quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Sou contra legalizar a posse de qualquer espaço público urbano invadido

Primeiro, reagir de bate pronto pode levar a ações que não sejam as adequadas ou que sejam incorretas. De certa forma foi o que aconteceu aqui quando ouvi pela metade uma notícia na rádio e minha caixola ligou imediatamente o legalizar com ações populistas realizadas num passado não muito distante. 

Reagi de bate pronto aos montes na minha vida e se arrependimento matasse... Confesso que me sinto não morto, mas numa eterna auto santa inquizição. 
Se conselho fosse bom seria vendido, mas ouço aconselhar: segure seu bate pronto, nunca vale a pena.  

Hoje saiu no Sustentabilidade do Estadão uma entrevista com José Renato Nalini, diretor da Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas, sobre as ações que a Prefeitura tem realizado para minimizar os problemas que São Paulo tem. Dentre eles, o controle constante e a remoção de invações em áreas de mananciais, com o que concordo totalmente. Bom, enfim, espero que o que ele disse na entrevista esteja de fato acontecendo. 

O que ouvi na rádio foi sobre um projeto ou programa do Governo do Estado de regularização de terras fora da área urbana. Preciso ler mais para opinar.

Fato é que a forma como está sendo conduzido o desenvolvimento urbano paulistano não me agrada nem um pouco, e não é saudosismo, mas leitura e conhecimento obtido ouvindo especialistas. 

Já escrevi e não vou entrar de novo no assunto, mas fato é que não se deve apagar na porrada a história afetiva, os usos e costumes, as tradições de uma comunidade, muito menos de uma cidade, com a probabilidade de perda de referências e consequente aumento de tensão social.  
Cidades mudam, se transformam com o tempo, é natural, é desejável, mas há formas ideais de realizá-las. O que vem acontecendo há muito com São Paulo é, por um lado, ações 'milagrosas' pontuais, por outro, uma falta de planejamento de longo prazo que respeite o mais profundo interesse dos cidadãos. Incrível que o povo ainda não se deu conta que não funciona. É óbvio que se tem que recuperar o Centro de São Paulo, mas da forma como foi feita na administração PT. É óbvio que se tem que ampliar o número de moradias, mas não da forma da forma maluca que se está fazendo agora. É óbvio que se tem que melhorar o transporte, mas... Os erros são genéricos, de todos, populismo puro, a pior das opções. 

Sobre o que eu achei que tinha entendido da matéria da rádio, vamos lá: 

A estabilidade social tem como base a saúde mental de sua população. É de pleno conhecimento público e não resta qualquer dúvida que o convívio social faz toda diferença na saúde mental individual e coletiva, daí a importância de ter e manter com zelo espaços públicos, de preferência tornando-os o mais prazeros possível. Quantos mais espaços de convívio melhor para todos e tudo, do social ao econômico. Creio que eu tenha ouvido na rádio que pretendem legalizar espaços públicos invadidos. Só de pensar tenho arrepios. Sem antes discutir com toda a população, incluindo é lógico os mais carentes, não só que cidade eles querem, mas que futuro desejam para sí como indivíduos, sou contra em grau, gênero e número colocar em pauta a hipótese de se legalizar qualquer posse privada de qualquer área pública invadida. Há um drama social, o da moradia, que não é o único que afeta a cidade e de cidadãos. A violência desenfreada está aí, e dentre suas causas está a precariedade, para dizer o mínimo, de espaços de convivência coletiva para crianças e jovens. Dentre os mais prejudicados, senão os grandes prejudicados por esta carência, está a populção carente. Legalizar mais uma vez uma ilegalidade é de um populismo monstruoso. De boa intenção o inferno está cheio, se bem que eu acredito que a boa intensão aí seja para proveito de alguns com interesses mui particulares. É sobre uma cidade, portanto sobre problemas multi disciplinares. A tentativa de resolução de problemas pontuais já mais que se provou um erro grosseiro que vem prejudicando e se repetindo há décadas e que só conseguiram encurralar todos pela desordem, melhor, baderna que está aí. Quem sempre foram os mais prejudicados?

Sou contra legalizar a posse de qualquer espaço público urbano invadido

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

A fuga da cachorra

A linda vira lata cruza a rua Piaui caminhando como seu que dono a estivesse seguindo tranquilo. É um homem imenso que vem atrás dela e que do caminhar passa a correr, o que faz a cachorra disparar avenida Angélica abaixo entre pedestres. Estou subindo pedalando a avenida, sou cachorreiro, e de imediato me fica claro que ela está fugindo de seu dono, que suponho ser o grandão. Olho para ele e aviso que eu vou atrás, dou meia volta e disparo pedalando forte na contramão para tentar parar a linda e desesperada vira lata bege com coleira rosa, jovem, agil, muito rápida. Ela corre pela calçada bem mais rápido do que eu que pedalo pedindo para os carros saírem da frente. Para meu pavor cruza direto a primeira rua, a Maranhão, por sorte com sinal fechado para os carros, e se aproxima rápido do próximo cruzamento, a Higienópolis, larga avenida também com o trânsito parado no sinal. Os pedestres se assustam, olham a fujuna preocupados. No meio do quarteirão um carro sai da garagem, ela diminui, quase para, contorna por trás, eu grito para os pedestres que sobem e estão mais a frente pedindo que alguém tente pega-la. Impossível, ela passa batido e segue desembestada. Meu desespero cresce. O pŕoximo sinal, a Veiga Filho abre, os carros começam a se movimentar e eu gelo despencando a avenida de frente para o trânsito. Estou longe, não consigo me aproximar, não vou conseguir frear os carros. Para meu alívio ela dobra a esquina, passa voando por uma senhora com dois cachorrinhos na coleira. Paro meus gritos, um erro estúpido, desespero, que talvez só esteja aumentandoa vontade dela fugir. Ninguém vai conseguir segurá-la. Minha esperança é que ela começa a mostrar um cansaço. Ela cruza a entrada do estacionamento do shopping. A perco de vista. Com o trânsito em movimento, lento, ela cruza mais uma rua traçando entre os carros em movimento. Meu emocional está saindo pela boca. Sigo atrás sem saber onde esta correria vai parar. Minha esperança é que este quarteirão é longo e que talvez ela canse e diminua o passo. Vou conseguir ultrapassá-la e talvez consiga pegá-la.
Felizmente ela para num portão de garagem de um edifício e fica olhando desesperada para dentro. Passo por ela na rua, atrás so carro está estacionado e em silêncio, subo na calçada uns metros a frente. Vejo que dali ela não sairá, peço a uma garota que caminha que com calma, bem devagar, faça carinho e segure a coleira. A desesperada e ofegante vira lata está presa. Aperto o interfone e pergunto ao porteiro se a cachorra é de lá. Ele responde que não. Deixo a bicicleta, vou até a vira lata, que está deitada se mijando toda de medo. Me agacho lentamente e faço carinho. Ela me olha com medo, mas vai se acalmando. Lemos a plaquinha de indentificação da coleira, Maxime, e do outro lado o telefone. Um rapaz começa a discar o número e o portão começa a se abrir. Ela num tranco se solta e entra desesperada, corre até o segundo portão, o rapaz vai atrás. Grito para que o porteiro feche o portão para que ela não fuja novamente, o que ele faz, mas aciona o segundo portão e ela corre para dentro. Aparece uma menina de uns 18 anos com uma coleira na mão, pergunto se a fujona é dela, ela diz que sim e pergunta onde está. Dizemos que entrou e ela responde que "esta é minha casa", não fala mais nada e desce para a garagem. Algumas pessoas, incluindo mãe e filha com dois cachorros grandes, esperam ansiosas por notícias. O rapaz demora um pouco para sair dizendo que Maxime foi direto para a porta do elevador. Meu coração e fígado estão na boca. Emocionalmente estou acabado, nas minhas últimas forças, quase trêmolo. Retomo meu caminho, volto a subir a avenida pedalando bem devagar para me recuperar, exausto. Chego no cachorródromo do parque de onde começou a correria. Paro na grade a aviso o grandão que terminou tudo bem. Ele vem até a grade acompanhado de seu bassê e conta que tudo começou por que alguém deixou os dois portões do cachorródromo abertos, um comportamento absurdo,  inaceitável,  entre cachorreiros que usam o espaço. São dois portões, u tem que estar sempre fechado. Como pode alguém deixar escancarado um cachorródromo?

Sigo meu caminho devagar subindo a avenida. Volto para casa arrebentado. Poucas vezes na vida me senti tão cansado.

Umas horas antes fui levar minha prima que tem Alzheimer para tomar um café na padaria que fica na esquina das duas avenidas, Higienópolis com Angélica. Ela adorou estar na rua e tomar um longo banho do sol que transpassava por entre as folhas da frondosa árvore. A padaria estava lotada e sentamos na calçada, ela na cadeira de rodas, eu e Gra em cadeiras que pegamos lá dentro. Lá ficamos até o sol se esconder, um bom tempo. Doença maldita, dias melhores, dias piores. Naquela manhã ela estava alegre e dentro da conversa, mas não demora muito ela cansa e desaparece na sua doença ou sabesse lá onde. Percebi que tinha cansado e pergutei se queria voltar para casa. Ela respondeu com sua eterna suavidade que não, que o sol estava gostoso, mas seu olhar bem distante aponta para as profundesas de seu mundo. Ninguém sabe qual, é difícil.

Dois dias antes estive com a enfermeira chefe para saber como iam as coisas. Tudo bem, sem grandes sobressaltos, o que para esta doença é bom, ou talvez não, ninguém sabe ao certo, nem o melhors dos médicos. Conversamos sobre o sumiço de todos os que sempre viveram muito próximos dela. Sobrou para mim e mais ninguém. "O normal é este. Todos desaparecem".

O outro não importa. Não consigo aceitar que um cachorreiro deixe os dois portões abertos. É fuga do cachorro e desespero na certa.
Thereza sobrou na minha mão. Todos que convivera com ela sumiram. Sequer telefonam. Fiz reunião com todos e pedi ajuda. Saíram de fininha. Quem pegou o pepino que fique com ele. 

sábado, 23 de agosto de 2025

Não conseguimos aprender com nossos acertos

Ermínio Fraga é figura a ser respeitada, e muito. Inteligência rara, fala mansa, ponderado, em entrevista recente soltou que "Nós não aprendemos com nossos acertos". Na mosca. E completou que "Também não aprendemos com nossos erros". Sem dúvida, disse o óbvio, o trágico óbvio que nos assola.

Qual dos inúmeros exemplos de nossos acertos querem que eu cite aqui? São tantos e tão frequentes que não faço ideia sobre qual voltar a falar, mas sem revirar muito a memória vocês vão achar um fácil, fácil.

Repetindo, como sempre repito, minha mãe dizia "Não interessa o que ele fez para você. Interessa saber o que você fez para ele ter a reação que teve contra você".
Ouvi tantas vezes "qual a tua responsabilidade?", "faça bem feito", e principalmente "não seja mediocre", que confesso virei um 'pouco' neurótico com ter tudo bem feito. Não sou perfeito, não sou perfeccionista, mas tento fazer o melhor que posso. Aprendi com a vida, e não só com as broncas de minha mãe, que os acertos costumam ter um custo / vida muitíssimo menor que cometer ou se permitir até pequenos erros. Não é só acertar nas coisas práticas do dia a dia, como não jogar lixo na rua, prática trivial entre 99,99 de 100 brasileiros, mas tentar acertar até nos relacionamentos íntimos, formais ou informais, o que confesso ser um humano normal, ou seja, quanta besteira fiz. Anyway...

Um exemplo é bem explicativo, pelo menos para quem faz algum esporte ou especificamente para quem pedala: "Ciclismo (ou pedalar) é a arte da suavidade" e complementando "Ciclismo (ou pedalar) é arte de preservar energia". Suavidade pode ser traduzida como segurança. Em tudo na vida, fez suavemente e com calma vai bem. Quando você vai aos trancos e barrancos você aumenta a possibilidade de erros e acidentes. Preservar energia pode ser traduzido como poupar, ter o que gastar quando realmente é necessário, medida sabia que é vendida até na fábula da formiga e a cigarra.

Como todos dizem, de todos partidos, ideologias ou formas de pensar, Brasil é o país do vôo de galinha. Ficamos ciscando e vez ou outra decola na tentativa de um voo para o futuro, que como todos sabemos termina sempre um pouco mais a frente para voltar a ciscar. Desde que você nasceu quantas vezes aconteceu? Tenho uma memória de merda, mas só contando os planos econômicos que deram errados nestes meus 70 anos de vida posso lembrar de 6 voos de galinha. O mais ridículo? Sei lá. Foram voos de galinha dos quais parece que não aprendemos nada.

A Curitiba criada por Lerner e sua equipe virou umas das referências planetárias do que se deve fazer para ordenar o crescimento de cidades. Aqui no Brasil? Curitiba? Jaime Lerner? Quem?
A diplomacia brasileira foi durante décadas referência de bom senso. Neutra, cautelosa, bem preparada, apolítica. Foi-se.
Tivemos um sistema de vacinação que foi referência mundial? Foi-se.
Milhões de brasileiros trabalham em empresas que são regidas por sistemas de alta qualidade. o que seus funcionários replicaram em suas vidas fora da empresa?
Etc...

É triste, mas Brasil lembra cada dia mais aquele ditado árabe: "O que os sábios demoraram 8 anos para construir, um imbecil destrói em 8 minutos".

Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és, sabedoria correta e inegável. É possível fazer uma versão digna para estes dias: "Diz-me com o que você se preocupa e pratica, e dir-te-ei qual é tua afeição pelos acertos". Acertos, o bem feito, o que dá certo, o que não deixa rabichos... Ou ainda: "Diz-me qual é a importância que dás aos acertos (ou à qualidade) e dir-te-ei quão responsável eres socialmente". Por favor, não jogue papelzinho amassado na calçada antes de responder.

Responsabilidade social. Aí o bicho pega, aí fica difícil.
Responsabilidade social: temos a obrigação de aprender e repetir nossos acertos
Responsabilidade pessoal: temos a obrigação de repetir nossos acertos
Responsabilidade familiar e com os amigos: aponte os acertos para que sejam replicados.

Como a única coisa que vale nestes dia é o bolso, um último comentário: acertar sai muitíssimo mais barato.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Menos carros, mais ônibus e ciclovias. Só isto? Por que não funcionou?

Rádio Eldorado FM
SP Reclama
O Estado de São Paulo

Sobre entrevista de Sérigio Aveleda para a Rádio Eldorado FM

Tirar os carros da rua. Ótimo. Aumentar o número de usuários no transporte público. Certo, lógico, ótimo. Implantar mais ciclovias. Fechou, ótimo!  Completou o menu da melhora do trânsito e da vida na cidade. Será? Só isto? E o que mais?

Antes de Penalosa, Mockos preparou a população de Bogotá para uma profunda mudança. O que Sadi Khan iniciou com a Broadway, NYC, incluindo o sistema cicloviario pela cidade, foi preparar a população para uma grande mudança urbana. Foram 2.000 reuniões oficiais com a população, a maioria nas ruas, para explicar o que seria feito e ouvir. As grandes cidades da Europa e algumas dos USA tiveram um processo de venda, leia-se preparação, para as mudanças que viriam e já estava claro que seriam necessárias. Começaram logo após a Segunda Grande Guerra, 1945, na reconstrução de algumas vias das cidades destruídas, pegou embalo a partir da década de 60 nos países nórdicos, e a partir de 1972 e a revolta contra atropelamentos de crianças em Amsterdam, virou referência mundial. Isto para ficar nos últimos 50 anos da metade do século XX.
Exemplos como estes são inúmeros e em inúmeras cidades. Aliás, ou vende a ideia bem vendida ou está fadado ao fracasso. É fator humano, qualquer produto só vai para frente com o imaginário bem estabelecido, cristianismo que o diga.  

São Paulo? Brasil? Paulistano vem há muito perdendo a noção do que é cidade e ser cidadão. Não só paulistano, porque a cidade mais rica normalmente exporta conceitos. Sentir-se hoje paulistano tem a ver com o que? Com a vida particular da pessoa em seu bairro, no local de trabalho, no clube, no shopping, atrás dos muros dentro de casa? Da visão que ele tem da cidade a partir do carro? No que se transformou a cidade? O que é o Município de São Paulo para os paulistanos? Há pesquisas?

São Paulo vem apagando sua história impiedosamente. Quem é o paulistano hoje? No que e para que está se transformando a cidade? Se não se sabe ao certo com qual público se está trabalhando, como saber o que fazer? Ok; a parte financeira se pode imaginar, mas dinheiro não é urbanidade. Menos carros, mais transporte coletivo, mais ciclovias, (melhorias para pedestres, pouco falada), são falas mágicas, soluções óbvias, discurso comum, real, repetido a exaustão, mas da forma como é dito (e sempre repetido), tem um cheirinho e gosto de populismo. 

A pandemia..., sempre a pandemia... e o pós pandemia. Boa e justa justificativa, ou será desculpa, mas e o que mais? Por que tivemos estes impactos pós pandemia e outras cidades pelo mundo não, pelo menos não nesta intensidade? Onde está a diferença?

Av. Faria Lima costuma ser apresentada como sucesso das ciclovias e consequente aumento do uso da bicicleta. Quantas bicicletas/dia? Quantos automóveis/dia no mesmo periodo? Qual a relação da evolução das bicicletas com a diminuição do trânsito no mesmo local? 4.000 motoristas a menos, mais ou menos. Em quanto tempo? E quantos carros a mais? Quais as razões para a mudança de modal? Por que naquele caos diário absurdo o número ciclistas não aumenta muito mais rapidamente? Qual o tempo de viagem de carro X tempo de viagem a pé? Etc...

Nossas cidades, as brasileiras, estão entrando em colapso porque o discurso correto, com saídas óbvias, foi repetido a exaustão e não cola mais. Estão querendo vendendo soluções para uma população que não faz ideia do que é uma cidade, começamos por aí. Aliás, não faz a mais remota ideia do que qualidade de vida, a real, não a da 'classe média vai ao paraiso'. "Eu conheço NYC", dizem os viajados. Conhece? "Fiquei três dias passeando pelos pontos turísticos e fazendo umas comprinhas obrigatorias". Upa! Deve conhecer mesmo.

O discurso que se faz para melhorar a cidade é o mesmo faz mais de 50 anos. Adiantou? Pelo que tudo indica, não. Então, como se faz? Lenga lenga em época de ormações e novidades faiscantes?

sábado, 16 de agosto de 2025

666 e Babylon, a diferença que a idade faz

A década de 60 desencadeou uma série de misticismos. Imagino que tenha sido uma reação às regras que imperavam no ocidente, ou sob as asas da santa igreja católica, ainda sob influência dos últimos resquícios da santa Inquisição, já não mais sob o poder da igreja, mas dos fiéis, e por que não dizer num pós Segunda Guerra Mundial que praticamente dizimou todos valores. De qualquer forma continuamos temerosos ao desconhecido e daí as teorias da salvação no meio de uma transformação social que redefiniria tudo, da economia ao social. E surgem as minorias barulhentas indo atrás de budismo, cristianismo, novos profetas, velhas escrituras, enfim bobagens sem fim que salvariam o planeta e a humanidade, tais qual esta analise sem pé nem cabeça que faço aqui. 

Apocalipse! Uau! Apocalipse! A palavra apavorante de tudo que envolvia um futuro previsto entrou nas conversas, primeiros dos adultos, depois dos adolescentes, Apocalipse virou um apocalipse social, muito mais assustador e mais divertido que filmes de Hollywood. Fora meus exageros de praxe, esta é a mais pura verdade.

O desconhecido cria imagens interessantes. Não era tão fácil pesquisar naquela época. Aliás, dependendo do que, era muito chato para começar, e depois era uma trabalheira danada para chegar na informação que se queria. Não sei como está pesquisar um tema numa biblioteca de hoje, ou sei mais ou menos, é na telinha, mas nos séculos e séculos antes da telinha era ir para o fichário, procurar por ordem alfabética (se você soubesse o que estava procurando), folhear ficha por ficha, até encontrar o que queria, o que eu em particular raramente conseguia. 

Como todo adolescente de minha geração, adorava mistérios, a busca de magias, de caminhos para a paz e amor, o que quer que fosse isso. 

Aos 17 anos, ver um disco na vitrine da loja com a capa vermelha e um 666 estampado em preto, foi o máximo. Comprei, levei para casa, tirei o LP cuidadosamente da capa, coloquei no toca discos, e... Interessante, muito interessante, bem diferente do que estava acostumado, principalmente a faixa 'The Four Horsemen', cantada como um chamamento do Corão. Babylon, a música, era simpática, mas não minha preferida. Ouvi umas tantas vezes o disco, sem nunca ter feito uma relação mais direta com misticismos ou religião. Era só música.
O que eu ouvia na época era percebida como uma obra, letra, arranjos, composição, tudo junto e misturado. Eu tinha uma educação musical de ouvido estruturada, tinha condição de perceber e saborear nuances, pequenos detalhes, mas a preocupação com letra, sentido, mensagem, era praticamente zero. Era só música.
Mesmo na época dos Beatles e de outras descobertas, aliás, bem atrás no tempo, bossa nova, música clássica, big bands, música era simplesmente música.

Passou o tempo dos misticismos e outros devaneios spirituals, sim, spirituals, sem dúvida com toda a magia de Disney ai no meio. Com as mídias novas pesquisar ficou 'biscoito', como dizíamos.
Acabei de descobrir que Paul McCartney e George Harrison, no meio destas novas descobertas espirituais e etc... pegaram um avião e foram para San Francisco ver qual era o babado do movimento Flower Power e de tudo mais que estava acontecendo por lá. Acharam uma tremenda babaquice, ficaram dois dias, e voltaram para casa para o real life. 

Aqui, no Alto de Pinheiros, senhoras da mais fina educação e sociedade descobriram um "santo" que dava consultas espirituais numa das mansões. Reuniam-se todas ali uma vez por semana, na quarta-feira se não me engano, e entrava uma por vez numa sala fechada para ter com o "abençoado". O máximo que cheguei perto destes eventos foi esperando dentrou do carro estacionado na rua para que saíssem de lá iluminadas, com suas áureas brilhando felicidade. De fato algumas saiam. Um dia tudo acabou inesperadamente. Perguntei e ouvi a resposta impiedosa para as gargalhadas que se seguiram: as puras e esperançosas senhoras entravam na sala abençoada e... Bom, um dia, a dona da casa, um sobrarão, melhor, mansão, inadvertidamente abriu a porta e deu com a benção carnal que estava internisada na amiga. Santo pau na periquita!

O fato curioso desmontou muito de meus misticismos, mesmo assim continuei acreditando que havia muito mais entre céu e terra que se possa explicar. Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.   

Outro dia, ouvindo o 666, que é maravilhoso, tive a curiosidade e fui atrás do significado de Babylon, que na realidade é Babylon the great, Meretriz da Babilônia, ou também 'Grande Prostituta'. Primeiro, em minha santa estúpida ignorância sempre pensei que Balylon fosse uma cidade ou um homem. Abrindo uma série de páginas de pesquisa acabei descobrindo que é uma alegoria, melhor, que pode ter várias interpretações, praticamente todas relacionadas as políticas ou práticas sociais da época que foi escrito o Apocalipse. Já 666 sempre soube que está relacionado às bestas apocalípticas, que também são alegorias. 

Ignorância é uma benção*. E o caminho para o inferno. Escolha.

Este disco do Aphrodite Child, 666, musicalmente ótimo, hoje, nesta era de autocracias populistas baseadas na loucura estratégica, manda um recado que faz todo sentido. 




Babylon the great

*Já dizia o poeta inglês Thomas Gray que “Onde a ignorância é uma bênção, é loucura ser sábio”, mas a frase “Ignorância é uma bênção” ficou famosa com o personagem Cypher de Matrix (filme de 1999). Porém, antes de Matrix, outra figura icônica da Cultura Pop, John Lennon, já tinha proferido que “A ignorância é uma espécie de benção porque se você não sabe, não existe dor”.

Uau! 

Quando o Spirit se desfez, alguns de seus membros formaram o Jo Jo Gunne, que também tem uma música Babylon. Desta não faço ideia sobre o que fala, só saio dançando. Divirta-se. Aproveite porque ignorância é divertida por bem pouco tempo.




segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Reclamações sobre a privatização do saneamento básico

SP Reclama
O Estado de São Paulo 


Em 1986 tivemos a volta à normalidade institucional. E com ela a volta das esquerdas mais pesadas ao poder, primeiro com Brizola e depois com o PT. Interessante é que só agora se fala com tanta ênfase em saneamento básico. É muito simbólico olhar para Guarulhos e seu saneamento básico em todas suas administrações ditas de esquerda que se sucederam até bem pouco. É simbólico olhar para a região sul da Capital e sua "tatolandia", com graves problemas de saneamento, não só para a região. A os dois exemplos afetam e muito toda população.

Pergunto: a gritaria em cima da privatização da Sabesp é sobre saneamento básico ou manutenção de poder?

Pegando o brilhante editorial de hoje no Estadão, o que está aí é esquerda? Como alguém que acredita e busca praticar princípios e ações relacionados à responsabilidade social, afirmo que não. O que temos é um populismo daninho ao país e principalmente à população mais necessitada. Saneamento básico que o diga.

domingo, 10 de agosto de 2025

A medicina e os conceitos e preconceitos sociais

"Não entendo porque ele (ou ela) é assim?"
As causas são inúmeras, por diversas razões ambientais, sociais e clínicas. Na maioria dos casos não interessa para a maioria ir fundo, saber por que ele ou ela é assim, mas optar como vai lidar da forma mais simples com o resultado final, com o que está a frente, ou, com quem se diz que a pessoa é. Mas quem de fato é a pessoa?

Eu fiz erros pela vida que me arrependo muito. E fizeram erros comigo. A vida é assim, mas poderia ser menos errática. 

Pego meu caso como exemplo. Quem me conhece sabe que eu tenho uma boa dose de imprevisibilidade (tem gente que vai rir sobre esta minha afirmação. "Dose de imprevisibilidade?"). Mas por que a imprevisibilidade?

No pré primário tive minha primeira suspensão. Quando terminei o ginásio (acho que hoje é o 8º ano)  já contava com 21 suspensões e três expulsões. Aí fui parar num colégio que aceitava alunos problemáticos e dele passei para um colégio de educação experimental. Nestes colégios e na faculdade não tive problema com a disciplina. Mas por que?

Meus problemas disciplinares foram consequência da minha hipo-hiper glicêmia, TDAH e mais outras cositas mas. Detalhe: nenhuma delas era ou conhecida ou bem definida no campo clínico em meu tempo de estudante. Nos colégios onde a disciplina era mais relaxada e menos fincada em besteiras, eu fui bem. Hoje não se tem mais dúvida que o comportamento tem muito a ver com meio ambiente.

Desconhecimento, hábitos sociais, falta de flexibilidade.
 
- Hiper-hipo glicêmico? Isto não existe! Aqui começa uma outra confusão.
Já ouvi esta afirmação de médicos, num farto plural. E também ouvi de várias enfermeiras de PA, pronto atendimento, emergência, que não só existe, como muitos médicos nunca viram um paciente em crise ou sequer ouviram falar de hipo-hiper glicemia. Para muitos o caso não existe, simples assim. 
O que é hipo-hiper glicêmia? Uma curva glicêmica em zig-zag que faz o sujeito viver aos trancos, além das mudanças muito rápidas de humor, em outras palavras, os estouros. Até hoje. Nicas a ver com bipolaridade.

Aliás, como detalhe, mudaram as definições e a nomenclatura não só da diabetes, como até de partes humanas, mudou, então não sei mais quem ou o que sou. Roubaram minhas tíbias, agora tenho perônios. E aí vai.

Hoje há uma discussão sobre como lidar com pessoas fora do comum, incluindo autistas. A bem da verdade, a sociedade saiu de um não fazer ideia do que se tratava, para uma discussão maluca sobre o que fazer com eles.
A medicina saiu das garras da santíssima igreja e dos bons costumes sociais para cair no labirinto do politicamente correto e juridicamente seguro. Não resta dúvida que avançamos muito, mas... ainda tem muita confusão.

Lá pelos anos 60, quando tive minha primeira crise glicêmica grave, me passearam pela epilepsia, esquizofrenia, e sei lá mais o que. E, o pior, muito pior, fui filho de desquitada e neto de importante educador que pregava respeito aos alunos. 
Felizmente minha infancia foi nos anos 50 e 60. Pense bem, se eu tivesse vivido na época da Santa Inquisição provavelmente teria terminado torturado para confessar o diabo e queimado vivo para pagar meus pecados. Não que depois da minha primeira crise não tivesse quem quisesse fazer um exorcismo básico em mim.

De lá para cá as mudanças foram imensas. Ficando nos diabéticos, ninguem da geração de meus avós e para trás sabia ao certo o que tinham, aliás, se eram diabéticos. Não havia conhecimento, nem tecnologia para tanto.
Quando se trata de doenças mentais ou neurológicas, falta muito para se chegar a uma cura, mas já não se trata mais destes casos com o grau de obscurantismo do passado. Via de regra já se sabe sobre o que se trata, e em vários casos há tratamento indicado, mas a maioria dos pacientes continua sofrendo tanto pela falta de tratamento quanto muito mais pela discriminação social.

Não me lembro se na minha época ainda falavam sobre lobotomia, mas lembro que aprendi o que era, portanto deveria ser praticada. Lobotomia? Sim, uma discreta técnica cirúrgica para casos graves de alteração de comportamento, onde se abria um buraco na cabeça, a seco, sem anestesia, e se retirava parte do cérebro para acalmar o bicho, digo, paciente. Tive sorte, desta escapei. Bom, se me tivessem lobotizado teriam encontrado muita merda. 

Era estranho? Faz umas coisas esquezitas? "Nossa! É um perigo para a sociedade! Manda para o hospício!". O que? está pensando que é brincadeira minha? Não é. Um primo meu passou por esta,  fora conhecidos, vários. Tá achando que pirei? Uai, hoje não se cancela? Só parece menos traumático, mas os dramáticos resultados estão aí para quem quiser ver. De qualquer forma é bem mais barato. Você sabe quanto custa internar alguém? Se não sabe, não procure, é um tremendo business, vai que você só por perguntar acabe lá e de lá não sai mais.  

Medicina é uma ciência em aberto. Tem muita coisa que é conhecida, sabe-se como tratar com um bom grau de segurança, mas todas os novos conhecimentos e as novas tecnologias deixam em aberto novas possibilidades de cura. Espero que cheguem rápido.

Já os maus da sociedade, o que dizer?

Tanto a medicina, quanto a sociedade, tem, ou temem, limites estabelecidos pela lei. Óbvio que em vários sentidos a santa inquisição ainda está nos assombrando. Médicos não arriscam, a sociedade segue seu rumo na manada, uma hora desembestada atrás das bestas do apocalípse, outra desembestada atrás das palavras que parecem bondosas, os milagres que estão em todas partes. Os diferentes que saiam da frente. "O que é estranho da medo e deve ser evitado", dizem. A vida é assim.

PS.: vale apena ler ou seguir o blog Vencendo Limites do Luís Alexandre Ventura.
 https://www.instagram.com/blogvencerlimites?igsh=azZweW0xZGJ1MzZv

Queimas de arquivos e incompetência

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

100 policiais para pegar 3 criminosos, um deles chefe de perigosa quadrilha? E todos os 3 saem mortos depois de milhares de tiros disparados? Importante chefe do PCC é capturado e morto em Praia Grande? Quando a polícia vai parar de apagar arquivos? Não interessa como foi a situação, chefe quadrilha morto é arquivo queimado, ponto final. Não interessa para nós, sociedade. É uma grande perda para estabelecer a nossa segurança tão desejada. E no Ceará, 100 X 3 e não tiram o cara vivo de lá?

Temos o gravíssimo problema de segurança que temos porque há um incrível despreparo geral. O número de erros grosseiros que são divulgados assusta, é inaceitável. Desde operações desastrosas, até a queima de arquivos preciosíssimos. Fora o follow the money lentinho lentinho, quando follow. Alguém aí pode explicar os por ques?

sábado, 9 de agosto de 2025

1335 km de congestionamento? Não vai parar por aí

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

São Paulo, sexta-feira, 19:27, 1.330 km de congestionamento na cidade. Quero chamar atenção para um pequeno detalhe: os semáforos novos, os que têm a borda com uma faixa amarela, já estão dando pau, um atrás do outro. Parabéns. Genial! Extremamente inteligente! De uma eficiência impressionante! É simplesmente inacreditável que a população de São Paulo aceite esta situação absurda, 1330 km parados, em silêncio. A culpa é toda da CET? A meu ver, não.  Os interessados que se mexam, que reclamem, e sobre tudo que participem, que tomem suas responsabilidades como cidadãos, o que pelo silêncio provam que não fazem. Vão ficar engarrafados até descobrirem que as taxações de Trump custam menos para o país, se descobrirem.
A saber: sou ciclista e não raro não consigo seguir em frente. Nem as motos, muito menos os carros. E o povo, mesmo profundamente irritado, aceita. Já fiz trânsito para a Rádio Eldorado, Bike Repórter,  e naqueles anos da virada para o 2000 o sistema semafórico já dava pau seguido. Em 2005 me autorizaram entrar na central da CET Bela Cintra, e o que vi lá estava completamente obsoleto em relação a necessidade e importância capital desta cidade. Não dá para remendar, dar um jeitinho. Tem que começar do zero. As tentativas de acertar o sistema não têm dado o resultado desejado, isto está mais que claro, então passamos e muito da hora de enfrentar o problema de frente, e a solução não virá só com um sistema semafórico atual, novo, inteligente, mas numa mudança urbana profunda. Temos que aceitar que a vasta experiência internacional também nos serve, que se tem que ouvir, falei "ouvir", as entidades internacionais especialistas que ajudaram a resolver outras grandes cidades. Nosso suicídio está no "eu sei o que estou fazendo" bem típico da arrogância ignorante brasileira. Pior, "eu sei o que estou fazendo, estou certo, e daqui ninguém me tira". Então divirta-se.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Os 50% para um pais invisível: Brasil




Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Este artigo do Mercado/e I investidor pode ser lido de outra forma: a realidade é que nos Estados Unidos, e para os americanos, Brasil não existe, é uma terra distante, perdida onde não sabem, com um povo exótico e capital Buenos Aires. Quem é viajado, fala inglês compreensível, gosta de conversar, inclusive com gente dos mercados, sabe que a verdade é esta, e ponto final.

O Brasil ainda ser invisível é responsabilidade total de todos governos e políticos que por aqui passaram, que dentre outras, tiveram e seguem tendo o interesse único e exclusivo na eleição, reeleição, poder, e manutenção do poder, em outras palavras, cuidar do próprio umbigo.

Europeu até sabe que existe América Latina, América do Sul, e até Brasil. No nosso caso muito mais pela bossa-nova, Pelé, Airton Senna e mais um punhado de personalidades.

Política externa brasileira para posicionar de forma perene o Brasil como nação? Nos Estados Unidos?

Estou errado? Pois leia este artigo. E se for viajar, saia das lojas, vá tomar um café e converse com os locais. Vão perguntar de onde veio, responda: Brasil, e estique a conversa. Vai lá, coragem.

PS.:
Brasil segue sendo uma colônia, a diferença é que hoje os exploradores que mais saqueiam não são mais os colonizadores originais, mas os coronéis e capitães do mato nativos.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

... cicloclovias segregadas atraem mais ciclistas. Mas...

 "... cicloclovias segregadas atraem mais ciclistas", está escrito numa matéria do Mobilidades do Estadão.


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O Estado de São Paulo

"Ciclovias segregadas" tem este nome porque são 'segregadas', óbvio. Ou seja, como está no dicionário, Segregar: "Colocar-se de lado; pôr-se à margem de; separar ou separar-se", razões mais decisivas pelas quais nossa sociedade está cada vez mais dividida e violenta.
"Ciclovias segregadas atraem mais ciclistas" pela sensação de segurança, até certo ponto e dependendo das condições pertinente, mas não necessariamente verdade raza e definitiva.
O que não é tão óbvio é que segregar, mesmo em nome ao estímulo, tem seu preço. Hoje caminhamos, ou pedalamos, por um "Segrege-se e que se dane o resto". Será inteligente?

"Sem ciclovia (via segregada) não há segurança", é a palavra espalhada, verdade popular que abraça a maioria que o faz sem questionamentos. Será? Segregar será o único caminho para a segurança? Muros, grades, seguranças na porta, porta giratórias e outras medidas mais nos trouxeram mais segurança? Pelos números da última pesquisa agora apresentados, a resposta é "muito pelo contrário".

'Que vida você quer?' passa obrigatóriamente pela pergunta 'Que cidade você quer?'. Começando pela sua saúde, todos estudos apontam que o bem estar começa pela vida coletiva. Locais sadios são aqueles onde a comunidade olha pela segurança do próximo, do vizinho, de todos.  Nestes lugares há segurança porque o outro não está a margem, ou segregado, esquecido, largado. Segurança, a verdadeira, não a imaginária, está na integração, não na segregação. Unidos venceremos, simples e básico assim.

Em todas as partes do planeta a bicicleta foi e está sendo usada como uma ferramenta de integração social, não de segregação. O interesse pela bicicleta não está só na melhoria da mobilidade urbana, mas na capacidade de integração social que bem implantada ela oferece. Só não se Integra quando situações muito específicas realmente não permitem. 
Aqui, segrega-se, ponto final. Com isto grande parte das inúmeras vantagens que a bicicleta traz para a sociedade como um todo perde-se.

Há situações onde ciclovias segregadas não só são desnecessárias, como contraprodutivas. Segregar, "colocar-se de lado; pôr-se à margem de; separar ou separar-se" A rua é espaço público que deve ser dividido sem segregações, ponto de partida para a cidade que todos, sem exceção, queremos. 
Para começar, quem segrega coloca na sua conta a irritação dos que usam o espaço público quando são atropelados pelos direitos especiais dados aos ciclistas? "Deixa reclamar", é esta a resposta?

É necessário segregar? Sim, mas havendo necessidade, não generalizando, acima de tudo, bem pensado, o que não parece ser nosso caso quando olhamos o que está aí. Quanto mais km melhor é muito diferente da busca pela qualidade, esta sim amiga íntima da segurança, e inimiga da filosofia segregadora.

No Brasil a segregação vem com uma resposta simplista, populista a bem dizer, para soluções de problemas muito complexos. No caso do trânsito, ciclistas têm a mesma necessidade de segregação que pedestres? Pedestres são segregados porque seus deslocamentos são muito diferentes da forma de deslocamento de todos veículos, sem exceção, incluindo bicicletas, que por lei é veículo. Começa pela velocidade do caminhar e termina pela capacidade de mudar de direção, que no caso do pedestre pode facilmente ser abrupta, pára, gira, anda para trás, abre os braços, etc..., o que é impossível para qualquer veículo sobre rodas, a bem da verdade até para monociclos. É uma questão relacionada às leis de física, que até onde se sabe são imutáveis, pelo menos no resto do planeta.

O dia que o Brasil parar de segregar, colocar de lado; pôr à margem de; separar ou e principalmente separar-se, vamos iniciar a construção de um futuro com futuro.

domingo, 27 de julho de 2025

Juiz embriagado mata ciclista. Só isso?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

Mais uma morte. Não deixa de ser trivial, mas deve ser julgada no rigor da lei. Sera? Mas aí há um pequeno detalhe; o atropelador é um juiz aposentado. Vamos ver como a lei cairá sobre seus ombros, como seus iguais, juízes, vão encarar a realidade. Tenho pleno direito a esta dúvida. Creio que serão duros porque o juiz em questão atropelou bêbado e no momento da ocorrência se encontrava com uma mulher nua no seu colo. Mesmo assim eu creio que seja provavel uma punição, nem que seja para jogar o arquivo para baixo do tapete. Boa parte dos brasileiros devem pensar "vamos esperar para ver no que dá". Para infelicidade do sistema judiciário, a ocorrência fatal expôs uma situação nada simpática à população, que todos já sabíamos, mas é duro de engolir, o salário do juiz, uma brincadeirinha em torno de R$ 2.000.000,00 ao ano, sim, todos estes zeros, ou dois milhões de Reais ao ano. Sera que julgado culpado vão contrariar a lei e tirar o discreto salário do juiz? Duvido. Com todos estes predicados, talvez passe batido que um sujeito de 71 anos que dirige bêbado com uma senhora nua no colo é, pode-se dizer, imaturo. Se a esta altura do campeonato não tem maturidade, é factível imaginar que tivesse menos ainda mais jovem, quando trabalhava, no caso como juiz. Óbvio que isto não virá à tona. Se algum maluco for atrás e descobrir que este comportamento não é nem foi novidade, é de se supor que sua atuação em nome da justiça também não tenha sido. Aí é de se imaginar que vai entrar uma grossa e pesada turma do deixa disto, e também é de se imaginar que esta bizarra história macabra cause calafrios até nos que não são da justiça, mas trabalham intimamente ligados à ela.
Em outras palavras, a execrável morte não acidental da cidadã, por acaso ciclista, abriu a caixa de pandora que todos nós brasileiros sabemos que está aí, inclusive a remuneração vergonhosa, que eu prefiro profundamente ofensiva. O que eu creio que vá acontecer? Muito pouco, ou nada, além de uma provável condenação pela morte da ciclista. O resto, ora o resto... "Para com isso, cara!"

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Jockey Clube, Yate Clube Santa Paula e outros abandonados

SP Reclama
Forum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Jockey Club de São Paulo, Iate Clube Santa Paula. Abandonados; e muito mais mais outros, para não entrar no absurdo de todo centro da cidade. A quem cabe a responsabilidade, Prefeitura, Câmara ou Poder Judiciário? A bem da verdade, no estado que estão as coisas, é o que menos interessa. Tem que se resolver, ponto final. Abandonados há décadas, são um imenso prejuízo para a estabilidade da cidade e de seus cidadãos, muito maior que a maioria da população acostumada ao abandono geral consegue entender. São a prova que não é esta ou aquela instituição pública que está inoperante, falida, decrépta, mas todo o sistema que deveria servir ao povo. Qualquer tentativa de explicações por parte deles, o poder público, só piora. Passamos deste ponto, o que realmente interessa é dar solução a estas muitas situações vergonhosas, ridículas, que nos assombram, não importa de que forma. A teoria da vidraça quebrada é de uma verdade incontextável. Em São Paulo temos muito além de vidraças quebradas, temos 'só' um discreto Jockey Clube pintadinho, aparentemente bonitinho, mas largado, abandonado, sem futuro definido, imprestável para seu fim social implícito e obrigatório. E um Iate Clube Santa Paula e seu imenso hotel as margens da Represa Billings há décadas também largado às traças, ratos, baratas e sabe-se lá mais o que. Dois exemplos gritantes, dentre tantos outros. Sensação de abandono é um dos estímulos para a violência, a ciência e os dados provam. Se houver interesse real para reverter a bagunça que vivemos, que se comece por resolver os símbolos mais gritantes da incompetência. Assim foi feito em várias partes do mundo, com resultados sempre positivos. Aqui conhecemos esta técnica como "tolerância zero", que muitos dizem ser contra os interesses sociais. Contra os interesses sociais? Como assim? Por favor expliquem.

A saber, em NY, um imóvel fechado por mais de 6 meses é passível de pesadas multas. A razão, óbvia: prejudica a vizinhança. Paris obriga que todo e qualquer fachada de edifício seja limpa, tratada, restaurada, pintada com perfeição no prazo máximo de cada 10 anos. Nós temos uma lei que diz que a cada 5 anos é necessário fazer manutenção da fachada. Como tudo neste país, tem lei que cola e lei que não cola. Que vergonha!

Na alameda Casa Branca, área mais que nobre da cidade, um edifício ficou largado, inacabado, por mais de 30 anos. Pelo que contam, foram vários que entraram em contato com o proprietário para arrumar, terminar, tentaram comprá-lo, sempre tendo como resposta "não preciso, deixa lá". Como assim?
Situações como esta se espalham pelo Brasil. São Luis do Maranhão, Salvador, inúmeras cidades históricas, se não praticamente todas. 
O que corre entre o povão é que nossa memória, nosso patrimônio histórico, que a imensa maioria sequer entende sua importância vital, é abandonado de propósito para que chegue um dia a deteriorização completa e a irreversibilidade de sua recuperação, sendo necessária sua demolição, o que abre espaço para um novo emprendimento imobiliário bem rentável. Caso emblemático é a casa sede da Fazenda Bibi, que depois de muitas décadas de luta felizmente foi restaurada.

Terminando e a saber: NY na década de 80 chegou a ter mais de 80 mortes violentas por 100 mil. Para quem não sabe o que isto significa, o Brasil em 2023 teve 22 mortes violentas por 100 mil. A reversão da brutal violência de NY veio através do cuidar do que estava abandonado. O resultado está ai.

Aqui, pelo que parece, ninguém está nem aí.

domingo, 20 de julho de 2025

O abismo de comunicação

"O agro negócio tem um ponto positivo inquestionável, a entrada de dólares no país, e inúmeros pontos negativos que um conhecido,  engenheiro agrônomo, poderia enumerar. Um deles é a periferia das cidades grandes, em parte consequência da expulsão da população interiorana pelo modelo de negócio agrícola de grande escala",  segundo meu interlocutor.
 
E segue ele, "O país (Brasil) tinha uma extensa rede ferroviária que acabou por causa da indústria automobilística".

E termina, "A solução para o caos da cidade está nas mobilidades ativas e no transporte coletivo".

E aproveitando a 'sabedoria' popular, "Todos problemas vêem de políticas públicas erradas, da má fé. Tem que mudar".

E, E, E e E.... e poderia terminar com o usual "entendeu?".

Dito e feito. Dito e feito?
Como? O que?

Primeiro, as afirmações acima são verdadeiras, mas... não estão completas. Começando por elas e entrando a fundo em cada uma das questões surgem detalhes que, estes sim, podem levar aos resultados esperados.

Provavelmente já responderam ou ouviram alguém iniciar a resposta com um ".... sim, não, sim..." Brasileiro talvez seja o único povo que responde positivamente começando com um "...sim..., não, sim". Se for uma negativa é o contrário, não, sim, não. Eu faço isso. Estou cansado de ouvir esta resposta. Estou me patrulhando e estou tirando sarro de quem responde assim. Tenho dado boas risadas, mas o causo é sério.

Comunicação correta. Tai algo que nós, brasileiros, não somos educados e treinados para fazer. Sim, não, sim, respostas com frases incompletas, pensamentos que deixam para o outro completar ou subentender, e o infalível "entendeu?". É vício nacional. No final fica tudo num limbo além da imaginação.
Como isto influencia na comunicação de assuntos que demandam precisão, seriedade, e tomada de decisão correta? Não sei, mas tudo me leva a crer que é um dos mais graves desvios para construir resultados. 

Saindo do povão, me incluo aí, e entrando no mundo dos especialistas e conhecedores, aqueles que têm capacidade e podem resolver problemas, aposto que há um abismo absurdo na forma como expõe suas razões para o público, e esta é uma das razões pelas quais estamos vivendo estas graves crises com seguidos vôos de galinha.

Faz 50 anos que estamos gritando sobre a gravidade da questão ambiental, por exemplo. Ora, se a gritaria tem tanto tempo e não alcançou os resultados esperados, algo está muito errado, e sem muita dúvida, uma delas é a forma de comunicação. 

O causa esta tremenda dificuldade de definir uma posição? Por que navegamos no talvez? Não aprendemos onde isto nos traz?

terça-feira, 15 de julho de 2025

Nos falta educação emocional

Sigo dois grupos que estão em lados opostos, literalmente. Um de esquerda ideológica e o outro de direita patológica

O fogo da intransigência sempre esteve aceso, mas depois da reação de Trump com seu 50% o fogo explodiu em acusações pirotécnicas dos dois lados. Nada de novo, só um pouco mais barulhento, luminoso e quente que o habitual.

Confesso que tenho bons amigos dos dois lados, entendo algumas posições, mas fico cansado. Mais, longe deles gasto parte de meu tempo tentando descobrir como reverter esta queimação infernal tão destrutiva para os dois lados e mais ainda para nós, simples cidadãos que só queremos que a coisa funcione bem e tenhamos vidas normais, sem ter que obrigatoriamente que tocar fogo e se queimar.

Educação emocional, nossa educação emocional, aqui no Brasil, é muito ruim, ou inexistente. Se no passado havia uma educação social informal, os usos e costumes que colocavam limites na reação puramente emocional, ela veio se deteriorando ao longo dos anos de uma forma brutal, e o brutal aqui não é figura de linguagem.

Por razões ou interesses estamos jogados um ping pong entre um capitalismo selvagem e um socialismo selvagem, bestial melhor dizendo, os dois. O interesse maior, inclusive dos dois lados? Não interessa. O X da questão é destruir o outro. Fodam se todos e todo mundo. "Nós e eles", "eu!" (selfie!). Quem não quer pancadaria sofre as consequências, leia-se Brasil.

Educação emocional para saber conversar com um mínimo de racionalidade. Deixar o outro falar, ouvir, entender sem ser devorado pela emoção bruta e sem agarrar o outro pela goela.

Não sei o que você sente quando vê nossos congressistas atuando no plenário, mas eu fico maus. Morro de inveja quando vejo congressos ou parlamentos de outros países debatendo, e incluo Itália aí, famosa por seu comportamento expansivo, vamos dizer assim.

Desta vez fiquei tempo suficiente em Roma para poder ser convidado a alguns encontros familiares e de amigos. Voltei para casa feliz, calmo. Mesmo que os italianos tivessem, e tinham, posições bem diferentes, cada um expunha sua razão sem ser interrompido, sem interferências. E só depois de terminada sua exposição alguém começava a falar. 
Estou errado? Não creio. Exagerado? Não. Ou você acha que a baderna que vivemos, que já se transformou em caos, está aí por que? Não falo só de política, mas de violência pura, bruta, estúpida e irracional. De onde imagina que vem? De posições racionais?

Educação emocional leva a uma melhoria da racionalidade, e racionalidade nos levará a qualidade. Olhem os que nos servem de exemplo e verão que este foi o caminho que seguiram.

A entrevistada a Rádio Eldorado, falando sobre educação de crianças diferentes acabou de citar "conhecimento de ciência social". É sobre isto que me refiro quando falo sobre educação emocional. 
Hão de concordar que este Brasil que vivemos é infantil, tipo aqueles que jogam areia na cara do outro para não emprestar seu brinquedo. "É meu!"

Óbvio que para uma minoria não é interessante que a maioria pense racionalmente. E a maioria aceita. Quem cala, aceita, reza a verdade.

O precisamos é vender a ideia que só com um mínimo de controle emocional sairemos desta baderna que estamos metidos.

Os dois lados fanáticos, o do capitalismo selvagem e do socialismo selvagem, não vão mudar, sempre existirão, mas com algum comportamento racional a maioria conseguirá isolar estas doenças, então teremos o futuro que sempre desejamos.

Brasileiro fajuto: só agora descobriram?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 


Descobriram que o cara é brasileiro fajuto? Como diz o povão: "demorou!", isto para deixar o sarro barato. Um passo atrás, tem gente que sabia que Trump não era muito bom da cabeça, mas está se surpreendendo com o que está acontecendo agora. Como assim? Não dava para perceber que aquilo daria nisto? Não era previsível? Estás de brincadeira?!? Um passo a frente, depois de tentativa de golpe contra o Exército, décadas de nulidade no Congresso, 700 mil  mortos, falas sem sentido e outras loucuras absolutamente inaceitáveis, não dava para ter uma noção que o sujeito não está nem aí para não só o Brasil, mas única e exclusivamente interessado no que seja de seus interesses mui particulares? Pior, o sujeito em questão definitivamente não é o único, muito pelo contrário. Não importa a linha política e ideológica, temos aos montes. A bem da verdade, assusta mesmo a cegueira geral. Está sim me preocupa, e muito. 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Solidão: ...

Rádio Eldorado FM 

Brasil é um país com baixa educação emocional. Solidão acaba sendo uma consequência. Solidão individual e coletiva. Não é porque você está encaixado num grupo social que está ou ou acaba só, sente solidão, algumas vezes profunda. Ou você se encaixa na manada, pensa, age e fala a mesma coisa que este geral, ou você é deixado de lado, ou pior, desprezado ou até encurralado. Não importa nada se o solitário tem muito a oferecer. Via de regra não interessa a maioria enxergar a solidão do próximo. Inegável que Brasil virou salvasse quem puder, muito individualista.

Ainda pela baixa educação emocional, é difícil ter uma conversa racional mais profunda, onde os motivos não só da solidão venham à tona sem estremos. Aliás, fora do trivial é difícil estabelecer contato, mesmo com os muito próximos.

Solidão acaba sendo a medida da estabilidade social de um país, mas, quanto mais instável emocionante, menos se consegue rastrear a solidão.

Minha fuga é pedalar. Ou trabalho, o que não estou conseguindo fazer por conta de problemas familiares, problemas estes que estou tendo que aprender a lidar completamente só, portanto na solidão.

Não é porque você tem um ótimo relacionamento que você não está completamente só, totalmente afundado na solidão.
Amar é uma coisa. Amar não implica diretamente na não solidão. As duas emoções podem caminhar juntas, e não raro caminham. 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

50% contra o Brasil ou para salvar papai?

Fórum do Leitor
Rádio Eldorado FM
O Estado de São Paulo

Fogo inimigo? Quem deve se preocupar com artilharia inimiga quando o fogo amigo é muitíssimo mais devastador. Os 50% que Trump anunciou é resultado de diferenças comerciais? Pela forma como foi anunciada tudo leva a crer que é resultado de desinformação plantada por um dos nossos com outros fins. Tem um forte cheiro que serve só para salvar papai. Um país se constrói em meio a diferenças, algumas fortes, pesadas, dificeis de contornar, mas não importa quão diferentes, deve-se encontrar e de alguma forma com integridade encontra-se uma saida. Pode ocorrer jogo pesado, até sujo, mas nunca traição. Traição é absolutamente inaceitável. Se é inaceitável entre pessoas ou grupos, o que dizer trair todo um país em nome dos interesse da própria família. O que vemos agora não terá sido o caso, ou, melhor, a repetição do já acontecido? O lado bom é que a fantasia delirante deve cair até para os mais crentes. Uma traição deste naipe afeta a todos, sem qualquer exceção.

domingo, 6 de julho de 2025

A era do só o muitíssimo é legal

A era do só o muitíssimo (o completo exagero) é legal, entramos nela? Tudo indica que sim. Nunca o muito foi tão muito, necessariamente muitíssimo em tantas áreas de nossas vidas. Comunicação em massa, mais que isto, a manipulação em massa está em nossas mãos, a carregamos no bolso e estamos atentos a ela o dia todo. Mais, aceitamos como natural e bom, melhor, ótimo.
A diferença para o passado é óbvia: a era digital está aí até para os que não querem vê-la, e ponto final.  

Pós escrito: o conceito de infância surge no início do século XIX com a revolução industrial. Antes disto não se fazia distinção entre adultos e crianças. E o conceito de adolescência se firma pós Segunda Guerra Mundial, antes também eram crianças e adultos. Ou seja, usando um termo bem popular: não tinha mi-mi-mi.

Paz e amor, nossa fronteira final? Faz tempo que se acredita que sim, é o nosso fim, e aí faz tempo, muito tempo, procura desesperada desde o surgimento das religiões monoteístas, ou bem antes. Cristianismo a refinou: pratique muito amor e tenha paz no céu, com direito a recepção por São Pedro. E por aí vão esta e as outras. 
 
O Festival de Woodstock foi o ápice do paz e amor, do Flower Power, do faça amor, não faça guerra... Quatro dias de música, sexo e drogas, e paz e amor. Saiu do controle com 500 mil pessoas invadindo a fazenda e lá ficando por quatro dias, debaixo de sol, chuva, lama, precariedade de alimentação, bebidas, higiene, transformando tudo em volta num caos, mas de alguma forma controlado pelos próprios meio milhão de jovens. Quase inacreditável, mas foram só duas mortes, uma por overdose e outro atropelado por trator que ali trabalhava para dar um mínimo de condição de vida para aquela massa de paz e amor.

Os cinco discos gravados e lançados no mercado, mais fotos, filmes e o filme Woodstock mostram o que foi, pelo menos o lado que era interessante mostrar para um público que se sabia restrito, selecionado, e com potencial político e comercial. Paz e amor serve além de suas belas palavras. Woodstock foi para uma geração "muitíssimo legal". 

Aqui, no Brasil, antes disto, a partir da metade dos anos 60, começaram os festivais nacionais de música transmitidos direto pela TV (em branco e preto). Quantos músicos maravilhosos saíram dali. Paz e amor? Não só, ou um outro tipo. É proibido proibir, ou era, ou queriam que fosse, como cantava a música. Vivíamos o começo de uma ditadura militar que ficou braba e o discurso paz e amor pegava menos neste país tropical, ou fazia menos sentido que num Estados Unidos desbundado na riqueza, a todo vapor, mas metidos em uma guerra violenta, Vietnan, sem sentido diziam, a segunda deles pós WWll. Paz e amor era protesto, ou pretexto, como queiram. 

A partir da revolução industrial o "muito é legal" não só para os negócios e capital disparou. Imagina só o que sentia a primeira geração que passou a ter utesilhos domésticos a disposição em casa. Quanto mais, melhor, era novidade e ganhou outra escala: acessível. Rádio e depois TV deram um belo empurrão ao mais é melhor.
Também a partir da revolução industrial surge uma nova era, a era do só o comunismo é muitíssimo legal, que pelo sim ou pelo não tem a ver com o paz e amor do Festival de Woodstock caótico e absolutamente igualitário, pelo menos por quatro dias.

Paz e amor? Paz e amor! 
(Esta porra de corretor automático, que agradeço a Deus por existir e evitar que eu escreva erro atrás de erro de português, corrigiu o paz e amor por Paz é amor, o que dá o que pensar. Mensagem subliminar de Deus ou sacanagem digital do programador que é messiânico? NDA.)

Exageros? Sempre existiram, nenhuma novidade, alguns comportamentais, outros sociais, faz parte de nossa história. A 'era do só o muitíssimo é legal' sempre existiu, mas em nichos, de formas diversas e escalas restritas em setores de cada sociedade, mas não na escala e nível de disseminação que temos hoje. 

Foram muitas eras do "só o muitíssimo é legal". Por exemplo, um dos fatores para a vitória dos aliados na WWll foi a suavidade dançante das big bands americanas. 

Sempre se quis encaixar e viver, regra básica de sobrevivência social. Hoje "muitíssimo" é uma força impositiva gerada pela realidade digital que atinge inevitavelmente a todos, queira ou não queira.

Fato é que paz e amor, da forma como pensamos hoje, eu diria, foi o início da "era do só o muitíssimo é legal" uma novidade recente entre e dentro da humanidade. 

Como curiosidade, dois Beatles, Paul e George, viajaram para San Francisco para ver e vivenciar o paz e amor do Flower Power. Dois dias depois retornaram a Londres. Acharam um porre idiota.
 
De qualquer forma o paz e amor muito turbinado e fortemente distorcido pela pela cada vez mais agressiva propaganda comercial, nos trouxe a esta maravilhosa "era do só o muitíssimo é legal", ou, no dito popular, "quanto mais melhor", ou ainda "quanto mais vende, mais lucra". Neste contexto, com a concorrência que se tem hoje, vale qualquer coisa para sobreviver, inclusive o "só o (meu) muitíssimo é legal". E o pessoal embarca e compra, esta é a questão. 

A memória do meu celular acabou. Limpeza feita. Agora funciona muito melhor. A mesmíssima receita de uma pesquisa científica sobre recuperação da nossa memória, a que temos dentro da caixola, que acabou de ser publicada. Menos informação é mais saudável para o funcionamento geral do corpo, mente e alma. Absolutamente ninguém duvida, pelo menos os que não são das gerações X Y Z e os etc + algo. 
Diz a pesquisa, momentos de observação aleatórios e inconsequentes trazem benefícios para memória e outras funções do cérebro, por conseguinte para a vida. Só funciona com as sensações abertas, focadas no apreciar o momento. Simplesmente dar-se ao direito de perceber e sentir.
Em outras palavras: era e continua sendo muito legal integrar-se à vida. Não é sadio e produtivo entrar de cabeça no só 'o muitíssimo (qualquer coisa, de preferência idiota) é legal' que se vive hoje. (Nossa pausa. Sorria! Selfie!)

Meu agradecimento aos pensadores, historiadores e sociólogos que em diversos artigos tem analisado e colocado em contexto o que vivemos hoje. Estamos um pouco muito mais acelerados do que é sadio. Pelo que me lembro a ideia deste texto, delírio talvez, veio de artigo do Karnal sobre exageros.
 
Termino citando Goebels, que usou e abusou do "só o muitíssimo é legal" para fundamentar a tentativa de impor uma era que teve consequências definitivamente nadíssima legal para centenas de milhões. Aliás, Stalin, Mao e outros do genero, também impuseram o muitíssimo legal a moda deles que também fazem parte de um passado pouco memorável. A ideia de todos eles, ditadores, salvadores da humanidade, populistas, religiosos, tudo junto e separado, pode até ter sido boa, mas.... aí entrou o muitíssimo, a doutrinação do "só o meu muitíssimo é legal". Danou-se!

Será o IA a nova "era do só o muitíssimo é legal"?. Medão! Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante