sexta-feira, 16 de maio de 2025

Bicicletas elétricas e a escala humana

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O Estado de São Paulo

As bicicletas mal entraram em nossas vidas urbanas brasileiras de classe média e já vieram as ditas "bicicletas elétricas". "É a mesma coisa", vão dizer. Não é. "É mobilidade ativa, melhor que usar automóvel. É ambientalmente correta." Será? Mobilidade ativa não é exatamente, porque em boa parte delas não é necessário pedalar. Algumas são pequenas scooters. Ambientalmente corretas só se saberá em alguns anos. Suas baterias têm vida útil limitada. Para onde vão as baterias velhas? Recondicioná-las não é nada barato, fora o custo diário de recarga. Mas tem um ponto que pouco se fala: o impacto na escala humana. Bicicletas estão sendo estimuladas em todo mundo porque auxiliam na recuperação da escala humana dos transportes, portanto na qualidade de vida das cidades. A razão é simples de entender: a velocidade média de um automóvel em área urbana, origem / destino, gira em torno ou abaixo de 25 km/h. Um pedestre caminha numa média de 4km/h. A velocidade média de um ciclista comum é de 15 km/h, ou seja, mais ou menos entre o pedestre e o automóvel. Por ter uma diferença de velocidade para o automóvel menor que a que o pedestre tem, as bicicletas foram e são usadas para diminuir os perigos de quem caminha e dos com necessidade especiais nas mobilidades, o que inclui idosos, crianças pequenas, mães com bebes, cadeirantes e outros. Está mais que provado, bicicleta é eficiente, acalma as ruas, faz diferença - bem entendido, quando o sistema cicloviário é bem implantado - no recuperar a qualidade de vida de todos cidadãos, indiferente do modo de transporte usado. Esta é uma das muitas qualidades de escala humana que a bicicleta nos oferece, incluindo uma velocidade compatível com o olhar, sentir, ouvir, perceber a cidade, melhor conviver com o meio ambiente e outros cidadãos, melhora na saúde individual e pública, etc... 
Bicicletas elétricas têm sua velocidade máxima limitada a 25 km/h. É o que manda a lei, mas não é difícil burlar. Como qualquer veículo propulsionado a motor elétrico, bicicletas têm uma aceleração muito forte, alcançando a velocidade máxima rapidamente, uma grande diferença para o acelerar e manter a velocidade em escala humana de uma bicicleta convencional. Em outras palavras, bicicletas elétricas se deslocam quase ou como um automóvel.
Os sistemas cicloviários implantados foram dimensionados para ciclistas normais, os que pedalam no arroz e feijão. Ciclistas usuários de bicicletas elétricas usam as ciclovias e ciclofaixas em velocidade e principalmente com atitude que pode ser comparada a de motoristas e motociclistas, o que tem sido um desagradável problema para ciclistas comuns. Não sei qual é o índice de ocorrência entre os elétricos e pedestres, mas pela rapidez e silêncio na aproximação, e pelos conflitos com ciclistas normais, não acharia difícil que os atropelamentos tenham aumentado. 
A definição do que deve ser escala humana vem mudando, mas nunca deixará de ter como base a biologia humana e não a dita "eficiência" de algo. Eu arrisco a dizer que "bicicletas elétricas" já começaram a deixar de ser bicicletas para passar para a categoria dos 'auto-moveis'. De qualquer forma, a escala humana deste novo meio de mobilidade já se perdeu. Não percebe quem não quer. 

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