sexta-feira, 27 de junho de 2025

45 ou 450 m²?

Não tenho como agradecer ao Ricardo pelo delicioso jantar, cozinhado e servido por ele, e poder estar com gente que sempre gosto demais, mas não os via fazia mais de 50 anos. Que absurdo! A vida nos faz tomar caminhos diferentes e perder de vista quem nunca se deveria perder de vista.
Acabou sendo muito divertido, pelas histórias e conversas, muitas recordações do passado, e até pelas briguinhas entre primos, no caso, entre Ricardo e Silvia. Coisa de quem se gosta muito e faz questão de atazanar o outro. Família!

O jantar foi oferecido num dos clubes / condomínios mais exclusivos e chiques do Brasil, algo fora da curva no meio desta insanidade de novo-riquismo desenfreado que vivemos, melhor, que o Brasil se transformou. Quando deixamos de nos ver, lá pelo fim dos anos 60, ser rico era uma outra história. Raríssimos os que ostentavam da forma como se ostenta agora. Tinha lá seus exageros, mas nada comparado com os disparates que temos hoje. 
O clube / condomínio em questa é uma ilha de verde com um clube completo, incluindo barcos e outros esportes de aqui no Brasil são de elite. A sede e várias construções são dos anos 50, creio. Tem alguns com dinheiro que moram ali em casas de uns 200 m² em média, não mais, nem é permitido, boa parte delas no meio da mata atlântica primária beirando a água. E tem os chalés, espécie de casa comunitárias, meia parede, construção padronizada, térreas, que remetem ao que se vê um filmes americanos ou europeus de época, anos 40 ou 50. É lindo. Tudo tem regras para manter as velhas e boas qualidades do lugar, e são respeitadas. É proibido construir nos terrenos padrão, acho que 1.000 m², as alucinadas, fantásticas (?!?) mansão-shopping-center-murado-quanto-maior-melhor-mais-chique-para-esfregar-na-cara-do-outro como se vê cada vez mais com frequência na rica (???) São Paulo. A única coisa que incomoda é quantidade de automóveis, mas deste mal ninguém consegue escapar, pelo menos por enquanto.

Interessante receber o adorável convite para ir naquele clube justamente agora. Por conta de obrigações com a família tive que negar um convite para estar numa cidadezinha de 6700 habitantes no meio do sertão bahiano. O meu anfitrião lá mandou fotos e filmes do lugar, lindo, tão chique quanto onde jantei. Igual na riqueza, mas no sentido oposto, se é que é possível entender isto no meio da baderna cultural que vivemos. 

Lá, no sertão, eu ficaria numa casinha mais ou menos no tamanho da casa onde foi o jantar, talvez um pouco menor. Está no meio do nada, como dizemos aqui neste caos de cidade, ou seja, no meio de uma caatinga verde, esplendorosa, de encher olhos e alma. Uma paz! Me deu raiva de não ter ido. Nas casas do clube me senti muito tranquilo também, a diferença é que na área do social e esportiva do clube tem monte de carro estacionado e circulando, como já disse. Lá no sertão é muito verde, algumas árvores e umas poucas vacas, cabras, cavalos, galinhas... E cobras, que não saem nas fotos, mas foi dito que tem aos montes, talvez não tanto quanto o número de carros do clube. 
Na cidadezinha, no próximo fim de semana, tem as festas juninas, famosas na região. Pelo que entendi e li, não tem nada a ver com multidões, música ensurdecedora, povo olhando para o palco esfuziantemente iluminado com braços erguidos balançando. Festa de cidade pequena, tudo a ver com se divertir até morrer. 

O contraste entre isto e aquilo é de se pensar. Nos dois cantos o objetivo final de seus habitantes é muito parelho, tem mais afinidades do que possa parecer: tranquilidade, paz, ver e viver a vida. Complicado é conseguir fazer encarar e aceitar os paralelos.

E no meio do jantar contei que vivo numa casa de 45 m² de telhado, um choque para um dos convivas. "Como assim, 45 m²? Não entendi. Como pode alguém viver em 45 m²? Minha casa tem 450 m². Não conseguiria viver com menos. Preciso de espaço para viver, pensar, criar, trabalhar." Ok, também preciso de um pouco mais espaço para trabalhar, mas criar coragem e reorganizar, tudo se encaixa. Coisa de cidadão que acha normal a explosão de arranhas-céu, ou será arranhas-céus, com coberturas de muitos metros quadrados, muitos mesmo, tipo de 500 para cima, onde viverão um casal, talvez com filhos. O único feliz, talvez, será o cachorro, desde que não se pergunte "Quer passear?".
 
O ponto comum com a comparação das realidades do que oferece a cidadezinha e o chique clube está em encarar a realidade pelo que ela é, e não pelos preceitos estabelecidos. 

Espaço, a definição da palavra é fácil buscar no dicionário, mas a compreensão ou o sentido subjetivo não. Acabei de ver, no dicionário são 14 as definições, para minha surpresa, duas delas tangenciando o que quero dizer aqui. 
6.
capacidade, acomodação.
"há e. para todos no auditório"
7.
cabimento, oportunidade.
"não havia e. para aquele tipo de comportamento"

Lá, no sertão, no frio congelante de 21° C, segundo a avó de quem me convidou, vi na foto enviada com a família sentada fora da casa com fogueira acesa. Morri de inveja. Um dos meus sonhos é voltar a ver um céu de bilhões de estrelas límpido, e lá, longe da fogueira e da parca luz da casinha, teria a oportunidade, ou terei, porque um dia vou. 
Aqui, na linda e acolhedoura casa do clube, sentamos nós no terraço e conversamos até Ricardo avisar "vamos sentar, o jantar está servido". Até procurei um lugar escuro e olhei para o céu, mas estando em São Paulo se vê muito pouco, quase nada. As luzes da cidade...

Conhecia o clube. Fui umas tantas vezes quando era criança, aí falo de algo como 60 anos atrás, ou mais. Mudou pouco, felizmente. Óbvio que está muito mais cheio.  

O que me espera no sertão é uma viagem ao passado que gostaria de ter vivido muito mais intensamente. Mais ou menos na mesma época em que ia para o clube, também fui para fazendas de vida muito parecida com a simplicidade do sertão. Estrada de terra, casa de pouca mobília e utensílios, cozinha mais simples ainda, na minha época fogão a lenha, uma delícia. Que saudades! Aliás, chuveiro aquecido a lenha, serpentina dentro do fogão. "Toma banho rápido ou acaba a água quente para sua irmã".

O pessoal que revi passava as férias de verão na casa de praia em frente onde eu ficava hospedado. Era tudo open house, portas escancaradas para a multidão de crianças que podiam cruzar a rua sem olhar para ver se vinha carro. Na casa de Ricardo sempre passavam as férias algo como 19 crianças. Na que eu ficava recebia pelo menos mais 5, quando não 6, 7, 8... E tinha ainda a casa de minha tia, com outras mais. Era um exército de crianças.

Numa das fazendas onde fui quando criança nos perdemos, eu e mais dois, subindo um morro e começou anoitecer. O pai do meu amigo mandou um funcionário nos encontrar e trazer de volta. Era um homem negro, muito forte, calmo, que nos guiou para casa e a segurança. Alí descobri que havia vida fora do planeta que eu vivia. 
Na manhã seguinte do terraço eu o vi carpinando e não entendi como alguém que havia nos salvado poderia estar carpinando pesado debaixo daquele sol tórrido. Fui até lá agradecer. Talvez ali tenha começado a entender que a diferença entre o rico clube e a casinha do sertão, entre os 45 e 450 metros quadrados, possa ser olhada de outra forma.

...e no meio da calçada tinha a frente de um carro

Pedalando na calçada completamente desligado chapei a frente de um carro que acessava o estacionamento. Estava olhando janelas acesas de uma casa que foi vendida e pensando se agora vai ser posta abaixo. Bum!, uma barulheira, e chão. 

Sei que pedalar em calçada é, no geral, muito mais perigoso que pedalar junto com o trânsito. Não falo sobre calçadas largas, mas aquelas de bairros, estreitas, e não raro cheia de buracos e obstáculos. 
 
Este não foi o primeiro acidente que tenho pedalando numa calçada. O primeiro e mais marcante, foi quando era criança, lá pelos meus 5 anos de idade, se tanto. Chapei a porta de um carro que estava saindo da garagem de sua casa. Em algum canto tenho a foto da bicicleta com garfo torto, sinal que a batida não foi muito suave. Me lembro que o motorista saiu do carro e veio ver como eu estava, e eu, apavorado menos com a batida e muito mais com a possibilidade que lá em casa meus pais descobrissem que eu fugia para pedalar muito além do que me era permitido. Hoje, fico impressionado que ninguém tenha perguntado porque o garfo estava visivelmente torto para trás. Provavelmente nunca olharam a bicicletinha.

Outro acidente pedalando numa calçada aconteceu tanto por conta de uma deformação da calçada em razão de uma raiz de árvore, quanto por um amortecedor que eu sabia defeituoso e que me jogou para cima e contra um poste. Resultado, uma costela quebrada. 

O terceiro acidente, infelizmente, mas infelizmente mesmo, para minha completa tristeza, mácula imperdoável em meu currículo de mais de 40 anos pedalando, um dia derrubei uma senhora que saia de casa. Calçada muito estreita, não vi, e sobre a calçada jamais poderia ter visto, o portão abrindo e ela ponto meio corpo para fora. Resultado, ela caiu de costas, felizmente sem se machucar, e eu parei no chão. De novo, na calçada e viajando completo na maionese. Na rua, que é estreita e vazia, teria tido ângulo e tempo de reação para não atropelar a senhora. 

Repito a recomendação que sempre faço: não pedale na calçada, é perigoso. O triste é que não adianta falar, o pessoal não só não acredita, mas fica bravo quando falo. Calçada não raro é muito mais perigoso que pedalar na rua.

A segunda razão para este e os outros acidentes foi estar muito relaxado, completamente desligado. Aliás, pensando bem, todos os acidentes que tive, dirigindo automóvel ou pedalando, foram causados por distração.

Estou naqueles momentos da vida que são um tanto agitados, por assim dizer. Tenho pedalado, tanto para transporte quanto para relaxar, desligando a cabeça. Em alguns momentos passo da conta e desligo por completo. Noutros tem tanta coisa rodando na cabeça que também desligo por completo do trânsito. As duas situações são perigosas. Eu já estava prevendo que uma hora a coisa ia dar ruim, e deu, felizmente muito devagar e na calçada. Ficou o alerta: acorda Arturo!


segunda-feira, 23 de junho de 2025

Crime, terrorismo, corrupção


Como muitos brasileiros, guardo o direito de não confiar na lisura do topo de nossa pirâmide do poder público, leia-se inúmeros políticos, alguns governadores e secretários, e principalmente e não só os que agora ocupam o Planalto. A razão para a falta de confiança vem de atitudes, algumas comprovadas, que demonstram um forte interesse por enriquecimento sem a menor preocupação com as consequências para o país. Duvido que estejam preocupados que de onde veio seu bom dinheirinho, se do crime ou de uma possível organização terrorista. Aí está um buraco assustador que vem afundando o Brasil faz tempo. Afinal, corrupção nunca foi usada para financiar terrorismo? Pelo que a história diz, sim, foi.

Fim do Cidade Limpa? Times Square paulistana?

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

Faz tempo que vereadores paulistanos vem usando NY como referência para nossa cidade. No começo desta explosão imobiliária, que causa mais que estranheza, um vereador disse que estava feliz, que São Paulo se transformaria numa Manhattan. Agora querem transformar a cidade numa Times Square em nome do aumento do turismo. Quem afirma isto mostra uma vergonhosa falta de conhecimento. O turismo de NY definitivamente não está ancorado na Times Square. Aliás, ali se faz um turismo de baixo valor agregado, tipo de turismo que as cidades pelo mundo querem se livrar o quanto antes possível. Quem apoia a ideia desconhece o que é o turismo em São Paulo, onde e qual são seu valores agregados e onde estão suas fraquezas. Não resta dúvida que ao apresentar a ideia o vereador deixa claro que faz turismo farofeiro e não tem a mais remota ideia do que a atual NY, a maior e mais interessante revolução urbana dos últimos 70 anos, tem a oferecer e ensinar. As cidades com turismo mais rentável no planeta são limpas, despoluidas e principalmente seguras, nada a ver com cartazes comerciais luminosos.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

O que eu pensei sobre minha vida estava errado

O que eu pensei sobre minha vida estava errado. O que estava errado? Muita coisa. O peso dos meus erros diminuíram, (diminuíram?), quando descobri, através de uma música do Sting no disco Brand New Day, que o Corão fala sobre o valor e aprendizado que se pode tirar das dores, dos sofrimentos. Com certeza os contratempos ensinam. A questão é o tamanho da bagaça, para usar uma expressão bem pop.

Mas precisava ser assim?

Estou desmontando o apartamento de meu pai, que morreu. O relacionamento com ele foi ruim. Não sei se ruim é a palavra certa, mas definitivamente não foi uma relação fácil. Ruim, eu diria. Tenho consciência dos defeitos dos dois, meus e dele. Quando jovem joguei tudo nas costas dele em desabafos e atitudes que me arrependo, muito. Talvez até tivesse razão, e muitas vezes tive, mas a perdi não calando ou metendo a boca no trombone, não sabendo comunicar devidamente, nem com quem de direito.

Comunicar se! Este é o segredo da vida. Errei, mas tenho um bom desconto de ter vivido numa sociedade onde a comunicação é bem precária, digo a boa comunicação, não o frequente vômito inconsequente de palavras.

Num jantar para acabar com dois anos de distanciamento total, no meio de explicações que não eram pertinentes, perguntei a ele quem era o adulto ali, quem era o que deveria ter experiência de vida para não se chegar até uma situação como aquela. Ele ficou mudo. Minha tia dizia que ele era o eterno adolescente. 

Que seja, sei das minhas razões, mas absolutamente nada justifica os erros que fiz. Tereza sempre vem com "Quantos anos você tinha? Você não tinha maturidade...". Eu não aceito, não me dou ao direito de olhar para meu passado e aceitar com tanta naturalidade erros grosseiros. Não posso, não consigo. 

Agora espero que minha experiência sirva para algo, alguém ou alguma coisa. A vida é, ou pelo menos deveria e a ser, um passar de bastões, feito da maneira correta. Em outras palavras, comunicação de forma e no momento apropriados. Ou...

Agora, desmontando o apartamento, tenho certeza que desperdicei minha vida numa pressão que não valia a pena. Mesmo com outras pessoas, aquelas com quem tive bons momentos, eu poderia ter me saído melhor, muito melhor. Faltou maturidade, faltou educação e treinamento para fazer a coisa correta, ou pelo menos minimizar deslizes. Faltou orientação. "A gente vai amadurecendo", dito popular, para mim é comodismo calhorda, de quem acredita que vai aprendendo só com os erros, muitos inaceitáveis. Comodismo principalmente de quem pode e deve orientar, mas tira o seu da reta e senta no sofá. O inaceitável é inaceitável.

Acumular razões, emoções e coisas é fácil, biscoito, como dizíamos. Desmontar a bagunça é outra história, nada fácil. Vivenciei um amigo desmontando suas verdades nos últimos meses de vida. Partindo dele, cabeça dura, para mim foi uma surpresa, pena que muito tarde. Pela vida ele distribuiu riquezas, conhecimentos, ensinamentos, como poucos o fizeram, mas de uma forma dura, grosseria com muita frequência, difícil para quem estava próximo. Poderia ter sido muito mais proveitoso.

Fiz besteira adoidado pela vida. Se arrependimento matasse... Algumas besteiras ainda posso pelo menos me desculpar com quem as sofreu, outras não, até porque é muito difícil achar uma justificativa que se encaixe na palavra "minimizar". Erros de relacionamento e principalmente erros que dizem respeito ao pragmatismo necessário da e para a vida.

Um amigo com quem trabalhei me disse que se eu tivesse vivido fora do Brasil teria tido uma vida muito mais fácil, em todos sentidos. Primeiro, "se"? Então esquece. Nasci e vivi aqui. Tenho certeza que muitos dos meus erros são normalidade desta terra, mas não se justificam, pelo menos não para mim mesmo. Nada justifica.

Um dia olhei no espelho do banheiro e me vi de verdade. Uma coisa é o reflexo nosso de cada dia, outro é cair a ficha de quem está sendo refletido. Foi um tranco, daquela vez um daqueles trancos que faz o motor pegar e o carro desembestar para felicidade da vida do motorista e passageiros. Talvez agora eu deva parar de olhar no retrovisor. Sim, estou fazendo isto. Ou tentando. 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Sabores da infância e do passado

Quais são os sabores de sua infância? Titulo de uma matéria de uma revista Gourmet americana de mil novecentos e bolinha. Boa pergunta.

Arroz, sempre arroz.

Fim de semana eu estava liberado para uma única garrafa de Coca Cola e vez ou outra um suco de pêssego ou pera em lata da Yuqui, creio que esta era a marca. Do gosto das Cocas não me lembro, mas da magia de poder tomar uma lata de suco de pessego ou pera ainda recordo com delícia toda vez que tomo os sucos. Consigo lembrar com detalhes a entrada no supermercado Sirva-se, passar pela pratileira, pedir para pegar, e na rua abrir a lata e bebe-la entrando no paraíso.   

Os bifes feitos por meu pai eram maravilhosos. Frigideira de aço no fogo alto, quando vermelha, derreter manteiga sem deixar pegar fogo, imediatamente colocar o bife com borda de gordura, cozinha cheia de fumaça, um cheiro inigualável, bife começa a sangrar, só então o sal, aí vira o bife, deixa sangrar e serve. Faca afiada, corta-se a gordura, que é o que dá gosto à carne, e... delícia.  

Algumas vezes almocei na casa do então meu amigo Eduardo. Ele tinha uma empregada, Balbina, senhora já de certa idade, negra, que ouvia novela de rádio enquanto cozinhava e fazia um ovo mexido completamente diferente, maravilhoso, dos deuses, ou orixas, ou todos juntos. Eu era muito pequeno para saber qual a magia. Um dia me distraí e deixei os ovos na frigideira com manteiga mais tempo que o normal para um clássico ovo mexido. A clara ficou branca a meio ponto de sair dois ovos fritos, mas eu mexi e... ovos mexidos da Balbina. Não deixe secar. Divino!

Guarujá, peixe com purê, a senhora negra sorridente que gostava de mim e muito mais ainda de meus primos, de quem era cozinheira e santa, e coloca santa nisto, protetora. Nas férias ela ia junto com a família, coisas daquela época. O file de peixe com pure de batatas que era servido era coisa de outro planeta, tanto que, ainda muito pequeno, lá pelos meus 4 anos de idade, um dia fui até a cozinha, minima por sinal, agradecê-la.

Estas são histórias de minha infância. Lembrei, tem mais uma, curiosa. Lá pelos meus 4 anos de idade fui a festa de aniversário de um dos que estudavam comigo no pré primário e uma mão esticou uma garrafa de 7Up para mim. Quando olhei para cima dei com Marisa Matarazzo, sim a própria, a famosa cantora pré bossa nova, que em voz conhecia bem e adorava. Fiquei olhando para ela sem sabem o que responder. Sobre o refrigerante? Sei lá. Marisa Matarazzo!

E troquei de escola, ou fui convidado a mudar, sei lá. Mais justo a segunda opção. E na nova conheci a professora de francês que aplicava seguidas palmatórias, inesquecíveis. Esquece. E Zé Assumpção, amizade que durou mais de 65 anos. Eu não me lembro, mas a mãe dele, senhora fina e gentil, inteligência rara, das minhas paixões, contava rindo que no aniversário do Zé eu comecei uma guerra de brigadeiros na hora do apagar as velas que os adultos não conseguiram controlar. Saíram da sala de jantar, trancaram as portas e deixaram os anjinhos acalmarem. A reforma custou caro. Sobre brigadeiros... não, não são meus prediletos. Sobre a acusação que me fazem, não me lembro, mas nego veementemente. Eu? Fazer uma arte destas? Nunca!

Cachorro quente é bom. Em Mar del Plata, na praia de areia grossa e pedras, mar gelado, primos eufóricos com aquele sol que mal esquentava? Cachorro quente, melhor, panchos, muitos panchos, sentado dentro da barraca, no quentinho do meu casaco, nada mais delicioso. Diga-se de passagem, a salsicha Argentina é outra coisa.

Terceira escola. E minha mãe encasquetou que eu gostava muito de sanduíche de pimentão vermelho. Era bom, mas precisava ser todos dias? Nas raras vezes que tive dinheiro ia me deliciar com o misto da cantina. Muitos anos mais tarde voltei a comer o sanduíche de pimentão vermelho de minha mãe e era muito bom mesmo, mas precisava ser todos dias?

Sorvete Guarujá. Meu pai me deu 200 sei lá o que, creio que Cruzeiros, para passar toda as férias. Gastei 180 na recém inaugurada sorveteira Caramba. Preciso dizer algo mais? 
Poucos anos depois, o mesmo na Fredo de Buenos Aires.  La Flaminia... cucurucho de dulce de leche com cobertura de chocolate? Sonho! Faz uns anos, pouco mais de uma década, abriram uma Bacio di Late próxima. Repeti a loucura da infância: dois grandes de três sabores por dia, um mês impecável. 

Tostado jamon e queso con una tasa de chocolate caliente em Buenos Aires servidos por meu avô, Arturo, final da tarde no terraço do clube. Até hoje consigo sentir os gostos na boca, principalmente do tostado. Ali descobri não só gostos deliciosos, mas o que é uma boa vida. Detalhe, nesta mesma viagem, aos 11 anos de idade,  este meu avô, Arturo, me ensinou o que é um bom café. Avenida Santa Fé, Café de Colômbia expresso, 1966, o primeiro de um vício de vida. Aliás, nesta mesma férias ele, o velho Arturo Raul, parou o carro no meio da estrada, desceu, abriu minha porta, e disse "Daqui para frente você dirige". E lá fui eu. Isto em La Plata. 


Arroz. Entrei em casa depois do colégio e dei com uma panela de arroz recem feito, fogo que acabara de ser apagado, fumegando um cheirinho maravilhoso. Perguntei a minha mãe, mais em tom de brincadeira, se podia comer todo arroz, e ela caiu na besteira de dizer que sim. Panela de arroz para cinco. E eu raspei a panela e fui para meu quarto. Pouco depois aparece minha mãe na porta não sabendo se ficava preocupada pelo absurdo de arroz que eu havia engolido, se dava bronca por que teria que fazer mais e o almoço de meus irmãos que tinham que trabalhar atrasaria, ou o que. Não importa, ela ria e deu a volta em direção a cozinha dizendo a mesma frase que ouvi toda a vida: Arturo, comporte-se!

Arroz!

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Calçadas, caminhar, mobilidade

Segurança jurídica, o termo do momento. Ou a falta de segurança jurídica. É o que define não só os passos para o futuro, mas também quem é a sociedade que oferece ou não segurança. Brasil é o país da lei que cola e lei que não cola, começamos por aí. Brasil é o país com uma das maiores diferenças sociais. Brasil é o país onde caminhar a pé é coisa de pobre. Nossas calçadas que o digam. 
Cidades são o espelho da sociedade que ali vive. É no caminhar das calçadas que se constrói o que refletirá no social. Ali, no caminhar, do qual ninguém escapa, até mesmo motoristas, está estampada a equidade ou iniquidade. 
No Brasil a calçada é de responsabilidade do lote lindeiro, cabendo ao poder público fiscalizar. Há leis e normas, mas como com tudo, tem o que cola e o que não cola e, mais, pouca ou nenhuma fiscalização, isto quando há ou quando respeitam a segurança jurídica, ou ainda outras variáveis típicas do jeitinho brasileiro.
Cidades são construídas com vias, ruas e avenidas, as quais quem caminha obrigatoriamente cruza. Aí a equidade esvanece. A rua é dos automóveis, ninguém nega. O número de pedestres mortos e arrebentados não mente. O poder público tem pleno direito a sinalizar e fiscalizar o trânsito. Fiscalizar? Como? Tem lei (e norma) que cola e tem lei (e norma) que não cola. Fiscalizar o que e como?

Que cidade queremos? Igualdade? Equidade? Que vida você quer? Basta de violência! O primeiro passo é ser respeitado, dirão. Passo, dois passos, caminhar. Parece que brinco com a linguagem, mas não estou, definitivamente não estou. A cidade, a sociedade, a órdem, o progresso, só existem porque nos movimentamos, caminhamos. O direito ao caminhar com segurança é a base de uma sociedade equânime, justa, de bom futuro. Caminhar é mais que necessário, é essencial, determinante. Um país onde ainda se diz que caminhar é coisa de pobre está fadado a o que? Um país onde as leis e normas de segurança no trânsito para pedestres colam ou não colam está fadado a o que? Pense bem, o sujeito sai de casa, vai para a rua, e o primeiro recado que a cidade dá, melhor, que a sua sociedade lhe dá, é "Vai! trouxa! Vê se não atrapalha o trânsito". Muito dos problemas sociais que temos hoje, incluindo baixa produtividade, vem daí. Estou exagerando? Se você pensa assim, tenho certeza que se acostumou com o ruim. 

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Ser moderado, radicais, politicamente correto

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 
Rádio Eldorado FM 





É o que penso. Bravo Norberto Bobbio. Bravo Diogo Shelp.

Eu estou certo e os outros estão errados?

Ideias livres foi o que nos fez alcançar nas liberdades que alcançamos.

Politicamente correto, além de não implicar diretamente em agir corretamente ou ser correto, cai na besteira, para dizer o mínimo, de que o cuidado com as palavras leva direta e inevitavelmente a um comportamento social descente, apropriado, justo, produtivo.

Politicamente correto para quem e para que?

De pessoas que são politicamente corretas perante o público e nada as escondidas estou de saco cheio. Passei minha vida convivendo com eles, e aprendi, e continuo aprendendo. Aliás, aprendemos.
Qual é a inteligência embutida na besteira, até na grossa, estúpida? Não se aprende com erros ou o que possa parecer um erro? É repugnante ouvir o que não nos parece adequado? Se deve censurar ou limitar em nome de uma nova Santa Inquisição?

Salve, salve, Santo Chico Anízio 

sábado, 7 de junho de 2025

Duplamente ameaçado?

Recebi mais uma mensagem sobre os desmandos que ocorrem com frequência no Brasil e cai na besteira de responder. Não, não era vírus, nem fakenews, era fato, verdade, mas enviado com o gosto do ódio que faz da notícia uma arma para enlouquecer os que são contra. Não sou contra o que escreve, penso diferente, acredito em outra forma de resolver o problema, no caso, responsabilidade social. Solto o celular. Respiro. 

Calor pesado e vou tomar um sorvete. Aparece um menino, pré-adolescente, me pede para comprar um sorvete, e digo não. Para que? Como um ser de classe média com cara de alta elite não tenho o direito de recusar, não importa o que sou como cidadão ou se doo um bom percentual do meu dinheiro para instituições de caridade que têm um papel fundamental para a qualidade de vida dos pobres. Não comprei o sorvete para o pedinte, ponto final, sou execrável para o menino e os que estão em volta também tomando sorvete. Duvido que os iguais que me olham com reprovação façam alguma coisa de fato para mudar, ou pelo menos tentar mudar a situação daquele menino, de sua família e conhecidos. Atender ao pedido dele? Ninguém abre a boca ou tira a bunda de seus lugares. O problema é meu, decretam.
O menino tem prática, num rápido olhar sabe bem quem abordar e quem é tempo perdido. Foi bem treinado pela mãe para esmolar, pedir ou vender paninhos. Passa a irmã dele e o seu bebê no colo. Peito grandes que ainda amamentam e bebê bem exposto para todos verem, é concorrência desleal para o seu irmão que está ali pedindo sorvete. Mas o garoto sabe o que faz, é agressivo ao pedir e mais ainda depois de ouvir não, mesmo um não delicado. Solta frases prontas para encostar na parede quem se nega, as mesmas que ouvimos de tantos outros pedintes. Tudo igual. 
O que faço? Penso. Pago R$25,00 pelo sorvete para me livrar da situação ou continuo com a doação automática de R$200,00 / mês para uma entidade séria que com este dinheiro vai dar de comer a uns tantos miseráveis por dias? 

Nego o sorvete de novo, e o ambiente fica pesado. Por que os outros, os que me encaram em desaprovação, não satisfazem o menino? Hoje não quero dar, tive um dia ruim, preciso de paz. Os em volta me olham com desaprovação, mas quando o menino olha para eles buscando outra vítima, todos rapidamente desviam ou olham para o chão. O menino entendeu o jogo e força a barra. Eu tenho vontade de explodir, alguns torcem para que eu exploda, mas respiro fundo e profundamente constrangido até perdi a vontade de continuar no meu sorvete. 
Passa a mãe seguida dos irmãos menores que ela usa para sobreviver, talvez mais correto seria dizer como pequenos escravos. Já longe berra "vem!" para o garoto que se diverte em me acuar. Ele dá um último olhar ameaçador e se vai.

Fico sentado ali mesmo por um tempo, copinho do sorvete na mão vazio. Exausto. 

O direito de ter direito, a segurança publica e o populismo

Fórum dos Leitores
O Estado de São Paulo 

Segurança pública e direitos humanos segundo a vida de três faxineiras. A primeira precisa ser acompanhada pelo marido até o ponto de ônibus que espera até seu embarque. O risco de assalto até violento faz parte da vida no bairro. De uns tempos para cá também no ônibus. Os assaltantes são vizinhos jovens, conhecidos. A segunda só sai para o trabalho um pouco mais tarde para chegar "inteira". A patroa aprova. A terceira, que mora perto da segunda, tem a sorte de pegar o ônibus na porta, mas alguns dias da semana não consegue dormir por conta do pancadão que rola a algumas quadras de sua casa. A história delas é a mesma de milhões. Roubos, assaltos e outras violências, inclusive a macabra lei do silêncio, fazem parte da vida de toda população, independente do nível social.  Segurança pública e direitos humanos? Quantos anos o PT está ou ficou no poder? Lula vai bradar agora sobre segurança pública, só por que sua popularidade despenca? E o PT fica no dilema com os direitos humanos? O recado foi e continua sendo "dane-se os direitos humanos da imensa maioria vítimada violência, o nosso negócio é reeleição". Aliás, sempre foi.
Não, a solução também não está no que propõe esta direita, tão ou mais populista que esta esquerda. Tão religiosos, tão corretos, tão bonzinhos, mas duvido que Cristo ficaria feliz com o que rezam.
Fato é que ninguém, dos dois lados, tem interesse em correr atrás do dinheiro, o do crime, o ilegal, o lavado,  a única forma que se provou acertada e eficiente para frear a violência e melhorar os direitos humanos. Pedir isto a eles é demais, o orçamento secreto que o diga. Populismo lá, populismo cá, e todos sabemos como vai ficar o tico tico no fuba. 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Nada mais estupido que punir piadas?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Entre os que conviveram com judeus costuma se dizer que judeu burro nasceu morto. E quem teve um contato mais aprofundado sabe que uma das bases desta "inteligência" é o imperdoável e maravilhoso senso de humor deles, algumas vezes até cruel com os próprios. Já fiquei sem saber se devia rir ou o que com piadas absurdas contadas por um rabino. É assim que eles, judeus, colocam tudo na mesa para conversar, discutir e pensar. E se fortalecer. E sobreviver...

"Punir piadas é sinal de fraqueza institucional"? Sinal de burrice, tacanhes, mediocridade. Pior, aponta para um Brasil que é tão estupido que deixou de ser risível faz muito.

Benção Chico Anízio

Benção a todos santos comediantes que tentaram fazer deste país um país




Vá de retro o politicamente correto

segunda-feira, 2 de junho de 2025

As rampas para cadeirantes

Rádio Eldorado FM 



A imagem fala por si. Pergunta: boa parte, se não a maioria destas rampas servem realmente para que? A maioria apresenta o mesmo problema: o cadeirante não consegue transpo-la. Ok, melhor com elas do que sem, como dizem, mas mais uma vez se implanta uma melhoria urbana para cumprir a lei, e não para servir ao uso.

Cadeirante ou pessoas com necessidades especiais de mobilidade, para quem estas rampas foram criadas, representam quanto da população paulistana? Mesmo que seja uma minoria, que não o é, eles merecem respeito.

Funcionar mesmo, funcionam para ciclistas subirem rápido na calçada. Definitivamente o projeto não parece ter sido pensado para cadeirantes.

A filmagem foi realizada na esquina das avenidas Higienópolis com Angélica, portanto bairro classe A. O mesmíssimo problema se apresenta na porta do Shopping Higienópolis. A bem da verdade, repito, é comum encontrar pela cidade rampas que pouco servem para seu fim.

Como sempre digo, não é a quantidade, é a qualidade que interessa, porque só a qualidade resolve.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Mais que um simples desrespeito a Marina Silva, Ministra

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Por que chegamos a este ponto? A resposta passa por pela nossa dificuldade conversar, discutir, ouvir, e saber o momento certo de falar, regra básica na troca de ideias. O desrespeito como Marina Silva foi tratada no Congresso é só mais uma ocorrência trivial no planeta de nossas autoridades, nada demais. Não trocamos ideias, atropelamos o outro com verdades particulares. Temas de extrema importância para o país são discutidos de forma pouco ou nada produtivas, isto quando são discutidas. A prova irrefutável? Brasil, o país do futuro (que nunca vem). Se constrói o futuro agregando, não acuando.
Marina tem o respeito e reconhecimento internacional, o que já bastaria para fazer aqueles senhores (?) ouvi-la com atenção, mesmo que ela estivesse ou esteja errada. Da forma como se levou o encontro fica a pergunta: aqueles senhores sabem sobre o que estão falando? Sim, sabem, porque falam com pleno conhecimento de questões particulares, imediatistas, quem sabe em proveito próprio. "Serei reeleito?"  

O Ministério do Meio Ambiente atrasa o progresso do Brasil, disse um deles. Faltou aos distintos políticos perguntar à Sra. Ministra do Meio Ambiente se a demora na definição da liberação das licenças não se deve à falta de pessoal, estrutura e verbas, e a uma discussão séria sobre o que é economia ambientalmente correta e qual a qualidade de futuro - econômico, se quiserem - que ela trás. Pecuaristas estão descobrindo que os mesmos ambientalistas que atrasam o futuro do Brasil estavam certos, e vem adotando medidas produtivas por eles há muito recomendadas.
Se os mesmos parlamentares que fizeram a senhora Marina, a Ministra, se levantar e sair, estão tão interessados no futuro do bem estar da população afetada pelas demoras, deveriam se perguntar por que eles mesmos, Congresso e Senado, não colocou em urgência urgentíssima dispositivo para o fortalecimento das várias investigações pendentes no meio ambiente, principalmente a lavagem de dinheiro e saída de bens de forma criminal do país. Dentre outras. Brumadinho que o diga.

Está claro que estes Congresso e Senado não têm sérias dificuldades para falar sobre meio ambiente. Pelo que já demonstraram, não lhes interessa destravar o futuro de todos, sem exceção, mas deixar a boiada deles passar. 

O Brasil é mestre em perder janelas de oportunidade. Há momento apropriado para tudo, inclusive para baixarias que sempre devem ser evitadas, mas infelizmente acontecem. Tratar alguém muito respeitado mundo afora de forma que este venha a se levantar e sair de uma reunião oficial que está divulgada por todas as mídias, aos quatro ventos, é dar mais uma prova que as autoridades brasileiras são imaturas, imprevisíveis, pouco polidas, o que, isto sim, sem nenhuma dúvida, atrapalha uma barbaridade o Brasil. Não só faltou sensibilidade, faltou inteligência, o que infelizmente também é fato corriqueiro. Não coloco aqui se foi ele ou ela, o que só piora a baixaria, mas o estrago sem tamanho para a imagem, comercial inclusive, de um país que já está vergonhosamente enrascado com a COP 30. 

Em entrevista para o Estadão, Kenneth Medlock, coloca que, por exemplo, a exploração de petróleo na faixa equatorial poderia financiar o frear da extração de madeira e do garimpo ilegais. "Poderia", mas no Brasil real terá alguma chance de ir? Quem se interessa de fato pelo meio ambiente? Interessante, a cada dia quem vem se interessando nos resultados ambientais é o agro busines. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

PPP para o Parque Dom Pedro

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

Faço meus mais sinceros votos que saia a PPP do Parque Dom Pedro II. Dizer que está degradado é de uma gentileza sínica. A deprimente transformação que aquela área sofreu por décadas deixa claríssimo a total falta de respeito e completa ignorância com que São Paulo vem sendo impiedosamente tratada.

Cito em particular Paulo Salim Maluf, seus assessores e apoiadores, inclusive os dentro da população, que bateram e seguem batendo palmas para o absurdo tamponamento do Rio Tamanduateí e a implantação do Expresso Tiradentes da forma que se fez, o que ajudou e muito a degradar não só a aérea do parque. 

O uso de espaços públicos, áreas verdes, e praças para resolver problemas diversos atenta contra a qualidade urbana, o que parece que só agora começa a ser percebido pela população, isto com bem mais de um século de atraso em relação as grandes cidades do mundo. Urge retomar o bem publico que é de todos ou nunca, repito, nunca alcançaremos a qualidade de vida mínima desejada, incluindo aí para os mais necessitados.


Resta saber a quem interessa a degradação existente.



domingo, 25 de maio de 2025

Dor pela perda de uma adolescente

Que merda! Sem saber quem são os pais, meu mais profundo pesar. Perder uma filha nesta idade é uma porrada, a bem da verdade um conto de terror

Que merda de dor! Não conheci a menina, ou talvez a tenha visto alguma vez. Ainda não sei quem é. A notícia chegou como uma pedrada no olho. Quando adolescente perdi alguns amigos. Na época não foi tão pesado. Hoje, como avô, a simples hipótese virou um conto de terror. Depois que dois amigos, M e J, perderam os seus filhos, a escala de sentimentos desapareceram sobre as mais altas nuvens, lá nos céus.

A família de minha filha morou dois anos em Roma, morando a uns 700 metros da Estação Termine de trens, redondezas normalmente mais problemáticas em qualquer cidade. Total segurança, zero perigo. Paz, tranquilidade.

Não sei como aceitamos o que aceitamos por aqui. Amanhã ou depois saberei a causa morte da menina. Qualquer que tenha sido, não é normal que pais enterrem seus filhos. Agora, nesta minha dor, não tenho como pedir desculpas pela tragédia diária de tantas mães, pais e familiares das periferias.

A família, meu profundo e sincero pesar

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Mudar nomes de logradouros é um desrespeito à história

SP Reclama
Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

A História é a história do vencedor ou é a história? Sim, a história contada sempre tem um viés do vencedor, mas a verdade verdadeira só vem quando não se apaga a força nomes e fatos dos derrotados.

Av. Robert Kennedy virar av. Atlântica? Costa e Silva virar João Goulart? Resolve? Definitivamente não, tanto pelos usos e costumes da população quanto e principalmente porque se sai de uma história mal contada para outra história mal contada, ao gosto de quem pode. Aliás, a verdadeira história não interessa a ninguém. Se for contada como deve ser e foi, é muito provável que não sirva a causa e os interesses de ocasião.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Comentário sobre Opinião de Lusa Silvestre a respeito do Pacaembu

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 



Não sei qual a relação do Lusa com o Estadio e Conjunto Esportivo Pacaembu, mas sei qual foi a minha e de minha família. Meu avô , Fernando de Azevedo, comprou a casa modelo da City Pacaembu, rua Bragança 53, no lançamentos do loteamento. Sim, de fato, havia uma bica de água onde minha mãe ainda criança ia pegar água. Desde que comecei a nadar no Pacaembu, em 1974, a cabeça de leão encrustada numa pedra que um dia fez parte da bica estava seca e jogada num canto. O corrego que passa por baixo foi problema que tentou se resolver não é de hoje. Espero que finalmente sido resolvido. Só não frequentei o Pacaembu em 1986, quando morei fora. Ele faz parte de minha vida. E ano após ano vi aquilo tudo se desfazer, cair aos pedaços, literalmente. Fiz parte de restrito grupo de frequentadores que colocou dinheiro e mãos a obra para manter a área esportiva aberta. Tive a sorte de jogar futebol no estádio e a infelicidade de vê-lo cada dia mais cheio de problemas. Campo, arquibancadas, banheiros, tudo do estádio estava muito deteriorado. Tobogam? Primeiro, foi construído com a distribuição da concha acústica, o que foi um crime contra o projeto original, e porque não dizer, contra a população. Para os torcedores? Assisti jogos de lá e não era exatamente legal. Gostava dali quem acha ruim normal, aceitável. Quem fala a favor do tobogam desconhece sua história, as críticas pesadas que recebeu ao ser construído e, pior, o aborto da engenharia que ficava atrás, sob a arquibancada. O hotel que está em seu lugar é uma solução inteligente, acompanha o que de melhor e mais inteligente que se faz mundo afora. O Pacaembu que foi deixado para trás, pelo que ouvi em tempos passados de Secretários Lazer e Esporte do Município e de diretores do Pacaembu, aliás publicado na imprensa, aquele importante, custava R$500 mil por mês só para não deteriorar mais ainda, isto para um número de usuários muito aquém do potencial. Fora outros problemas que prefiro esquecer. Ah! roubos e assaltos, definitivamente não são novidade, lá e em toda cidade. Toda esta falácia vem de quem não frequentou muito, todo ano, todas estações, por mais de 40 anos, acompanhando quase dia a dia o drama que este patrimônio histórico, cultural e principalmente público, querido Pacaembu, passou. Realmente espero que este novo projeto de certo, porque o que vi é vivi foi deprimente, reflexo de um Brasil tacanho, que não consegue entender o futuro. Aliás , Lusa, nosso futebol que o diga.

Poly

"Minha mãe morreu." A mensagem foi curta e sabendo de quem veio, profundamente dolorida.
Eu perdi as pernas. Senti uma exaustão, um vazio, duro.
Foram poucas as vezes que sentei com Poly e conversamos com tempo e calma, mas a recordação é farta, rica, muito agradável, fluente. Me sinto culpado por não ter repetido sempre.
Vá em paz, Poly.

Não consigo mais contar quantos amigos e familiares que morreram. Posso brincar que vivenciei morte por baciada. Alguns foram uma perda, no sentido mais bruto. Em poucas situações me desestabilizei, resultado do volume de perdas, enfim, da prática.
Demorei para dormir pensando porque com alguns, em específico, desmoronei. Foi o caso. Preciso chafurdar nos meus pesares para tentar encontrar uma resposta. E chafurdar é a palavra correta.

Beijo Poly. Obrigado.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Falha de memoria ou o quê?

Cara, isto aqui pode dar um texto bem divertido, isto se eu não esquecer o que tenho que escrever. 

Falha de memoria, demencia ou o quê? O que eu tenho? Melhor, o que sempre tive? Um artigo do Estadão fala exatamente sobre este drama que atinge montanhas de idosos, e alguns tantos outros também. Eu mais que incluído.

Momentos de esquecimento ou sinais de alerta?

Pode ser difícil avaliar quando os problemas de memória exigem atenção médica. No entanto, você provavelmente deve consultar um médico se apresentar qualquer um dos seguintes sintomas:
  1. Episódios frequentes de esquecimento, como não lembrar de uma conversa recente ou perder compromissos;
  2. Dificuldade frequente em reter novas informações, como um número de telefone ou endereço;
  3. Erros no pagamento de contas ou na administração de medicamentos;
  4. Dificuldade em encontrar o carro estacionado, problemas para se localizar em áreas familiares ou pequenos acidentes de carro.
As recomendações deste artigo não me atingem. Esqueço delas com facilidade. 

Itém 1: não lembrar de conversa recente... Não me lembro o que estou conversando no meio da conversa, o que dizer sobre conversas passadas, recentes? Para os que são novinhos - ainda - aviso: quando chegarem a terceira idade, a melhor idade ou a porra que seja, vão engastalhar o pensamento no meio da fala, vai dar um branco total, o outro vai entender, e os dois vão rir muito - isto se os dois forem da porra que seja, leia-se velhos.

Itém 2: dificuldade frequente de reter novas informações... Se algum dos meus professores estiver vivo pergunte a eles que maravilha de aluno eu fui. Faça cara de paçoca caso algum deles desandar a chorar, que não se saberá se de riso ou raiva, e não se saberá porque estão todos mortos. Minha mãe ficava desesperada com minha falta de atenção. "Meu filho compra uma dúzia de ovos..." e voltei com uma dúzia de laranjas, laranjas de verdade, rindo que era um absurdo ela ter pedido uma dúzia de óvos. Quem não fez uma destas?

Itens 3 e 4 não são para mim, a não ser quando me perco na maldita digitação do código de barras. Não ria, aposto que você também colocou o leitor de código de barras uma vez, duas, três, e vá para a...
Remédios? Não tomo, e quanto tenho que tomar sou meio religioso. Óbvio que aos domingos lembrei do remédio quando o padre me deu a hóstia. 
Em que garagem deixei o carro? Opa! Como vou lembrar se sequer olhei em que garagem entrei?
Quando era adolescente, e isto faz muito tempo, fui com minha mãe para o supermercado com nosso Fusca 1200 branco. Saímos do supermercado, entramos no fusca branco, chegamos em casa, e quando estávamos tirando as compras minha mãe perguntou rindo se o estofamento de nosso fusca não era branco. Voltamos ao estacionamento do supermercado com o fusca de estofamento preto, paramos ao lado do nosso, trancamos bonitinho o fusca roubado, entramos no nosso e em profundo silêncio voltamos para casa. Quem não fez desta?

Minha memória mostra o buraco negro, aquele para onde tudo é sugado e desaparece, com nomes das pessoas, ou seus rostos. Das bicicletas me lembro. Cachorros também, de vez em quando. Nomes? Como assim. Não! Mas como nunca consegui lembrar nomes criei uma técnica quase perfeita para contornar a situação. A única coisa que não pode acontecer é a pessoa perguntar se eu me lembro o nome dela, aí lascou!

Eu tive uma memória invejável para mapas e caminhos, mas deprimente para nomes de ruas, avenidas e localidades. 
Quando trabalhava com projetos urbanos o pessoal sabia que o trabalho só funcionaria com mapa extendido na mesa. "O que se faz no bairro X?", e eu ficava com cara de completo idiota. Mapa estendido na mesa e eu era capaz de descrever o que tinha em cada esquina do dito bairro, não raro com detalhes. Isto em boa parte de toda cidade.
Numa das reuniões, 1983, com três cardeias da CET SP, a sala tinha um mapa na parede, como era usual. Fui explicando o que pretendia e dando exemplos do que se teria que fazer em vários pontos da cidade para introduzir a bicicleta como modo de transporte. Um deles não acreditou no que minha memória era tão precisa. Para me testar, foi até o mapa e apontou uma esquina aleatória, e eu respondi descrevendo detalhe por detalhe do local, poste, valeta, local da banca de jornal, placas de sinalização... O segundo achou que eu tinha dado sorte, foi e apontou uma segunda esquina do outro lado do mundo, e de novo descrevi o que fazer em detalhes. O terceiro perguntou se eu tinha memória tudo e respondi "Experimenta" apontando para o mapa de São Paulo.  
Repeti o mesmo em várias reuniões, mas não serviu para nada. Um grande amigo um dia me ensinou "Cuidado ao mostrar conhecimento. Pode ser perigoso ou ofensivo para o outro". E foi.

Uma coisa é ser desmemoriado, outra é ter medo de sua própria memória e perder confiança nela, que é o que vem acontecendo comigo, e descobri que não só comigo, mas com um monte de gente. "Chama o Google" é um crime contra a segurança memorial. 
Um dia pediram informação de onde era uma rua, no caso a rua onde nasci. Mais, estávamos a um quarteirão dela. Literalmente entrei em pânico e não soube responder.

Estive em Córdoba, Argentina, uma única vez na casa de uma tia avó, isto em 1966. Num jantar, meu pai falou sobre esta casa, eu disse que me lembrava onde ficava. Ele respondeu irritado que não poderia lembrar, já que estivera lá uma única vez com 11 anos de idade. Abri o maps.google e localizei. Meu pai quis me matar.

O que eu fiz ontem? Você vai me forçar a procurar na minha porca memória? Confesso que tenho feito uma revisão do dia antes de dormir, e isto está ajudando a manter a memória fresca.

Quais são as memórias que se perdem e as que ficam. As que ficam são muitos de meus pesados deslizes da vida, aqueles que daria a vida para voltar atrás e desfazer fazendo da maneira correta, sensata. Estas memórias pesadas não saem da minha cabeça, um "aqui se faz, aqui se paga". 

Minha infância? Tenho algumas vagas memórias. Outro dia lembrei que quando estavam fazendo uma reforma em casa deixaram uma táboa com um prego solto no quintal. O anjinho foi lá, pisou, e voltou para dentro aos berros usando uma sandália de madeira. O prego perfurou todo meu pé e a tábua ficou grudada. No embalo desta memória também lembrei que um dia na casa do visinho consegui enfiar o único prego de uma parede na nuca e fiquei pendurado para o horror de minha irmã, santa irmã.
Quer mais historinhas do meu passado de anjinho? Eu conto, muitas me lembro, para a infelicidade de minha família. 

Memórias inesquecíveis? 
Entram no elevador do Guarujá eu, um casal amigo e um senhor com porte de lorde inglês. Meu amigo, também um anjinho, bem mais anjinho do que eu, soltou um peido muito audível e terrivelmente fedido, e automaticamente enfiou um saco de papel na cabeça, enquanto sua mulher ria e dava bronca, eu cai na gargalhada querendo desesperadamente que o elevador parasse para fugir. A cena foi mais hilária porque o lorde inglês da baixada santista continuou lorde inglês como se absolutamente nada estivesse acontecendo.
  
O mesmo amigo, um anjinho como já disse, ligou para minha casa e pediu para eu ir socorrê-lo porque estava meio chapado, só meio. Ele morava com os avós, era hora do almoço, eles nos chamaram para sentar à mesa. Avô numa cabeceira, avó, santa avó noutra, eu e ele frente a frente. Serviram para ele um belo prato de arroz e feijão, tudo ia bem até que, ainda sem dar uma garfada, o avô comentou algo gosado, meu amigo que uma garagalhada e literalmente desmaiou com a cara enterrada no meio do arroz e feijão. Lembro de todos os detalhes, principalmente porque eu entrei em pânico, que só passou com a reação calmíssima da avó mais que acostumada. 

Memória. Que tipo de memória? Recente, passada, memórias úteis, inúteis, com qual delas se tem problema. 
Sim, estou preocupado com minha memória. Confesso que não sei se estou ficando desmemoriado ou o stress está agindo para não torrar o resta de consciência. 

Carros oficiais pretos, símbolo de poder e irregularidades que venceu

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Carros pretos se tornaram um dos símbolos marcantes das mazelas da ditadura, com seu poder desmedido, autoritário, "sabe com quem está falando?", corrupção deslavada, muita mediocridade, etc... Enfim, falo de seus motoristas, os donos de uma burocracia infernal, que, sejamos justos e coerentes, são fruto muito anterior à ditadura, mas que sob seu manto se fortalecem. Quem viveu aquela época deve lembrar que terminada a ditadura com a volta da democracia, o carro na cor preta, com toda sua pesada simbologia, de veículo oficial passou imediatamente a objeto de desejo, símbolo de status entre os simples mortais. Significativo? A maioria dos carros de então, principalmente os populares, eram coloridos, algumas cores fortes, chamativas, próximas as da nossa natureza, de um Brasil de esperanças no futuro, mas o "sabe com quem está falando" dos carros pretos com toda sua nefasta simbologia democratizou-se. Coincidência? Nós, brasileiros, aceitamos, silenciamos e, porque não dizer, incorporamos com toda naturalidade mazelas inaceitáveis até piores que de tempos autoritários. Como explicar a barbárie generalizada que estamos vivendo, agora generalizada, muito além dos que circulavam em carros pretos como portentosos livres no meio do trânsito, no meio de todos nós. Não resta dúvida, este e outros símbolos tempos passados, pesados, com tantas más lembranças e prejuízos para o país, venceram. 

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Bicicletas elétricas e a escala humana

SP Reclama
Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

As bicicletas mal entraram em nossas vidas urbanas brasileiras de classe média e já vieram as ditas "bicicletas elétricas". "É a mesma coisa", vão dizer. Não é. "É mobilidade ativa, melhor que usar automóvel. É ambientalmente correta." Será? Mobilidade ativa não é exatamente, porque em boa parte delas não é necessário pedalar. Algumas são pequenas scooters. Ambientalmente corretas só se saberá em alguns anos. Suas baterias têm vida útil limitada. Para onde vão as baterias velhas? Recondicioná-las não é nada barato, fora o custo diário de recarga. Mas tem um ponto que pouco se fala: o impacto na escala humana. Bicicletas estão sendo estimuladas em todo mundo porque auxiliam na recuperação da escala humana dos transportes, portanto na qualidade de vida das cidades. A razão é simples de entender: a velocidade média de um automóvel em área urbana, origem / destino, gira em torno ou abaixo de 25 km/h. Um pedestre caminha numa média de 4km/h. A velocidade média de um ciclista comum é de 15 km/h, ou seja, mais ou menos entre o pedestre e o automóvel. Por ter uma diferença de velocidade para o automóvel menor que a que o pedestre tem, as bicicletas foram e são usadas para diminuir os perigos de quem caminha e dos com necessidade especiais nas mobilidades, o que inclui idosos, crianças pequenas, mães com bebes, cadeirantes e outros. Está mais que provado, bicicleta é eficiente, acalma as ruas, faz diferença - bem entendido, quando o sistema cicloviário é bem implantado - no recuperar a qualidade de vida de todos cidadãos, indiferente do modo de transporte usado. Esta é uma das muitas qualidades de escala humana que a bicicleta nos oferece, incluindo uma velocidade compatível com o olhar, sentir, ouvir, perceber a cidade, melhor conviver com o meio ambiente e outros cidadãos, melhora na saúde individual e pública, etc... 
Bicicletas elétricas têm sua velocidade máxima limitada a 25 km/h. É o que manda a lei, mas não é difícil burlar. Como qualquer veículo propulsionado a motor elétrico, bicicletas têm uma aceleração muito forte, alcançando a velocidade máxima rapidamente, uma grande diferença para o acelerar e manter a velocidade em escala humana de uma bicicleta convencional. Em outras palavras, bicicletas elétricas se deslocam quase ou como um automóvel.
Os sistemas cicloviários implantados foram dimensionados para ciclistas normais, os que pedalam no arroz e feijão. Ciclistas usuários de bicicletas elétricas usam as ciclovias e ciclofaixas em velocidade e principalmente com atitude que pode ser comparada a de motoristas e motociclistas, o que tem sido um desagradável problema para ciclistas comuns. Não sei qual é o índice de ocorrência entre os elétricos e pedestres, mas pela rapidez e silêncio na aproximação, e pelos conflitos com ciclistas normais, não acharia difícil que os atropelamentos tenham aumentado. 
A definição do que deve ser escala humana vem mudando, mas nunca deixará de ter como base a biologia humana e não a dita "eficiência" de algo. Eu arrisco a dizer que "bicicletas elétricas" já começaram a deixar de ser bicicletas para passar para a categoria dos 'auto-moveis'. De qualquer forma, a escala humana deste novo meio de mobilidade já se perdeu. Não percebe quem não quer. 

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Acidente na porta do vagão do metrô: como evitar

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

Quantos passageiros por acidente fatal? Qual a causa real do acidente fatal? Quais as circunstâncias/ fatos / elementos causa da ocorrência? Etc... Quantas perguntas mais devem ser respondidas antes de se chegar ao que realmente aconteceu? Muitas, muitas mesmo.

Aviação é o modo de transporte mais seguro porque investiga sem apontar responsáveis ou causas. Interessa a verdade para que se evite que se repita. Esta técnica de investigação foi criada pelo sistema ferroviário a partir do século XIX. Desde então, trens têm índices de acidente / passageiro baixíssimo.

Brasil tem um dos piores índices de ocorrência no trânsito do planeta, provavelmente o pior entre países ricos. Uma das razões é a falta de investigação adequada, melhor, minimamente adequada, e divulgação de achismos que acabam distorcendo a realidade para o grande público, que é o que e quem realmente interessa.

A cada mensagem errada mais de 80 recebem, entendem e acreditam. Mensagens corretas fazem o efeito desejado em menos de 5 pessoas.

Quem já trabalhou com segurança, qualquer que seja, sabe que "eu acho", o achismo, literalmente mata.

Sinto pela perda deste jovem e promissor pai de família, mas antes de falar e apontar culpados urge saber o que realmente aconteceu para só então definir em que sentido trabalhar para que não volte acontecer. O que a princípio parece lógico e solução nem sempre o é.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Papa Francisco. Melhor, Francisco, além da igreja e de seu futuro

Bergoglio, Papa Francisco. Agora Francisco. Foi diferente, teve coragem, falou e se posicionou muito pensando em e como Cristo, e menos como igreja. Disse algo como "tirar Cristo das igrejas e levar para as ruas, não manter Cristo trancado", em outras palavras, derrubar os dogmas da própria igreja. Como leigo nas questões religiosas eu diria "expulsar os vendilhões do templo". Não foi pouco.

O posicionamento de Francisco vai muito, mas muito além da religião ou de uma igreja, esta foi sua diferença, e que diferença!
Neste momento absurdo que vive o planeta, a perda deste Francisco é imensa. Vá em paz. Muito obrigado. E agradeço como gente, simplesmente gente.

A baderna que vivemos vem sendo estampada faz muito em todas as partes e pode bem ser definida na patética, inacreditável, foto de Trump vestido como papa, que fica mais absurda ainda, quando se sabe ter sido divulgada pela própria Casa Branca. Simples falta de respeito? Uma brincadeira de mal gosto? No caso não é mau, mas mal mesmo. Nada mais que um reflexo amplo de nossos dias. 
Penso que vivemos o fim de uma "neo belle epoque", um desvario total, com a diferença que o planeta está no limite e praticamente não temos mais espaço para recuperação, se é que temos qualquer.

A história mostra que o que conseguimos construir deve-se muito ao que aprendemos, e aprendemos ao usar rituais sociais apropriados para uma boa conversa, as ditas formalidades que são preciosíssimas e a cada dia são menos respeitadas. Religiões tem muito a ver com organização social, isto se não for só e simplesmente um código de conduta social, mas esta é outra história. E nada a ver com pensamento de direita, retrogrado, ou o que seja. O politicamente correto, que até onde sei é o fruto mais doce da atual esquerda ativa, não deixa de ser uma tentativa, para mim mal feita, dos rituais sociais, até com um forte viés que se pode dizer religioso, bem carola.

Muitos de nossos erros, de nossos desastres, ocorreram e seguem ocorrendo porque ritos e formalidades foram e continuam sendo usados para disfarçar ou esconder erros, malandragens, roubos e todo tipo de sacanagem, inclusive as inaceitáveis perceptíveis ou não. Não falo só da igreja, mas de tudo e toda a forma de agir da sociedade. Por que não incluir aí as praticas "politicamente corretas". Francisco, o Bergoglio, o Papa Francisco, não só gostava, como respeitava e usava a piada, o bom humor, em outras palavras, a comunicação inteligente, uma forma de chutar o pau da barraca de ritos e formalidades dogmáticos, ou politicamente corretos.

O pontificado de Papa Francisco apresentou uma saída, uma porta aberta para uma possível mudança social, porque mexeu para valer com códigos da igreja católica, derrubando muitos que estavam seguros. De novo, não falo sobre religião, mas sobre perspectiva social e, usando as palavras do próprio, "independente de credo ou religião". Lembre-se que o Vaticano tem um poder geo político que vai muito além do que é a igreja ou o Cristianismo.

Ninguém sabe o que vai dar a eleição do novo papa. Outro Papa Francisco é impossível, mas que não se dê um passo atrás no progresso que ele trouxe. Não é uma questão de religiosidade, nem de fé, nem de crença, mas consciência que no caos que vivemos não se pode perder mais uma peça neste tabuleiro alucinado do xadres.

Barbárie como regra social aceitada

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

O vigilante é atropelado, fica estendido gravemente ferido no chão, o motorista foge, aí, para completar a barbárie, vem um e o assalta, tira tudo que o vigilante moribundo tem? Prestam socorro horas depois, o que leva ao óbito. É inegável que este é o Brasil e não é de hoje. É o Brasil, inegável.

Em 1994 um caminhão de cerveja capotou na altura de Queluz. Em vez de socorrer o motorista, boa parte dos motoristas pararam para saquear a carga.

Histórias como esta se repetem com uma normalidade impressionante. Inaceitável em qualquer parte do planeta.

Enfiar o "berro" na cabeça e apertar o gatilho antes de anunciar o assalto é trivial. Mais um, adolescente agora se foi nesta "brincadeira".

Repito sempre: culpar as autoridades é negar a responsabilidade nossa de cada dia, e no final das contas a responsabilidade final é nossa, desta verdade não se pode fugir.