segunda-feira, 28 de março de 2022

Quebrar o navio? Ideia de bobo.

Acordei muito cedo e na escadaria do andar de baixo ouvi um senhor conversando com dois jovens sobre o absurdo do navio não parar em Tenerife. Não deu para entender todo o discurso, mas ficou claro que o senhor estava tocando fogo no circo. Em resposta os jovens disseram algo como "eles pensam que brasileiro é bobo". 
Logo depois no café da manhã ouvi um diz que diz que o grupo de revoltosos vai quebrar o lobby do navio para forçar a parada em Tenerife.
Pelas conversas está claro que a maioria gostaria de parar em Tenerife, mas é absolutamente contra a desagradável bagunça ocorrida.

"Eles pensam que brasileiro é bobo". De minha parte acho que um povo que imagina que "eles pensam que somos bobos" está fragilizado. Nós, brasileiros, estamos nos fazendo de bobos, não eles, disto só tem dúvidas quem é muito ingênuo, vide nosso patético caos de cada dia. 

Vão quebrar o lobby e o navio se não parar em Tenerife? Se acontecer, que os idiotas sejam entregues às autoridades espanholas. Dizem que eles sabem cuidar "carinhosamente" deste tipo de gente.

Alguém que tenha um mínimo de instrução sabe que pela Lei Internacional o comandante é a autoridade máxima, com poder de decisão definitiva e incontestável, ponto final.

Meu herói é Fernando Gabeira. Saiu para o pau de verdade, havia boas razões para revolta e ação, mas amadureceu, reviu seus atos e descobriu que o uso da inteligência, do pensar, bom senso e diálogo trazem resultados bem mais produtivos e perenes.

Existem formas e formas de protestar. 

Protesto necessário e divertido foi o primeiro passeio de ciclistas nus pela Avenida Paulista. Divertido até a hora que André levantou a bicicleta e começou a gritar palavras de ordem, o que tinha sido previamente acordado que não aconteceria. Terminou em pancadaria, bomba de gás, no fim de uma manifestação que mundo afora deu resultado por ter muita visibilidade, melhor, voyeurismo, e principalmente ser pacífico, ou seja, permitir o olhar e dar tempo para pensar. "Todo mundo nú. Oba! Todo mundo nú. Oba!..."

Em Buenos Aires, em plena ditadura, fizeram uma genial ação "terrorista si, pero sin perder la ternura". Assaltaram a agência bancária vizinha de muro com a Delegacia Central da Polícia. Fizeram tranquilamente o assalto, sem tiros ou gritos, avisaram os funcionários e clientes que esperassem um tempo e estariam livres. Os terroristas se foram, o gerente se sentiu seguro, saiu deu dois passos, entrou na Delegacia Central, relatou o assalto e foi espancado pelos policiais que acharam o fato inconcebível, impossível, uma ofensa às autoridades. O assalto só foi aceito pelos policiais da Central que se recusavam a confirma-lo no banco quando chegaram militares que haviam retirado uma bandeira do grupo terrorista hasteada a duas quadras dali perguntando "Qué passo?" (O que aconteceu?). Óbvio que a ação não foi publicada em nenhum jornal, rádio ou TV, mas correu boca a boca e ganhou forte simpatia e apoio da população.

Um dos carnavais cariocas das Escolas de Samba mais marcantes foi quanto a Mocidade Independente de Padre Miguel do gênio Joãozinho Trinta foi proibida pela Igreja de sair com alegorias que incluíam Cristo. A inteligência de Joãozinho deu o xeque mate: cobriu tudo o que tinha sido proibido com plástico preto e foi para a avenida. Memorável, sucesso absoluto naquele e outros carnavais, um cala a boca inesquecível que ecoa até hoje pela igreja, umas três décadas depois. 

Tudo é uma questão de inteligência.

Correio Brasiliense - Cecília Sóter
postado em 28/03/2022 13:08 / atualizado em 29/03/2022 16:51
Esta matéria do Coreio Brasiliense está longe de espelhar o que aconteceu naquela noite. Caso estes 100 passageiros, como diz a matéria, tivessem conseguido mais adesão a situação no navio passaria de bem tensa para colocar a segurança de todos em risco. A simples ameaça de quebra quebra em alto mar está muito longe de ser uma brincadeirinha. Vou mais longe, alguns mais exaustados continuam colocando fogo no circo, agora instigando tripulantes.
Infelizmente o acontecido é reflexo da insanidade social que vivemos atualmente no Brasil.   

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