quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sobre a situação do pedestre - São Paulo Reclama, O Estado de São Paulo

14 de junho de 2009
O Estado de São Paulo
São Paulo Reclama

Leis, calçadas e pedestres

As matérias publicadas no Cidades / Metrópole de 06 de Abril de 2010 sobre leis que ficam só no papel e a situação de pedestres e ciclistas, muito apropriadas, me fizeram lembrar uma passagem interessante que vivenciei há alguns bons anos, talvez uma década. Minha avó, Carminho Whitaker, morava então na esquina da av. Paulista com rua Haddock Lobo, reconhecido um dos cruzamentos mais letais da cidade. Depois de vê-la quase atropelada nos míseros 8 segundos para cruzar a avenida Paulista decidi tomar uma providência e fui buscar ajuda na Prefeitura. A resposta recebida tinha, como sempre, qualquer coisa a ver com fluxo do trânsito. Quem já tentou reclamar conhece bem a ladainha, repetida até nas cartas de leitores deste jornal. Como segunda alternativa, fui até o Ministério Público que então ficava na esquina da av. Paulista com rua Minas Gerais. No balcão fui atendido por um funcionário que afirmou com todas as letras que não poderiam fazer nada porque não existiam leis que garantisse o pedestre. A chefa ouviu o comentário de seu funcionário e sem mover a cabeça que lia documentos olhou para nós e em voz bem baixa, mas audível, pediu para outro funcionário vir me atender. Expliquei novamente a situação, coloquei o que está no Código de Trânsito Brasileiro, e perguntei sobre providências. Novamente, mas desta vez com explicação “advoguês nonsense” mais inteligente, me foi dito que não se podia fazer nada. Perguntei quem poderia tomar alguma providência e a resposta foi enfática no sentido do “não há o que fazer”. Assunto morto e enterrado!

Tem lei que cola e lei que não cola. Pedestre, o ser vivo, simplesmente não cola. Somos todos irremediavelmente pedestres, até mesmo, e por incrível que pareça, todos os que de alguma forma são legalmente responsáveis pelo o que está claramente definido em lei como “pedestre” (CTB), seus direitos, o direito a vida, o direito ao ir e vir. Assim como a vida, pedestre não cola. Velocidade média e fluxo de trânsito cola bem. Não cola a ladainha, mas passa e nós aceitamos. Nada importa que 34% da mobilidade de São Paulo (O.D. Metro) seja realizada única e exclusivamente a pé; que 50% (aproximadamente 750 mortos/ano) dos mortos sejam exatamente pedestres. Desde 1983, quando fiz minha primeira reclamação, ouço a mesma cantilena. O tempo passou, o mundo evoluiu, há um forte movimento internacional para humanizar as cidades, Brasília mostrou que é possível reverter a barbárie e respeitar pedestres, mas aqui, São Paulo, a mais importante capital do país, um exemplo, os valores sobre a vida continuam iguais. A questão do pedestre é a melhor prova da inacreditável falta de respeito que todos nós, brasileiros, temos pela vida. Viva o fluxo, viva a velocidade média, viva o automóvel, viva o motorista!

Que adianta melhorar calçadas, quando existem, se não se consegue cruzar a rua. Pedestre não sai do papel. Que o digam as estatísticas e o IML.

Um comentário:

  1. Oi Arturo,
    Sou repórter de VEJA SP e gostaria muito de falar com vc. Por favor entre em contato pelo e-mail mariana.barros@abril.com.br
    obrigada,
    abs

    ResponderExcluir