na mesma, mas este é o tema da palestra e do momento. E vamos lá. A expressão “transporte alternativo” começa a me incomodar. Em cidades onde o trânsito entrou em colapso o que seria transporte alternativo? Alternativo ao que? Ao que está instituído? Ao que uma minoria obriga os cidadãos a usarem? A burrice e bitolação institucional e institucionalizada? Bicicleta é transporte alternativo ou é de fato transporte de massa? Creio que dependa de quem esteja vendo a realidade. Para quem nunca teve interesse em ver a realidade que passa lambendo a ponta do nariz a bicicleta praticamente não existe. Pedestres também não, mesmo que a maioria dos deslocamentos sejam realizados a pé. De fato, dentro de um carro de vidros pretos correndo por uma avenida congestionada, onde o barulho é infernal e as calçadas são praticamente intransitáveis, será difícil ver pedestres. Até porque o motorista não pode tirar o olho dos carros da frente ou vai bater.
Alternativa a esta situação demanda a mudança de mentalidade e com ela uma mudança mais aprofundada de todo funcionamento da cidade. O projeto da cidade que está ai, que vivemos hoje, foi para o lixo há décadas em todo mundo, menos aqui no Brasil. A cereja do bolo foi a inacreditável irresponsabilidade do Lula em ter baixado os impostos para os carros. Foi a socialização do congestionamento e mesmo assim parece que ainda não chegamos sequer ao réquiem de nossas cidades. O brasileiro perdeu a noção do que é cidade e cidadania. Triste. A bem da verdade, não fazemos mais idéia do que seja vida. Nossa cultura é muito voltada para a banalidade da morte.
O tom que se deve dar numa palestra destas é o que vai afinar a orquestra dos alunos. O que se quer deixar para eles? Eu já devo estar na terceira tentativa de construir uma palestra e todos os discursos não me agradaram.
Infelizmente vi uma matéria no SPTV 1ª edição, da Globo, onde apareceu o Jairo, ex-aluno e amigo, falando sobre a morte do filho, amado filho Victor, vítima de atropelamento acontecido no sábado de madrugada na rua Natingui. Esta é segunda vez no ano que falo aqui sobre morte de filhos de amigos. Primeiro Leonardo Araujo dos Anjos, recém matriculado na FEA USP, brilhante menino, com um histórico de fazer inveja. Agora Victor, 24 anos, também com uma história rara para a idade.
http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/cidades/mat/2011/07/28/jovem-atropelado-na-calcada-por-jipe-blindado-em-sp-tem-morte-cerebral-924993742.asp
Infelizmente a morte de Victor me dá o caminho da palestra. Transporte alternativo ao que temos hoje é manter as pessoas vivas ou sem sequelas
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