terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Falta de eletricidade, a decisão da juiza, e o empurra-empurra



Resolver um problema envolve um processo estruturado: Definir o problema claramente, Analisar suas causas (causa raiz), Gerar múltiplas soluções, Avaliar as opções, Implementar a melhor, e depois Revisar os resultados para aprender, mantendo a calma e priorizando tarefas para progredir de forma organizada e eficaz.

Esta é uma resposta básica, primária, encontrada com facilidade no Google, para a pergunta 'como resolver problemas, quaisquer'. Nós, brasileiros, conseguimos responder minimamente a contento estes pontos básicos apresentados quando se trata da questão da falta de energia? Não. Conhecemos a realidade, as causas profundas do problema, o que poderia nos levar a uma melhoria de fato? Tenho tudo para duvidar, mas tenho certeza que a maioria irá responder "Nao me interessa saber. Eu quero meu problema resolvido. Eles que resolvam!".
A segunda parte da resposta que imaginaria dada pelo cidadão mui provavelmente irá incluir um herói de plantão, aquele que tudo resolve como passe de mágica. "Ou religam em 12 horas, ou serão multados por hora" é uma destas respostas mágicas. Como teve gente aplaudindo. Prefeito, governador e presidente invejosos devem ter pensado "eu mato, eu pico, eu ponho num penico", o que seria maravilhoso para os seus objetivos populistas, mas a brincadeira de criança histérica que está em jogo, entre eles, é outra, portanto "comporte-se", fale como um político inteligente. Político inteligente? Nos tempos que estamos vivendo? (Pausa para as gargalhadas).

Agências reguladoras. "Quem? Desculpe, o que (são)?" Boa pergunta.

Outra busca no Google:
"Ao Deus dará" é uma expressão idiomática que significa à toa, ao acaso, sem rumo, descuidadamente ou abandonado, indicando falta de planejamento ou de controle sobre uma situação, entregando-a à sorte ou ao destino. Sua origem remonta ao século XVII, possivelmente no Brasil, com um comerciante que, sem ter o que dar, dizia "Deus dará", popularizando a ideia de esperar por um acaso ou auxílio divino.


Ajuda te que ajudar-te-ei. Senhoras e senhores, até Deus sabe que se não se mexer a coisa complica. 
Terminando, ajudar se não tem nada a ver com bater o pé, espernear, ter chiliques. 

Você está correto. A sabedoria popular nos lembra que a ajuda é mais eficaz, genuína e relevante quando baseada em conhecimento prévio, experiência ou familiaridade com a pessoa, a situação ou o contexto em questão


segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Andreas Kisser: precisamos conversar sobre morte

O Estado de São Paulo
Comentários


A não discussão séria sobre morte é um tiro no pé sem tamanho, principalmente neste país onde a morte (do outro) é a coisa mais normal do mundo. "Morreu, morreu, antes ele do que eu", velho ditado popular. Os números que temos neste Brasil são absurdos, absolutamente inaceitáveis, e ainda ficamos divagando sobre o assunto (que não se pode falar abertamente porque é tabu ou sagrado).

Inacreditável hipocrisia. Sigam morrendo (os outros)... esta é nossa verdade.

Se um dia quiserem andar nas ruas com segurança, se um dia quiserem que nosso sistema de saúde funcione a contento, se um dia quiserem um país socialmente mais justo, se quiserem ter uma qualidade de vida mais digna, lembrem-se, nós nascemos, vivemos e morremos, com um pequeno detalhe: de duas coisas não se escapa nesta vida, pagar impostos e morrer. Como não temos sequer a capacidade de discutir, melhor dizendo, decência, para resolver a insanidade dos impostos deste país, guardo o direito que vamos continuar morrendo das maneiras mais estúpidas possíveis. Pelo menos nos velórios encontraremos os velhos amigos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Ditados

Quais os ditados que colaram na cabeça dos brasileiros? Ao o que eles nos levaram, ou nos levam?

O Brasil nunca viveu uma baderna com esta que estamos vivendo agora. É simplesmente inacreditável as loucuras que vem acontecendo sem parar dia a dia, ou hora a hora. Não faz muito, não estou conseguindo acreditar na quantidade de absurdos publicados nos jornais escritos, irradiados e televisivos. Não estou falando de fake news, de coisa de IA, mas de fatos e ocorrências investigadas por jornalismo sério, respeitável, com documentos, imagens, depoimentos. A baderna e a barbárie correm soltas. Feminicídios? Selvageria sem o menor sentido? Inéptos falando besteiras sem tamanho em nome do povo?

Quais são as verdades pétreas que estão encrustradas em nossas cabeças? Quais são as palavras, frases e ditados que formam nosso espírito?

Como vender conceitos novos, produtivos, pragmáticos, que transformem de fato este povo, este país? Como quebrar as besteiras tomadas como verdades definitivas?

Soltei uma grita sobre o novo PNE, Plano Nacional de Educação. Repito, dar urras ao novo PNE, agora, em 2026 que está aí? Para mudar o que e em quanto tempo? Este PNE pode ser ótimo, mas chegou com décadas, talvez séculos de atraso. Que seja bem vindo, mas guardo o direito de achar que antes tarde do que nunca neste caso é uma tragédia vestida para festa baile.

Educação se pode dividir em pedaços. Vou colocar dois mais básicos: a transmissão oral de valores sociais, que chamam de educação caseira, e a educação formal, leia-se escola. O dito bom novo PNE vai, ou poderá, talvez, quem sabe, apresentar resultados bem para a frente. Precisamos com urgência resultados sociais ontem, melhor, antes de ontem, aliás muito antes de ontem. 

A única saída para ter resultados a curto prazo é ter um macro plano para se corrigir o que está sendo transmitido informalmente, no boca a boca. Os ditados que este artigo discute. Ou vamos continuar convivendo com a estupidez e a barbárie que está aí. 


 

PNE, você sabe o que é? Se interessa?


Desculpem, mas em que ano estamos mesmo? 2025? Quase 2026? Agora é que se apresenta mais um "projeto" para se resolver a gravíssima deficiência de nossa educação? Ok, "plano", o que em outras palavras pode se traduzir em 'intenções', ou seja, sabe se lá quando vai acontecer, se acontecer, que pelo que prova o passado se pode duvidar que algo aconteça. Acho deprimente este meu comentário, mas absolutamente realista, pertinente. Estamos em 2026. Nosso passado nos condena, a todos, sem exceção. Educação deveria estar resolvida e gerando resultados positivos desde sempre, ponto final. Nossa! Que bacana! Agora vai? Nossa opção, de todos, sem exceção, é pela ignorância que oferece oportunidades imediatistas. Educação? Dar ferramentas para pensar e progredir com sustentabilidade? Construir de fato um país do futuro? A quem interessa?

Eu exagero?

O que nos define como brasileiros em relação à educação e cultura é o Museu Nacional ter sido incinerado.

A última que morre é a esperança. Tenho 71 anos e provavelmente vou morrer sem ver o Brasil com uma educação minimamente descente.

Lembrando que em 2028 completamos um século da reforma da educação do Distrito Federal, então Rio de Janeiro.

E em 2032 serão 100 anos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.

Não sabe sobre o que se trata? Leia!

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Águas. Sem ela não se vive.

Amanheceu um dia bonito e sem nuvens. Ótimo, vou lavar roupas. E não fosse uma olhada no celular, eu teria lavado. A previsão era que a partir das 9h30 haveria possibilidade de tempestades. Mudei meu plano, peguei a bicicleta e fui fazer o que precisava com ela antes da chuva. Entrei na ciclovia do rio, onde se tem uma visão ampla do horizonte, e havia uma outra outra nuvem, nada especial. Busquei uns papéis com uma amiga, uns 7 km sul de casa, falei sobre a previsão e ela me disse para me apressar porque seu filho, com acabara de falar e que estava a uns 15 km mais ao sul, lá por Interlagos, disse que o tempo estava fechando muito rápido e que vinha tempestade. 
Consegui terminar o que precisava fazer, voltei para casa com o céu mais nublado, mas ainda sem cara de tempestade. Almocei, sai de dentro da casa, olhei as nuvens, e aí estava com cara de chuva, nada demais. Pouco depois caiu uma tempestade que me assustou, não pela intensidade, que já vi piores, mas pelo barulho forte, como se tivesse um jato comercial parado sobre minha casa. O corredor encheu de água, meu tonel de 220 litros que capta água do telhado demorou menos de 10 minutos para transbordar, muita água!
O celular não parou de dar alertas sobre tempestade. Pelo aplicativo deveria ter tido mais uma outra tempestade, que não veio, pelo menos aqui. Liguei para amigos para saber como estava a tempestade por lá, um a 4 km sul, o outro 4 km norte. Os dois responderam que estava forte, mas nada excepcional. Caiu só aqui. E nas represas? Isto que interessava. Não sei.

Jantando acabei assistindo mais uma vez este The Future com Hanna Fry sobre a crise mundial da água e as possíveis soluções. Coisa séria para pensar.

São Paulo mais uma vez entrou numa crise hídrica. Quando ainda não tínhamos o problema de falta de água na magnitude que estamos tendo, muito tempo atrás, um dos maiores especialistas em recursos hídricos deu uma entrevista declarando que São Paulo era uma das cidades mais secas do mundo, mesmo estando assentada sobre uma vasta rede de rios e corregos. E explicou com uma conta simples: número de habitantes X consumo médio : pela disponibilidade de água. Muita gente, pouca água. Estou falando de uma entrevista dada faz algumas décadas. Ninguém levou a sério, como de praxe.

O cálculo hoje leva em consideração mais fatores, como distância de captação, sistemas interligados, mesmo assim o resultado continua sendo o mesmo, ou pior. O índice de perda melhorou um pouco, mas ainda é altíssimo para os padrões internacionais. A conta não fecha, temos uma crise hídrica, mas quem se importa?

A baderna urbana que estamos vivendo, construção imobiliária desregrada e desenfreada, ainda não entrou nos cálculos, ninguém sabe, ninguém viu, mas estejam certos que vai entrar, e não vai ser por aumento ou concentração populacional, mas pela visível interferência ambiental que até cego vê. Interferência ambiental no solo, aérea e subterrânea; ou, de drenagem, ventos e pontos de calor, e fluidez das águas subterrâneas e lençol freático. Meus termos podem estar incorretos, mas dá para entender o que estou falando, e aí sei sobre o que se trata.

Tivemos que nos mudar da casa de minha infância, em 1966, porque o terreno secou e a casa começou a afundar, o que é mais comum nesta cidade do que possa crer. Agora moro numa casinha próxima do rio Pinheiros, em terreno de turfa. Construíram um edifício nos fundos, entre a casinha e o rio, o que mudou a fluidez das águas subterrâneas. Resultado? A casa se movimenta muito, a ponto de portas abrirem ou não dependendo do tempo estar seco ou chuvoso. 

Não faz muito estive na casa de amigos que vivem na Represa de Guarapiranga. Todos afirmam que a represa não é a mesma faz muito, que o nível da água é muito mais baixo. Na última crise hídrica passei por várias represas e o que vi foi assustador. Novamente vivemos a mesma situação, basta ter um mínimo de interesse e acompanhar o nível das represas pelo aplicativo. Mesmo as autoridades não tendo declarado emergência hídrica, saber que temos só 20% de água é assustador. Quem se importa?

Há desinteresses que são próximos ao suicídio a prestação. Um deles, talvez o mais gritante, é a questão hídrica. Água! Sem ela não há vida,simples assim. Parece que nós, brasileiros, ainda não nos demos conta do tamanho do problema. Quem se dá conta age, e não agimos, não tomamos providências. Reclamar da falta de água definitivamente não serve para nada. Soluções há, são conhecidas, são multi disciplinares, basta começar a agir. Mas falar o que, se até quando se abre uma rua para consertar um vazamento todos gritam contra?




https://youtu.be/FDY2McKLvlM?si=fdbViUEhvIWk8puQ

domingo, 30 de novembro de 2025

"O chaceler alemão tem razão:..."

Oswaldo Cruz, um dos mais importantes nomes da nossa história, foi em seu tempo esculhambado a mais não poder por sua luta no saneamento do Rio de Janeiro.

Para quem não sabe, naquele tempo ainda se usava penico, que quando cheio tinha seu conteúdo, sem meias palavras, merda e mijo, jogados pela janela, muitas vezes sem preocupação se passava ou não alguém na rua. 

Rio de Janeiro, a Capital Federal do Brasil, o centro do poder, exemplo e referência para todos, eram imunda, cheia de problemas sanitários, propensa a constantes pandemias. Oswaldo Cruz travou uma batalha contra todos e contra tudo, aliás muito parecida com o que aconteceu por aqui nos tempos da Covid. 



"Não pode falar mal do Brasil" é estúpido ou canalha? Cmo assim, "não pode falar mal..."? A sabedoria está no ouvir o que não agrada e até mesmo o que está errado. A burrice, extrema digo, está na bajulação.

Ok, não é isto, mas por que ele diz isto? Como é por que foi formulada esta afirmação? Este é o caminho da verdade, este é o caminho da ciência, este foi é será o caminho que nos trouxe e levará a uma vida melhor.

Se eu fosse presidente do Brasil (além de deixar todos completamente loucos) depois das decalarações do chanceler alemão, 'discretamente' pouco apropriadas sobre a COP30 e Belém do Pará, eu, presidente da República, iria a público e diria que o melhor a fazer seria entender o que aconteceu e por que aquele senhor falou o que falou. 

Os comentários de Mario Sabino para Metrópoles devem ter desagradado muita gente, mas são pertinentes, devem ser ouvidos com atenção.

"Não importa o que o outro fez para você. Me interessa o que você fez para o outro ter a reação que teve" - Lollia de Azevedo Marx




quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Quem sempre paga o que o outro destrói somos nós

A notícia é velha, mas é bem possível que os estragos ainda estejam sendo sentidos por quem não tem nada a ver com a história. 

Vocês se lembram, o maluco cruza o caminhão e para o rodoanel por cinco horas. Agora se sabe que o maluco teve um chilique e inventou a história que estava preso a uma bomba. Tudo mentirinha, delírio, ou sabesse lá por que razão. Não importa, fato é que o caminhão ficou cruzado no Rodo Anel por cinco horas.

Detalhe, a brincadeirinha dele praticamente parou boa parte da Região Metropolitana de São Paulo, o que representa parte de algo em torno de 18% do PIB brasileiro, por volta de uns R$ 1.6 trilhões, nada mais, nada menos, simples assim. Quanto exatamente, se alguém não divulgou. Óbvio que deve ter um número. Tem uma *estimativa básica, que está no final. 
Imagine agora, o sujeito confessa o crime de farsa, sim, crime previsto em lei, mas não vai responder pela brutal perda financeira que seu discreto chilique causou à cidade, todos paulistas e brasileiros? Só vai responder por um crime menor? Falso o que? Desculpem, mas qual é a piada que não entendi. Chega!
 
Quando nós, brasileiros, vamos tomar consciência e parar de pagar pelas besteiras, pequenos crimes, estupidezes e loucuras do próximo? Já pensou no tamanho desta nossa piedade sem fim?

Hoje acaba de sair a notícia de mais uma operação da PF contra golpes que nos lesaram em R$ 26 bi. Faz uns dias outra notícia sobre o sumiço de sei quantos R$ bi. E assim seguimos. Mais dias passados e não me lembro mais quantos bi. "Só se fala em bi? Não é possível!" Se fosse mil, já seria um absurdo, mas nós somos os campeões, portanto bi, tri, tetra, penta... exa... Quanto maior o roubo, melhor? Sadomasoquismo patriótico?

No Congresso Nacional não anda a votação um projeto para punir devedor contumaz, aqueles que sabem que se derem calote um dia serão beneficiados por uma renegociação ou anistia. Quem paga esta conta? Quem paga mesmo? A bunda, desculpem, o bolso da bunda de todos os que cumprem as regras corretas do jogo.

Chega!

Faz muito que não aguento mais ver o povo pagar o poste que o bêbado derrubou, a parada de ônibus depredada por farra, janelas quebradas por diversão, pichações, entulho jogado no meio da rua provocando enchente, trambiques, etc....  

O caminhão bomba no Rodo Anel foi um caso isolado que eventualmente acontece? NÃO!
Motociclista estendido no chão já chegou a 70 por dia, e a cada vez que eles se acidentam vira um caos no local, no entorno e até muito distante. Tem custo para todos, menos para quem foi responsável? É isso?


Para entender o tamanho do problema de uma simples e corriqueira ocorrênciade trânsito: um dia a CET fechou o acesso da marginal Pinheiros para a av. Euzébio Matoso. Fui saber o que tinha acontecido e me disseram que o Viaduto Guadalajara tinha alagado. "Como assim? O Viaduto Guadalajara está a 14 km daqui". Sim, efeito cascata, em menos de 20 minutos parou tudo, Radial Leste, Ligação, Consolação, Rebouças. Euzébio. 
Então, será que um motociclista no asfalto não tem reflexos maiores? Ou dois idiotas discutindo por danos menores, ou o que quer que seja. Quanto custa a brincadeira sem graça?

Você já ouviu que algum dos responsáveis por estas ocorrências tenha sido responsabilizado e obrigado a pagar o custo para a cidade, ou seja, para todos cidadãos? Eu não. Se queremos parar com os discretos golpes nossos de cada dia, temos que parar de pagar do nosso bolso pelo erro consciente dos outros. 

Só lembrando: Brasil é vergonhosamente detentor do maior caso de corrupção da história recente: o Petrolão. Só sumiram Euro$ 64 bi. O que se seguiu, foram todos absolvidos por erro processual. O dinheiro? Ninguém sabe, ninguém viu. E assim segue a pacata vida brasileira.

    quarta-feira, 26 de novembro de 2025

    A dificuldade de se enterrar fiação eletrica

    SP Reclama 
    Fórum do Leitor 
    O Estado de São Paulo 
    Rádio Eldorado FM 

    O Estadão e a Rádio Eldorado fizeram no passado campanhas de grande importância para São Paulo. 
    O subsolo da cidade é tão crucial para a vida da cidade quanto recuperar as águas dos rios. Por que o Estadão não entra a fundo nesta questão?

    Enterrar fiação elétrica se faz urgente nas cidades brasileiras, em São Paulo especialmente, mas como fazê-lo se o que está debaixo da terra é desconhecido ou incerto?
    Há uma série de razões e interesses que mantém as fiações, todas, aéreas. Não creio que ainda tenhamos a 'indústria do poste' com força para fazer diferença numa tomada de posição, como tivemos no passado. 

    A matéria publicada no Estadão expõe questões óbvias que dificultam o enterramento da fiação. É um absurdo que estas questões, estes obstáculos, não sejam motivo de discussão séria faz décadas. 
    Como cidadão que vive as ruas venho denunciando faz muito a estupidez do desconhecimento do que está sob nossos pés, em vão. Ao que tudo indica, o que não se vê, o que não é um escândalo escancarado e inegável, não interessa, até mesmo a quem tem por alma a curiosidade, o dom da investigação.

    Meu irmão, Murillo Marx, foi o primeiro diretor do DPH MSP, isto nos idos de 70. Quando pediu o enterramento de fiação elétrica, não me lembro onde, foi literalmente ameaçado de morte. 

    Quando eu fazia o Bike Repórter Eldorado FM, ano 2000, comecei a contar postes nas esquinas, todos postes, de sinalização, energia e outros, um exercício que ainda hoje recomendo a todos. Um final de dia na esquina da Renato Paes de Barros com Itacema, recebi uma ameaça bem desagradável para calar a boca. No dia seguinte, na rádio, fiz a comunicação e recebi uma orientação que indicava que a ameaça era para valer. 

    Em 2006, trabalhando em projeto cicloviario para a cidade, me deram o custo de aproximadamente R$ 8.000,00 por poste retirado da rua. Por um outro lado, acabei descobrindo que os mapas subterrâneos de São Paulo na realidade pouco servem. A confirmação veio, como segue vindo, nos inúmeros problemas em obras de manutenção, interferências e danos ao desconhecido, que vemos com frequência pela cidade. Quem é motorista sabe sobre o que falo.


    Afirmo sem medo que mesmo as concessionárias carecem de mapas com a precisão necessária. Não sabe que os mapas são precários quem não quer ou não se interessa. Não se interessar é  burrice. Basta acompanhar visitas técnicas nas vias para ver os funcionários procurando o que não encontraram, até mesmo numa rua onde foi reconstruída não faz muito e teve toda sua fiação enterrada, como a minha.

    terça-feira, 25 de novembro de 2025

    'A COP como ela é', edital Estadão. Ou como devemos transformar

    Fórum do Leitor
    O Estado de São Paulo


    sobre editorial
    A COP como ela é

    Brilhante editorial. Como dizia minha mãe, "não me interessa o que você fala, me interessa o que você faz (quais foram e são os resultados)". Ou paramos com o olhar e pensar vertical como base de ação, ou estamos muito mal parados.

    Se faz necessário, se não urgente, ouvir e entender pessoas que falam ou pensam diferente dos que eternamente servem de referência. Urge sair da mesmice, da busca de respostas populistas, de investigações rápidas. Urge derrubar o castelo arranha céu que está aí, e definitivamente não estou falando sobre ideologia, mas sobre a verdade que a Ciência nos apresenta: E o que mais? O que pode estar errado? Será que estou certo?

    A bem da verdade, passamos e muito da hora de olhar, acreditar e fazer valer o que nosso conhecimento e ciência nos mostram com líquido e certo. Olhar as experiências passadas e não repeti-las.

    Enfim, temos que superar a mediocridade endêmica.


    Não enviado para o Estadão. Foi em audio para a Rádio Eldorado

    Poucas vezes na minha vida um editorial me deu tanta satisfação e causou tanta dor. Aqui n este país não adianta você ter estudado trinta anos, se informado com as melhores pessoas, ter visto experiências, ter passado por experiências, ter se treinado em todas as áreas (relativas a um assunto), que o que você fala não bate com a verdade absoluta e perene que está na cabeça das pessoas, inclusive e não raro de jornalistas, esta verdade não funciona e não interessa. Me dói (o editorial) porque venho da questão da bicicleta, e o discurso que se fez até hoje foi de uma mediocridade do tamanho de um trem, e nós aqui neste país perdemos a oportunidade de fazer com que as cidades recebecam os..., todos os aspectos positivos que a bicicleta poderia ter tido, poderia ter dado para uma cidade como São Paulo. Se vocês (falando para o pessoal da rádio) acham que o resultado que a gente tem é bom, eu me calo com um sorriso muito ironico.

    A vocês que me acompanham, repito: Não é sobre a bicicleta, pela bicicleta, para a bicicleta, mas sobre a vida na cidade. Como este editorial, "A COP como ela é", diz: discurso populista pouco ou nada serve. Ou, melhor, como está nas entrelinhas, serve para outros fins. 
    O que mata o planeta e nosso futuro é populismo e ideologias, aliás, e como sempre religiões, que hoje são, ou seguem sendo, uma espécie de santa inquisição das ciências.  Como já disse, o futuro está no " e o que mais?"

    domingo, 23 de novembro de 2025

    Religião, Fé e entendimento

    Os Bolsonaro estão sofrendo perseguição religiosa? Foi a fala do filho e notícia publicada. Bom, falou mesmo, com vídeo e tudo mais. Para mim é a gota d'água. Este pessoal que se diz tão religioso, tão seguidor, e de fato os são, há muito mostram ao que vem, o que pretendem. E aí está o perigo, aí está a grande mentira.

    Religião, o que é? No que se transformou?

    E Fé, o que é e no que se transformou?

    Não tenho estofo para entrar a fundo nesta história, nem ouso. Sou um cidadão e vou tratar de me ater a minha insignificância.

    A maioria de nós, brasileiros, é cristã, são os dados oficiais, IBGE. Parto daí, e do que se sabe sobre um sujeito chamado Jesus Cristo. 

    Uma das pinturas que mais gosto é Cristo expulsando os vendilhões do templo. A pintura é maravilhosa, a simbologia da passagem descrita na Bíblia é mais ainda. Principalmente pensando num país onde a estupidez e a corrupção abundam. 

    Cristo, pelo que se sabe, curava doentes. Milagres? Existia esta palavra naquela época? Ele fazia ideia no que suas curas iriam dar? Concordaria no que fazem em seu nome? De minha parte, duvido.

    Cristo, pelo que se sabe, olhava com atenção o sofrimento de estranhos, mas sem segundas intenções. Ele tinha o espírito da ajuda, da colaboração, do bem coletivo, de todos, inclusive daqueles em quem dava broncas.

    Dizem que algumas passagens da vida de Cristo foram 'esquecidas', como sua relação com Maria Madalena e outras mulheres. Não estou falando de sexualidade, mas de respeito.
    Creio que ninguém duvide que a base do legado deixado por Cristo foi 'respeito', mulheres incluídas.

    Só séculos mais tarde foi surgir a igreja, portanto é de supor que não se pode dizer que Cristo concordasse ou não com a ideia de igreja, padres, pastores, religião e tudo mais que está envovido nesta história.  

    Nunca li que Cristo cobrasse por milagres, nem por indulgências, ou trocasse favores. Nunca li que Cristo tenha tentado entrar na política.

    Ele não deve estar nem aí se eu sei, se eu lembro, ou mesmo se sei recitar suas passagens. Despojado como era, não sei se ficaria feliz que eu levasse uma bíblia, melhor, uma versão qualquer de sua história, para lá e para cá, para tudo quanto é lugar, para pregar a verdade, como dizem os que não desgrudam de suas biblias ensebadas. Desculpem minha ignorância, mas pelo que sei Dele através de leituras, acredito que Ele não tinha um ego inchado, portanto não deveria ficar muito feliz com bajulação.

    Aliás, despojado que era, como Cristo deve estar olhando as vestes das senhoras e senhores tão religiosos? Como será que ele se comportaria se ouvisse um de seus seguidores com um radinho tocando 24 X 7 sem parar músicas religiosas intercaladas com ladainhas urradas sobre o que Ele fez e as órdens de Deus? Órdens de Deus? Uau! "Pai, perdoá-los porque não sabem o fazem", é isto? Eu bato uma aposta que Ele está com a mão na testa pensando "ai meu saco!" Blasfemia minha? Será? Cristo chato, mal humorado? Não creio, definitivamente não. Não é do perfil de um ser inteligente.

    Imagine só Cristo ouvindo a palavra "pregar", o que os ditos 'seguidores', para não dizer 'pregadores', urram por aí. Nunca li uma linha, uma letra sequer, onde Cristo incita o povo a ser chato.

    Um sujeito que cativou a todos, que deixou uma bela e proveitosa história, mui provavelmente não era um chato de galochas (isto não era mesmo porque as galochas sequer existiam). Cristo devia ser bom de conversa, bom de ouvido, histórias cativantes, não estridente, calmo, sensato, objetivo, compreensivo, daquelas pessoas que todos querem por perto e que se junte nas rodas de conversa. 
    E, só lembrando, Jesus Cristo era um judeo do oriente médio, ou, com certeza nada parecido com o homem de feições delicadas, cabelos bem lavados e... olhos azuis, galã de cinema ou tele novela. 

    O legado que nos deixou é muito mais um código de conduta sobre respeito ao próximo do que um livro para demonizar quem não segue uma religião. Religião? Será que Ele fazia ideia do que era religião? Duvido. Mais ainda, no que transformaram suas palavras, suas ações, seu comportamento social. Busines! Será que Ele aceitaria o que está ai?

    Será que Ele teria simpatia por aqueles que carregam nas costas 700 mil mortes?
    Será que Ele acharia legal usarem seu nome para tomar o poder?

    Eu não tenho religião. Religião é poder e business, sempre foi, a história está aí e é impossível negar. 
    O Cristo que eles pregam, pior, que eles se arrogam proprietários, não calha com um homem de bem, alguém querido, mas com um sujeito mal humorado, autoritário e acima de tudo, partidário. Cristo partidário? Upa!
     
    Fé? Qual, a fé estilizada que se vê em bonés? 
    "Deus é  fiel" é um marketing fantástico. Gostaria de ver a cara de Jesus Cristo quando lançaram no mercado o fé estilizado. Aliás, gostaria de ouvir o que Ele pensa sobre esta dita "fé" de nossos tempos.

    Fato é que "Cristo virou a mais valiosa commodity", como disse o Pondé. Tenho boas razões para acreditar que Cristo está um tanto desconsertado com o que seu legado se transformou. 

    Persiguição religiosa? Bom, virou meme. Deprimente. Só rindo!

    Mulheres periféricas e a COP30

    Fórum do Leitor
    O Estado de São Paulo 


    Que há um grave problema a ser tratado, ninguém tem dúvidas. Muito além do ambiental está a situação das mulheres de baixa renda no Brasil. Uma coisa está ligada a outra, é claro. A questão ambiental é horizontal, portanto deve se olhar para as cidades, onde a maioria dos brasileiros vivem, onde a maioria dos problemas ambientais estão, não os grandes problemas ambientais, os mais visíveis, mas a maioria deles, principalmente nos bairros mais pobres. Amir Klink denunciou faz décadas a questão do lixo nos mares: "O problema (maior) não está no que se vê (ilhas de plástico flutuando no meio do oceano), mas no que não se vê (micro partículas de plástico já nos músculos de peixes). O desmatamento irracional que se vê talvez seja tão dramático quanto o caos invisível das periferias das cidades, onde a maioria da população que faz acontecer a vida é de mulheres, e aqui negras. Não vê ou sabe o que é periferia quem não quer. Não é um discurso "de esquerda", mas racional. Mesmo num sistema de capital agressivo, deixar sujeira debaixo do tapete é de uma burrice sem tamanho, improdutivo, perda de capital. Um dia a conta chega. Só os medíocres não vêem isto.

    quinta-feira, 20 de novembro de 2025

    Dois textos que definem Brasil e brasileiros com precisão

    O Brasil segue o mesmo ou piorou muito de uns anos para cá? Dois textos publicados pelo Estadão, um editorial e um da coluna do Karnal, acertam em cheio descrevendo nossas chagas, as que não melhoraram, só pioraram.

    Humor desapareceu, pelo menos no sentido libertário, o que só acontece quando a inteligência abunda. Hoje, nem abunda, nem 'a bunda'; não se pode tropeçar nas palavras ou escrita que lá vem a Santa Inquisição. Ontem mesmo uma operação policial invadiu uma escola e a diretora teve uma arma engatilhada na cabeça porque uma aluna desenhou uma orixá. Inteligência?

    Inteligência? No final das contas é sobre o que falam estes dois textos publicados no Estadão, e é o que carece e muito este país. Não fosse assim, o que seríamos?

    Na época do Maluf, saia com a Biba, uma beagle linda e calma. O Itaim Bibi tinha coco de cachorro por tudo quanto era canto. Quem já pisou num sabe como é. Sem querer, mais por rogar praga, iniciei uma campanha que funcionou muito melhor do que a encomenda.

    "Não pise na merda, pise no merda". A quantidade de merdas na calçada diminuiu para valer.

    Nem sei se posso publicar isto porque estes novos tempos são muito mais mal humorados e inquisidores que aqueles da ditadura. Não sei se deveria publicar, mesmo aquele fato passado sendo bobinho, infantil, risível, mas não inconsequente. As merdas diminuíram. 
    De onde virá agora a Santa Inquisição? Da merda ou dos merdas?

    E desta forma de pergunta, pergunto exatamente como nos questionávamos nos anos duros: Quem merda pensamos que somos? Esta pergunta que nos fazíamos, mais que pertinente naquele momento, procurava nos fazer olhar no espelho, este mesmo que bem mais tarde, já deixada a ditadura longe, foi quebrado a pedradas. Hoje muitos, mas muitos mesmo, frente a moldura vazia, espelho estilhaçado ao chão, se perguntam "Espelho, espelho meu, há alguém mais inteligente do que eu?", com o obrigatório selfie. Sorria!

    Recomendo ler os dois textos na íntegra um seguido do outro, sem ordem necessária. São tão completares que mesmo sem muito esforço se poderia mixá-los continuando a ser tão claros e inteligíveis quanto em separado. São a descrição precisa do que somos. 

    Do texto da coluna do Karnal:
    Nós detestamos críticas no Brasil. Ninguém será avaliado ou punido. Avaliamos pouco o processo. Não criticamos os trabalhadores porque soa como autoritarismo colonial. Não criticamos os altos poderes acima de todos porque... possuem poder








    segunda-feira, 17 de novembro de 2025

    Cidades sem carros? Será?

    Por mais que se fale, por mais que queiram, não resta mais qualquer dúvida, o automóvel não vai desaparecer. O que talvez aconteça é o número de automóveis circulando dentro das cidades ou em áreas específicas venha diminuir, como já se provou possível, mas em quanto tempo isto acontecerá será resultante de ações dos governos e principalmente da população. Mudar culturas é complicado. Mudar vícios é mais complicado ainda. Automóvel é mais que uma complexa e profundamente impregnada cultura social e econômica muito bem estabelecida e sucedida. Automóvel é um dos mais consistentes vícios sociais. Ou já terá se tornado um dogma?

    A história do sucesso do automóvel não ocorreu por acaso ou por vontade deste ou daquele agente, como querem uns, mas porque a ideia foi boa, funcionou muito bem e caiu para valer no gosto popular. Mais, depois do início de sua fabricação em massa, no início do século XX, aos poucos foi se mostrando um fator macro econômico de extrema importância e por isto virou programa de estado fomentado por todos governos.
    Reverter o que está aí não é nada fácil. 

    A China vem tentando dominar o mercado de automóveis elétricos. Está investindo fábulas em novas tecnologias. Um artigo publicado faz tempo no Economia ou Mobilidades do Estadão conta que uma destas fábricas, a mais moderna existente no planeta, estava ou segue produzindo com uma perda em torno de US$ 15.000,00 por unidade, se não falha a memória. Quem faz uma aposta tão pesada num produto não o faz porque acha bacana, mas porque tem dados consistentes sobre as possibilidades do mercado. Não resta dúvida que a China tem um planejamento estratégico bem montado, certo ou errado, é jogo pesado. Diminuição de automóveis circulando pode estar funcionando na Europa e em algumas outras poucas cidades pelo mundo, mas está muito longe de ser uma realidade que venha afetar um macro projeto econômico de uma economia que tudo indica vai ditar o futuro do planeta.
    No último Matéria de Capa que passa na TV Cultura, o tema era energia limpa e novas tecnologias, entrando na questão dos paineis solares, que agora ja geram energia mais barata que as usinas de carvão, até agora base energética da China. Os paineis geram energia, que tem que ser armazenada em baterias, e uma das formas de armazenar enegia é usando as baterias dos automóveis para estabilizar o sistema todo. Ups! 

    Voltando ao planeta terra tupiniquim. Vou pegar a São Paulo e seu caos completo no trânsito, quantos anos mais serão necessários para que a cidade tenha uma grade de metrô que de fato seja um fator de freio para o uso do automóvel? Escrevendo isto me lembrei que nunca vi dados estatísticos cruzando número de usuários de uma linha de metrô com a diminuição do uso do automóvel. Sim, a lógica diz que uma coisa está diretamente ligada a outra. Ouvimos muita falação, mas números de verdade, não que me lembre. Como será esta relação lá fora, em cidades que têm uma vasta rede de metrô? Lembrando que cidades civilizadas têm metrô para tudo quanto é canto, têm calçadas boas, cruzamentos seguros, ambiente urbano para ficar longe do automóvel, sombra, locais convidativos para sentar e relaxar, e uma taxa baixíssima de roubos e assaltos. Latrocínio banal como temos por aqui? Nem pensar. Tudo isto faz uma grande diferença na hora de pensar em abandonar o automóvel. 

    "Bandido bom é bandido morto" é um lema que está um tanto impregnado nas cabeças brasileiras. Fui contra o lema "um carro a menos" tão divulgado pelo cicloativismo porque para mim remete ao carro como o bandido e, para o bem de todos e felicidade da nação, carro morto é o desejável. Como carro não tem vida, leia-se motorista morto. 
      
    Temos sim ou sim que diminuir o uso irracional do automóvel porque da forma como está não funciona mais para todos, incluindo e talvez mais ainda para os próprios usuários do automóvel. Mas o problema só será resolvido quando se colocar na equação e trabalhar em conjunto todos fatores paralelos, tangenciais, e externos ao automóvel. Por uma simples razão: somos a sociedade do automóvel; simples assim.  

    sábado, 15 de novembro de 2025

    Mudar o discurso


    Eu tenho um histórico longo com a questão ambiental, desde o começo dos anos 70. Ontem vi um filme 
    da EcoFalante na TV Cultura sobre o caos do lixo no Brasil e quais as possíveis saídas para este grave problema. No meio do programa me caiu a ficha que se queremos mesmo resultados urge melhorar o discurso. Estamos na mesma ladainha há décadas, com resultados pífios, em tudo. Lixo é um dos temas que mais me interessa e preocupa. 

    Já tomei muita bronca de Teresa porque entrei num processo de neurose completa com a sujeira nas ruas. Hoje trato de me resguardar, de colocar limites, por uma questão de auto-preservação. Para mim "tomar banho de civilização", ou seja, ficar uns dias na Europa, está muito ligado ao prazer de me sentir relaxado ao caminhar por ruas bem cuidadas e principalmente limpas. Dito isto, achar uma chatice o discurso - corretíssimo, sem dúvida - do filme do EcoFalante me fez pensar e chegar a conclusão que não aguento mais ladainha, que na realidade não é. Quero resultados concretos. 
    Não sei se este filme que coloquei aqui é o mesmo transmitido pela Cultura, mas a fala, as sequências, o contexto é muito parecido.

    Tenho acompanhado por alto as notícias sobre a COP30 e para minha surpreza ouvi de um dos bambambans sobre meio ambiente que uma das ações urgentes é justamente mudar o discurso. 

    A afirmação de Joseph Goebels "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade", calha aqui, mas com outro sentido: Repita mil vezes a mesma coisa que o saco do ouvinte um dia vai estourar. Ou ainda, Repita a não poder mais que o que você diz entrará por um ouvido e sairá correndo pelo outro. Também pode ser: Quer ter o resultado inverso do que você deseja? Então repita sua verdade até o outro ficar maluco. Todas as afirmações estão comprovadas como fatos reais pela ciência. Enfim, podesse criar um monte de versões, todas sobre a burrice de repetir monte de vezes a mesma coisa, não importando se a afirmação base é correta, verdadeira, justa. Passou de um certo ponto a coisa se transforma em "engula".

    Eu não aguento mais ouvir a mesma baboseira sobre bicicletas, meu ponto de partida de trabalho ambiental e, porque não, de vida. Eu não aguento ouvir as mesmas baboseiras sendo repetidas. A questão é que a maioria do que virou uma chatice ou entra por um ouvido e sai pelo outro é coisa muito séria que deveria nos levar a tomar posições, agir e chegar a resultados. Eu próprio acredito que as pessoas estão cansadas de me ouvir repetir que não sobre bicicletas e ciclistas, mas sobre cidades, cidadãos, com possível ajuda da bicicleta.

    O discurso de tudo tem sido vertical, quando deveria ser circular e giratório, até para ser interessante. Tem que cativar o grande público ou é difícil conseguir resultados perenes.
     
    Nossa! Incrível! Só agora, depois dos corpos estendidos no chão carioca, o país se deu conta que vivemos numa sociedade insuportavelmente violenta. É novidade? Não. A questão é que todos nós gastamos saliva improdutiva. Goebels na cabeça! 

    Sou paulistano, do tempo da terra da garoa. Óbvio que o clima mudou. Não sou cientísta, sou um mero cidadão, hoje ciclista, que sempre olhou para o céu para saber se vai ou não chover. Até que tinha um índice de acerto muito bom, mas de um tempo para cá perdi a minha sabedoria de previsão do tempo. Aliás, ninguém está prevendo o tempo, nem nas agências climáticas se pode confiar. Segundo elas, ontem ia cair os céus, ventos fortíssimos, tempestades, alertas no celular, etc e tal. Nicas, não aconteceu nada. A prova que tem algo muito errado é que a previsão do tempo que fazem é baseada em conjunto de aparatos cheios de sensores e medidores, que mandam informações para computadores de grande capacidade de cálculos, que tem uma capacidade de acerto muio maior que de tempos passados quando tudo era feito por poucos e no lapis e papel. Com tudo que existe hoje estão errando uma atrás da outra. Nunca a expressão "O clima está louco" foi tão certa. Mudança climática ou não, algo está errado.

    Como outro especialista na causa ambiental disse em entrevista: "Arvores, pássaros, abelhas, fauna, flora não estão sendo debatidos porque são bonitinhos, mas porque são vitais para nós humanos".

    "O problema ambiental é uma doença humana". Vivemos uma pandemia.

    Temos que desconstruir o desvio causado pela ladainha ambiental que ouvimos durante tantos anos, correta, mas que se transformou numa tramenda chatice.  
     

      

    quarta-feira, 12 de novembro de 2025

    Jornalismo militante, o caso BBC e o que se transformou o jornalismo

    Ouvi pela Rádio Eldorado este editorial do Estadão e dei pulos de alegria aos urros de "Bravo! Bravo! Bravo! Bravo!...". Como o Estadão não permite a leitura de não assinantes fiz uma molecagem e printei o texto, que segue no final.

    Não sou jornalista, mas gostaria muito de sê-lo. Não tenho os quesitos necessários: ter a neutralidade investigativa obrigatória e um texto rápido, preciso e conciso para expor o que foi investigado. Sou emocional, quando o jornalismo obriga a uma frieza racional. 

    Pela quantidade de textos meus publicados na grande imprensa, que começou com uma coluna no Estadão, "Guidão e Pedal", 1987, eu poderia (passado) ter um documento que me atestasse "jornalista". Não quis, mesmo desagradando alguns jornalistas conhecidos e profissionais do meio de comunicação que me chamaram de "bobo", dentre outras. Não considerei, como ainda não considero honesto. Sou, quando tanto, um..., boa questão, um maluco que escreve. Colunista, articulista, comentarista, blogueiro (?!?), e outros tantos adjetivos, já me chamaram de tudo. Fato inequívoco, para minha tristeza, é que jornalista não sou, mas tenho uma inveja deles... Hoje me esforço para investigar, melhor, pesquisar o que escrevo, mas isto está longe de jornalismo que tanto invejo, repito. 

    Neste meu desabafo está muito do vejo no jornalismo, e não é de hoje.

    Dei pulos de alegria com este editorial do Estadão porque coloca o dedo na própria ferida. 
    Imediatamente lembrei de um passado, durante a ditadura, anos de chumbo ou periodo militar, como queiram, quando em casa líamos no mínimo o O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, o Jornal do Brasil obrigatoriamente aos domingos, vez ou outra com certa frequência a Folha de São Paulo. Meu irmão, Murillo, ouvia notícias nas rádios e ainda víamos alguns noticiários de TV. Muita coisa? Não. Procura por detalhes que tentasse dar uma noção mais acurada do que realmente estava acontecendo. Diversas versões do mesmo fato, isto que interessava, e é isto que deveríamos estar interessados agora e sempre.
    Jornal O Globo líamos raramente. Bobagem nossa. O Globo tinha textos longos, muito mais longos que os outros jornais, com muito mais detalhes sobre os acontecidos. Ali era preciso garimpar e filtrar informações preciosas. Globo era tendencioso? Na acepção da palavra, provavelmente não mais que os outros. O Globo era tido como jornal chapa branca, o que talvez não fosse o tanto quando julgávamos. Estávamos atolados neste estupidez de a favor ou contra, aliás, lembrando e rindo, "Brasil, ame-o ou deixe-o", nada diferente o que temos agora, muito menos histérico e ridículo com certeza. O julgamento estava, como segue, ainda mais agora, muito comprometido, julgamento muito fundamentado no que o jornalismo trazia.  

    Neste editorial do Estadão estão números que apontam, segundo pesquisa, para mais de 80% dos jornalistas como de esquerda e boa parte tendenciosos em seus textos. Minha experiência de vida, como alguém que esteve no meio deles e foi bem entrevistado, os resultados da pesquisa não surpreendem.

    Temas como sistema cicloviário, transformação da cidade, desenvolvimento urbano, mobilidades, explosão imobiliária, meio ambiente, saneamento, educação e violência, para citar os assuntos que me interessam e sempre procurei me informar, foram e são tratados de forma raza ou, pior, tendenciosa. Principalmente no que diz respeito à bicicleta, ao ciclista, e sua segurança, que foi meu objeto de trabalho por mais de 30 anos, o jornalismo realizado é simplório, para dizer o mínimo. Para falar ou escrever sobre estes assuntos, os que se apresentaram (e seguem se apresentando) como jornalistas colheram (e seguem colhendo) de fontes viciadas que davam sustento aos próprios medos e angustias. As inúmeras possibilidades de ganho que a bicicleta poderia ter oferecido a um melhor desenvolvimento urbano e social foram distorcidas e o resultados está ai. Jornalistas divulgaram o mesmo do mesmo, e afirmo que não foi jornalismo.
    A especulação imobiliária traz uma série de questões e dúvidas que nunca foram abordadas, não entendo por que. Sacaneando: será porque uma posição mais crítica colocaria em risco precisos anúncios? Creio ser possível fazer a mesma pergunta sacana, mas talvez não impertinente a vários outros temas sensíveis.

    Fato é que existe um forte corporativismo no jornalismo, meio tipo "ou você está junto, fala em coro, ou está fora, não fala mais". Não sei como, mas tem que acabar imediatamente.

    Não tenho a mais remota dúvida que uma das saídas para a estúpida crise geral que vivemos está num jornalismo investigativo, neutro e com espaço de redação suficiente para textos que nos façam pensar e questionar com fundamentos.
     
    Para mim, um dos piores momentos da imprensa foi o "padrão Folha (de São Paulo)" que impunha regras a todos seus jornalistas e quem mais escrevesse para o jornal. Fui convidado para ter uma coluna de página inteira, escrevi, para meu horror o texto publicado foi todo deformado por um ignorante sobre o tema, bicicletas; e assim tive o imenso prazer de entrar na redação e mandar o editor chefe enfiar a coluna no cú (na época cú com acento e sem politicamente correto), e algo mais. Quando cheguei em casa recebi uma ligação de um dos principais jornalistas perguntando se eu tinha feito o que fiz, respondi que sim, e tomei uma das maiores descomposturas de minha vida, que a recebi às gargalhadas. Hoje este jornalista ri comigo. 
    Enfim, "padrão"? Textos sob medida, curtos e de fácil leitura? E o jornalismo, onde fica?
    A saber, tenho orgulho de ter desbocado com vários outros meios jornalísticos. Há limites para tudo. 

    Bravo! Bravo! Bravo, Estadão. Parabéns pelo editorial. Salve o jornalismo! Eu disse: o jornalismo!









    segunda-feira, 10 de novembro de 2025

    Pichações, e violência urbana

    Limpando meus E-mails dei com esta mensagem de Pedro Cardoso sobre o problema das pichações mas cidades. As ponderações são claras e bem posicionadas. Pichação é um problema que extrapola e muito a questão 'sujeira' ou 'poluição ambiental'. Até consigo entender quando dizem que é uma forma de expressão de jovens, um grito social, uma expressão artística, e outros entendimentos mais. Seja o que for, acaba se transformando num sério fator de degração urbana, o que pelo sim e pelo não acaba facilitando contravenções maiores que entram sem constrangimentos no departamento da criminalidade. Quanto mais degradada o meio ambiente, mais suscetível a crimes. Teoria da janela quebrada.  

    Como controlar? A curto prazo não sei. Não sei se usando as técnicas que foram usadas em NY teríamos os mesmos resultados por aqui. Tolerância zero, que tantas pessoas acham que é a saída, só funciona quando a maioria absoluta da população quer mudar, melhorar, e entra no jogo, o que não acredito que aconteça por aqui. Mesmo os cidadãos mais furiosos com "tudo que acontece" deixariam de jogar lixo nas ruas? Deixariam de cometer "pequenos deslises" sociais, como furar fila? Deixariam de levar vantagem? Duvido.

    A escola de Cubatão eleita a melhor escola do planeta tem muito a ensinar. Reverteu uma situação caótica dentro de uma comunidade socialmente desequilibrada, transformando a escola em um ponto de sucesso completamente fora da curva não só em Cubatão, ou no Brasil, mas no mundo. Mas, será que alguém por aqui tem algum interesse em ouvir o que foi realizado ali? Duvido. Não ouvem sequer ideias de outros que só querem conversar, por que ouviriam os caminhos de um trabalho de sucesso de uma periferia que não sabem onde é?

    Gosto muito de artes, vi a cidade se encher de grafites maravilhosos, e a bem da verdade um monte de porcaria também, mesmo neste campo "das artes" tenho questionamentos. Agora, por mais que me esforce simplesmente não consigo achar a menor graça em pichação. Não tenta sequer ser inteligente. Não passa de um grito desesperado de "estou aqui" que só pode ser lido e entendido pelo próprio grupelho. Não tenho a mais remota dúvida que muito que do que está aí é resultado de uma educação para lá de precária, e não só dos pichadores, que os são de todos níveis sociais. Toda a sociedade tem uma educação social e civilizatória para lá de qustionável. Vide o que são nossas cidades. Mais, vide no que estão se transformando. 

    ----------------------------   

    Prezado(a) senhor(a),

    Encaminho esses textos para demonstrar um posicionamento de um cidadão comum, que foge um pouco das posições da imprensa tradicional. 

    Se preferir, eu retiro seu contato da minha lista. 

    Combate às pichações

    Empresas

    07/09/2025

    Senhoras(es),

     

    A maior dificuldade para enfrentar um problema é decidir por onde começar. E um problema grave, que salta aos olhos, são as pichações em praticamente todas as cidades brasileiras. Onde quer que se vá, as marcas estão presentes: prédios públicos federais, estaduais e municipais; escolas e instituições de ensino; fóruns, procuradorias, delegacias; portas de aço de estabelecimentos comerciais. Nada escapa.

    Em alguns locais, chegam a ser colocadas placas pedindo “respeito” e solicitando que não haja pichações, sob o argumento de que o condomínio ou a instituição contribui com alguma ONG ou entidade filantrópica. Esse tipo de apelo, no entanto, revela a rendição tanto da sociedade quanto do Estado diante do problema. O resultado é visível: cidades inteiras, de ponta a ponta, tomadas por pichações.

    A solução definitiva talvez ainda não exista. Mas é indispensável dar o primeiro passo: reconhecer o problema como tal e implementar ações práticas de resistência.

    Um exemplo concreto: a expressiva verba gasta com segurança privada por órgãos públicos deveria incluir também a proteção das fachadas externas, sacadas e muros. Contratos poderiam prever esse tipo de cuidado e, além disso, equipes de ronda poderiam ser reforçadas para coibir pichações em tempo real.

    Fiz pedido ao governo do estado de São Paulo para participar desse combate e citei um prédio da Procuradoria do Estado na rua Maria Paula, Centro/SP, totalmente pichado, com cara de “coisa pública” e ao lado a sede da OAB/SP sem um rabisco.

    Também é possível adotar medidas diretas, como repintar imediatamente portas ou paredes pichadas, instalar câmeras e repassar, às polícias, as imagens de quem for flagrado cometendo o ato.

    Não cabe aqui apontar exatamente o que cada empresa ou instituição deve fazer, mas é inegável que todas podem — e devem — agir de alguma forma para mudar essa situação.

    Atenciosamente,

    Pedro Cardoso da Costa

    Interlagos-SP

    Pichar é crime

    Não existe cidade brasileira que não sofra com pichações. Esse problema se agravou a partir da década de 1980, quando a prática passou a ser vista como diversão e disputa de território entre grupos urbanos. Em São Paulo, maior cidade do país, a destruição ficou ainda mais evidente: não há muro limpo, mesmo antes e depois da chamada Lei Cidade Limpa.

    Além das pichações, os muros também foram tomados pelas propagandas irregulares. Transformaram-se em espaço de comércio e fizeram das cidades verdadeiros corpos tatuados — um espetáculo deprimente para os olhos de todos. Nada escapa, como prédios públicos, igrejas, hospitais, escolas, residências.

    Diante desse cenário, muitas autoridades preferiram relativizar o problema, atribuindo a culpa apenas à “má formação” dos vândalos e passando a chamar pichação de grafite. Chama-se de arte aquilo que, na prática, é sujeira. Grafite ou pichação, sem autorização do proprietário, resultam no mesmo: deterioração do patrimônio alheio. Há até locais onde se implora para não pichar, fixam uma placa pedindo para não picharem já que o dono contribui com alguma entidade social, um retrato claro da rendição da sociedade e do Estado.

    Em Campinas, interior de São Paulo, chegou a ser divulgado em rede de televisão, há alguns anos, que pichar é crime. Mas as autoridades falharam em esclarecer amplamente a figura penal prevista na lei federal 9.605/98, artigo 65, que tipifica o crime de pichação. Essa lei estabelece uma punição, mas muito branda e ineficaz diante da realidade.

    O domínio dos pichadores é tão grande que nenhuma escola pública em São Paulo tem muros limpos. Certa vez, perguntei à Secretaria Estadual de Educação como encontrar uma escola sem pichações para registrar em foto. A resposta foi que isso caberia à delegacia de ensino a que a escola pertencesse, que transferiu a responsabilidade para cada escola. No fim, ninguém quis admitir: simplesmente não existe escola limpa, sem pichação. É a rendição irrestrita do Estado brasileiro diante do problema.

    Os pichadores fazem o que querem, sem resistência e sem combate efetivo. No mínimo, o poder público poderia pintar estrategicamente alguns muros-alvo, instalar câmeras com transmissão em tempo real e posicionar policiais à paisana para prender em flagrante. O exemplo seria eficaz. Mas nada disso foi feito, e não há registros de prisões por pichação.

    Enquanto não vem uma proteção mais eficiente por parte das autoridades, o cidadão pode ajudar pintando o muro ou as portas da garagem.

    Há necessidade de reforçar que pichar é crime e os pichadores precisariam, ao menos, ter conhecimento disso.

    Pedro Cardoso da Costa

    Interlagos-SP                                                          

       (escrito em 2011)