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A nova Marginal
(e a cidade)
Desde sempre leitor do Estado de São Paulo sei da qualidade de seus textos e editoriais. Mesmo assim sempre me incomodou a forma pouco trabalhada, com pouca informação de qualidade cruzada, que é tratada a questão do trânsito e dos transportes, o que não exclusividade deste jornal. Infelizmente estamos num tempo onde o pensamento é cada vez mais verticalizado, específico. Infelizmente quando se fala sobre trânsito se fala sobre trânsito, desvinculando este até da cidade e seus cidadãos. Normalmente as referências buscadas pelos jornais do Brasil vêem basicamente e quase sempre dos mesmos personagens; e quando não os mesmos, gente alinhada com a mesmice. Muito raro sair um texto completo e sem cortes de voz, pensamentos ou experiências dissonantes.
Há uma falta de provocação à discussão sobre as implicações maiores que o caos das mobilidades traz para a qualidade de vida de todos, motorizados ou não. Não se olha para o passado com a isenção necessária para fundamentar a conversa de hoje sobre o futuro. Quando não há princípio, não há meio, não haverá futuro.
É grande a quantidade de textos, a maioria baseada em experiências comprovadas, que apontam para a relação entre o aumento da velocidade de fluxo e a desintegração social e urbana. Fala-se sobre uma via sem falar questões outras que o simples fluxo. O resto não existe, é abstrato. Como fica a vida depois de qualquer intervenção, principalmente as de grande porte? Será que a nossa violência brutal do próprio trânsito não extrapola para outras violências a partir da segregação naturalmente criada? Os números oficiais não mentem que há algo muito errado em nossas cidades. Ou está tudo separado, perfeitamente divido, e juntaras pontas da vida é uma besteira. Via é via, bairro é bairro, cidade é cidade, cada um por si e nada está conectado, tudo interage sé dentro de seu próprio universo? Esta é a sensação que se tem.
Sobre a nova Marginal e o publicado
Enquanto boa parte das metrópoles está discutindo a restauração da prioridade da vida, São Paulo pensa a questão do automóvel da mesma forma infantil que Pateta em Motor Mania - http://www.youtube.com/watch?v=0ZgiVicpZGk, ainda da década de 50. Falta a este jornal dar uma passada de olhos pelo menos em Ivan Illich, “Energia e Equidade” - http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/illich/index.htm . É ótima referência para um novo olhar.
Tudo pode ser solução, como diz o texto, mas da forma como está escrito, um tanto ufanista , pouco aprofundada, deixa um abismo no pensar do leitor. A obra é boa, simples assim. Simples porque o pensar não está inserido num contexto maior que é a vida na cidade, ou a cidade viva.
São Paulo, de fato, praticamente não tem outra alternativa que remediar seus erros do passado, como o caso da nova Marginal. A sociedade paulistana não faz idéia que há outras alternativas, portanto resta esta mesma, praticamente a mesma que as janistas ou malufianas, desde sempre tão anacrônicas e tão destrutivas. Mas é o que o paulistano quer e é o que lhe vendem.
A reforma da Marginal do Tiete... é exemplo de investir permanentemente na ampliação do sistema viário.
O que o jornal está dizendo é que quanto mais gordo ficar o trânsito mais se deve gastar em cintos e calças largas, não importa que com este estímulo o paciente vá enfartar. Lembro a este distinto jornal, e em particular a quem redigiu o citado texto, que em praticamente todas grandes metrópoles do mundo a palavra de ordem é resgatar a vida. Investir permanentemente na ampliação do sistema viário, simples assim, começou a ser questionado há muito, muito tempo. Que tal investir na melhoria dos fluxos de todos os modais de transporte tendo como meta a integridade social?
O trânsito não pode parar porque a economia depende disto, ninguém questiona. Mas é relativamente fácil provar que a partir de um determinado ponto investimentos se tornam exponencialmente caros e praticamente inúteis, quando não improdutivos. É uma equação básica.
Os benefícios desta obra .... ficaram evidentes ... como comprovam medições da CET e da reportagem.
Os efeitos imediatos da obra são óbvios, mas uma metrópole como São Paulo é um organismo vivo. Mexeu aqui hoje as resultantes serão irremediavelmente irradiadas até para aqueles que estão na outra ponta da cidade. Pergunto: o que esta obra irá representar de fato a médio e longo prazo? Quais as conseqüências nos sistemas alimentadores da própria marginal; na movimentação da cidade, na qualidade de vida de quem sequer passa por ela? Qual o estímulo às mobilidades desnecessárias e quais conseqüências na desorganização futura da cidade? Qual a relação custo/benefício a curto, médio e longo prazo, direta e indireta? Qual a necessidade de futuras intervenções tendo como base o que foi implantado agora? Qual a relação com a água? Como se pode utilizar esta obra para reorganizar o uso de solo, recuperando o rio Tiete para a vida dos cidadãos? Como não repetir o Minhocão, para ficar num exemplo bastante paulistano?
Tudo isto justifica plenamente o investimento de R$ 1.3 bilhão
Em o quanto tempo este volume de dinheiro terá se pago. Qual é o custo linear desta obra? Para que este R$ 1.3 bi tenha valido a pena quais os próximos passos de investimentos? Quais as grandes intervenções urbanas que serão realizadas nas proximidades da Marginal Tiete e quais as conseqüências destas na nova Marginal? Quantas perguntas devem ser feitas para que a afirmação “justifica plenamente” se sustente literalmente? Creio que se “justifica”, já o “plenamente” é pelo menos um arroubo de motorista.
Creio que provavelmente o custo valerá a pena por conta do tempo que demorará a construção do trecho norte do Rodo Anel, uma conta pesadíssima, mas provavelmente interessante para a escala econômica da Região Metropolitana de São Paulo. E um custo interessante se houver uma programação estabelecida desde já para a recuperação do precioso espaço de vivência que um rio proporciona a uma cidade, mas, como dizem até meus amigos, é muito sonho meu. Veremos dentro de uns anos.
A única coisa a lamentar é que providências como essas ... não tenham sido tomadas antes. Sobretudo porque, se considerarmos os seus benefícios para os paulistanos, os recursos ... são relativamente baixos.
Só creio que a obra é necessária para resolver problemas de curto prazo. Falta de planejamento, que é resultado da falta de uma discussão mais aberta e fundamentada por parte da sociedade, gerou esta obra. Por sua vez a informação de má qualidade que a sociedade paulistana sempre teve acaba gerando besteiras. Não há pior perigo que acreditar em besteira. Informação é tudo. Oferecer ferramentas para dar liberdade de pensamento traz resultados sempre interessantes.
Minha questão não é a obra em si, mas a forma do texto publicado sobre ela.
A este jornal tão conceituado cabe o dever de publicar texto que não dê a sensação que foi datilografada por um motorista que tem por caminho obrigatório para chegar ao trabalho a própria Marginal Tiete em questão.
Governos são eleitos e tem que dar a resposta desejada às demandas de seus eleitores e da população em geral. Diferentemente os jornais devem informar com um viés, abrangente e neutro de preferência, estabelecido pelo questionamento que faz do jornalismo o ato libertário desta sociedade.
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