segunda-feira, 12 de abril de 2010

bicicleta roubada, numerada e identificada

Sai de uma reunião de trabalho no Centro da cidade exatamente às 15h00m e tomei meu rumo para casa porque me sentia um pouco mal. O tempo estava mudando rapidamente, passando de uma leve garoa para uma chuva fina, fria e forte. Minha leve dor de cabeça e nariz escorrendo pediam encarecidamente a proteção de casa, um banho e chá quentes. Trabalhar no seco é outra coisa. E no meio do caminho, em plena av. Tiradentes, passa por mim uma bicicleta importada vermelha e preta destas de mais de dez mil reais, provavelmente tamanho médio, sendo pedalada por um senhor muito simples que levava no pescoço alguns aros novos. Segui meu caminho mais um pouco e lá adiante minha consciência bateu forte. “Não dá para deixar passar, esta bicicleta não é deste cara. Meia volta volver”. O segui. Primeiro parou num bar próximo ao Choque da PM. Continuei em frente até dobrar esquina. Clássico de filme policial. Telefona para este e para aquele e logo descubro que a bicicleta havia sido roubada em Janeiro. Volto a passar pelo bar e a importada segue lá. Depois de acalmada a chuva o senhor deixa o bar, ajeita tranquilamente os aros no pescoço e segue viagem. E de novo vou atrás até seu destino final: uma pequena e pobre bicicletaria. Volto a dar telefonemas avisando a posição e para chamar 190. Do outro lado da linha uma correria de amigos para localizar o proprietário e o boletim de ocorrência. A polícia chega uns 15 minutos depois, o que foi muito bom, já que uma Scania estava empacada no meio do cruzamento da av. do Estado com rua Cantareira. Descem os polícias, explico a situação e nos encaminhamos para a bicicleta. Quem se diz atual dono está calmo, explica que a comprou na feira do rolo; deu uma velha GT mais uma grana. Achou a bicicleta bonita. Os policiais, fazem perguntas e ficam ali comigo esperando a possível vítima, então já localizado. Sei pela esposa que ele já voltou para casa, que está vindo para o local de taxi. Demora. Repito o telefonema e tenho como resposta que ele saiu de bicicleta e que deve estar chegando. Mais demora. Os policiais, pacientes, explicam que quando acontece situação semelhante o proprietário não raro fica meio aturdido e se perde. Segue a demora, já difícil de sustentar. Os PMs propõe que por telefone seja passado o número de série da bicicleta para facilitar a confirmação que aquela era o produto do roubo. Ligo de volta e atende mais uma vez a esposa. “Ele esqueceu o celular aqui em casa.” (Não posso acreditar). “Espera que vou entregar para ele na garagem” (Ops, então ele ainda não saiu de casa, isto quase duas horas depois). Desligo o telefone e sou indagado pelos policiais sobre o paradeiro da vitima. Ajeito a situação, eles compram minha história. O comandante deles começa a cobrar pelo rádio a demora dos seus subordinados. Eles se inquietam. Volto ao telefone e a resposta que tenho é que ele está vindo de bicicleta, mas no B.O. não há número de série. “Como não há número de série?” Não há, ponto final. Digo aos policiais que eu, velhinho e sem treino, faço o trajeto no máximo em 45 minutos. Recebo telefonemas perguntando como está a situação e só posso responder “Nada da vítima!”. Depois de quase três horas de espera, já batendo seis da tarde, os PMs recebem ordens para atender outra ocorrência, para voltar ao trabalho. Sem B.O. e sem número de série não há provas de roubo. Está na lei e eu concordo. Não posso segurá-los mais. Não há provas. Mesmo assim os PMs pedem ao senhor que mantenha a bicicleta em casa até que apareça a possível vítima, o que o possível receptador concorda. Saio de lá encharcado e deixo os PMs ainda no local. Na esquina, do outro lado da rua, um ciclista perdido busca informações. É a vítima. O final da história? Não faço idéia. Que a bicicleta é dele talvez não reste dúvida porque foi a única importada para o Brasil, mas o descuido de não anotarem o número de série na nota fiscal deve ter dado um bocado de trabalho para recuperá-la, caso tenha sido recuperada. Pela lei a vítima tem que provar que o produto suspeito é seu. Todos são inocentes até que se prove o contrário, e isto vale para o senhor e sua bicicleta bonita, mas provavelmente roubada.

Não me arrependo de ter ido atrás de uma bicicleta que me pareceu “imprópria para o ciclista”. Talvez em outra encarnação eu consiga comprar um brinquedo daqueles, imagine só aquele senhor muito simples, pobre até. Só fico chateado que o verdadeiro proprietário, a vítima, não tenha tido sequer a gentileza de comunicar o fim da história para todos que tentaram ajudar.

Quanto a todos vocês, tirem fotos de toda a bicicleta e façam decalque do número de série da bicicleta. Está debaixo do movimento central. Nota fiscal e garantia numerada e corretamente preenchida. Fácil e eficiente.

3 comentários:

  1. Olá, como vai?

    Sou assessora de imprensa do Instituto Parada Vital, que faz a gestão dos bicicletários de São Paulo. Estou atualizando nosso mailing de envio de novidades e gostaria de saber se você tem interesse em receber o nosso material. Em caso positivo, você poderia enviar seus contatos, por favor?

    Desde já, agradeço pela atenção e aguardo o seu retorno.

    Abraços,

    Renata Firace
    renatafirace@linhaselaudas.com.br
    (11) 3465-5868

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  2. Boa matéria! Valeu pelas dicas e bela atitude!
    Não tem que se arrepender mesmo. Quem deveria se arrepender deveria ser quem faz a coisa ilícita.
    Você foi bem corajoso!
    Eu gostaria de colocar um link do seu site ao meu
    www.imagenseviagens.net. Permite?

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  3. Governantes tem de ser aqueles que sejam mais bem preparados tanto para a filosofia quanto para a Guerra.A Republica-Platão

    "Governo e trafico negociam trégua para a copa de 2014 no Brasil, afirma especialista em crime organizado"-Jornal Placar-30.08.2010

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