O evento “Cidades, bicicletas e o futuro da mobilidade” no SESC Pinheiros acabou sendo melhor do que eu poderia imaginar. Uma semana depois ainda tem gente falando, comentando, elogiando, criticando, o que deixa claro que as falas não caíram no esquecimento. Há quem tenha se decepcionado com o David Byrne, adorado o Eduardo Vasconcelos e até quem tenha falado bem sobre minha participação.
“David Byrne não é um ativista, mas escritor”, alguém retrucou numa espécie de desabafo aos que esperavam um show dele. De fato, o que ele apresentou foi o olhar de um ciclista sobre as cidades, a meu ver interessante porque mostrou slides sobre projetos de urbanistas, alguns alucinantes, completamente desconhecidos pela maioria. É claro que, como artista e cidadão do mundo, e também como ciclista, portanto preocupado com a própria segurança, David acabe formando opinião sobre a questão das mobilidades. É um processo quase que automático, inerente ao trabalho dele, mas daí a ele virar um especialista em cidades e mobilidades vai um longo caminho. David foi importantíssimo pelo público que levou ao SESC, mais de 600 pessoas. Merece nosso agradecimento e desejo de “volte sempre”.
Eu falei logo depois do David, o que não é muito fácil. Felizmente as falas, minha, de Marcelo Branco (Secretário de Transportes), e do Eduardo Vasconcelos (ANTP), acabaram se complementando. Não sei quem me disse antes do evento que o ideal seria que houvesse uma linha entre as falas, e isto aconteceu naturalmente. Para mim foi fantástico, fluido; talvez a melhor mesa da qual eu tenha tomado parte.
O evento só não foi teve repercussão maior porque houve alguma falha na assessoria, do próprio David Byrne ou do evento, não sei ao certo. Um dos trabalhos que a Escola de Bicicleta normalmente realiza é auxiliar a imprensa. Há um grupo de jornalistas que sabe que pode recorrer a nós para conseguir nomes ou caminhos para a boa notícia. E nesta nossa longa experiência nunca tivemos pedidos de socorro tão enfáticos como neste evento. Pedidos de socorro e não de orientação ou ajuda para pauta. Algo não funcionou como devido. Teve quem tivesse ficado irritado com a posição do David, mas pelo que vi acredito que ele sequer tenha sabido o que realmente estava acontecendo. A sensação que me deu, pelo pouco tempo que estivemos juntos no camarim, é que David Byrne é um tanto tímido, agitado (o que todos viram), mas solícito, atencioso. A questão é que o evento tinha muito a ver com a promoção do livro, mais que com mobilidade.
De minha parte fico feliz em ter sido reconhecido na rua por algumas pessoas que estiveram na palestra e gostaram de minha fala. A maturidade me está fazendo muito bem. A cada dia fica mais claro que calma e bom trato social fazem o melhor caminho para chegar onde se quer. Como já escrevi aqui fiz uma fala para “puxar as orelhas” do pessoal. Não é fácil dizer que as coisas estão do jeito que estão porque a população assim quer, e que a maioria não abre a boca para reclamar de melhoras ou do que está errado. Eu adoraria ter o volume de aplausos que o Eduardo Vasconcelos teve, mas já ser aplaudido no final da fala me fez bem.
Um dos blogueiros que estavam lá referiu-se a minha fala como “uma provocação”, o que acho interessante, mas não real. Eu não tenho dúvida que esta barco chamado Brasil está navegando em mar agitadíssimo porque a imensa maioria está em festa e não esta nem ai com nada. Alguns fatos atuais provavelmente levariam a população às ruas em protesto no passado, hoje sequer são motivo de conversa. Outras tantas barbaridades a maioria sequer toma conhecimento por pura falta de interesse. O pior tombo é cair da soberba. Espero que eu esteja errado, mas parece que caminhamos para isto. Há fortes indícios que a coisa não vai bem. Minha fala definitivamente não foi provocação, mas fatos reais que estão ai para quem quiser ler.
Outro fato interessante é que todos que vieram falar sobre o evento perguntaram como se faz para que se organize uma fala da Meli Malatesta, responsável pela questão das bicicletas no Município de São Paulo. Vamos ver como se faz.
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