segunda-feira, 7 de abril de 2025

Opção pelo atraso

Opção pelo atraso, preciso escrever mais?

O título desta postagem está esquecida nos rascunhos faz sei lá quanto tempo. O planeta virou de ponta cabeça desde então e continuamos, como sempre, dando piruetas no ar, na terra empoeirada, na poça de lama, pisando, escorregando, caindo de cabeça na bosta de vaca, batendo na cerca de arame farpado... e nada indica que vamos mudar. E tem tudo para piorar.

Peguei minha santa diarista espremendo a garrafa de detergente na panela e mais um pouco no prato. Tentei pedir para não fazer mais, mas comecei o pedido de forma torta e parei no meio do caminho. Quando ela foi para sua casa descobri que o galão de água sanitária praticamente acabou. Não deveria durar muito mais? Desde aquele dia  venho pensando como conversar com ela para explicar porque não se deve e não quero que se use barbaridades de produtos de químicos limpeza. Teresa virou para mim e disse que todas, as faxineiras e diaristas, fazem o mesmo, tudo para "ficar limpinho e mostrar serviço". Limpinho?

Detalhe? Não regra, deprimente regra.

Foi no Pacaembu que vi pela primeira vez o chão ser varrido com rodo. Uai? Rodo não é para puxar água? Fui até o funcionário que enfadonho varria com rodo e tentei conversar, e nas primeiras palavras ele pôs um ponto final: "É muito mais fácil (com rodo)", ponto final. Será? Tenho minhas sérias dúvidas. Se fosse as vassouras não estariam extintas?

A culpa é de nossa colonização pelos portugueses. É mesmo? Culpa velha, de 500 anos, ou 200 da independência, e neste meio tempo fizemos o que para mudar a situação? 

O buraco na formação do povo que temos no Brasil é absurdo. O sujeito é contratado para colocar placas de sinalização de trânsito. Tem um poste novinho, o sujeito é instruído sobre quais placas devem colocadas em que lugar, e apontadas para onde. Parece ser óbvio que as placas sejam direcionadas para o olhar dos motoristas, mas por alguma razão misteriosa uma das placas está direcionada para um muro, sim, você leu correto, direcionada para um muro. O motorista para vê-la tem que quebrar o pescoço, ou não vê. Aliás, literalmente não a vê. 

"Você não pode falar assim com eles! Não se pode invadir a verdade deles". Como assim? A afirmação me foi repetida inúmeras vezes por inúmeras pessoas sobre comentários ou reclamações minhas para erros de funcionários. Quando não é isto é o "Não adianta nada falar". Qual será pior?

A questão não é invadir a verdade do outro, passamos disto há muito, mas como mudar posturas e posicionamentos, como tirar o Brasil do atraso que a cada dia aumenta mais. 
Uma das melhores provas que se souber invadir os pilares dos outros com inteligência dá resultados maravilhosos tem nome: "EMBRAPA". Ou, outro exemplo, poderia chamar-se "Sistema ISO". No caso de milhares que trabalham sob o manto do Sistema ISO não consigo entender como alguém que trabalhe neste ou em outros sistemas de qualidade total chegue no seu bairro, na sua rua, em casa e não replicar nada. Como assim? Por que?

O planeta virou de ponta cabeça. As regras do jogo não valem mais. Nossa opção pelo atraso está exposta para quem quiser ver. Só manteremos o nariz fora d'água porque temos uns pouquíssimos setores de nossa economia onde a palavra atraso é vista com horror. Contra estes, os que poderão nos salvar, há uma horda que a opção pelo atraso é bem mais do que sua salvação.

O preço da dívida com o futuro vale a pena? Pergunte aos países desenvolvidos.




Quantos mais inteligentes melhor

Pragmatismo.

Quanto mais melhor. É assim e não é assim, ou pode não ser assim. Depende sobre o que se está falando. Agora, se tem uma coisa que é líquida e certa, quando se fala sobre inteligência e conhecimento o unidos venceremos é verdade da qual não se escapa, ponto final.

Eu copiei e colei aqui estes dois trechos de um artigo que fala sobre a bagunça que está estabelecida por Trump, uma análise fria sobre o que 'possivelmente' está por vir. Vale a pena lê-lo, mas esta é uma outra história. No meio da análise brilhante de Thomas Friedman está um pequeno detalhe: a China tem uma população de 1.4 bilhão o que oferece muito mais probabilidade de conseguir colher inteligências do que a maioria dos países. Esta fartura de inteligências, ou de potenciais, só terá algum efeito caso seja colhida com cuidado e receba incentivos para dar frutos.
Acho que está neste artigo, ou em outro qualquer, não importa, que o que fez dos Estados Unidos o que foram até ontem, foi o plantar, a colheita e o acolhimento do máximo de inteligências disponíveis não só no próprio Estados Unidos como de qualquer parte do planeta. Daí seu progresso e riqueza.

Num recente artigo de Friedman ele conta que foi perguntado na China se os Estados Unidos com Trump estão fazendo o mesmo que Mao Tsé-Tung fez na China: exterminar toda e qualquer oposição a suas vontades sem a mínima preocupação com o bem estar de toda a população. Não houve qualquer preocupação com inteligência e conhecimento. China só passou a se tornar o que é hoje, uma das potências mundiais, quando se terminou esta estupidez. Já faz tempo que toda e qualquer inteligência e conhecimento é muito bem vinda.

Quantos mais inteligentes melhor. Ponto final. Aliás não, quantos mais inteligentes bem aproveitados melhor, aí sim. Durante a Segunda Guerra Mundial os aliados tiraram proveito inclusive das mentes brilhantes que estavam presos, com ótimos resultados.   

Antes que leiam e digam que é discurso de esquerdista, aviso que não é. É pragmatismo:
(O pragmatismo é uma doutrina filosófica que se baseia na verdade do valor prático. Uma pessoa pragmática é aquela que busca resolver seus problemas de maneira ágil, prática, que visa mais as soluções do que os obstáculos.)
    
O Brasil tem uma população de mais de 200 milhões, para arredondar, sendo que declarados negros são mais de 50% da população. São aproveitados? Pelo que se apresenta, não. A bem da verdade nem os melhores brancos são bem aproveitados. Não chegamos ainda ao "o último que sair apaga a luz", mas já perdemos uma barbaridade de boas cabeças pensantes que jamais poderíamos ter perdido. E não conseguimos olhar com o devido cuidado (e respeito) para muito muito mais de 50% da população brasileira, e aqui não estou falando só da população negra, mas da imensa maioria que é invísivel aos olhos de uma elite boa parte mediocre. Leia-se "selfie". 

A bem da verdade, não me interessa o que eu penso, me interessa que as coisas andem para frente, que criem um futuro seguro, perene e para todos. Se quem está ao lado tem problemas é líquido e certo que uma hora estes problemas vão respingar em mim e nos meus, pensando com um pragmatismo frio. "Eu me viro" pode ter um toque de vencedor, de eu sou o bom, mas dificilmente se sustentará a longo prazo. Os exemplos são inúmeros, principalmente em negócios familiares, onde o patriarca ou a matriarca criam uma potência, mas centralizam tudo sem ser capaz de passar conhecimento e trazer inteligências para dentro, o que acaba matando toda a riqueza, não só material. Daí o dinheiro no Brasil mudar de mãos a cada 40 anos, segundo Eduardo Giannetti Fonseca, uma das maiores autoridades intelectuais do Brasil. Felizmente esta mentalidade está mudando aqui no Brasil. 

QI, quem indica, ou o amigo. Zero a ver com inteligência e conhecimento, tudo a ver com corporativismo e manter status quo, o poder, o nariz fora d'água. Acontece no mundo inteiro, mas muito muito mais aqui, neste Brasil do salve-se quem puder e eu quero o meu agora!

Pragmatismo: quanto mais inteligência e conhecimento melhor. Pelo menos estamos ouvindo com mais frequência a palavra "pragmatismo" nesta terra brasilis.

Sobre o que estamos vivendo, um ditado árabe:
"O que os sábios demoraram oito anos para construir, um imbecil destrói em oito minutos". Cá para nós, imbecis é que não faltam. E inteligência calada também sobra. Principalmente num país que tem uma péssima educação e não vê com bons olhos ciência e pesquisa.

E aí, o que vai ser?




quinta-feira, 3 de abril de 2025

Crescem os números de mortes no trânsito

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
Rádio Eldorado FM

Foram divulgados o números de mortes no trânsito de São Paulo, e cresceram, muito, são os piores em muitos anos, uma  década. Aliás, cresceram como os números da violência urbana, das mortes por assassinatos. Triste coincidência? Não é, tem tudo para não ser. A meu ver são dados entrelaçados, reflexo da qualidade de vida geral que temos, ou, melhor, nos permitimos ter. É o que somos. 

O drama social do Brasil é de total responsabilidade de cada um de nós, do completo desinteresse dos brasileiros pelo coletivo, a única forma de resolver qualquer situação. Estou errado, a responsabilidade é das autoridades, como insistem? É mesmo? Quais são as outras hipóteses? Não existe outra hipótese? Eles são os únicos culpados? É mesmo? Só passando para lembrar que o que chamamos de autoridades são funcionários públicos, explicando melhor, os que exercem cargos delegados por nós, cada um de nós, o povo em geral. É mais complicado do que isto? É, mas em última estância é isto, eles são funcionários que contratamos para nos servir, nada mais. Pois então, de quem é a responsabilidade?

Alguém aí está realmente preocupado com a morte do próximo? Se estiver, explica, porque no silêncio, na mudez, não dá para ouvir e entender. Se não se entende, se não se explica, como se pode acreditar?

Os números divulgados sobre mortes no trânsito, ruins, são os brutos, mas... Quais são os dados particulares? Onde, quando, quem, como e por que? Alguém sabe? É fácil criar imaginários em cima de números brutos, uma imagem inacabada da realidade. É muito mais difícil de ser enganado quando a informação vem bem investigada, detalhada, aprofundada.
 
A quem interessa números brutos? 

Como vieram os dados da pesquisa tirados polícia técnica e legistas? Aliás, alguém os viu? Como e por quem foram analisados? Alguém sabe? 
Deixar um morto no meio da rua por horas para só então fazer a perícia é o ideal? Não se perde detalhes que podem mudar a sequência dos fatos que resultaram o acidente e o óbito?

Trânsito pode ser analisado como um jogo onde todos participantes devem respeitar regras e principalmente os outros participantes. A ciência, através dos dados que fartamente coletados em diversas partes do planeta e não só em relação ao trânsito, reza que quanto mais tranquilo, mais calmo for o jogo, menor a quebra do respeito às regras e normas de segurança, portanto menor a possibilidade de acidentes. 
Paz no trânsito, menos acidentes, menos mortes. Por isto a opção pelo acalmamento de trânsito, técnica usada e aprovada em todas partes do mundo onde a acidentalidade é baixíssima. 
Está provado que segregação, qualquer que seja, cria castas, privilégios, o que contribui para uma segurança particular, individual, não coletiva, que numa análise mais profunda não se sustenta para qualquer sistema de segurança. Trânsito incluído.  

Se há uma forte pressão, válida, pelo fim da discriminação, segregação e privilégios, por que no trânsito a opção é por segregar? Sim, eu sei, há situações que separar, segregar, é a única alternativa de segurança, pelo menos por um determinado momento, então pelo menos que se segregue onde de fato é necessário, não indiscriminadamente. Os dados sobre pais super protetores que estão vindo a tona ultimamente colocam este comportamento como um erro crasso. 

Minta, minta, minta mil vezes e a mentira se tornará verdade. Ciclovias e ciclofaixas são seguras. É mesmo? Quem disse? A fonte é segura? Sim, dão mais segurança ao ciclista, mas como, quando, por que e principalmente com que efeitos colaterais? A pergunta que fica: quanto ciclovias e ciclofaixas tem responsabilidade sobre os índices de acidentalidade? Nada a ver? Não mesmo?

Minta, minta, minta! Faz décadas que a melhor opção para a segurança individual foi (e segue sendo) a construção de muros, segurança particular, barreiras e outras medidas segregatórias de contensão. Pergunto: funcionou? A segurança de todos aumentou? Que sociedade temos?

A cidade é a resposta para nosssos dramas. Que cidade queremos? Segregada? Discriminatória? De privilégios? É o que seguimos construindo.

Na Holanda surgiu uma cidade onde se extinguiu as ruas como as conhecemos, ou seja, sem calçadas, sarjetas, ruas, faixas de sinalização, sinais, semáforos, ou qualquer outro elemento que separe, segregue. Foram transformadas em espaços públicos indiscriminado, realmente para todos. O que parece uma loucura para a maioria, e não é, os números provam, é o aprofundamento do conceito de cidades acalmadas que há muito se pratica. Quando implantaram pela primeira vez foi uma gritaria: vai matar muita gente! Muito pelo contrário, diminuiu drasticamente o número de acidentes, e mortes. É aplicável em todo e qualquer lugar? Não, mas é o caminho. Aliás, é sim aplicável, depende da inteligência de quem aplicará. 

Ciclovias e ciclofaixas são necessárias? Sim, certamente são, mas definitivamente não são 'a' solução para a segurança de ciclistas, e não o são porque os dados que se tem são muito direcionados para o que se quer publicitar e ver, exatamente da mesma forma que muros 'são' seguros para seus moradores.

Por que temos toda esta vergonhosa insegurança? O que fizemos deu certo? Não estará na hora de pensar alternativas? Não passamos da hora de ter um olhar mais profundo sobre o que nos afeta? 

Vi este vídeo a seguir sem som, e mostra bem como pode ser a transformação das vias, leia-se espaços públicos, de uma cidade, da organização habitual e tradicional, para as ruas "espaços públicos", sem divisões, sem segregações, sem privilégios. É só um exemplo, nada mais. Por favor assistam, simplesmente assistam, sem 'nós ou eles'. 

Antes de assistir lembre-se que nós, brasileiros, (paulistas, paulistanos, no meu caso) somos seres humanos. A voz corrente que nós somos diferentes se sustenta? A meu ver definitivamente não. Se as cidades são todas semelhantes, se usam praticamente os mesmos conceitos e praticas para se organizar, crescer, fortalecer e enriquecer, porque não se pode usar as mesmas boas práticas experimentadas?

 






quarta-feira, 26 de março de 2025

Degradação da seleção brasileira é reflexo do que?

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

Nosso futebol vem sendo degradado faz muito. Não deixa de ser reflexo de um pais que vem sofrendo uma degradação social espantosa. Os bons números da economia mascaram o nosso fracasso geral como sociedade. Faça um bet, quem será o próximo assassinado? Faça outro bet, quem será o vencedor do BBB de bandidagem e ladroagem? A seleção brasileira é só um reflexo do que é o país. De vergonha em vergonha, de derrota em derrota, sigamos em frente sem olhar para o passado de glórias. Aliás, olhar para trás, quem se importa, quem se interessa, quem sente alguma vergonha.

E no final, selfie!

terça-feira, 25 de março de 2025

Padarias, pães quentes e muito pedal atrás deles

Minha vida nos pedais se consolidou pegando pães saídos do forno e descobrindo novas padarias. Meu santo irmão, dez anos mais velho, comprou uma bicicleta, uma Caloi SS aro 27 sem marchas, em 1976 ou 77. Digo santo porque provavelmente ele tinha consciência que a bicicleta não acabaria dele. Na mosca! Pelo menos eu perguntava "posso dar uma volta?"

Ainda morávamos todos juntos, minha mãe, meu irmão, minha irmã e eu, mais a santa empregada, que era um tanto da família. Na hora do almoço minha mãe vinha e avisava que o almoço já ia sair e pedia o "vai pegar o pão", o que me fazia sair feliz da vida e trazer de volta para casa pão quente, muitas vezes baguete italiana saída do forno que era devorada por completo no almoço, todos juntos, sentados, entre as conversas mais variadas que não terminavam. Delícia! Que saudades.

A 1 km de casa ficava a Padaria Vesúvio, talvez o melhor pão italiano que comi na vida. Sempre estava no caixa um dos donos, José ou Napolitano. Nas vezes que tive esperar a delícia sair do forno os dois davam boa prosa. Foram eles que me deram uma boa noção do que é uma padaria, como funciona e suas dificuldades. Um dia venderam a padaria e não demorou muito os novos donos arrebentaram com o negócio. Com muita tristeza vi o mesmo acontecer com outras padarias. A Colony, na rua Suzano, foi a mais dolorida. Discreta, numa rua passava só o trânsito do bairro, pouco mesmo na hora do rush, tinham um pão preto e um croissant divinos, que demoraram muito para reaparecer na cidade. Não demorou muito para falir.

Pouco tempo depois do desaparecimento da Vesúvio, Colony e da Regente, na esquina da rua Sampáio Vidal com Groelândia, e de outras tantas, a qualidade geral do pão paulistano degringolou por completo. Começaram a produzir pães franceses enormes, turbinados a promato, com gosto para lá de duvidoso, que depois de frio esfarelava, virava pó. Eu odiava, mas era o que o povo queria, era o que vendia. Nunca entendi tanta ignorância palatar. Um horror.

Com meu caro amigo Tio Lu, que conhecia para valer a cidade de ponta cabeça, saíamos para pedalar longe, eu, ele, e Teresa, volta e meia mais alguém, e pelo caminho íamos pingando aqui e ali, pagando pedágio nas padarias. Não faço ideia de quantos cafés por km pedalados fazíamos, e quantas degustações, mas foi aí que conheci várias padarias paulistanas longe de casa e pude ter uma noção clara do gosto paulistano. A maioria era e segue sendo padaria de bairro, nada especial, mas aqui e ali encontramos umas poucas que valem conhecer. Quais? Não digo. O divertido, além do pão, é a descoberta. Não espere que todos os pães expostos sejam maravilhosos. Via de regra sempre há uma especialidade da casa. Aliás, se quiser saber qual o babado da padaria não vá para os recheados, os cheios de fricotes. Para saber a verdade peça um pão com manteiga e um expresso, ou café com leite. Se tirarem o miolo e colocarem margarina saia correndo.

Vale uma explicação. Quem não deu com pães vermelhos, laranjas, pretos ou com formas exóticas? Em grandes padarias esta é uma técnica para chamar clientes. O pessoal compra? Pelo que ouvi dos donos da Galeria dos Pães, não. Boa parte vai para o lixo. Aliás, esqueci de citar a Padaria Dengosa da rua Melo Alves, dos mesmos donos, onde começaram, uma das que fez de São Paulo referência em padarias. Os pães eram muito bons e o sanduiche... ah! o sanduiche. Eles tinham um chapeiro, o Pereirinha, um gênio dos sanduiches, mas cheio das suas. Um dia um dos donos perdeu a paciência de vez e colocou Pereirinha para correr no meio do atendimento e casa cheia.  

Falando desta época, ou de antes, não posso deixar de citar o Beijamin Abraão, provavelmente a figura mais importante da história da padaria paulistana, talvez até brasileira. Minha mãe conhecia e falava muito bem da sua primeira padaria, a Barcelona, numa travesa da Cardoso de Almeida. Não sei quando ele abriu a Beijamin Abraão na rua Maranhão, próxima a casa da FAU USP, onde meu irmão dava aulas. Seu Abraão não só tinha o melhor conjunto de pães da cidade, como criou um curso de padaria que formou toda uma geração, a que tirou São Paulo da deprimente era do bromato e nos trouxe de volta "pães". Um dos crimes que cometi nesta vida foi não ter conhecido pessoalmente o Sr. Beijamin Abraão, ouvido suas histórias, apertado sua mão em eterno agradecimento.

Um dia, já sem o saudoso Tio Lu, fomos pedalando até a São Domingos, que é das mais antigas, conhecidas e respeitadas padarias de São Paulo, pão italiano referência. Tive a sorte de encontrar a senhora que era casada com um dos fundadores, ou dono, sei lá, da deliciosa casa, e ela no meio da conversa perguntou se eu gostaria de conhecer os fornos. Que dúvida? Lá fui eu. Para minha surpresa o discreto sobrado da rua São Domingos que atende o público no que originalmente deveria ser uma garagem, se perde para o fundo em vários níveis e incontáveis fornos. Pedi autorização e ela me permitiu pegar um filão que tinha acabado de sair do forno. "Você vai queimar a mão", me avisou, mesmo assim peguei, voltamos para a loja com o filão sendo jogado para o alto para não queimar, e lá comprei provolone, que derreteu deliciosamente num sanduiche crocante que aí sim queimou minha boca.   

Foram raras as noites que passei em festas ou gandaia. Em Cambuquira, sul de Minas, quando ainda era adolescente, depois de sair da boate, fui pegar pão saído do forno para levar para meu tio e primos. Entrei pela porta de serviço, pedi para acompanhar os trabalhos, põe e tira pão do forno. Xereta, fui olhar a espátula entrando no forno e largando os pães para assar. O padeiro puxou rapidamente a espátula para trás e acertou no meu saco. Foi um dia dolorido, começando com um café da manhã elogiado por todos, as gargalhadas, óbvio. 

quinta-feira, 13 de março de 2025

Bonita? Por favor, olhemos o que realmente importa

Fórum do Leitor 
Rádio Eldorado FM 
O Estado de São Paulo 

Muito muito antes de ouvir a palavra feminismo, praticamente ainda bebê, entendi o valor das mulheres e apoiei toda minha vida em valores de inúmeras tias, amigas, primas, irmã e sobretudo mãe, ou mães, muitas delas seres de rara inteligência, sabedoria e fortaleza. Não só apoiei, como no que pude agi.
Muito antes de Lula ser conhecido ouvia histórias dele e suas negociações estranhas a portas fechadas com a Villares. Meu pai foi o terceiro piloto do avião da empresa e amigo dos Villares.
Muito antes da oficialização do PT fui impedido de participar das reuniões formadoras do novo partido por usar mocassins. Parece piada, mas não é mesmo.


Bonito é um adjetivo que significa agradável à vista, ao ouvido ou ao espírito. Pode também significar formoso, belo, lindo, generoso, bom, vantajoso, nobre. 
Exemplos de uso 
"Ele é muito bonito!"
"Que bonitinha essa sua pulseira, onde você comprou?"
"Aii, que bonitinho o presente que ele te deu!"
Sinônimos de bonito 
Atraente, Encantador, Formoso, Airoso, Elegante, Esbelto, Garboso, Galante, Bem-apessoado.
Origem da palavra
A palavra "bonito" vem do termo latino bonus, que significa "bom". Entrou no português no século XVI, provavelmente depois de ter ido buscar o sufixo diminutivo ito no espanhol


Ou seja, desde criancinha posso dizer que sou pró mulheres, se quiser usar o termo "feminista", ok. 
Tenho várias razões para não morrer de amores pelo semi-deus Lula, salvador das boas causas, e pelo politicamente correto PT. Tenho sérias restrições com o populismo, aliás também com o politicamente correto. Salve Chico Anísio.

O que vem matando o futuro do Brasil são os exageros, inclusive da imprensa, quando urge gastar tempo, espaço e inteligência com o que realmente importa.

O significado de "bonita" no dicionário vai além de dondoca, minha tradução para o que jornalistas estão batendo. 
Por favor, gastemos saliva com o que fará diferença. Deixem para Janja acertar as contas com Lula a quatro paredes. Para isto ela servirá.

quarta-feira, 12 de março de 2025

Atentado na Estação Pinheiros?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Dois pacotes ou caixas suspeitas foram encontrados na Estação Pinheiros lá pelas 6h00 da manhã. Soube do fechamento do terminal e ouvi a detonação de um dos pacotes. O que quer que tenha sido, quem quer que tenha feito, neste momento plantar algo numa estação é de uma falta de noção completa do que é contexto histórico, coisa de ignorantes, que é o que mais temos neste Brasil. Ofensa minha? Definitivamente não. Os números oficiais do Governo Federal assinam em baixo por mim.

Estou farto de boçalidade dita revolucionária. Quem viveu tempos passados sabe o que falo. Quem não, que ouça Revolution 1 dos Beatles. 
Não entendeu ainda. Ouça o que diz Gabeira sobre estas "ideias revolucionárias". 

Só vamos resolver está baderna quando decidirmos pensar. E eu duvido que aconteça.



terça-feira, 11 de março de 2025

1.000 km? Ou traffic calming?

Já contei várias vezes isto, mas vale relembrar sempre.

Terminada a administração Haddad fui procurado por seus partidários que haviam trabalhado no projeto cicloviário, leia-se 400 km, e me disseram que pelo menos 25% do que havia sido implantado não servia para nada. Passado um tempo um deles, gente que sabe o que fala, afirmou que 25 desperdiçados era pouco. Mais, ninguém sabia e continua não sabendo quanto custou.

Agora estão forçando para chegar aos 1.000 km. Quantos km não servirão para nada? O que do que foi feito realmente vale o quanto foi gasto? Tem dinheiro sobrando? Quais são as prioridades urgentes urgentíssimas dos cidadãos e da cidade para o parco dinheiro?

"Nós (holandeses) pedalamos. Americanos usam capacete".
A ironia, se é que se pode dizer isto, pendurada em grandes placas nas locadoras de Amsterdam, é de um humor inteligente tipicamente holandês, de gente que sabe o que fala quando o assunto é qualidade de vida urbana, cidade e bicicleta, nesta ordem. 
Os holandeses constroem cidades de alta qualidade de vida. Nós brigamos por quando mais melhor.

Nós, paulistanos, não conseguimos nos livrar de nossas tacanhices. Nos recusamos a ver e aprender com o que está estabelecido e apresenta resultados positivos inequívocos. No caso da bicicleta, ou da mobilidade alternativa, continuamos a cacarejar o discurso ciclovias e ciclofaixas, sem saber exatamente sobre o que se fala, mas crendo piamente que é certo, que é verdade. Felizmente sobre o capacete diminuiu a histeria.

Relembrei a crítica sobre os 25% agora porque, muito tarde, se está acertando a geometria viária do cruzamento da esquina da rua Estados Unidos com Canadá. Ou seja, acalmamento de trânsito, traffic calming, a solução que oferece de fato segurança para pedestres, as grandes vítimas de nosso trânsito, também para ciclistas, e todos os outros cidadãos, memo aqueles que muitos ciclistas afirmam que não o são. 
Traffic calming. É o que se faz em todas as cidades civilizadas. Aqui? Acertar a geometria das esquinas, uma cá, outra lá, muito aos poucos enquanto os mortos não esperam, com critério de implantação que não consigo entender bem qual ou para que?

1.000 km de ciclovias e ciclofaixas. Pedestres? Que olhem com atenção para os dois lados.
Se é para falar em números, quantos traffic calming foram implantados?

O uso de bicicleta cresceu 18%? Tenho perguntas. Como? Onde? Por que? O que, ou quanto o sistema cicloviário tem a ver com isto? Quantas perguntas não estão respondidas? 

O número de atropelados também cresceu. Não quero ver o número, mas onde é por quem foram atropelados?

Sou contra ciclovias, ciclofaixas e capacetes? Não, definitivamente não, repito.
Sou contra fazer pelo fazer, fazer da forma como foi feita, quando há provas sólidas e irrefutáveis que há técnicas de engenharia de trânsito para segurança muito mais eficazes para se chegar aos resultados desejados.

É burrice minha ficar batendo na mesma tecla. Confesso estar exausto, mas o que devo fazer? Calar? Nunca!

Estamos assistindo de deprimente camarote a derrocada de um império que se curvou ao populismo da pior espécie. Ignóbil! Populismo da pior espécie são todos.

Aqui estamos. Vamos fazer São Paulo melhor de novo. Acho que já ouvi isto antes.

A ignorância é uma benção... para o populismo.   


segunda-feira, 10 de março de 2025

'cê tenta

'cabou o 'cê senta, começa o 'cê tenta,  que de interessante termina num 69 e inicia o nós que aqui estamos por vós esperamos", inexorável. Não, não é só o que pensa, mas também o chamado da melhor idade, que cansei de ouvir e rir de quem nela está: Melhor idade é a puta que o pariu.

Como dizia meu pai, depois dos 50 se você acordou sem dores é porque está morto. 

Passei do tempo, devo ter um pé no céu e outro no inferno, isto quando as câimbras não me deixam duro. Pelo menos algo ainda fica duro, sempre a perna esquerda.

Primeiros minutos deste dia festivo, acordo suado, calor infernal, ligo a luz e dou com uma senhora barata subindo na cama. Até agora me pergunto que presságio foi aquele.

Obrigado 





sexta-feira, 7 de março de 2025

Calor infernal

Uma das mais antigas recordações que tenho de minha infância é ser colocado para dormir tendo um inseticida espiral, o tradicional fumacinha, no móvel de cabeceira entre um quase grudado no meu nariz e uma janela escancarada um pouco mais a frente. Eu achava reconfortante o forte cheiro daquela fumaceira numa noite de calor e umidade infernais típicos de verão do litoral, ainda por cima sem vento.

Anos mais tarde lembro de estar na casa de minha avó em Santos, também numa noite de calor insuportável, sem vento, tentando dormir num quarto com mais dois primos, tudo escancarado, janelas, porta, ventilador no máximo e na orelha, o que sempre me incomodou muito, mas ali achei uma benção. Renato e Ricardo, meus primos, embalaram logo, eu rebolei no suor dos lençóis por um bom tempo amaldiçoando a lua cheia, maravilhosa por sinal.

E cá estou eu em mais uma noite de calor infernal na finada terra da garoa. Que saudades dos tempos que isto aqui era fresquinho. Acordei com o travesseiro tão molhado quanto as boias salva-vidas que me obrigavam a vestir quando criança. Preferia morrer afogado.
 
Ah! São Paulo da garoa! Que prazer estar no meio da névoa fria, algumas vezes gelada, daquela São Paulo da garoa que se foi. Ir agasalhado para a avenida escondida na névoa gelada pegar o ônibus para a escola. Primeiro se ouvia o barulho invisível dos ônibus e carros vindos de longe, e só muito em cima, uns 30 metros se tanto, rompiam a névoa como vindo do além. Adorava o som dos ônibus elétricos, o leve ronco do motor e as antenas escorregando na fiação elétrica. Era fácil reconhecer o meu da escola por seu motor impecavelmente regulado. Na escola o recreio era de camiseta num geladinho que a correria não fazia sentir e só estimulava mais correria. Coitado do paciente bedel.

Calor, ufa!, calor. Rio de Janeiro 40 graus..., (mais quente do que a música!) Falo de um Rio com 45 graus, onde sair para rua de dia, debaixo do sol, era um suplício. E por isto, cinemas cheios em plena tarde de trabalho, ah! santo ar condicionado! Filme? Que filme? Poltronas e poltronas em ronco solto. O mesmo vivi em Recife. Quem se importa o que passa na tela? Em Recife assisti vários filmes "culte" que nem em São Paulo passavam. Por que? Provavelmente porque o público estava querendo ar condicionado, não importa o que estivesse na tela, e para o cinema o custo de filme culte devia ser muito mais barato. O que o calor infernal não faz com a vida!

Rio 40 graus, a noite vinha um refresco, não muito, nada que permitisse bocejar com prazer. Janelas escancaradas, todas, sem exceção, um ventinho abafado, pesado, que pouco ou nada servia. Dormir... só mais tarde,  bem mais tarde, muita TV ou leitura a espera da madrugada... abafada. Dormir? Acordando várias vezes para um banho gelado. Corpo estendido um pouco sobre a cama, vira de cá, vira de lá, leçol ensopado e se joga para o duro tapete empoeirado destendido sobre o chão de pedra, uma benção de sono até doer o corpo e voltar para o quente colchão. Mais alguns banhos gelados pela meio da noite. Gelado não, porque a água vinha morna, menos que o suor, mas refrescante. Mal dormido acordava com os primeiros raios de sol. Pequeno café da manhã e o mais nú possível para praia, aproveitar enquanto as areias não escaldam os pés. Fritam, melhor.

Olho os que trabalham e seguem trabalhando debaixo do racha coco, como conseguem? 
Outro dia ouvi pela primeira vez de uma madame sentada num sofá frente ao furacão do ventilador "Como eles conseguem trabalhar neste calor? Agora entendo porque a produção em áreas tórridas é tão baixa." 

Mas o calor pode ser pior, muito pior, só quem experimentou sabe. Experimente um navio cargueiro, cruzando o equador. Vai entender o real significado e insuportável. Fomos avisados pela tripulação, ao meio dia não toquem nas paredes externas, e na cabine cuidado para não queimar a mão ou o corpo com o vapor que vai sair da torneira ao abri-la. "Gire a torneira só um pouco com o corpo longe da pia e deixe o vapor sair". Dormir? Fácil. Tudo estanque, ar condicionado forte e geladinho, mas se tocar as paredes vai sentir calor.

Aprendi que portas e janelas abertas para circular o vento é um erro grave, só piora o calor dentro de casa. Quem sabe, mede a temperatura dentro e fora da casa para saber onde está mais fresco e abre ou fecha tudo. Funciona, ou melhora muito.

Corumbá, Corumbá, sem dúvida a noite mais difícil de minha vida. Calor e unidade sem igual. Aceitei uma gentileza e fui dormir numa casinha de gente bem simples, pobre mesmo, que com muito esforço construiu um espaço reduzido de paredes finas e telhado de zinco. Não queira saber o que é estar debaixo de um telhado de zinco com janela que abre pouco.  
Das boas recordações que tenho desta vida foi ter deixado o calor absurdo de Corumbá e chegado ao banho congelante que tomei em Santa Cruz de la Sierra. Nunca uma água que doeu na pele foi tão agradecida. 

Em Corumbá começou minha preocupação, minha dor no coração, com a vida dos favelados. Como se permitiu o absurdo urbano que milhões vivem?

Tem gente que gosta calor, inclusive de fritar ao sol. Afirmo que meu corpo definitivamente não gosta, aliás, para de funcionar a partir de uns 25, 27 graus. Pedalando ainda vai, aguento, mas quando paro... desmonto. Na estrada de Itu para Jundiaí, a que mais sofri, pedalei com 'deliciosos' 40 e tantos graus, fora o bafo vindo do asfalto. Como aguentei? Não faço ideia. Sei que quando cheguei, tomei litros e litros de tudo quanto fosse líquido e gelado, um banho gelado, cai duro na cama. No dia seguinte quase chamei uma funerária.


"Vai pela sombra" dita a velha recomendação. Vergonhosamente tenho cumprido a risca. Outro dia fui repreendido por um senhor por estar pedalando na calçada. Parei, pedi desculpas, e lembrei-o o "vai pela sombra". Ele imediatamente desanuviou-se. E seguimos cada um para seu lado pelo que na rua resta de sombra e algum frescor. Frescor?

segunda-feira, 3 de março de 2025

País que não se fala si trumbica

Fórum dos Leitores
SP Reclama
O Estado de São Paulo

Está nas primeiras páginas: os ministérios não se falam e atrapalham projetos importantes para o Brasil, as polícias não se falam e prejudicam a segurança da população, a família não se conversa olho no olho e a educação vai mal, com celular os namorados não se falam... e arrisco dizer, com bom e longo conhecimento de causa, que os departamentos das empresas também mal se conversam e que se dane o consumidor. Os casos são muitos e frequentes. Agora fiquei sem internet por 6 dias. Como brasileiro sei que o normal é esperar que problemas demorem para serem resolvidos, quando os são. Custo Brasil, com muita frequência é destaque nas primeiras páginas de todos jornais. Bom aplicativo, excelente atendimento (realmente) das meninas do 1058 (Vivo), bom atendimento na loja, técnico rápido, educadíssimo e eficiente, que veio no último minuto da prorrogação do sexto dia por boa vontade própria. E a certeza que minha espera vem de um precário relacionamento entre departamentos. Típico de grandes empresas. No terceiro dia ligou da Vivo uma senhora, que pela voz e forma de falar é gente grande dentro da empresa; pediu mil desculpas e jurou a solução no dia seguinte, mas nada, óbvio. Mandaram, e obedeci, fiquei 4 dias em casa esperando. O problema que tive com a Vivo é muito simbólico do Brasil disfuncional que vivemos: com medo de perder o emprego, boa parte se esforça e faz bem seus trabalhos entre a cruz e a espada, sem que suas vozes sejam de fato ouvidas por superiores e ou outro departamento. Por sua vez, seus superiores, que costumeiramente dizem conhecer tudo e mais um pouco, não tiram a bunda da cadeira para entender o que realmente acontece no fronte. Num outro caso, com uma outra empresa, subi o tom, inclusive com carta para o Estadão, e consegui que alguém do primeiro escalão tirasse a bunda da cadeira e fosse sentir o problema como cidadão comum. Quando voltei ao hotel fui recebido (sem exagero) em festa e agradecimentos pelos funcionários. O problema foi aos poucos sendo resolvido em todos os hoteis da rede. Muito do custo Brasil, que é muito alto, se deve ao silêncio da imensa maioria dos brasileiros consumidores e cidadãos. Ou cala ou tem chilique. Cristina mudou-se para Londres faz 36 anos. Ela desabafou que a maior diferença entre cá e lá é que lá, por pior que seja a situação, se vai atrás de uma saída na conversa. Aqui, por mais banal que seja a questão, descamba para a gritaria generalizada. Mentira? Sabe com quem está falando?

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Postagem 1500, fiz o que luto contra

Exatamente nesta postagem, a de número 1.500, venho a público pedir desculpas. (Deveria ter pedido muito antes.) Gravei um vídeo e enviei para um grupo com uma tremenda besteira (que novidade!). Em vez de calar a boca e dar um tempo para ver, analisar, entender, buscar mais informações, mandei mensagem de bate pronto. Bingo! Bati exatamente onde vivo criticando.

Ontem foi uma ventania danada aqui. Caiu a energia por conta de uma rede de proteção da obra de um edifício em construção que saiu voando e caiu na fiação. Foi uma beleza... E, para espanto geral da nação, leia-se moradores das ruas escuras (sem energia), os caras vieram e religaram a energia meia hora antes do que foi dito.

No meio deste apagão comecei ouvir de casa uma senhora lá na Estação Pinheiros gritando para o povo pegar o Paese. 'Uai? Trem ou metrô, quem parou?'

Pela manhã descobri que a grade da ponte passarela recém inaugurada estourou, caiu e foi parar na linha do trem. Fui lá ver. E aí comecei a ter um surto de boçalidade. Olhei, olhei, olhei, tirei conclusões apressadas, gravei alguns vídeos sem pensar e soltei. Coloquei na rede besteira explícita.
Felizmente não demorou tive uma luz e percebi o tamanho do erro. Mais um vídeo e alguns áudios tentando corrigir, mas sem saber o que fazer ao certo com toda besteirada dita. Catar os cacos e colar? Dependendo da situação não dá.


Fatos:
Um dos lados da grade de proteção que fica em cima da linha férrea não aguentou a ventania e caiu sobre a rede elétrica.
A gritaria foi geral porque a ponte passarela foi inaugurada faz só 40 dias.
Por lei a norma técnica de qualquer viaduto,  ponte ou passarela, é obrigatório ter uma área de proteção mais ampla que o gradil e parapeito no espaço que fica sobre a linha férrea, o que foi respeitado. Duas, uma de cada lado. Uma destas proteções não aguentou a forte ventania.
Por que uma só?  

Sai de casa com a informação que o corrimão estava solto. Estranho, eu vi sendo soldado. E está aparafusado e soldado para não ser roubado.

Prestei mais atenção nas marcas de terra e deformações na grade causadas pelo vento do que deveria, sem olhar para a solda recém feita na base da grade que indicava que havia sido reinstalada. Não sabia que tudo havia despencado, nem pensei na hipótese.
Os vídeos que fiz foram em cima de uma análise rasa preocupada com as marcas de terra no corrimão, o que foi causado pela queda da estrutura no gramado da linha férrea e ciclovia. Burrice minha.
O que refresca minha consciência, se é que refresca, é que jornalistas tarimbados falaram também um monte de besteiras.

O que foi feito está mal feito? Não. Então por que estourou e caiu? Por que não aguentou a ventania? Posso até não gostar da qualidade do material usado nas grades e corrimões, mas quem sou eu para fazer esta análise.

Meu palpite é que houve uma forte turbulência junto a grade de proteção causada pela proximidade desta com a Ponte Bernard Goldfarb. Há vários vídeos, de várias partes do mundo, mostrando ruptura de elementos por terem entrado em ressonância causada por turbulência de vento. Um deles mostra a causa da queda de um avião comercial em razão da turbulência vinda do avião que decolou a frente. Alguns filmes mostram pontes entrando em ressonância e colapsando. 
Dá para prever? Deve dar, mas é um estudo complicado, caro, que só se faz em situações muito específicas, não para uma grade de ponte passarela.  

Quando passei de novo por lá a tarde conversei com um engenheiro e ele também acredita em turbulência. Enquanto conversava com ele,  a grade de proteção do outro lado da ponte passarela, intacta, estava sendo retirada. Absurdo. Um elemento de proteção obrigatório por lei foi retirado por que a imprensa diz que está mal feito? Mais, num dos jornais televisivos o apresentador afirmou que a construtora deveria ser proibida de fazer obras públicas. Como é que é?
Numa das entrevistas passadas na TV um conhecido disse que não se sentia seguro ao cruzar a ponte passarela. Não acreditei.

É insegura? A pergunta só pode ser brincadeira. 

E eu envergonhado com minhas besteiradas. Sim. Continuo. Errar acontece, mas não deveria, e que sirva de lição.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Lugar e momento certos, ou errados

A execução absurda de Vitor Medrado, que com certeza estava no lugar e momento errado, me tirou fora do ar. Aliás, meio que ainda estou. Este é um exemplo horroroso que jamais gostaria de postar aqui. Doi muito.

"Nesta vida você precisa sorte, competência e estar no lugar certo e hora certa". Verdade verdadeira que já ouvi de vários conhecidos, entrevistados e exemplos. O inverso também vale, e como! 

O título deste texto saiu de uma conversa sobre o abençoado que me sinto e sou. Sou de uma das gerações do pós WWII, 1955, que  viveram o que de melhor este planeta podia oferecer e o ser humano podia deleitar sem culpa (na época). Mais, nasci classe média alta na América Latina, um dos poucos pedaços deste planeta que não foram afetados pela barbárie dos dois maiores conflitos que este planeta sofreu em sua história. Mais ainda, exatamente por esta distância dos países conflituosos do hemisfério norte, alguns países do hemisfério sul tiveram a grande vantagem de serem fornecedores de alimentos e matérias primas durante e, mais ainda, no imediato pós guerras. Argentina muito em especial e Brasil bem menos. Sou paulista, paulistano, outra sorte, além de tudo tive mais sorte ainda de ter convivido com muitos dos que construíram este país moderno, em vários sentidos, dos ditos de direita, centro e esquerda, intelectuais e outros mais. Posso dizer que, com raríssimas excessões, gente boa, trabalhadora, responsável, civilizada e cidadã.

Hoje deito todos dias e agradeço as bençãos que tive e tenho. Religioso? Não, definitivamente não. Acredito. Yo no creo en brujas, pero que las hay las hay! Ou seja, acredito que tem alguma coisa, uma magia (ou não), um estar no lugar certo na hora certa que é dfinido sei por o que ou quem.
Olhando para meu passado, confesso que não consigo entender como ainda estou vivo, qual é a "benção".: aquilo que vem a calhar, que é oportuno, benéfico, de grande ajuda; bem.

"A tua missão é que define tua sorte". Cuma? Missão? Que missão? MIssão definida pela religião, a igreja, os crentes na fé? Se tenho uma missão nesta vida eu prefiro defini-la no "Yo no creo en brujas, pero que las hay las hay!". Sorte, seria? 

Agradeço porque olho para os outros, ou pelo menos procuro olhar e fazer comparações. Confesso que não tenho como agradecer e não tenho como sentir (culpa?) pelos que não são tão agraciados (?) como fui.

Corri uma São Silvestre com costela quebrada. Não ia correr, mas fui tomar um expresso com um tio e vi a largada dos deficientes físicos, como eram conhecidos e chamados então. Passou de tudo. Meu queixo quase caiu vendo aqueles bravos guerreiros da vida, herois, passarem e a pergunta caiu na minha cabeça como uma bomba: Estou com uma única costela quebrada e fazendo cú doce (para correr)? Telefonei para meu médico e ele disse que fora a (discreta) dor, não haveria outros problemas. Lá fui eu. Só de raiva fiz meu melhor tempo. Como meu médico disse, descer a av. Consolação é que seria divertido (bem dolorido), depois esquentava e ia. Fui.

Quantas oportunidades perdi pela vida por não saber avaliar bem? Quantas vezes estive no lugar e hora certa e deixei passar. O simples fato de digitar isto me revira o estômago. Hoje tenho consciência das besteiras sem fim que fiz.
Será que em nossa educação geral somos educados para perceber as oportunidades? Tem alguma forma de se educar para esta sensibilidade? 

Um dos fatos que mais me marcaram foi a história da Escola Base. Uma série de informações erradas levaram ao linchamento de seus donos, absolutamente inocentes. Os donos estavam no lugar e momento errados. 
Vi e convivi com tristeza pela vida muitos que tiveram a mesma sorte, sorte de urubu (o de baixo caga no de cima), não necessariamente numa situação tão grotesca quanto dos donos inocentes da Escola Base. 

Meu pai foi embora deixando para trás uma vida repleta, bem vivida, mas também alguns passivos chatos que nem sei se ele percebeu ou se interessou. As informações que tive sempre me levaram a fazer um juízo. Várias informações e fatos concretos construíram uma história, a dele, e por consequência a minha. E só agora alguns fatos vieram a tona e mostraram que o que se sabia não era bem como se pensava. A história dele não foge a regra geral do que se sabia. Não sabemos nada de ninguém e religiosamente julgamos sem levar em consideração o lugar, o momento e contexto. Acabei descobrindo que parte do que sempre tive como certo sobre ele não era bem assim. Ele foi brilhante no aprovitar as oportunidades que o bom viver lhe deu, o resto talvez tenha sido o resto para ele, nunca saberei, nunca conversamos aberta e honestamente. 

O lugar e o momento certos não vem de conversas abertas e honestas, mas da capacidade de julgamento da situação que se vive. Em outras palavras, educação cultura, e uma sensibilidade específica, sem o que não se pode ter uma percepção correta do que está acontencedo e o que dali pode surgir.

Lugar e momento certo em nosso tempo está muito ligado à vitória, ao vencedor. Besteira. Óbvio que tem quem nasça para midas e os nascem para merdas, mesmo sendo competentes. Não tem nada a ver com ser ou não vencedor ou  perdedor. Quem ou que se é nesta vida vem sofrendo um julgamento muito muito raso, a beira do estúpido, se não completamente estúpido. 

Os grandes fatos históricos vem sendo revisitados, reavaliados e tendo seus fatos colocados nos devidos lugares. Muito dos vencedores (e perdedores) estão sendo reposicionados na ordem dos fatos. Alguns nem mesmo continuam sendo vencedores.

Sorte estar no lugar e momento certo da vida? Não só. Entra neste cálculo muito o fator "quem não chora, não mama" e esforço, persistência. Como sempre ouço: "os chatos conseguem mais fácil". Ou correm atrás de seu lugar e momento. Não é simples assim, pero "no creas solamente en brujerias. Pero que las hay las hay"

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Brasil, ame-o ou deixe-o?

O Brasil aceitou a troca de todas tomadas em nome da segurança de seus cidadãos. Dentre outras "melhorias" apareceu o terceiro pino, o terra. Para que serve se a imensa maioria das residências não tinham e seguem não tendo fiação terra e muito menos aterramento que funcione? Boa pergunta. Melhorou a segurança da população? É mesmo? Não é o que os números do Governo Federal apontavam. Não acabaram os gatos, nem a falta de padronização do sistema elétrico. O único lugar do planeta que usa este padrão de tomada é o Brasil. Antes fazíamos parte de um grupo de 34 países que continuam usando o padrão que aqui foi trocado na marra, na base da ameaça do Governo Federal, sem que ninguém entendesse porque e sem que houvesse uma manifestação coletiva para frear o absurdo. 
A melhor definição, trágica, de como foi eficiente a ação em nome da segurança de todos, foi o Museu Nacional ter virado cinzas.
De quem é a responsabilidade? Teria sido do silêncio geral? Da aceitação coletiva de cabaça baixa?

Em 2012 fiz um curso e nos três meses que estive fora minha casa foi invadida quatro vezes. Quando voltei descobri que mais quatro terrenos, ou casas, como queiram, vizinhos, tinham tido problemas semelhantes. O mesmo ocorrera do outro lado da rua, onde mais outras cinco casas vizinhas, ou terrenos contiguos, como queira, também tinham sofrido ação da bandidagem no mesmo período. Dos dez invadidos fui o único que fez B.O.. 

No dia do desmoronamento das obras do metrô terminal Pinheiros, homens da PM tiveram que obrigar funcionários de um escritório da rua Capri  a deixar o imóvel antes de terminar uma reunião de trabalho e sair da casa. Protestaram, mesmo sabendo que estavam praticamente pendurados na imensa cratera que seguia ruindo. 
No edifício Passareli, que também beirava a instável cratera, a rampa do estacionamento congestionou e parou, mesmo sob a ordem para todos deixarem tudo para trás e evacuar imediatamente o local. 
No meio do caos generalizado das ruas do entorno da cratera que se abrira, um morador do bairro ficou na esquina da rua Para Leme com Eugênio de Medeiros organizando o trânsito. Chegou um carro da Choque e um dos PMs ordenou que ele saísse de lá ou seria preso. O povo que estava em volta só olhando falou em alto e bom tom que ele estava ajudando e que se tentassem prender iria ter confusão. O homem continuou cumprindo meu dever de cidadão. Eu não entendi se a reação foi pelo bem de todos ou porque quem ordenara tinha sido um PM. De qualquer forma, o sujeito ficou ali só, com todos em volta olhando a confusão sem fazer absolutamente nada.

São inúmeros os casos onde o brasileiro simplesmente se omite, diz que não é problema dele, mesmo quando pode e deve agir ou reagir. Não resta dúvida que muito dos dramas que estamos vivendo são resultado direto da negativa de entender e assumir o básico: unidos venceremos. 
Como é cada um por si, e todos com medo de reagir, o pior da bandidagem não só faz o que quer e bem entende numa festa macabra, como deve estar rindo da covardia. Quem ganha? Alguém tem dúvida?

Em 1975 três rapazes de classe média foram metralhados e mortos pela ROTA 66, uma gota d'água num processo de saturação social com os acontecimentos de então, principalmente com a violência. O assassinato de Wlado Herzog no mesmo ano foi bem mais que do que simplesmente outra gota d'água, mas um transbordar do copo, da pia, da banheira... A partir daqueles e de outros fatos a população reagiu e acabou dando um fim na ditadura. 
Eu conhecia de vista os três, sendo que vez ou outra conversava com Pancho, um deles. Estive na missa de 7º dia numa igreja pequena de Higienópolis. Fato é que a sociedade reagiu e começou a por fim, pelo menos diminuir e muito, a violência policial.

A manifestação contra a violência realizada pelos amigos, conhecidos de Vitor Medrado, mais cidadãos, reuniu 400 ciclistas, o que gerou notícias em todos meios. 

"Não pode continuar assim! Temos que fazer alguma coisa!" ouví de vários. 

Em dois palitos chegaram à primeira pessoa que pode ter relação com a execução. A notícia só não teve mais repercussão porque o ex prefeito de sei lá onde encomendo um auto atentado.
E no Rio estão tentando a todo custo prender um traficante que, pelo que entendi, criou o TC, Traficante de Cristo, numa área ou bairro chamado "Israel". Acredite se quiser.

"Brasil, ame-o ou deixe-o", adesivo da época da ditadura.
Desculpem, mas este caos completo que vivemos não é uma continuação macabra de nossas opções?

   

A história do cornowagen e o que somos


Lhes apresento o "cornowagen". 
Mas não é um Fusca? perguntarão.
Sim, é um Fusca com teto solar original de fábrica. Foi fabricado no Brasil em 1966. Foram vendidas algumas unidades, mas logo foi retirado de produção. 
Por que? perguntarão.
Simples, no Rio de Janeiro apelidaram o bendito Fusca de cornowagen, a piada colou, e ninguém mais queria ter ou comprar um. 
Para mim a história do cornowagem define com perfeição o que somos nós, brasileiros, e faz tempo, muito tempo, afinal, num país tropical, quente, uma piada matar um carro que com teto solar aberto era uma delícia rodar, só aqui. A piada foi boa, o comprar a besteira como verdade foi uma vergonha, um símbolo inequivoco de ignorância e insegurança sem tamanho.  
Detalhe: não se fazia a mesma piada com os carros importados. Muito pelo contrário, aí teto solar era chique, objeto de desejo. Corno rico é outra coisa? 
O modelo da fotografia é alemão. O brasileiro tinha uma segunda barra de proteção no para-choque.

Que Brasil você quer?
Que cidade você quer?

Quantos de nós seremos ameaçados, espancados ou executados por um celular?

Não entendeu o que o cu tem a ver com as calças? 
O Brasil é o país das jabuticabas, dos jabotis que sobem em árvores. Esta é nossa escolha. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Vitor Medrado. Mais um assalto? Ou excução? Quem se importa?

SP Reclama
Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Vitor Medrado sofreu um latrocínio ou uma execução? A filmagem mostra Vitor parado ao lado de sua bicicleta, desce o carona da moto, levanta o braço e dá um tiro, Vitor cai e o atirador se abaixa para pegar algo. A cena é brutal, remete a tantas histórias que se tem ouvido cada dia com mais frequência, primeiro atira, depois assalta, violência pura. Sou de uma época que mesmo bandido sabia de limites que não devia passar - até no meio dele. Não existem mais. Por que? O que fazer? Se está dando um revide contra as ações policiais desmedidas na periferia e favelas? O que interessa, e não é de agora, é encontrar uma forma de parar com a barbárie institucionalizada e geral, e só vai parar quando soubermos o que realmente está acontecendo. Por que esta mudança de comportamento? Sem o fortalecimento da perícia, legistas e investigação não se vai conseguir dados. Sem a troca de dados entre polícias, estados e federação não teremos dados confiáveis. Sem dados corretos e confiáveis até a justiça não consegue executar a contento seu trabalho. A quem interessa? Pelas notícias políticas que temos é justo desconfiar. A questão, de novo, não é esta. É dar um basta, que não se dá. É apavorante! Apavorante não é mais a barbárie, mas o silêncio da sociedade. Então vem a pergunta pertinente que não quer calar: quem será a próxima vítima de latrocínio ou execução? Aguardem, porque virá, isto é líquido e certo. Sem dados, sem conhecimento, sem universalidade, ou, sem saber o que está realmente acontecendo, mostramos que aceitamos isto tudo como normal.