sexta-feira, 20 de junho de 2025

O que eu pensei sobre minha vida estava errado

O que eu pensei sobre minha vida estava errado. O que estava errado? Muita coisa. O peso dos meus erros diminuíram, (diminuíram?), quando descobri, através de uma música do Sting no disco Brand New Day, que o Corão fala sobre o valor e aprendizado que se pode tirar das dores, dos sofrimentos. Com certeza os contratempos ensinam. A questão é o tamanho da bagaça, para usar uma expressão bem pop.

Mas precisava ser assim?

Estou desmontando o apartamento de meu pai, que morreu. O relacionamento com ele foi ruim. Não sei se ruim é a palavra certa, mas definitivamente não foi uma relação fácil. Ruim, eu diria. Tenho consciência dos defeitos dos dois, meus e dele. Quando jovem joguei tudo nas costas dele em desabafos e atitudes que me arrependo, muito. Talvez até tivesse razão, e muitas vezes tive, mas a perdi não calando ou metendo a boca no trombone, não sabendo comunicar devidamente, nem com quem de direito.

Comunicar se! Este é o segredo da vida. Errei, mas tenho um bom desconto de ter vivido numa sociedade onde a comunicação é bem precária, digo a boa comunicação, não o frequente vômito inconsequente de palavras.

Num jantar para acabar com dois anos de distanciamento total, no meio de explicações que não eram pertinentes, perguntei a ele quem era o adulto ali, quem era o que deveria ter experiência de vida para não se chegar até uma situação como aquela. Ele ficou mudo. Minha tia dizia que ele era o eterno adolescente. 

Que seja, sei das minhas razões, mas absolutamente nada justifica os erros que fiz. Tereza sempre vem com "Quantos anos você tinha? Você não tinha maturidade...". Eu não aceito, não me dou ao direito de olhar para meu passado e aceitar com tanta naturalidade erros grosseiros. Não posso, não consigo. 

Agora espero que minha experiência sirva para algo, alguém ou alguma coisa. A vida é, ou pelo menos deveria e a ser, um passar de bastões, feito da maneira correta. Em outras palavras, comunicação de forma e no momento apropriados. Ou...

Agora, desmontando o apartamento, tenho certeza que desperdicei minha vida numa pressão que não valia a pena. Mesmo com outras pessoas, aquelas com quem tive bons momentos, eu poderia ter me saído melhor, muito melhor. Faltou maturidade, faltou educação e treinamento para fazer a coisa correta, ou pelo menos minimizar deslizes. Faltou orientação. "A gente vai amadurecendo", dito popular, para mim é comodismo calhorda, de quem acredita que vai aprendendo só com os erros, muitos inaceitáveis. Comodismo principalmente de quem pode e deve orientar, mas tira o seu da reta e senta no sofá. O inaceitável é inaceitável.

Acumular razões, emoções e coisas é fácil, biscoito, como dizíamos. Desmontar a bagunça é outra história, nada fácil. Vivenciei um amigo desmontando suas verdades nos últimos meses de vida. Partindo dele, cabeça dura, para mim foi uma surpresa, pena que muito tarde. Pela vida ele distribuiu riquezas, conhecimentos, ensinamentos, como poucos o fizeram, mas de uma forma dura, grosseria com muita frequência, difícil para quem estava próximo. Poderia ter sido muito mais proveitoso.

Fiz besteira adoidado pela vida. Se arrependimento matasse... Algumas besteiras ainda posso pelo menos me desculpar com quem as sofreu, outras não, até porque é muito difícil achar uma justificativa que se encaixe na palavra "minimizar". Erros de relacionamento e principalmente erros que dizem respeito ao pragmatismo necessário da e para a vida.

Um amigo com quem trabalhei me disse que se eu tivesse vivido fora do Brasil teria tido uma vida muito mais fácil, em todos sentidos. Primeiro, "se"? Então esquece. Nasci e vivi aqui. Tenho certeza que muitos dos meus erros são normalidade desta terra, mas não se justificam, pelo menos não para mim mesmo. Nada justifica.

Um dia olhei no espelho do banheiro e me vi de verdade. Uma coisa é o reflexo nosso de cada dia, outro é cair a ficha de quem está sendo refletido. Foi um tranco, daquela vez um daqueles trancos que faz o motor pegar e o carro desembestar para felicidade da vida do motorista e passageiros. Talvez agora eu deva parar de olhar no retrovisor. Sim, estou fazendo isto. Ou tentando. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário