segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Monocle



À Rádio Eldorado:
Por estar escrevendo um texto sobre a qualidade de revistas especiais, no caso - https://monocle.com/magazine/ - me lembrei da minha chegada no aeroporto Charles de Gaulle, 2012, quando num corredor estavam penduradas enormes 'homenagens' a mulheres cientistas premiadas, o que me deixou profundamente emocionado e com uma inveja sem tamanho do que acontece lá fora. Acabo de descobrir que o prêmio oferecido pela UNESCO com apoio da https://www.fondationloreal.com/ é oferecido também no Brasil. Dez anos depois! Ninguém fala uma palavra.

Fiquei hospedado num apartamento no Rio e procurando o que ler dei de cara com umas revistas Monocle que nunca tinha visto e sequer sabia da existência. Lá fora há público para revistas que falem sobre assuntos ou abordagens fora da imprensa para o grande público. É uma delícia lê-las, descobrir realidades que sequer imaginamos nestas paragens.
São escritas para um público que se interessa pelo que acontece no mundo além das besteiras do dia a dia, mas que não tem interesse em discursos fechados ou intelectualizados. Uma coisa é leitura gostosa com outras visões com outras abordagens, algumas mais profundas, outra é chato escrevendo para impressionar outro chato. De vez em quando me vejo neste mundo de chatices. De vez em quando é ótimo.

Achei as capas bem bacanas, puxei da estante, ao pegar na mão chamou atenção o peso das Monocle, resultado da gramatura do papel, o que custa caro. A programação visual das páginas é limpa, clássica e moderna ao mesmo tempo, com fotos e ilustrações bem definidas. Não é uma revista é uma revista-arte, mas tangencia a ideia. 
Já o conteúdo... não me impressionou tanto, pelo contrário, fiquei um pouco decepcionado. Tem um ou outro artigo interessante, mas no geral... bobagens triviais, de qualquer forma é bem gostosa de folear.
Procurei a origem, quem edita, e não encontrei. Imagino que seja a revista servida na primeira classe da Swiss Air. Nas páginas finais tem produtos a venda com preços, o que é típico de avião; enfim, tem cheiro de revista de avião.

A carta do editor "Por que os hoteleiros não podem escolher o que os ajudou a construir seus negócios em primeiro lugar, em vez de mudar para pior?", tem como subtítulo "O que eles tentaram fazer naquele recanto não tem nada a ver com a história daquele lugar e está errado". O texto é sobre a volta da equipe da revista para um hotel próximo de Nápoles que foi reformado e perdeu as características que o fizeram ser o bom negócio que sempre foi em uma modernização inapropriada. 
No meio da confusão que estava no apartamento do Rio, com gente falando em volta, li o texto sem a devida atenção e o que me levou a imaginar os hotéis que são construídos em belíssimas áreas ambientais, algumas protegidas por lei, que é justamente o que os faz serem bons negócios, mas no final acabam destruindo a belíssima natureza que fez sua fama e sua rentabilidade. 
Mais tarde, com calma e silêncio me volta acabei relendo o texto do editor da Monocle dei com uma outra questão: a frequência com que aqui no Brasil em vez de consertar ou modernizar com o devido cuidado se destrói ou deforma o que é bom e tem muito futuro.
Tereza sempre cita a belezura que era a velha Pindamonhangaba hoje completamente deformada pelo que chamam de modernidade. Das casas coloniais e da virada do século resta quase nada. Joinville, uma poesia de cidade com tradições alemãs, foi brutalmente e continua sendo descaracterizada. O que fizeram com as nossas praias é uma barbaridade. A última vez que estive em Cambuquira, sul de Minas, Circuito das Águas, vi modernizações e confesso que tenho muito medo que se perca o singelo art déco de sua época de ouro. E assim vamos. 

Revistas dirigidas para um público especial como esta são relativamente comuns fora do Brasil. É fácil encontrá-las em bancas de jornal ou livrarias.

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