quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Troca troca


Consertar o eixo traseiro quebrado e um pneu furado, nada mais. Infelizmente a bicicleta foi montada com cubos roletados chineses que tem um eixo muito fino e frágil, difícil de ser encontrado com blocagem (trava rápida), mas passível de troca se a opção for com eixo de rosca e porca. Cai na besteira de dizer para o dono da bicicleta, filho de um amigo, leva-la para a bicicletaria e pedir para trocar o eixo por um com porca. Fui buscar a bicicleta e para minha imbecil surpresa veio o óbvio: a bicicleta com dois cubos Shimano novos, o traseiro de cassete, relação nova; tudo trocado. “A troca foi autorizada”, respondeu o funcionário. O que deveria ser um conserto de menos de R$ 50,00, quando muito, custou a bagatela de R$ 275,00. Qual a moral da história?

Como a maioria dos ciclistas não faz a mais remota ideia de como funciona uma bicicleta, fica fácil para o funcionário da bicicletaria fazer um simples conserto se transformar numa proveitosa troca. Conserto da transmissão é o clássico. Um trouxa (como diria Harry Potter) entra e diz que “as marchas estão pulando”. Depois de ouvir uma longa explicação sobre a rebiboca da parafuseta o conjunto completo do sistema de marchas vai para a troca. Fácil como tirar pirulito de bebe! Em muitos casos uma boa regulagem ou a simples troca da corrente resolveria o ‘causo’. E assim vai.

O que facilita este troca-troca (sem sacanagem) é que há muita peça que sai de linha ou fica difícil de encontrar nos bairros chiques; o que não quer dizer necessariamente que não exista reposição ou não tenha conserto. Hoje temos basicamente dois tipos de bicicletarias: as que trabalham com material de segunda linha porque sabem que o cliente acha normal a bicicleta quebrar a cada pedalada; e as que forçam trocas porque sabe que a maioria dos clientes aceita.

Quem administra bem uma bicicletaria sabe que trocar peças é mais rápido e dá mais lucro que ficar lutando contra um rejuntado de peças de baixa qualidade, o que não deixa de ser uma bicicleta barata, que nunca fica perfeita e acaba voltando porque o conserto não ficou bom. Felizmente o público está tomando consciência que bicicleta não tudo igual e que as baratinhas (sem trocadilho) são uma fria, um péssimo negócio, aliás, um verdadeiro risco para saúde. Ótimo, mas esta mudança está mudando o perfil dos mecânicos, que estão virando trocadores de peças e estão perdendo a capacidade do um bom jeitinho brasileiro. O setor está mais sofisticado e ao mesmo tempo vem empobrecendo suas habilidades mecânicas rapidamente.

O número de reclamações que tenho ouvido vem crescendo, mas há uma lanterna no fim do túnel. Algumas bicicletarias afeitas ao troca-troca empurra-empurra estão perdendo clientes. Acredito mesmo que brasileiro está aos poucos aprendendo a não ser trouxa.

Um comentário:

  1. Sinceramente o brasileiro esta cansado de ser trouxa e tem se mobilizado para mudar.

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