É ou não
relevante escrever sobre a Ciclo Faixa de Lazer da Avenida Paulista recém inaugurada
e tão fartamente noticiada? Eu prefiro bater palminhas de foca, só não sei se
para a iniciativa da Prefeitura ou para a postura da população.
A população de
São Paulo, leia se classe média motorizada, adora pedalar segregada do ‘perigoso’
trânsito nos fins de semanas. Sente se protegida. A CET concorda. Bicicleta
perigosa, motorista malvado! Isto demanda
da Prefeitura a criação de mais ciclo faixas e ciclovias de lazer. Há uma luta
de foice entre os responsáveis pelo trânsito da cidade. Uns poucos querem a
bicicleta, opção de transporte. Há os que acham que bicicleta não passa de moda
e lazer, e os que simplesmente não querem ouvir sobre esta besteira, que é um
bocado de gente.
Projetos como
estes voltados exclusivamente para o lazer, com hora e local marcados aos
domingos, aumenta a pressão sobre técnicos, funcionários e chefes que se
recusam a aceitar a opção e direito pela bicicleta, e ao mesmo tempo aumenta a
força da demanda reprimida, o que é verdadeiramente um perigo. Imagine se, por
alguma razão qualquer, dá a louca neste pessoal domingueiro e todos eles, os
aproximadamente 100 mil, decidem no mesmo dia ir para o trabalho pedalando. É
uma imagem muito simpática, mas provavelmente seria um caos. A alegação da CET (e
autoridades) que as ciclo faixas tem um caráter educativo é historinha para boi
dormir, já que na vida real o ciclista jamais vai encontrar qualquer situação
semelhante a daquela parafernália de custo alto. Soltar este pessoal no meio do
trânsito malvado não é muito recomendável.
Uma das razões
para que o povão se sinta tão seguro segregado é que eles creem que numa ciclo
faixa ou ciclovia não há acidentes. Não há acidentes? Não é divulgado, o que é
outra história. O povão gosta da festa e não quer saber das mazelas. “Tira do
meio do caminho (quem está estendido no chão) para não atrapalhar a passagem e
vamos em frente que o domingão está bom”.
No domingo do
dia 02 de Setembro, na passarela EMAE / Vila Olímpia de entrada/saída para a
Ciclovia Pinheiros, um ciclista vestindo sapatilhas de clipe escorregou na escada e
fraturou feio fíbula e perônio próximo ao tornozelo. Urrava de dor. É óbvio que
o pessoal passava por cima do acidentado (“Que horror!”) e ia pedalar tranquilo,
mas isto é bem Brasil. Uma série de confusões fizeram que o resgate só fosse
realizado depois de uma hora e meia. Acidentes acontecem, mas não há qualquer
interesse que sejam divulgados. Há muitos relatos sobre acidentes nas Ciclo Faixas
de Lazer obviamente não divulgados e menos ainda oficializados.
Eu não gosto
destas Ciclo Faixas de Lazer, mas reconheço que poderiam ajudar no processo de
transformação da cidade. Eu gosto menos ainda do desprezo que a população, no
geral, tem pela sua cidade, pelo seu próximo, e porque não dizer, por si
próprio. A maioria quer usar a cidade para seu próprio bem, ou seja, usurpar.
Quem é sério, capaz e inteligente dentro da administração pública e quer o bem
comum acaba sem apoio e encurralado por esta usurpação. Projetos
importantíssimos para os paulistanos, como o sistema cicloviário de bairros da
periferia, como Jardim Helena, Grajaú e Brasilândia, onde o número de ciclistas
circulando é muito alto, acabam afetados pelos domingueiros; o que por sua vez
acaba atrapalhando a implementação de melhorias definitivas para pedestres e
ciclistas nas mesmas áreas onde foram implementadas as ciclo faixas de lazer.
Tem opção? Várias.
Basta olhar as experiências realizadas em outras cidades do Brasil e de fora.
Esta balela que somos diferentes e que aqui não dá certo está entre a burrice, covardia
e a pura má fé. O problema é que sempre tem um povo batendo palmas para
qualquer coisa que pareça divertido. E assim vamos...
Arturo,
ResponderExcluirMais uma vez sua análise vai de encontro ao que tenho observado e aos meus valores. Ciclofaixa aos domingos e feriados, nem vou comentar....quanto à ciclovia tenho ressalvas a fazer e na maioria das vezes sou contra. Não devemos segregar, o código de trânsito existe e é muito claro, precisamos somente fiscalizar, educar as novas gerações e punir os infratores, inclusive ciclistas inconsequentes. Para ilustrar voltemos aos seus "post's" enquanto esteve na França recentemente. Abçs e obgd.
Neto.