domingo, 5 de janeiro de 2020

Aumenta o número de ciclistas mortos no Brasil...

O Jornal da Cultura (última notícia aos 45:44) e o Bom Dia Brasil trouxeram matéria sobre o aumento do número de ciclistas mortos no Brasil com dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego. Faço comentários em cima do que foi dito.
Os deslizes do jornalismo, principalmente o brasileiro, em relação ao tema "bicicleta" são praticamente regra. Infelizmente não cruzam informações e dados, o que deveria ser obrigação de qualquer jornalista. 

Jornal da Cultura
  • "O Brasil tem 70 milhões de ciclistas..." - Bem, talvez o Brasil tenha 70 milhões de bicicletas, provavelmente número estimado pelo setor em base ao cruzamento de uma série de dados de produção, vendas, mais reposição de peças. É ridículo, mas o Brasil não tem dados oficiais sobre o número de bicicletas e usuários já que o IBGE não os inclui em suas pesquisas. Ter 70 milhões de bicicletas significa que teríamos aproximadamente um ciclista para cada 3 habitantes, o que sinceramente duvido. É certo que temos muito mais bicicletas que se possa imaginar e que ainda deve ser o veículo mais usado pelos brasileiros, não superado pelas motos, mas 70 milhões parece bem além da realidade. Ademais bicicleta é uma coisa, ciclista é outra, são 70 milhões do que? De qualquer forma faltou aos que forneceram o número dar um pulo até qualquer garagem para ver quantas bicicletas se encontram largadas e empoeiradas, quantas estão com pneus cheios ou com jeitão que rodaram ultimamente. 
  • "A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego levantou 10.000 internações registradas no SUS por atropelamento (de ciclista) desde 2012". Primeiro, não é atropelamento, não existe atropelamento de ciclista, mas vítima de colisão. Voltando a repetir o mesmo de sempre: pelo CTB bicicleta é um veículo, o ciclista é condutor de um veículo, portanto é colisão entre veículos com vítima. Ainda pelo CTB, só pedestre sofre atropelamento. 
  • As 10.000 internações registradas em 7 anos podem e provavelmente devem ser muito mais. Neste imenso Brasil nem tudo é registrado, não temos um padrão nacional de registro, e muitas vezes o acidentado foi internado sem causa determinada, ou não diz, se recusa a dizer, ou até omite propositalmente a causa da internação. Coleta de dados sobre acidentes de trânsito aqui no Brasil está muito longe de ser confiável. 
  • Finalmente, 10.000 em 7 anos é muito ou pouco? Como número assusta, deveria ser zero, mas o que este número, 10.000, representa de fato no contexto geral? Comparado com outros países o que significa realmente? Qual o perfil do atendimento e sua gravidade? Quais as causas? Custos? Tempo de atendimento? Não conta PA? O detalhamento é o que interessa porque só com ele é possível criar uma política eficiente de redução de acidentes. 
  • Tivemos um pouco menos de 35.000 mortos e 400.000 sequelados no trânsito brasileiro em 2018. Fazendo contas, 10.000 internações de ciclistas em 7 anos fazem um pouco menos de 590 internações/ano. Só? Eu acho pouco, muito pouco. Não serão 10.000 ao ano? Mais, falam em 10.000 internados; o número de sequelados sempre é muito mais baixo que o de internados. 
  • Em 2012 foram atendidos 1064 ciclistas, até outubro de 2019 foram 1356, um crescimento sensível de acidentados atendidos, mas qual foi o crescimento do número de ciclistas neste período? 
  • São 8550 ciclistas mortos por ano nestes 7 anos, de 2012 a 2019, quase 3.3 ciclistas por dia. Quantos ciclistas/dia circulando temos no Brasil? Quantos motociclistas/dia temos? Como os acidentes com ciclistas estão em relação aos outros modais? 
  • Por onde circulam, que horário, com qual bicicleta, quantas falhas mecânicas, quantos erros do ciclista, quantos erros dos outros condutores, quantas falhas de engenharia de trânsito, onde ocorreram os acidentes, porque, como, quando....? Qual a curva de crescimento? O que se tira do comparativo com outros modais de transporte? 
  • O Jornal da Cultura entrevistou Daniel Guth, um dos mais preparados e inteligentes ciclo ativistas, que fala sobre a falta de investimentos e que se deve ter uma política pública com práticas conhecidas. Eu teria completado: práticas conhecidas aqui e principalmente lá de fora. Absolutamente correto. Política pública deve incluir educação também para os ciclistas, o que está no CTB não com estas palavras, mas está claro: educação. Daniel fala sobre ciclovias. Sou contra segregação desnecessária, o que vem ocorrendo com muita frequência em todas as localidades. O correto seria acalmar o trânsito nos internos de bairros para aumentar a segurança de todos, não só dos ciclistas. 
  • Na bancada de comentaristas Luciana Garbin, jornalista, falou que a bicicleta tem que ser vista como meio de transporte e que se deve evitar gastos com ciclovias de laser, o que está absolutamente correta. E que se deveria ter uma rede (de ciclovias) em toda a cidade. Mas, de novo e sempre, a palavra ciclovia é a solução mágica. O número de ciclistas vem crescendo..., mas não se dá números, que é o que importa. 
  • Jaime Pinsky, historiador, diz que o carro deve desaparecer e aqui no Brasil a gente não percebe (esta realidade mundial). Se o carro vai desaparecer, algo que já vem ocorrendo em países civilizados, porque não pensar a frente e começar a preparar nossas cidades para esta nova realidade da qual não escaparemos? Jaime Pinsky também falou sobre ter ciclovias que venha da periferia (para o centro imagino eu). Infelizmente não funciona assim. Ter um sistema cicloviário que abranja toda a cidade é o desejável, mas a história de mais de 100 anos da bicicleta diz que a distância percorrida pelo ciclista via de regra está abaixo dos 5 km. São e provavelmente continuarão sendo poucos os que farão 20 km pedalando para ir ao trabalho e 20 km pedalando para voltar para casa. Esta função, de longa distância, deve ser exercida pelo transporte público.
Bom Dia Brasil:
  • Calçada é para pedestre, está no CTB. O depoimento do ciclista que prefere pedalar na calçada além de apontar uma ilegalidade e aponta para falta de civilidade. Calçada, em várias situações, é mais perigosa que pedalar na rua. O ciclista tem um pequeno ângulo de visão e fica muito exposto a carros ou pedestres saindo de edifícios, casas ou negócios. Por outro lado, o Brasil é o país dos postes, o que é um constante obstáculo para a boa visão do motorista, que normalmente é lá na frente por causa da velocidade. Chega nas esquinas o ciclista fica invisível. Um dado antigo mostrava que a maioria dos atropelamentos (pedestres) ocorria a menos de um metro da calçada. Postes provavelmente tem sua responsabilidade aí.
  • A Globo sempre fala sobre capacete, vendendo uma solução mágica para a segurança dos ciclistas. Não é. Por favor vejam a documentação científica a respeito e falem sobre o capacete com a responsabilidade que todo meio de comunicação deve ter. 
  • Luz piscando em veículos é regulamentado pelo CTB, e é ilegal ter sinalizadores em bicicletas. Desconheço que tenham mudado a lei, que até ontem dizia que sinalizadores piscantes só são permitidos para ambulâncias, bombeiros, policias e veículos com autorização especial. 
Temos 5.570 municípios no Brasil, 324 com mais de 100.000 habitantes, 200 considerados médios com até 300.000 habitantes, 40 médios-grandes com até 500.000 habitantes, e 17 consideradas grandes, com mais de um milhão de habitantes, fora as metrópoles e áreas metropolitanas. Temos mais 1.720.700 km de rodovias. Só o Município de São Paulo tem mais de 17.000 km de vias asfaltadas, mais 65 logradouros sem pavimentação. São 65 milhões de veículos... Dá pra fazer uma série de cálculos, com uma série de variantes em cima destes números.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. Comentário excluído por estar escrito em árabe, creio eu, o que o faz incompreensível, e sem qualquer outra razão além

    ResponderExcluir