quarta-feira, 26 de março de 2025

Degradação da seleção brasileira é reflexo do que?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

Nosso futebol vem sendo degradado faz muito. Não deixa de ser reflexo de um pais que vem sofrendo uma degradação social espantosa. Os bons números da economia mascaram o nosso fracasso geral como sociedade. Faça um bet, quem será o próximo assassinado? Faça outro bet, quem será o vencedor do BBB de bandidagem e ladroagem? A seleção brasileira é só um reflexo do que é o país. De vergonha em vergonha, de derrota em derrota, sigamos em frente sem olhar para o passado de glórias. Aliás, olhar para trás, quem se importa, quem se interessa, quem sente alguma vergonha.

E no final, selfie!

terça-feira, 25 de março de 2025

Padarias, pães quentes e muito pedal atrás deles

Minha vida nos pedais se consolidou pegando pães saídos do forno e descobrindo novas padarias. Meu santo irmão, dez anos mais velho, comprou uma bicicleta, uma Caloi SS aro 27 sem marchas, em 1976 ou 77. Digo santo porque provavelmente ele tinha consciência que a bicicleta não acabaria dele. Na mosca! Pelo menos eu perguntava "posso dar uma volta?"

Ainda morávamos todos juntos, minha mãe, meu irmão, minha irmã e eu, mais a santa empregada, que era um tanto da família. Na hora do almoço minha mãe vinha e avisava que o almoço já ia sair e pedia o "vai pegar o pão", o que me fazia sair feliz da vida e trazer de volta para casa pão quente, muitas vezes baguete italiana saída do forno que era devorada por completo no almoço, todos juntos, sentados, entre as conversas mais variadas que não terminavam. Delícia! Que saudades.

A 1 km de casa ficava a Padaria Vesúvio, talvez o melhor pão italiano que comi na vida. Sempre estava no caixa um dos donos, José ou Napolitano. Nas vezes que tive esperar a delícia sair do forno os dois davam boa prosa. Foram eles que me deram uma boa noção do que é uma padaria, como funciona e suas dificuldades. Um dia venderam a padaria e não demorou muito os novos donos arrebentaram com o negócio. Com muita tristeza vi o mesmo acontecer com outras padarias. A Colony, na rua Suzano, foi a mais dolorida. Discreta, numa rua passava só o trânsito do bairro, pouco mesmo na hora do rush, tinham um pão preto e um croissant divinos, que demoraram muito para reaparecer na cidade. Não demorou muito para falir.

Pouco tempo depois do desaparecimento da Vesúvio, Colony e da Regente, na esquina da rua Sampáio Vidal com Groelândia, e de outras tantas, a qualidade geral do pão paulistano degringolou por completo. Começaram a produzir pães franceses enormes, turbinados a promato, com gosto para lá de duvidoso, que depois de frio esfarelava, virava pó. Eu odiava, mas era o que o povo queria, era o que vendia. Nunca entendi tanta ignorância palatar. Um horror.

Com meu caro amigo Tio Lu, que conhecia para valer a cidade de ponta cabeça, saíamos para pedalar longe, eu, ele, e Teresa, volta e meia mais alguém, e pelo caminho íamos pingando aqui e ali, pagando pedágio nas padarias. Não faço ideia de quantos cafés por km pedalados fazíamos, e quantas degustações, mas foi aí que conheci várias padarias paulistanas longe de casa e pude ter uma noção clara do gosto paulistano. A maioria era e segue sendo padaria de bairro, nada especial, mas aqui e ali encontramos umas poucas que valem conhecer. Quais? Não digo. O divertido, além do pão, é a descoberta. Não espere que todos os pães expostos sejam maravilhosos. Via de regra sempre há uma especialidade da casa. Aliás, se quiser saber qual o babado da padaria não vá para os recheados, os cheios de fricotes. Para saber a verdade peça um pão com manteiga e um expresso, ou café com leite. Se tirarem o miolo e colocarem margarina saia correndo.

Vale uma explicação. Quem não deu com pães vermelhos, laranjas, pretos ou com formas exóticas? Em grandes padarias esta é uma técnica para chamar clientes. O pessoal compra? Pelo que ouvi dos donos da Galeria dos Pães, não. Boa parte vai para o lixo. Aliás, esqueci de citar a Padaria Dengosa da rua Melo Alves, dos mesmos donos, onde começaram, uma das que fez de São Paulo referência em padarias. Os pães eram muito bons e o sanduiche... ah! o sanduiche. Eles tinham um chapeiro, o Pereirinha, um gênio dos sanduiches, mas cheio das suas. Um dia um dos donos perdeu a paciência de vez e colocou Pereirinha para correr no meio do atendimento e casa cheia.  

Falando desta época, ou de antes, não posso deixar de citar o Beijamin Abraão, provavelmente a figura mais importante da história da padaria paulistana, talvez até brasileira. Minha mãe conhecia e falava muito bem da sua primeira padaria, a Barcelona, numa travesa da Cardoso de Almeida. Não sei quando ele abriu a Beijamin Abraão na rua Maranhão, próxima a casa da FAU USP, onde meu irmão dava aulas. Seu Abraão não só tinha o melhor conjunto de pães da cidade, como criou um curso de padaria que formou toda uma geração, a que tirou São Paulo da deprimente era do bromato e nos trouxe de volta "pães". Um dos crimes que cometi nesta vida foi não ter conhecido pessoalmente o Sr. Beijamin Abraão, ouvido suas histórias, apertado sua mão em eterno agradecimento.

Um dia, já sem o saudoso Tio Lu, fomos pedalando até a São Domingos, que é das mais antigas, conhecidas e respeitadas padarias de São Paulo, pão italiano referência. Tive a sorte de encontrar a senhora que era casada com um dos fundadores, ou dono, sei lá, da deliciosa casa, e ela no meio da conversa perguntou se eu gostaria de conhecer os fornos. Que dúvida? Lá fui eu. Para minha surpresa o discreto sobrado da rua São Domingos que atende o público no que originalmente deveria ser uma garagem, se perde para o fundo em vários níveis e incontáveis fornos. Pedi autorização e ela me permitiu pegar um filão que tinha acabado de sair do forno. "Você vai queimar a mão", me avisou, mesmo assim peguei, voltamos para a loja com o filão sendo jogado para o alto para não queimar, e lá comprei provolone, que derreteu deliciosamente num sanduiche crocante que aí sim queimou minha boca.   

Foram raras as noites que passei em festas ou gandaia. Em Cambuquira, sul de Minas, quando ainda era adolescente, depois de sair da boate, fui pegar pão saído do forno para levar para meu tio e primos. Entrei pela porta de serviço, pedi para acompanhar os trabalhos, põe e tira pão do forno. Xereta, fui olhar a espátula entrando no forno e largando os pães para assar. O padeiro puxou rapidamente a espátula para trás e acertou no meu saco. Foi um dia dolorido, começando com um café da manhã elogiado por todos, as gargalhadas, óbvio. 

quinta-feira, 13 de março de 2025

Bonita? Por favor, olhemos o que realmente importa

Fórum do Leitor 
Rádio Eldorado FM 
O Estado de São Paulo 

Muito muito antes de ouvir a palavra feminismo, praticamente ainda bebê, entendi o valor das mulheres e apoiei toda minha vida em valores de inúmeras tias, amigas, primas, irmã e sobretudo mãe, ou mães, muitas delas seres de rara inteligência, sabedoria e fortaleza. Não só apoiei, como no que pude agi.
Muito antes de Lula ser conhecido ouvia histórias dele e suas negociações estranhas a portas fechadas com a Villares. Meu pai foi o terceiro piloto do avião da empresa e amigo dos Villares.
Muito antes da oficialização do PT fui impedido de participar das reuniões formadoras do novo partido por usar mocassins. Parece piada, mas não é mesmo.


Bonito é um adjetivo que significa agradável à vista, ao ouvido ou ao espírito. Pode também significar formoso, belo, lindo, generoso, bom, vantajoso, nobre. 
Exemplos de uso 
"Ele é muito bonito!"
"Que bonitinha essa sua pulseira, onde você comprou?"
"Aii, que bonitinho o presente que ele te deu!"
Sinônimos de bonito 
Atraente, Encantador, Formoso, Airoso, Elegante, Esbelto, Garboso, Galante, Bem-apessoado.
Origem da palavra
A palavra "bonito" vem do termo latino bonus, que significa "bom". Entrou no português no século XVI, provavelmente depois de ter ido buscar o sufixo diminutivo ito no espanhol


Ou seja, desde criancinha posso dizer que sou pró mulheres, se quiser usar o termo "feminista", ok. 
Tenho várias razões para não morrer de amores pelo semi-deus Lula, salvador das boas causas, e pelo politicamente correto PT. Tenho sérias restrições com o populismo, aliás também com o politicamente correto. Salve Chico Anísio.

O que vem matando o futuro do Brasil são os exageros, inclusive da imprensa, quando urge gastar tempo, espaço e inteligência com o que realmente importa.

O significado de "bonita" no dicionário vai além de dondoca, minha tradução para o que jornalistas estão batendo. 
Por favor, gastemos saliva com o que fará diferença. Deixem para Janja acertar as contas com Lula a quatro paredes. Para isto ela servirá.

quarta-feira, 12 de março de 2025

Atentado na Estação Pinheiros?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Dois pacotes ou caixas suspeitas foram encontrados na Estação Pinheiros lá pelas 6h00 da manhã. Soube do fechamento do terminal e ouvi a detonação de um dos pacotes. O que quer que tenha sido, quem quer que tenha feito, neste momento plantar algo numa estação é de uma falta de noção completa do que é contexto histórico, coisa de ignorantes, que é o que mais temos neste Brasil. Ofensa minha? Definitivamente não. Os números oficiais do Governo Federal assinam em baixo por mim.

Estou farto de boçalidade dita revolucionária. Quem viveu tempos passados sabe o que falo. Quem não, que ouça Revolution 1 dos Beatles. 
Não entendeu ainda. Ouça o que diz Gabeira sobre estas "ideias revolucionárias". 

Só vamos resolver está baderna quando decidirmos pensar. E eu duvido que aconteça.



terça-feira, 11 de março de 2025

1.000 km? Ou traffic calming?

Já contei várias vezes isto, mas vale relembrar sempre.

Terminada a administração Haddad fui procurado por seus partidários que haviam trabalhado no projeto cicloviário, leia-se 400 km, e me disseram que pelo menos 25% do que havia sido implantado não servia para nada. Passado um tempo um deles, gente que sabe o que fala, afirmou que 25 desperdiçados era pouco. Mais, ninguém sabia e continua não sabendo quanto custou.

Agora estão forçando para chegar aos 1.000 km. Quantos km não servirão para nada? O que do que foi feito realmente vale o quanto foi gasto? Tem dinheiro sobrando? Quais são as prioridades urgentes urgentíssimas dos cidadãos e da cidade para o parco dinheiro?

"Nós (holandeses) pedalamos. Americanos usam capacete".
A ironia, se é que se pode dizer isto, pendurada em grandes placas nas locadoras de Amsterdam, é de um humor inteligente tipicamente holandês, de gente que sabe o que fala quando o assunto é qualidade de vida urbana, cidade e bicicleta, nesta ordem. 
Os holandeses constroem cidades de alta qualidade de vida. Nós brigamos por quando mais melhor.

Nós, paulistanos, não conseguimos nos livrar de nossas tacanhices. Nos recusamos a ver e aprender com o que está estabelecido e apresenta resultados positivos inequívocos. No caso da bicicleta, ou da mobilidade alternativa, continuamos a cacarejar o discurso ciclovias e ciclofaixas, sem saber exatamente sobre o que se fala, mas crendo piamente que é certo, que é verdade. Felizmente sobre o capacete diminuiu a histeria.

Relembrei a crítica sobre os 25% agora porque, muito tarde, se está acertando a geometria viária do cruzamento da esquina da rua Estados Unidos com Canadá. Ou seja, acalmamento de trânsito, traffic calming, a solução que oferece de fato segurança para pedestres, as grandes vítimas de nosso trânsito, também para ciclistas, e todos os outros cidadãos, memo aqueles que muitos ciclistas afirmam que não o são. 
Traffic calming. É o que se faz em todas as cidades civilizadas. Aqui? Acertar a geometria das esquinas, uma cá, outra lá, muito aos poucos enquanto os mortos não esperam, com critério de implantação que não consigo entender bem qual ou para que?

1.000 km de ciclovias e ciclofaixas. Pedestres? Que olhem com atenção para os dois lados.
Se é para falar em números, quantos traffic calming foram implantados?

O uso de bicicleta cresceu 18%? Tenho perguntas. Como? Onde? Por que? O que, ou quanto o sistema cicloviário tem a ver com isto? Quantas perguntas não estão respondidas? 

O número de atropelados também cresceu. Não quero ver o número, mas onde é por quem foram atropelados?

Sou contra ciclovias, ciclofaixas e capacetes? Não, definitivamente não, repito.
Sou contra fazer pelo fazer, fazer da forma como foi feita, quando há provas sólidas e irrefutáveis que há técnicas de engenharia de trânsito para segurança muito mais eficazes para se chegar aos resultados desejados.

É burrice minha ficar batendo na mesma tecla. Confesso estar exausto, mas o que devo fazer? Calar? Nunca!

Estamos assistindo de deprimente camarote a derrocada de um império que se curvou ao populismo da pior espécie. Ignóbil! Populismo da pior espécie são todos.

Aqui estamos. Vamos fazer São Paulo melhor de novo. Acho que já ouvi isto antes.

A ignorância é uma benção... para o populismo.   


segunda-feira, 10 de março de 2025

'cê tenta

'cabou o 'cê senta, começa o 'cê tenta,  que de interessante termina num 69 e inicia o nós que aqui estamos por vós esperamos", inexorável. Não, não é só o que pensa, mas também o chamado da melhor idade, que cansei de ouvir e rir de quem nela está: Melhor idade é a puta que o pariu.

Como dizia meu pai, depois dos 50 se você acordou sem dores é porque está morto. 

Passei do tempo, devo ter um pé no céu e outro no inferno, isto quando as câimbras não me deixam duro. Pelo menos algo ainda fica duro, sempre a perna esquerda.

Primeiros minutos deste dia festivo, acordo suado, calor infernal, ligo a luz e dou com uma senhora barata subindo na cama. Até agora me pergunto que presságio foi aquele.

Obrigado 





sexta-feira, 7 de março de 2025

Calor infernal

Uma das mais antigas recordações que tenho de minha infância é ser colocado para dormir tendo um inseticida espiral, o tradicional fumacinha, no móvel de cabeceira entre um quase grudado no meu nariz e uma janela escancarada um pouco mais a frente. Eu achava reconfortante o forte cheiro daquela fumaceira numa noite de calor e umidade infernais típicos de verão do litoral, ainda por cima sem vento.

Anos mais tarde lembro de estar na casa de minha avó em Santos, também numa noite de calor insuportável, sem vento, tentando dormir num quarto com mais dois primos, tudo escancarado, janelas, porta, ventilador no máximo e na orelha, o que sempre me incomodou muito, mas ali achei uma benção. Renato e Ricardo, meus primos, embalaram logo, eu rebolei no suor dos lençóis por um bom tempo amaldiçoando a lua cheia, maravilhosa por sinal.

E cá estou eu em mais uma noite de calor infernal na finada terra da garoa. Que saudades dos tempos que isto aqui era fresquinho. Acordei com o travesseiro tão molhado quanto as boias salva-vidas que me obrigavam a vestir quando criança. Preferia morrer afogado.
 
Ah! São Paulo da garoa! Que prazer estar no meio da névoa fria, algumas vezes gelada, daquela São Paulo da garoa que se foi. Ir agasalhado para a avenida escondida na névoa gelada pegar o ônibus para a escola. Primeiro se ouvia o barulho invisível dos ônibus e carros vindos de longe, e só muito em cima, uns 30 metros se tanto, rompiam a névoa como vindo do além. Adorava o som dos ônibus elétricos, o leve ronco do motor e as antenas escorregando na fiação elétrica. Era fácil reconhecer o meu da escola por seu motor impecavelmente regulado. Na escola o recreio era de camiseta num geladinho que a correria não fazia sentir e só estimulava mais correria. Coitado do paciente bedel.

Calor, ufa!, calor. Rio de Janeiro 40 graus..., (mais quente do que a música!) Falo de um Rio com 45 graus, onde sair para rua de dia, debaixo do sol, era um suplício. E por isto, cinemas cheios em plena tarde de trabalho, ah! santo ar condicionado! Filme? Que filme? Poltronas e poltronas em ronco solto. O mesmo vivi em Recife. Quem se importa o que passa na tela? Em Recife assisti vários filmes "culte" que nem em São Paulo passavam. Por que? Provavelmente porque o público estava querendo ar condicionado, não importa o que estivesse na tela, e para o cinema o custo de filme culte devia ser muito mais barato. O que o calor infernal não faz com a vida!

Rio 40 graus, a noite vinha um refresco, não muito, nada que permitisse bocejar com prazer. Janelas escancaradas, todas, sem exceção, um ventinho abafado, pesado, que pouco ou nada servia. Dormir... só mais tarde,  bem mais tarde, muita TV ou leitura a espera da madrugada... abafada. Dormir? Acordando várias vezes para um banho gelado. Corpo estendido um pouco sobre a cama, vira de cá, vira de lá, leçol ensopado e se joga para o duro tapete empoeirado destendido sobre o chão de pedra, uma benção de sono até doer o corpo e voltar para o quente colchão. Mais alguns banhos gelados pela meio da noite. Gelado não, porque a água vinha morna, menos que o suor, mas refrescante. Mal dormido acordava com os primeiros raios de sol. Pequeno café da manhã e o mais nú possível para praia, aproveitar enquanto as areias não escaldam os pés. Fritam, melhor.

Olho os que trabalham e seguem trabalhando debaixo do racha coco, como conseguem? 
Outro dia ouvi pela primeira vez de uma madame sentada num sofá frente ao furacão do ventilador "Como eles conseguem trabalhar neste calor? Agora entendo porque a produção em áreas tórridas é tão baixa." 

Mas o calor pode ser pior, muito pior, só quem experimentou sabe. Experimente um navio cargueiro, cruzando o equador. Vai entender o real significado e insuportável. Fomos avisados pela tripulação, ao meio dia não toquem nas paredes externas, e na cabine cuidado para não queimar a mão ou o corpo com o vapor que vai sair da torneira ao abri-la. "Gire a torneira só um pouco com o corpo longe da pia e deixe o vapor sair". Dormir? Fácil. Tudo estanque, ar condicionado forte e geladinho, mas se tocar as paredes vai sentir calor.

Aprendi que portas e janelas abertas para circular o vento é um erro grave, só piora o calor dentro de casa. Quem sabe, mede a temperatura dentro e fora da casa para saber onde está mais fresco e abre ou fecha tudo. Funciona, ou melhora muito.

Corumbá, Corumbá, sem dúvida a noite mais difícil de minha vida. Calor e unidade sem igual. Aceitei uma gentileza e fui dormir numa casinha de gente bem simples, pobre mesmo, que com muito esforço construiu um espaço reduzido de paredes finas e telhado de zinco. Não queira saber o que é estar debaixo de um telhado de zinco com janela que abre pouco.  
Das boas recordações que tenho desta vida foi ter deixado o calor absurdo de Corumbá e chegado ao banho congelante que tomei em Santa Cruz de la Sierra. Nunca uma água que doeu na pele foi tão agradecida. 

Em Corumbá começou minha preocupação, minha dor no coração, com a vida dos favelados. Como se permitiu o absurdo urbano que milhões vivem?

Tem gente que gosta calor, inclusive de fritar ao sol. Afirmo que meu corpo definitivamente não gosta, aliás, para de funcionar a partir de uns 25, 27 graus. Pedalando ainda vai, aguento, mas quando paro... desmonto. Na estrada de Itu para Jundiaí, a que mais sofri, pedalei com 'deliciosos' 40 e tantos graus, fora o bafo vindo do asfalto. Como aguentei? Não faço ideia. Sei que quando cheguei, tomei litros e litros de tudo quanto fosse líquido e gelado, um banho gelado, cai duro na cama. No dia seguinte quase chamei uma funerária.


"Vai pela sombra" dita a velha recomendação. Vergonhosamente tenho cumprido a risca. Outro dia fui repreendido por um senhor por estar pedalando na calçada. Parei, pedi desculpas, e lembrei-o o "vai pela sombra". Ele imediatamente desanuviou-se. E seguimos cada um para seu lado pelo que na rua resta de sombra e algum frescor. Frescor?

segunda-feira, 3 de março de 2025

País que não se fala si trumbica

Fórum dos Leitores
SP Reclama
O Estado de São Paulo

Está nas primeiras páginas: os ministérios não se falam e atrapalham projetos importantes para o Brasil, as polícias não se falam e prejudicam a segurança da população, a família não se conversa olho no olho e a educação vai mal, com celular os namorados não se falam... e arrisco dizer, com bom e longo conhecimento de causa, que os departamentos das empresas também mal se conversam e que se dane o consumidor. Os casos são muitos e frequentes. Agora fiquei sem internet por 6 dias. Como brasileiro sei que o normal é esperar que problemas demorem para serem resolvidos, quando os são. Custo Brasil, com muita frequência é destaque nas primeiras páginas de todos jornais. Bom aplicativo, excelente atendimento (realmente) das meninas do 1058 (Vivo), bom atendimento na loja, técnico rápido, educadíssimo e eficiente, que veio no último minuto da prorrogação do sexto dia por boa vontade própria. E a certeza que minha espera vem de um precário relacionamento entre departamentos. Típico de grandes empresas. No terceiro dia ligou da Vivo uma senhora, que pela voz e forma de falar é gente grande dentro da empresa; pediu mil desculpas e jurou a solução no dia seguinte, mas nada, óbvio. Mandaram, e obedeci, fiquei 4 dias em casa esperando. O problema que tive com a Vivo é muito simbólico do Brasil disfuncional que vivemos: com medo de perder o emprego, boa parte se esforça e faz bem seus trabalhos entre a cruz e a espada, sem que suas vozes sejam de fato ouvidas por superiores e ou outro departamento. Por sua vez, seus superiores, que costumeiramente dizem conhecer tudo e mais um pouco, não tiram a bunda da cadeira para entender o que realmente acontece no fronte. Num outro caso, com uma outra empresa, subi o tom, inclusive com carta para o Estadão, e consegui que alguém do primeiro escalão tirasse a bunda da cadeira e fosse sentir o problema como cidadão comum. Quando voltei ao hotel fui recebido (sem exagero) em festa e agradecimentos pelos funcionários. O problema foi aos poucos sendo resolvido em todos os hoteis da rede. Muito do custo Brasil, que é muito alto, se deve ao silêncio da imensa maioria dos brasileiros consumidores e cidadãos. Ou cala ou tem chilique. Cristina mudou-se para Londres faz 36 anos. Ela desabafou que a maior diferença entre cá e lá é que lá, por pior que seja a situação, se vai atrás de uma saída na conversa. Aqui, por mais banal que seja a questão, descamba para a gritaria generalizada. Mentira? Sabe com quem está falando?