segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Reclamações sobre a privatização do saneamento básico

SP Reclama
O Estado de São Paulo 


Em 1986 tivemos a volta à normalidade institucional. E com ela a volta das esquerdas mais pesadas ao poder, primeiro com Brizola e depois com o PT. Interessante é que só agora se fala com tanta ênfase em saneamento básico. É muito simbólico olhar para Guarulhos e seu saneamento básico em todas suas administrações ditas de esquerda que se sucederam até bem pouco. É simbólico olhar para a região sul da Capital e sua "tatolandia", com graves problemas de saneamento, não só para a região. A os dois exemplos afetam e muito toda população.

Pergunto: a gritaria em cima da privatização da Sabesp é sobre saneamento básico ou manutenção de poder?

Pegando o brilhante editorial de hoje no Estadão, o que está aí é esquerda? Como alguém que acredita e busca praticar princípios e ações relacionados à responsabilidade social, afirmo que não. O que temos é um populismo daninho ao país e principalmente à população mais necessitada. Saneamento básico que o diga.

domingo, 10 de agosto de 2025

A medicina e os conceitos e preconceitos sociais

"Não entendo porque ele (ou ela) é assim?"
As causas são inúmeras, por diversas razões ambientais, sociais e clínicas. Na maioria dos casos não interessa para a maioria ir fundo, saber por que ele ou ela é assim, mas optar como vai lidar da forma mais simples com o resultado final, com o que está a frente, ou, com quem se diz que a pessoa é. Mas quem de fato é a pessoa?

Eu fiz erros pela vida que me arrependo muito. E fizeram erros comigo. A vida é assim, mas poderia ser menos errática. 

Pego meu caso como exemplo. Quem me conhece sabe que eu tenho uma boa dose de imprevisibilidade (tem gente que vai rir sobre esta minha afirmação. "Dose de imprevisibilidade?"). Mas por que a imprevisibilidade?

No pré primário tive minha primeira suspensão. Quando terminei o ginásio (acho que hoje é o 8º ano)  já contava com 21 suspensões e três expulsões. Aí fui parar num colégio que aceitava alunos problemáticos e dele passei para um colégio de educação experimental. Nestes colégios e na faculdade não tive problema com a disciplina. Mas por que?

Meus problemas disciplinares foram consequência da minha hipo-hiper glicêmia, TDAH e mais outras cositas mas. Detalhe: nenhuma delas era ou conhecida ou bem definida no campo clínico em meu tempo de estudante. Nos colégios onde a disciplina era mais relaxada e menos fincada em besteiras, eu fui bem. Hoje não se tem mais dúvida que o comportamento tem muito a ver com meio ambiente.

Desconhecimento, hábitos sociais, falta de flexibilidade.
 
- Hiper-hipo glicêmico? Isto não existe! Aqui começa uma outra confusão.
Já ouvi esta afirmação de médicos, num farto plural. E também ouvi de várias enfermeiras de PA, pronto atendimento, emergência, que não só existe, como muitos médicos nunca viram um paciente em crise ou sequer ouviram falar de hipo-hiper glicemia. Para muitos o caso não existe, simples assim. 
O que é hipo-hiper glicêmia? Uma curva glicêmica em zig-zag que faz o sujeito viver aos trancos, além das mudanças muito rápidas de humor, em outras palavras, os estouros. Até hoje. Nicas a ver com bipolaridade.

Aliás, como detalhe, mudaram as definições e a nomenclatura não só da diabetes, como até de partes humanas, mudou, então não sei mais quem ou o que sou. Roubaram minhas tíbias, agora tenho perônios. E aí vai.

Hoje há uma discussão sobre como lidar com pessoas fora do comum, incluindo autistas. A bem da verdade, a sociedade saiu de um não fazer ideia do que se tratava, para uma discussão maluca sobre o que fazer com eles.
A medicina saiu das garras da santíssima igreja e dos bons costumes sociais para cair no labirinto do politicamente correto e juridicamente seguro. Não resta dúvida que avançamos muito, mas... ainda tem muita confusão.

Lá pelos anos 60, quando tive minha primeira crise glicêmica grave, me passearam pela epilepsia, esquizofrenia, e sei lá mais o que. E, o pior, muito pior, fui filho de desquitada e neto de importante educador que pregava respeito aos alunos. 
Felizmente minha infancia foi nos anos 50 e 60. Pense bem, se eu tivesse vivido na época da Santa Inquisição provavelmente teria terminado torturado para confessar o diabo e queimado vivo para pagar meus pecados. Não que depois da minha primeira crise não tivesse quem quisesse fazer um exorcismo básico em mim.

De lá para cá as mudanças foram imensas. Ficando nos diabéticos, ninguem da geração de meus avós e para trás sabia ao certo o que tinham, aliás, se eram diabéticos. Não havia conhecimento, nem tecnologia para tanto.
Quando se trata de doenças mentais ou neurológicas, falta muito para se chegar a uma cura, mas já não se trata mais destes casos com o grau de obscurantismo do passado. Via de regra já se sabe sobre o que se trata, e em vários casos há tratamento indicado, mas a maioria dos pacientes continua sofrendo tanto pela falta de tratamento quanto muito mais pela discriminação social.

Não me lembro se na minha época ainda falavam sobre lobotomia, mas lembro que aprendi o que era, portanto deveria ser praticada. Lobotomia? Sim, uma discreta técnica cirúrgica para casos graves de alteração de comportamento, onde se abria um buraco na cabeça, a seco, sem anestesia, e se retirava parte do cérebro para acalmar o bicho, digo, paciente. Tive sorte, desta escapei. Bom, se me tivessem lobotizado teriam encontrado muita merda. 

Era estranho? Faz umas coisas esquezitas? "Nossa! É um perigo para a sociedade! Manda para o hospício!". O que? está pensando que é brincadeira minha? Não é. Um primo meu passou por esta,  fora conhecidos, vários. Tá achando que pirei? Uai, hoje não se cancela? Só parece menos traumático, mas os dramáticos resultados estão aí para quem quiser ver. De qualquer forma é bem mais barato. Você sabe quanto custa internar alguém? Se não sabe, não procure, é um tremendo busines, vai que você só por perguntar acabe lá e de lá não sai mais.  

Medicina é uma ciência em aberto. Tem muita coisa que é conhecida, sabe-se como tratar com um bom grau de segurança, mas todas os novos conhecimentos e as novas tecnologias deixam em aberto novas possibilidades de cura. Espero que cheguem rápido.

Já os maus da sociedade, o que dizer?

Tanto a medicina, quanto a sociedade, tem, ou temem, limites estabelecidos pela lei. Óbvio que em vários sentidos a santa inquizição ainda está nos assombrando. Médicos não arriscam, a sociedade segue seu rumo na manada, uma hora desembestada atrás das bestas do apocalípse, outra desembestada atrás das palavras que parecem bondosas, os milagres que estão em todas partes. Os diferentes que saiam da frente. "O que é estranho da medo e deve ser evitado", dizem. A vida é assim.

Queimas de arquivos e incompetência

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

100 policiais para pegar 3 criminosos, um deles chefe de perigosa quadrilha? E todos os 3 saem mortos depois de milhares de tiros disparados? Importante chefe do PCC é capturado e morto em Praia Grande? Quando a polícia vai parar de apagar arquivos? Não interessa como foi a situação, chefe quadrilha morto é arquivo queimado, ponto final. Não interessa para nós, sociedade. É uma grande perda para estabelecer a nossa segurança tão desejada. E no Ceará, 100 X 3 e não tiram o cara vivo de lá?

Temos o gravíssimo problema de segurança que temos porque há um incrível despreparo geral. O número de erros grosseiros que são divulgados assusta, é inaceitável. Desde operações desastrosas, até a queima de arquivos preciosíssimos. Fora o follow the money lentinho lentinho, quando follow. Alguém aí pode explicar os por ques?

sábado, 9 de agosto de 2025

1335 km de congestionamento? Não vai parar por aí

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

São Paulo, sexta-feira, 19:27, 1.330 km de congestionamento na cidade. Quero chamar atenção para um pequeno detalhe: os semáforos novos, os que têm a borda com uma faixa amarela, já estão dando pau, um atrás do outro. Parabéns. Genial! Extremamente inteligente! De uma eficiência impressionante! É simplesmente inacreditável que a população de São Paulo aceite esta situação absurda, 1330 km parados, em silêncio. A culpa é toda da CET? A meu ver, não.  Os interessados que se mexam, que reclamem, e sobre tudo que participem, que tomem suas responsabilidades como cidadãos, o que pelo silêncio provam que não fazem. Vão ficar engarrafados até descobrirem que as taxações de Trump custam menos para o país, se descobrirem.
A saber: sou ciclista e não raro não consigo seguir em frente. Nem as motos, muito menos os carros. E o povo, mesmo profundamente irritado, aceita. Já fiz trânsito para a Rádio Eldorado, Bike Repórter,  e naqueles anos da virada para o 2000 o sistema semafórico já dava pau seguido. Em 2005 me autorizaram entrar na central da CET Bela Cintra, e o que vi lá estava completamente obsoleto em relação a necessidade e importância capital desta cidade. Não dá para remendar, dar um jeitinho. Tem que começar do zero. As tentativas de acertar o sistema não têm dado o resultado desejado, isto está mais que claro, então passamos e muito da hora de enfrentar o problema de frente, e a solução não virá só com um sistema semafórico atual, novo, inteligente, mas numa mudança urbana profunda. Temos que aceitar que a vasta experiência internacional também nos serve, que se tem que ouvir, falei "ouvir", as entidades internacionais especialistas que ajudaram a resolver outras grandes cidades. Nosso suicídio está no "eu sei o que estou fazendo" bem típico da arrogância ignorante brasileira. Pior, "eu sei o que estou fazendo, estou certo, e daqui ninguém me tira". Então divirta-se.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Os 50% para um pais invisível: Brasil




Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Este artigo do Mercado/e I investidor pode ser lido de outra forma: a realidade é que nos Estados Unidos, e para os americanos, Brasil não existe, é uma terra distante, perdida onde não sabem, com um povo exótico e capital Buenos Aires. Quem é viajado, fala inglês compreensível, gosta de conversar, inclusive com gente dos mercados, sabe que a verdade é esta, e ponto final.

O Brasil ainda ser invisível é responsabilidade total de todos governos e políticos que por aqui passaram, que dentre outras, tiveram e seguem tendo o interesse único e exclusivo na eleição, reeleição, poder, e manutenção do poder, em outras palavras, cuidar do próprio umbigo.

Europeu até sabe que existe América Latina, América do Sul, e até Brasil. No nosso caso muito mais pela bossa-nova, Pelé, Airton Senna e mais um punhado de personalidades.

Política externa brasileira para posicionar de forma perene o Brasil como nação? Nos Estados Unidos?

Estou errado? Pois leia este artigo. E se for viajar, saia das lojas, vá tomar um café e converse com os locais. Vão perguntar de onde veio, responda: Brasil, e estique a conversa. Vai lá, coragem.

PS.:
Brasil segue sendo uma colônia, a diferença é que hoje os exploradores que mais saqueiam não são mais os colonizadores originais, mas os coronéis e capitães do mato nativos.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

... cicloclovias segregadas atraem mais ciclistas. Mas...

 "... cicloclovias segregadas atraem mais ciclistas", está escrito numa matéria do Mobilidades do Estadão.


SP Reclama
O Estado de São Paulo

"Ciclovias segregadas" tem este nome porque são 'segregadas', óbvio. Ou seja, como está no dicionário, Segregar: "Colocar-se de lado; pôr-se à margem de; separar ou separar-se", razões mais decisivas pelas quais nossa sociedade está cada vez mais dividida e violenta.
"Ciclovias segregadas atraem mais ciclistas" pela sensação de segurança, até certo ponto e dependendo das condições pertinente, mas não necessariamente verdade raza e definitiva.
O que não é tão óbvio é que segregar, mesmo em nome ao estímulo, tem seu preço. Hoje caminhamos, ou pedalamos, por um "Segrege-se e que se dane o resto". Será inteligente?

"Sem ciclovia (via segregada) não há segurança", é a palavra espalhada, verdade popular que abraça a maioria que o faz sem questionamentos. Será? Segregar será o único caminho para a segurança? Muros, grades, seguranças na porta, porta giratórias e outras medidas mais nos trouxeram mais segurança? Pelos números da última pesquisa agora apresentados, a resposta é "muito pelo contrário".

'Que vida você quer?' passa obrigatóriamente pela pergunta 'Que cidade você quer?'. Começando pela sua saúde, todos estudos apontam que o bem estar começa pela vida coletiva. Locais sadios são aqueles onde a comunidade olha pela segurança do próximo, do vizinho, de todos.  Nestes lugares há segurança porque o outro não está a margem, ou segregado, esquecido, largado. Segurança, a verdadeira, não a imaginária, está na integração, não na segregação. Unidos venceremos, simples e básico assim.

Em todas as partes do planeta a bicicleta foi e está sendo usada como uma ferramenta de integração social, não de segregação. O interesse pela bicicleta não está só na melhoria da mobilidade urbana, mas na capacidade de integração social que bem implantada ela oferece. Só não se Integra quando situações muito específicas realmente não permitem. 
Aqui, segrega-se, ponto final. Com isto grande parte das inúmeras vantagens que a bicicleta traz para a sociedade como um todo perde-se.

Há situações onde ciclovias segregadas não só são desnecessárias, como contraprodutivas. Segregar, "colocar-se de lado; pôr-se à margem de; separar ou separar-se" A rua é espaço público que deve ser dividido sem segregações, ponto de partida para a cidade que todos, sem exceção, queremos. 
Para começar, quem segrega coloca na sua conta a irritação dos que usam o espaço público quando são atropelados pelos direitos especiais dados aos ciclistas? "Deixa reclamar", é esta a resposta?

É necessário segregar? Sim, mas havendo necessidade, não generalizando, acima de tudo, bem pensado, o que não parece ser nosso caso quando olhamos o que está aí. Quanto mais km melhor é muito diferente da busca pela qualidade, esta sim amiga íntima da segurança, e inimiga da filosofia segregadora.

No Brasil a segregação vem com uma resposta simplista, populista a bem dizer, para soluções de problemas muito complexos. No caso do trânsito, ciclistas têm a mesma necessidade de segregação que pedestres? Pedestres são segregados porque seus deslocamentos são muito diferentes da forma de deslocamento de todos veículos, sem exceção, incluindo bicicletas, que por lei é veículo. Começa pela velocidade do caminhar e termina pela capacidade de mudar de direção, que no caso do pedestre pode facilmente ser abrupta, pára, gira, anda para trás, abre os braços, etc..., o que é impossível para qualquer veículo sobre rodas, a bem da verdade até para monociclos. É uma questão relacionada às leis de física, que até onde se sabe são imutáveis, pelo menos no resto do planeta.

O dia que o Brasil parar de segregar, colocar de lado; pôr à margem de; separar ou e principalmente separar-se, vamos iniciar a construção de um futuro com futuro.

domingo, 27 de julho de 2025

Juiz embriagado mata ciclista. Só isso?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

Mais uma morte. Não deixa de ser trivial, mas deve ser julgada no rigor da lei. Sera? Mas aí há um pequeno detalhe; o atropelador é um juiz aposentado. Vamos ver como a lei cairá sobre seus ombros, como seus iguais, juízes, vão encarar a realidade. Tenho pleno direito a esta dúvida. Creio que serão duros porque o juiz em questão atropelou bêbado e no momento da ocorrência se encontrava com uma mulher nua no seu colo. Mesmo assim eu creio que seja provavel uma punição, nem que seja para jogar o arquivo para baixo do tapete. Boa parte dos brasileiros devem pensar "vamos esperar para ver no que dá". Para infelicidade do sistema judiciário, a ocorrência fatal expôs uma situação nada simpática à população, que todos já sabíamos, mas é duro de engolir, o salário do juiz, uma brincadeirinha em torno de R$ 2.000.000,00 ao ano, sim, todos estes zeros, ou dois milhões de Reais ao ano. Sera que julgado culpado vão contrariar a lei e tirar o discreto salário do juiz? Duvido. Com todos estes predicados, talvez passe batido que um sujeito de 71 anos que dirige bêbado com uma senhora nua no colo é, pode-se dizer, imaturo. Se a esta altura do campeonato não tem maturidade, é factível imaginar que tivesse menos ainda mais jovem, quando trabalhava, no caso como juiz. Óbvio que isto não virá à tona. Se algum maluco for atrás e descobrir que este comportamento não é nem foi novidade, é de se supor que sua atuação em nome da justiça também não tenha sido. Aí é de se imaginar que vai entrar uma grossa e pesada turma do deixa disto, e também é de se imaginar que esta bizarra história macabra cause calafrios até nos que não são da justiça, mas trabalham intimamente ligados à ela.
Em outras palavras, a execrável morte não acidental da cidadã, por acaso ciclista, abriu a caixa de pandora que todos nós brasileiros sabemos que está aí, inclusive a remuneração vergonhosa, que eu prefiro profundamente ofensiva. O que eu creio que vá acontecer? Muito pouco, ou nada, além de uma provável condenação pela morte da ciclista. O resto, ora o resto... "Para com isso, cara!"

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Jockey Clube, Yate Clube Santa Paula e outros abandonados

SP Reclama
Forum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Jockey Club de São Paulo, Iate Clube Santa Paula. Abandonados; e muito mais mais outros, para não entrar no absurdo de todo centro da cidade. A quem cabe a responsabilidade, Prefeitura, Câmara ou Poder Judiciário? A bem da verdade, no estado que estão as coisas, é o que menos interessa. Tem que se resolver, ponto final. Abandonados há décadas, são um imenso prejuízo para a estabilidade da cidade e de seus cidadãos, muito maior que a maioria da população acostumada ao abandono geral consegue entender. São a prova que não é esta ou aquela instituição pública que está inoperante, falida, decrépta, mas todo o sistema que deveria servir ao povo. Qualquer tentativa de explicações por parte deles, o poder público, só piora. Passamos deste ponto, o que realmente interessa é dar solução a estas muitas situações vergonhosas, ridículas, que nos assombram, não importa de que forma. A teoria da vidraça quebrada é de uma verdade incontextável. Em São Paulo temos muito além de vidraças quebradas, temos 'só' um discreto Jockey Clube pintadinho, aparentemente bonitinho, mas largado, abandonado, sem futuro definido, imprestável para seu fim social implícito e obrigatório. E um Iate Clube Santa Paula e seu imenso hotel as margens da Represa Billings há décadas também largado às traças, ratos, baratas e sabe-se lá mais o que. Dois exemplos gritantes, dentre tantos outros. Sensação de abandono é um dos estímulos para a violência, a ciência e os dados provam. Se houver interesse real para reverter a bagunça que vivemos, que se comece por resolver os símbolos mais gritantes da incompetência. Assim foi feito em várias partes do mundo, com resultados sempre positivos. Aqui conhecemos esta técnica como "tolerância zero", que muitos dizem ser contra os interesses sociais. Contra os interesses sociais? Como assim? Por favor expliquem.

A saber, em NY, um imóvel fechado por mais de 6 meses é passível de pesadas multas. A razão, óbvia: prejudica a vizinhança. Paris obriga que todo e qualquer fachada de edifício seja limpa, tratada, restaurada, pintada com perfeição no prazo máximo de cada 10 anos. Nós temos uma lei que diz que a cada 5 anos é necessário fazer manutenção da fachada. Como tudo neste país, tem lei que cola e lei que não cola. Que vergonha!

Na alameda Casa Branca, área mais que nobre da cidade, um edifício ficou largado, inacabado, por mais de 30 anos. Pelo que contam, foram vários que entraram em contato com o proprietário para arrumar, terminar, tentaram comprá-lo, sempre tendo como resposta "não preciso, deixa lá". Como assim?
Situações como esta se espalham pelo Brasil. São Luis do Maranhão, Salvador, inúmeras cidades históricas, se não praticamente todas. 
O que corre entre o povão é que nossa memória, nosso patrimônio histórico, que a imensa maioria sequer entende sua importância vital, é abandonado de propósito para que chegue um dia a deteriorização completa e a irreversibilidade de sua recuperação, sendo necessária sua demolição, o que abre espaço para um novo emprendimento imobiliário bem rentável. Caso emblemático é a casa sede da Fazenda Bibi, que depois de muitas décadas de luta felizmente foi restaurada.

Terminando e a saber: NY na década de 80 chegou a ter mais de 80 mortes violentas por 100 mil. Para quem não sabe o que isto significa, o Brasil em 2023 teve 22 mortes violentas por 100 mil. A reversão da brutal violência de NY veio através do cuidar do que estava abandonado. O resultado está ai.

Aqui, pelo que parece, ninguém está nem aí.

domingo, 20 de julho de 2025

O abismo de comunicação

"O agro negócio tem um ponto positivo inquestionável, a entrada de dólares no país, e inúmeros pontos negativos que um conhecido,  engenheiro agrônomo, poderia enumerar. Um deles é a periferia das cidades grandes, em parte consequência da expulsão da população interiorana pelo modelo de negócio agrícola de grande escala",  segundo meu interlocutor.
 
E segue ele, "O país (Brasil) tinha uma extensa rede ferroviária que acabou por causa da indústria automobilística".

E termina, "A solução para o caos da cidade está nas mobilidades ativas e no transporte coletivo".

E aproveitando a 'sabedoria' popular, "Todos problemas vêem de políticas públicas erradas, da má fé. Tem que mudar".

E, E, E e E.... e poderia terminar com o usual "entendeu?".

Dito e feito. Dito e feito?
Como? O que?

Primeiro, as afirmações acima são verdadeiras, mas... não estão completas. Começando por elas e entrando a fundo em cada uma das questões surgem detalhes que, estes sim, podem levar aos resultados esperados.

Provavelmente já responderam ou ouviram alguém iniciar a resposta com um ".... sim, não, sim..." Brasileiro talvez seja o único povo que responde positivamente começando com um "...sim..., não, sim". Se for uma negativa é o contrário, não, sim, não. Eu faço isso. Estou cansado de ouvir esta resposta. Estou me patrulhando e estou tirando sarro de quem responde assim. Tenho dado boas risadas, mas o causo é sério.

Comunicação correta. Tai algo que nós, brasileiros, não somos educados e treinados para fazer. Sim, não, sim, respostas com frases incompletas, pensamentos que deixam para o outro completar ou subentender, e o infalível "entendeu?". É vício nacional. No final fica tudo num limbo além da imaginação.
Como isto influencia na comunicação de assuntos que demandam precisão, seriedade, e tomada de decisão correta? Não sei, mas tudo me leva a crer que é um dos mais graves desvios para construir resultados. 

Saindo do povão, me incluo aí, e entrando no mundo dos especialistas e conhecedores, aqueles que têm capacidade e podem resolver problemas, aposto que há um abismo absurdo na forma como expõe suas razões para o público, e esta é uma das razões pelas quais estamos vivendo estas graves crises com seguidos vôos de galinha.

Faz 50 anos que estamos gritando sobre a gravidade da questão ambiental, por exemplo. Ora, se a gritaria tem tanto tempo e não alcançou os resultados esperados, algo está muito errado, e sem muita dúvida, uma delas é a forma de comunicação. 

O causa esta tremenda dificuldade de definir uma posição? Por que navegamos no talvez? Não aprendemos onde isto nos traz?

terça-feira, 15 de julho de 2025

Nos falta educação emocional

Sigo dois grupos que estão em lados opostos, literalmente. Um de esquerda ideológica e o outro de direita patológica

O fogo da intransigência sempre esteve aceso, mas depois da reação de Trump com seu 50% o fogo explodiu em acusações pirotécnicas dos dois lados. Nada de novo, só um pouco mais barulhento, luminoso e quente que o habitual.

Confesso que tenho bons amigos dos dois lados, entendo algumas posições, mas fico cansado. Mais, longe deles gasto parte de meu tempo tentando descobrir como reverter esta queimação infernal tão destrutiva para os dois lados e mais ainda para nós, simples cidadãos que só queremos que a coisa funcione bem e tenhamos vidas normais, sem ter que obrigatoriamente que tocar fogo e se queimar.

Educação emocional, nossa educação emocional, aqui no Brasil, é muito ruim, ou inexistente. Se no passado havia uma educação social informal, os usos e costumes que colocavam limites na reação puramente emocional, ela veio se deteriorando ao longo dos anos de uma forma brutal, e o brutal aqui não é figura de linguagem.

Por razões ou interesses estamos jogados um ping pong entre um capitalismo selvagem e um socialismo selvagem, bestial melhor dizendo, os dois. O interesse maior, inclusive dos dois lados? Não interessa. O X da questão é destruir o outro. Fodam se todos e todo mundo. "Nós e eles", "eu!" (selfie!). Quem não quer pancadaria sofre as consequências, leia-se Brasil.

Educação emocional para saber conversar com um mínimo de racionalidade. Deixar o outro falar, ouvir, entender sem ser devorado pela emoção bruta e sem agarrar o outro pela goela.

Não sei o que você sente quando vê nossos congressistas atuando no plenário, mas eu fico maus. Morro de inveja quando vejo congressos ou parlamentos de outros países debatendo, e incluo Itália aí, famosa por seu comportamento expansivo, vamos dizer assim.

Desta vez fiquei tempo suficiente em Roma para poder ser convidado a alguns encontros familiares e de amigos. Voltei para casa feliz, calmo. Mesmo que os italianos tivessem, e tinham, posições bem diferentes, cada um expunha sua razão sem ser interrompido, sem interferências. E só depois de terminada sua exposição alguém começava a falar. 
Estou errado? Não creio. Exagerado? Não. Ou você acha que a baderna que vivemos, que já se transformou em caos, está aí por que? Não falo só de política, mas de violência pura, bruta, estúpida e irracional. De onde imagina que vem? De posições racionais?

Educação emocional leva a uma melhoria da racionalidade, e racionalidade nos levará a qualidade. Olhem os que nos servem de exemplo e verão que este foi o caminho que seguiram.

A entrevistada a Rádio Eldorado, falando sobre educação de crianças diferentes acabou de citar "conhecimento de ciência social". É sobre isto que me refiro quando falo sobre educação emocional. 
Hão de concordar que este Brasil que vivemos é infantil, tipo aqueles que jogam areia na cara do outro para não emprestar seu brinquedo. "É meu!"

Óbvio que para uma minoria não é interessante que a maioria pense racionalmente. E a maioria aceita. Quem cala, aceita, reza a verdade.

O precisamos é vender a ideia que só com um mínimo de controle emocional sairemos desta baderna que estamos metidos.

Os dois lados fanáticos, o do capitalismo selvagem e do socialismo selvagem, não vão mudar, sempre existirão, mas com algum comportamento racional a maioria conseguirá isolar estas doenças, então teremos o futuro que sempre desejamos.

Brasileiro fajuto: só agora descobriram?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 


Descobriram que o cara é brasileiro fajuto? Como diz o povão: "demorou!", isto para deixar o sarro barato. Um passo atrás, tem gente que sabia que Trump não era muito bom da cabeça, mas está se surpreendendo com o que está acontecendo agora. Como assim? Não dava para perceber que aquilo daria nisto? Não era previsível? Estás de brincadeira?!? Um passo a frente, depois de tentativa de golpe contra o Exército, décadas de nulidade no Congresso, 700 mil  mortos, falas sem sentido e outras loucuras absolutamente inaceitáveis, não dava para ter uma noção que o sujeito não está nem aí para não só o Brasil, mas única e exclusivamente interessado no que seja de seus interesses mui particulares? Pior, o sujeito em questão definitivamente não é o único, muito pelo contrário. Não importa a linha política e ideológica, temos aos montes. A bem da verdade, assusta mesmo a cegueira geral. Está sim me preocupa, e muito. 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Solidão: ...

Rádio Eldorado FM 

Brasil é um país com baixa educação emocional. Solidão acaba sendo uma consequência. Solidão individual e coletiva. Não é porque você está encaixado num grupo social que está ou ou acaba só, sente solidão, algumas vezes profunda. Ou você se encaixa na manada, pensa, age e fala a mesma coisa que este geral, ou você é deixado de lado, ou pior, desprezado ou até encurralado. Não importa nada se o solitário tem muito a oferecer. Via de regra não interessa a maioria enxergar a solidão do próximo. Inegável que Brasil virou salvasse quem puder, muito individualista.

Ainda pela baixa educação emocional, é difícil ter uma conversa racional mais profunda, onde os motivos não só da solidão venham à tona sem estremos. Aliás, fora do trivial é difícil estabelecer contato, mesmo com os muito próximos.

Solidão acaba sendo a medida da estabilidade social de um país, mas, quanto mais instável emocionante, menos se consegue rastrear a solidão.

Minha fuga é pedalar. Ou trabalho, o que não estou conseguindo fazer por conta de problemas familiares, problemas estes que estou tendo que aprender a lidar completamente só, portanto na solidão.

Não é porque você tem um ótimo relacionamento que você não está completamente só, totalmente afundado na solidão.
Amar é uma coisa. Amar não implica diretamente na não solidão. As duas emoções podem caminhar juntas, e não raro caminham. 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

50% contra o Brasil ou para salvar papai?

Fórum do Leitor
Rádio Eldorado FM
O Estado de São Paulo

Fogo inimigo? Quem deve se preocupar com artilharia inimiga quando o fogo amigo é muitíssimo mais devastador. Os 50% que Trump anunciou é resultado de diferenças comerciais? Pela forma como foi anunciada tudo leva a crer que é resultado de desinformação plantada por um dos nossos com outros fins. Tem um forte cheiro que serve só para salvar papai. Um país se constrói em meio a diferenças, algumas fortes, pesadas, dificeis de contornar, mas não importa quão diferentes, deve-se encontrar e de alguma forma com integridade encontra-se uma saida. Pode ocorrer jogo pesado, até sujo, mas nunca traição. Traição é absolutamente inaceitável. Se é inaceitável entre pessoas ou grupos, o que dizer trair todo um país em nome dos interesse da própria família. O que vemos agora não terá sido o caso, ou, melhor, a repetição do já acontecido? O lado bom é que a fantasia delirante deve cair até para os mais crentes. Uma traição deste naipe afeta a todos, sem qualquer exceção.

domingo, 6 de julho de 2025

A era do só o muitíssimo é legal

A era do só o muitíssimo (o completo exagero) é legal, entramos nela? Tudo indica que sim. Nunca o muito foi tão muito, necessariamente muitíssimo em tantas áreas de nossas vidas. Comunicação em massa, mais que isto, a manipulação em massa está em nossas mãos, a carregamos no bolso e estamos atentos a ela o dia todo. Mais, aceitamos como natural e bom, melhor, ótimo.
A diferença para o passado é óbvia: a era digital está aí até para os que não querem vê-la, e ponto final.  

Pós escrito: o conceito de infância surge no início do século XIX com a revolução industrial. Antes disto não se fazia distinção entre adultos e crianças. E o conceito de adolescência se firma pós Segunda Guerra Mundial, antes também eram crianças e adultos. Ou seja, usando um termo bem popular: não tinha mi-mi-mi.

Paz e amor, nossa fronteira final? Faz tempo que se acredita que sim, é o nosso fim, e aí faz tempo, muito tempo, procura desesperada desde o surgimento das religiões monoteístas, ou bem antes. Cristianismo a refinou: pratique muito amor e tenha paz no céu, com direito a recepção por São Pedro. E por aí vão esta e as outras. 
 
O Festival de Woodstock foi o ápice do paz e amor, do Flower Power, do faça amor, não faça guerra... Quatro dias de música, sexo e drogas, e paz e amor. Saiu do controle com 500 mil pessoas invadindo a fazenda e lá ficando por quatro dias, debaixo de sol, chuva, lama, precariedade de alimentação, bebidas, higiene, transformando tudo em volta num caos, mas de alguma forma controlado pelos próprios meio milhão de jovens. Quase inacreditável, mas foram só duas mortes, uma por overdose e outro atropelado por trator que ali trabalhava para dar um mínimo de condição de vida para aquela massa de paz e amor.

Os cinco discos gravados e lançados no mercado, mais fotos, filmes e o filme Woodstock mostram o que foi, pelo menos o lado que era interessante mostrar para um público que se sabia restrito, selecionado, e com potencial político e comercial. Paz e amor serve além de suas belas palavras. Woodstock foi para uma geração "muitíssimo legal". 

Aqui, no Brasil, antes disto, a partir da metade dos anos 60, começaram os festivais nacionais de música transmitidos direto pela TV (em branco e preto). Quantos músicos maravilhosos saíram dali. Paz e amor? Não só, ou um outro tipo. É proibido proibir, ou era, ou queriam que fosse, como cantava a música. Vivíamos o começo de uma ditadura militar que ficou braba e o discurso paz e amor pegava menos neste país tropical, ou fazia menos sentido que num Estados Unidos desbundado na riqueza, a todo vapor, mas metidos em uma guerra violenta, Vietnan, sem sentido diziam, a segunda deles pós WWll. Paz e amor era protesto, ou pretexto, como queiram. 

A partir da revolução industrial o "muito é legal" não só para os negócios e capital disparou. Imagina só o que sentia a primeira geração que passou a ter utesilhos domésticos a disposição em casa. Quanto mais, melhor, era novidade e ganhou outra escala: acessível. Rádio e depois TV deram um belo empurrão ao mais é melhor.
Também a partir da revolução industrial surge uma nova era, a era do só o comunismo é muitíssimo legal, que pelo sim ou pelo não tem a ver com o paz e amor do Festival de Woodstock caótico e absolutamente igualitário, pelo menos por quatro dias.

Paz e amor? Paz e amor! 
(Esta porra de corretor automático, que agradeço a Deus por existir e evitar que eu escreva erro atrás de erro de português, corrigiu o paz e amor por Paz é amor, o que dá o que pensar. Mensagem subliminar de Deus ou sacanagem digital do programador que é messiânico? NDA.)

Exageros? Sempre existiram, nenhuma novidade, alguns comportamentais, outros sociais, faz parte de nossa história. A 'era do só o muitíssimo é legal' sempre existiu, mas em nichos, de formas diversas e escalas restritas em setores de cada sociedade, mas não na escala e nível de disseminação que temos hoje. 

Foram muitas eras do "só o muitíssimo é legal". Por exemplo, um dos fatores para a vitória dos aliados na WWll foi a suavidade dançante das big bands americanas. 

Sempre se quis encaixar e viver, regra básica de sobrevivência social. Hoje "muitíssimo" é uma força impositiva gerada pela realidade digital que atinge inevitavelmente a todos, queira ou não queira.

Fato é que paz e amor, da forma como pensamos hoje, eu diria, foi o início da "era do só o muitíssimo é legal" uma novidade recente entre e dentro da humanidade. 

Como curiosidade, dois Beatles, Paul e George, viajaram para San Francisco para ver e vivenciar o paz e amor do Flower Power. Dois dias depois retornaram a Londres. Acharam um porre idiota.
 
De qualquer forma o paz e amor muito turbinado e fortemente distorcido pela pela cada vez mais agressiva propaganda comercial, nos trouxe a esta maravilhosa "era do só o muitíssimo é legal", ou, no dito popular, "quanto mais melhor", ou ainda "quanto mais vende, mais lucra". Neste contexto, com a concorrência que se tem hoje, vale qualquer coisa para sobreviver, inclusive o "só o (meu) muitíssimo é legal". E o pessoal embarca e compra, esta é a questão. 

A memória do meu celular acabou. Limpeza feita. Agora funciona muito melhor. A mesmíssima receita de uma pesquisa científica sobre recuperação da nossa memória, a que temos dentro da caixola, que acabou de ser publicada. Menos informação é mais saudável para o funcionamento geral do corpo, mente e alma. Absolutamente ninguém duvida, pelo menos os que não são das gerações X Y Z e os etc + algo. 
Diz a pesquisa, momentos de observação aleatórios e inconsequentes trazem benefícios para memória e outras funções do cérebro, por conseguinte para a vida. Só funciona com as sensações abertas, focadas no apreciar o momento. Simplesmente dar-se ao direito de perceber e sentir.
Em outras palavras: era e continua sendo muito legal integrar-se à vida. Não é sadio e produtivo entrar de cabeça no só 'o muitíssimo (qualquer coisa, de preferência idiota) é legal' que se vive hoje. (Nossa pausa. Sorria! Selfie!)

Meu agradecimento aos pensadores, historiadores e sociólogos que em diversos artigos tem analisado e colocado em contexto o que vivemos hoje. Estamos um pouco muito mais acelerados do que é sadio. Pelo que me lembro a ideia deste texto, delírio talvez, veio de artigo do Karnal sobre exageros.
 
Termino citando Goebels, que usou e abusou do "só o muitíssimo é legal" para fundamentar a tentativa de impor uma era que teve consequências definitivamente nadíssima legal para centenas de milhões. Aliás, Stalin, Mao e outros do genero, também impuseram o muitíssimo legal a moda deles que também fazem parte de um passado pouco memorável. A ideia de todos eles, ditadores, salvadores da humanidade, populistas, religiosos, tudo junto e separado, pode até ter sido boa, mas.... aí entrou o muitíssimo, a doutrinação do "só o meu muitíssimo é legal". Danou-se!

Será o IA a nova "era do só o muitíssimo é legal"?. Medão! Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante

segunda-feira, 30 de junho de 2025

O drama de quem perde filho usado como publicidade

Rádio Eldorado FM
Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Sei o que a família da menina que caiu no vulcão está passando. Meus sinceros sentimentos. Vi amigos meus perderem filhos e sei o quão devastador é e continuará sendo. Novamente, meus sinceros sentimentos.

Mas sou contra o poder público pagar o translado. Se estava viajando e fora do país é porque tem condições para arcar com as consequências; supõe-se. Ouvi uma opinião, com a qual concordo totalmente: não se deveria permitir sair do país sem seguro saúde que inclua translado.

Antes de pagar o translado de um drama que tocou todo país, portanto é boa propaganda, os governos deveriam ser obrigados a pagar e facilitar velório e enterro de todos os mortos por bala perdida, sem falar em custos reparação vitalícios. Isto jamais acontecerá porque expõe o absurdo fracasso da segurança pública que vem sendo praticada. Já o drama maluco dos que perderam seus filhos nesta guerra insana ninguém fala.

E repito mais uma vez, meus sinceros sentimentos a família da menina. Não é normal e não deveria acontecer a brutalidade de pais enterrarem seus filhos. 


No velório do filho de uma amiga não aguentei a barra e tive que ir embora. A cada notícia da morte do filho de alguém tomo uma porrada emocional, disto não escapo. A vida fez com que me acostamasse com mortes, no plural, as mais diversas, algumas nada agradáveis, das que deveriam me chacoalhar, mas não o fazem, simplesmente entendo, aceito. Mesmo a prática não conseguiu mascarar o brutalidade da morte de um filho de quem quer que seja. Todos que perderam filho nunca mais voltaram a ser os mesmos, isto sei porque acompanho. A cicatriz deixada não fecha, doi sem parar como as queimaduras do inferno, e esta dor fica estampada, não importa quanto tempo passe.  

sexta-feira, 27 de junho de 2025

45 ou 450 m²?

Não tenho como agradecer ao Ricardo pelo delicioso jantar, cozinhado e servido por ele, e poder estar com gente que sempre gosto demais, mas não os via fazia mais de 50 anos. Que absurdo! A vida nos faz tomar caminhos diferentes e perder de vista quem nunca se deveria perder de vista.
Acabou sendo muito divertido, pelas histórias e conversas, muitas recordações do passado, e até pelas briguinhas entre primos, no caso, entre Ricardo e Silvia. Coisa de quem se gosta muito e faz questão de atazanar o outro. Família!

O jantar foi oferecido num dos clubes / condomínios mais exclusivos e chiques do Brasil, algo fora da curva no meio desta insanidade de novo-riquismo desenfreado que vivemos, melhor, que o Brasil se transformou. Quando deixamos de nos ver, lá pelo fim dos anos 60, ser rico era uma outra história. Raríssimos os que ostentavam da forma como se ostenta agora. Tinha lá seus exageros, mas nada comparado com os disparates que temos hoje. 
O clube / condomínio em questa é uma ilha de verde com um clube completo, incluindo barcos e outros esportes de aqui no Brasil são de elite. A sede e várias construções são dos anos 50, creio. Tem alguns com dinheiro que moram ali em casas de uns 200 m² em média, não mais, nem é permitido, boa parte delas no meio da mata atlântica primária beirando a água. E tem os chalés, espécie de casa comunitárias, meia parede, construção padronizada, térreas, que remetem ao que se vê um filmes americanos ou europeus de época, anos 40 ou 50. É lindo. Tudo tem regras para manter as velhas e boas qualidades do lugar, e são respeitadas. É proibido construir nos terrenos padrão, acho que 1.000 m², as alucinadas, fantásticas (?!?) mansão-shopping-center-murado-quanto-maior-melhor-mais-chique-para-esfregar-na-cara-do-outro como se vê cada vez mais com frequência na rica (???) São Paulo. A única coisa que incomoda é quantidade de automóveis, mas deste mal ninguém consegue escapar, pelo menos por enquanto.

Interessante receber o adorável convite para ir naquele clube justamente agora. Por conta de obrigações com a família tive que negar um convite para estar numa cidadezinha de 6700 habitantes no meio do sertão bahiano. O meu anfitrião lá mandou fotos e filmes do lugar, lindo, tão chique quanto onde jantei. Igual na riqueza, mas no sentido oposto, se é que é possível entender isto no meio da baderna cultural que vivemos. 

Lá, no sertão, eu ficaria numa casinha mais ou menos no tamanho da casa onde foi o jantar, talvez um pouco menor. Está no meio do nada, como dizemos aqui neste caos de cidade, ou seja, no meio de uma caatinga verde, esplendorosa, de encher olhos e alma. Uma paz! Me deu raiva de não ter ido. Nas casas do clube me senti muito tranquilo também, a diferença é que na área do social e esportiva do clube tem monte de carro estacionado e circulando, como já disse. Lá no sertão é muito verde, algumas árvores e umas poucas vacas, cabras, cavalos, galinhas... E cobras, que não saem nas fotos, mas foi dito que tem aos montes, talvez não tanto quanto o número de carros do clube. 
Na cidadezinha, no próximo fim de semana, tem as festas juninas, famosas na região. Pelo que entendi e li, não tem nada a ver com multidões, música ensurdecedora, povo olhando para o palco esfuziantemente iluminado com braços erguidos balançando. Festa de cidade pequena, tudo a ver com se divertir até morrer. 

O contraste entre isto e aquilo é de se pensar. Nos dois cantos o objetivo final de seus habitantes é muito parelho, tem mais afinidades do que possa parecer: tranquilidade, paz, ver e viver a vida. Complicado é conseguir fazer encarar e aceitar os paralelos.

E no meio do jantar contei que vivo numa casa de 45 m² de telhado, um choque para um dos convivas. "Como assim, 45 m²? Não entendi. Como pode alguém viver em 45 m²? Minha casa tem 450 m². Não conseguiria viver com menos. Preciso de espaço para viver, pensar, criar, trabalhar." Ok, também preciso de um pouco mais espaço para trabalhar, mas criar coragem e reorganizar, tudo se encaixa. Coisa de cidadão que acha normal a explosão de arranhas-céu, ou será arranhas-céus, com coberturas de muitos metros quadrados, muitos mesmo, tipo de 500 para cima, onde viverão um casal, talvez com filhos. O único feliz, talvez, será o cachorro, desde que não se pergunte "Quer passear?".
 
O ponto comum com a comparação das realidades do que oferece a cidadezinha e o chique clube está em encarar a realidade pelo que ela é, e não pelos preceitos estabelecidos. 

Espaço, a definição da palavra é fácil buscar no dicionário, mas a compreensão ou o sentido subjetivo não. Acabei de ver, no dicionário são 14 as definições, para minha surpresa, duas delas tangenciando o que quero dizer aqui. 
6.
capacidade, acomodação.
"há e. para todos no auditório"
7.
cabimento, oportunidade.
"não havia e. para aquele tipo de comportamento"

Lá, no sertão, no frio congelante de 21° C, segundo a avó de quem me convidou, vi na foto enviada com a família sentada fora da casa com fogueira acesa. Morri de inveja. Um dos meus sonhos é voltar a ver um céu de bilhões de estrelas límpido, e lá, longe da fogueira e da parca luz da casinha, teria a oportunidade, ou terei, porque um dia vou. 
Aqui, na linda e acolhedoura casa do clube, sentamos nós no terraço e conversamos até Ricardo avisar "vamos sentar, o jantar está servido". Até procurei um lugar escuro e olhei para o céu, mas estando em São Paulo se vê muito pouco, quase nada. As luzes da cidade...

Conhecia o clube. Fui umas tantas vezes quando era criança, aí falo de algo como 60 anos atrás, ou mais. Mudou pouco, felizmente. Óbvio que está muito mais cheio.  

O que me espera no sertão é uma viagem ao passado que gostaria de ter vivido muito mais intensamente. Mais ou menos na mesma época em que ia para o clube, também fui para fazendas de vida muito parecida com a simplicidade do sertão. Estrada de terra, casa de pouca mobília e utensílios, cozinha mais simples ainda, na minha época fogão a lenha, uma delícia. Que saudades! Aliás, chuveiro aquecido a lenha, serpentina dentro do fogão. "Toma banho rápido ou acaba a água quente para sua irmã".

O pessoal que revi passava as férias de verão na casa de praia em frente onde eu ficava hospedado. Era tudo open house, portas escancaradas para a multidão de crianças que podiam cruzar a rua sem olhar para ver se vinha carro. Na casa de Ricardo sempre passavam as férias algo como 19 crianças. Na que eu ficava recebia pelo menos mais 5, quando não 6, 7, 8... E tinha ainda a casa de minha tia, com outras mais. Era um exército de crianças.

Numa das fazendas onde fui quando criança nos perdemos, eu e mais dois, subindo um morro e começou anoitecer. O pai do meu amigo mandou um funcionário nos encontrar e trazer de volta. Era um homem negro, muito forte, calmo, que nos guiou para casa e a segurança. Alí descobri que havia vida fora do planeta que eu vivia. 
Na manhã seguinte do terraço eu o vi carpinando e não entendi como alguém que havia nos salvado poderia estar carpinando pesado debaixo daquele sol tórrido. Fui até lá agradecer. Talvez ali tenha começado a entender que a diferença entre o rico clube e a casinha do sertão, entre os 45 e 450 metros quadrados, possa ser olhada de outra forma.

...e no meio da calçada tinha a frente de um carro

Pedalando na calçada completamente desligado chapei a frente de um carro que acessava o estacionamento. Estava olhando janelas acesas de uma casa que foi vendida e pensando se agora vai ser posta abaixo. Bum!, uma barulheira, e chão. 

Sei que pedalar em calçada é, no geral, muito mais perigoso que pedalar junto com o trânsito. Não falo sobre calçadas largas, mas aquelas de bairros, estreitas, e não raro cheia de buracos e obstáculos. 
 
Este não foi o primeiro acidente que tenho pedalando numa calçada. O primeiro e mais marcante, foi quando era criança, lá pelos meus 5 anos de idade, se tanto. Chapei a porta de um carro que estava saindo da garagem de sua casa. Em algum canto tenho a foto da bicicleta com garfo torto, sinal que a batida não foi muito suave. Me lembro que o motorista saiu do carro e veio ver como eu estava, e eu, apavorado menos com a batida e muito mais com a possibilidade que lá em casa meus pais descobrissem que eu fugia para pedalar muito além do que me era permitido. Hoje, fico impressionado que ninguém tenha perguntado porque o garfo estava visivelmente torto para trás. Provavelmente nunca olharam a bicicletinha.

Outro acidente pedalando numa calçada aconteceu tanto por conta de uma deformação da calçada em razão de uma raiz de árvore, quanto por um amortecedor que eu sabia defeituoso e que me jogou para cima e contra um poste. Resultado, uma costela quebrada. 

O terceiro acidente, infelizmente, mas infelizmente mesmo, para minha completa tristeza, mácula imperdoável em meu currículo de mais de 40 anos pedalando, um dia derrubei uma senhora que saia de casa. Calçada muito estreita, não vi, e sobre a calçada jamais poderia ter visto, o portão abrindo e ela ponto meio corpo para fora. Resultado, ela caiu de costas, felizmente sem se machucar, e eu parei no chão. De novo, na calçada e viajando completo na maionese. Na rua, que é estreita e vazia, teria tido ângulo e tempo de reação para não atropelar a senhora. 

Repito a recomendação que sempre faço: não pedale na calçada, é perigoso. O triste é que não adianta falar, o pessoal não só não acredita, mas fica bravo quando falo. Calçada não raro é muito mais perigoso que pedalar na rua.

A segunda razão para este e os outros acidentes foi estar muito relaxado, completamente desligado. Aliás, pensando bem, todos os acidentes que tive, dirigindo automóvel ou pedalando, foram causados por distração.

Estou naqueles momentos da vida que são um tanto agitados, por assim dizer. Tenho pedalado, tanto para transporte quanto para relaxar, desligando a cabeça. Em alguns momentos passo da conta e desligo por completo. Noutros tem tanta coisa rodando na cabeça que também desligo por completo do trânsito. As duas situações são perigosas. Eu já estava prevendo que uma hora a coisa ia dar ruim, e deu, felizmente muito devagar e na calçada. Ficou o alerta: acorda Arturo!


segunda-feira, 23 de junho de 2025

Crime, terrorismo, corrupção


Como muitos brasileiros, guardo o direito de não confiar na lisura do topo de nossa pirâmide do poder público, leia-se inúmeros políticos, alguns governadores e secretários, e principalmente e não só os que agora ocupam o Planalto. A razão para a falta de confiança vem de atitudes, algumas comprovadas, que demonstram um forte interesse por enriquecimento sem a menor preocupação com as consequências para o país. Duvido que estejam preocupados que de onde veio seu bom dinheirinho, se do crime ou de uma possível organização terrorista. Aí está um buraco assustador que vem afundando o Brasil faz tempo. Afinal, corrupção nunca foi usada para financiar terrorismo? Pelo que a história diz, sim, foi.

Fim do Cidade Limpa? Times Square paulistana?

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

Faz tempo que vereadores paulistanos vem usando NY como referência para nossa cidade. No começo desta explosão imobiliária, que causa mais que estranheza, um vereador disse que estava feliz, que São Paulo se transformaria numa Manhattan. Agora querem transformar a cidade numa Times Square em nome do aumento do turismo. Quem afirma isto mostra uma vergonhosa falta de conhecimento. O turismo de NY definitivamente não está ancorado na Times Square. Aliás, ali se faz um turismo de baixo valor agregado, tipo de turismo que as cidades pelo mundo querem se livrar o quanto antes possível. Quem apoia a ideia desconhece o que é o turismo em São Paulo, onde e qual são seu valores agregados e onde estão suas fraquezas. Não resta dúvida que ao apresentar a ideia o vereador deixa claro que faz turismo farofeiro e não tem a mais remota ideia do que a atual NY, a maior e mais interessante revolução urbana dos últimos 70 anos, tem a oferecer e ensinar. As cidades com turismo mais rentável no planeta são limpas, despoluidas e principalmente seguras, nada a ver com cartazes comerciais luminosos.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

O que eu pensei sobre minha vida estava errado

O que eu pensei sobre minha vida estava errado. O que estava errado? Muita coisa. O peso dos meus erros diminuíram, (diminuíram?), quando descobri, através de uma música do Sting no disco Brand New Day, que o Corão fala sobre o valor e aprendizado que se pode tirar das dores, dos sofrimentos. Com certeza os contratempos ensinam. A questão é o tamanho da bagaça, para usar uma expressão bem pop.

Mas precisava ser assim?

Estou desmontando o apartamento de meu pai, que morreu. O relacionamento com ele foi ruim. Não sei se ruim é a palavra certa, mas definitivamente não foi uma relação fácil. Ruim, eu diria. Tenho consciência dos defeitos dos dois, meus e dele. Quando jovem joguei tudo nas costas dele em desabafos e atitudes que me arrependo, muito. Talvez até tivesse razão, e muitas vezes tive, mas a perdi não calando ou metendo a boca no trombone, não sabendo comunicar devidamente, nem com quem de direito.

Comunicar se! Este é o segredo da vida. Errei, mas tenho um bom desconto de ter vivido numa sociedade onde a comunicação é bem precária, digo a boa comunicação, não o frequente vômito inconsequente de palavras.

Num jantar para acabar com dois anos de distanciamento total, no meio de explicações que não eram pertinentes, perguntei a ele quem era o adulto ali, quem era o que deveria ter experiência de vida para não se chegar até uma situação como aquela. Ele ficou mudo. Minha tia dizia que ele era o eterno adolescente. 

Que seja, sei das minhas razões, mas absolutamente nada justifica os erros que fiz. Tereza sempre vem com "Quantos anos você tinha? Você não tinha maturidade...". Eu não aceito, não me dou ao direito de olhar para meu passado e aceitar com tanta naturalidade erros grosseiros. Não posso, não consigo. 

Agora espero que minha experiência sirva para algo, alguém ou alguma coisa. A vida é, ou pelo menos deveria e a ser, um passar de bastões, feito da maneira correta. Em outras palavras, comunicação de forma e no momento apropriados. Ou...

Agora, desmontando o apartamento, tenho certeza que desperdicei minha vida numa pressão que não valia a pena. Mesmo com outras pessoas, aquelas com quem tive bons momentos, eu poderia ter me saído melhor, muito melhor. Faltou maturidade, faltou educação e treinamento para fazer a coisa correta, ou pelo menos minimizar deslizes. Faltou orientação. "A gente vai amadurecendo", dito popular, para mim é comodismo calhorda, de quem acredita que vai aprendendo só com os erros, muitos inaceitáveis. Comodismo principalmente de quem pode e deve orientar, mas tira o seu da reta e senta no sofá. O inaceitável é inaceitável.

Acumular razões, emoções e coisas é fácil, biscoito, como dizíamos. Desmontar a bagunça é outra história, nada fácil. Vivenciei um amigo desmontando suas verdades nos últimos meses de vida. Partindo dele, cabeça dura, para mim foi uma surpresa, pena que muito tarde. Pela vida ele distribuiu riquezas, conhecimentos, ensinamentos, como poucos o fizeram, mas de uma forma dura, grosseria com muita frequência, difícil para quem estava próximo. Poderia ter sido muito mais proveitoso.

Fiz besteira adoidado pela vida. Se arrependimento matasse... Algumas besteiras ainda posso pelo menos me desculpar com quem as sofreu, outras não, até porque é muito difícil achar uma justificativa que se encaixe na palavra "minimizar". Erros de relacionamento e principalmente erros que dizem respeito ao pragmatismo necessário da e para a vida.

Um amigo com quem trabalhei me disse que se eu tivesse vivido fora do Brasil teria tido uma vida muito mais fácil, em todos sentidos. Primeiro, "se"? Então esquece. Nasci e vivi aqui. Tenho certeza que muitos dos meus erros são normalidade desta terra, mas não se justificam, pelo menos não para mim mesmo. Nada justifica.

Um dia olhei no espelho do banheiro e me vi de verdade. Uma coisa é o reflexo nosso de cada dia, outro é cair a ficha de quem está sendo refletido. Foi um tranco, daquela vez um daqueles trancos que faz o motor pegar e o carro desembestar para felicidade da vida do motorista e passageiros. Talvez agora eu deva parar de olhar no retrovisor. Sim, estou fazendo isto. Ou tentando. 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Sabores da infância e do passado

Quais são os sabores de sua infância? Titulo de uma matéria de uma revista Gourmet americana de mil novecentos e bolinha. Boa pergunta.

Arroz, sempre arroz.

Fim de semana eu estava liberado para uma única garrafa de Coca Cola e vez ou outra um suco de pêssego ou pera em lata da Yuqui, creio que esta era a marca. Do gosto das Cocas não me lembro, mas da magia de poder tomar uma lata de suco de pessego ou pera ainda recordo com delícia toda vez que tomo os sucos. Consigo lembrar com detalhes a entrada no supermercado Sirva-se, passar pela pratileira, pedir para pegar, e na rua abrir a lata e bebe-la entrando no paraíso.   

Os bifes feitos por meu pai eram maravilhosos. Frigideira de aço no fogo alto, quando vermelha, derreter manteiga sem deixar pegar fogo, imediatamente colocar o bife com borda de gordura, cozinha cheia de fumaça, um cheiro inigualável, bife começa a sangrar, só então o sal, aí vira o bife, deixa sangrar e serve. Faca afiada, corta-se a gordura, que é o que dá gosto à carne, e... delícia.  

Algumas vezes almocei na casa do então meu amigo Eduardo. Ele tinha uma empregada, Balbina, senhora já de certa idade, negra, que ouvia novela de rádio enquanto cozinhava e fazia um ovo mexido completamente diferente, maravilhoso, dos deuses, ou orixas, ou todos juntos. Eu era muito pequeno para saber qual a magia. Um dia me distraí e deixei os ovos na frigideira com manteiga mais tempo que o normal para um clássico ovo mexido. A clara ficou branca a meio ponto de sair dois ovos fritos, mas eu mexi e... ovos mexidos da Balbina. Não deixe secar. Divino!

Guarujá, peixe com purê, a senhora negra sorridente que gostava de mim e muito mais ainda de meus primos, de quem era cozinheira e santa, e coloca santa nisto, protetora. Nas férias ela ia junto com a família, coisas daquela época. O file de peixe com pure de batatas que era servido era coisa de outro planeta, tanto que, ainda muito pequeno, lá pelos meus 4 anos de idade, um dia fui até a cozinha, minima por sinal, agradecê-la.

Estas são histórias de minha infância. Lembrei, tem mais uma, curiosa. Lá pelos meus 4 anos de idade fui a festa de aniversário de um dos que estudavam comigo no pré primário e uma mão esticou uma garrafa de 7Up para mim. Quando olhei para cima dei com Marisa Matarazzo, sim a própria, a famosa cantora pré bossa nova, que em voz conhecia bem e adorava. Fiquei olhando para ela sem sabem o que responder. Sobre o refrigerante? Sei lá. Marisa Matarazzo!

E troquei de escola, ou fui convidado a mudar, sei lá. Mais justo a segunda opção. E na nova conheci a professora de francês que aplicava seguidas palmatórias, inesquecíveis. Esquece. E Zé Assumpção, amizade que durou mais de 65 anos. Eu não me lembro, mas a mãe dele, senhora fina e gentil, inteligência rara, das minhas paixões, contava rindo que no aniversário do Zé eu comecei uma guerra de brigadeiros na hora do apagar as velas que os adultos não conseguiram controlar. Saíram da sala de jantar, trancaram as portas e deixaram os anjinhos acalmarem. A reforma custou caro. Sobre brigadeiros... não, não são meus prediletos. Sobre a acusação que me fazem, não me lembro, mas nego veementemente. Eu? Fazer uma arte destas? Nunca!

Cachorro quente é bom. Em Mar del Plata, na praia de areia grossa e pedras, mar gelado, primos eufóricos com aquele sol que mal esquentava? Cachorro quente, melhor, panchos, muitos panchos, sentado dentro da barraca, no quentinho do meu casaco, nada mais delicioso. Diga-se de passagem, a salsicha Argentina é outra coisa.

Terceira escola. E minha mãe encasquetou que eu gostava muito de sanduíche de pimentão vermelho. Era bom, mas precisava ser todos dias? Nas raras vezes que tive dinheiro ia me deliciar com o misto da cantina. Muitos anos mais tarde voltei a comer o sanduíche de pimentão vermelho de minha mãe e era muito bom mesmo, mas precisava ser todos dias?

Sorvete Guarujá. Meu pai me deu 200 sei lá o que, creio que Cruzeiros, para passar toda as férias. Gastei 180 na recém inaugurada sorveteira Caramba. Preciso dizer algo mais? 
Poucos anos depois, o mesmo na Fredo de Buenos Aires.  La Flaminia... cucurucho de dulce de leche com cobertura de chocolate? Sonho! Faz uns anos, pouco mais de uma década, abriram uma Bacio di Late próxima. Repeti a loucura da infância: dois grandes de três sabores por dia, um mês impecável. 

Tostado jamon e queso con una tasa de chocolate caliente em Buenos Aires servidos por meu avô, Arturo, final da tarde no terraço do clube. Até hoje consigo sentir os gostos na boca, principalmente do tostado. Ali descobri não só gostos deliciosos, mas o que é uma boa vida. Detalhe, nesta mesma viagem, aos 11 anos de idade,  este meu avô, Arturo, me ensinou o que é um bom café. Avenida Santa Fé, Café de Colômbia expresso, 1966, o primeiro de um vício de vida. Aliás, nesta mesma férias ele, o velho Arturo Raul, parou o carro no meio da estrada, desceu, abriu minha porta, e disse "Daqui para frente você dirige". E lá fui eu. Isto em La Plata. 


Arroz. Entrei em casa depois do colégio e dei com uma panela de arroz recem feito, fogo que acabara de ser apagado, fumegando um cheirinho maravilhoso. Perguntei a minha mãe, mais em tom de brincadeira, se podia comer todo arroz, e ela caiu na besteira de dizer que sim. Panela de arroz para cinco. E eu raspei a panela e fui para meu quarto. Pouco depois aparece minha mãe na porta não sabendo se ficava preocupada pelo absurdo de arroz que eu havia engolido, se dava bronca por que teria que fazer mais e o almoço de meus irmãos que tinham que trabalhar atrasaria, ou o que. Não importa, ela ria e deu a volta em direção a cozinha dizendo a mesma frase que ouvi toda a vida: Arturo, comporte-se!

Arroz!