SESC, que é uma referência em qualidade de serviço ao público e programação, mais uma vez se volta a questão da bicicleta e sua inclusão na cidade. Esta relação com as bicicletas vem desde o início do montain bike, por volta de 1990. Começando pelo SESC Ipiranga, com seu Clube do Pedal, que iniciou o processo, hoje vários SESCs tem ações para estimular novos ciclistas: palestras, exposições, passeios, oficinas. Abaixo segue mais uma programação, na qual tenho o prazer de participar.
Arturo Alcorta, Escola de Bicicleta, sobre a vida, rodando um pouco por tudo
quinta-feira, 31 de maio de 2012
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Amsterdã
Amsterdã vai
muito além do centro histórico – turístico rico e de rara beleza que está no
imaginário da maioria. Nada a ver com algumas ruas onde se encontra prostitutas
sentadas em vitrines, com cafés que servem maconha. Ai Amsterdã não difere em
praticamente nada do resto do mundo; a não ser que jogam aberto, dentro da lei
e tiram proveito da situação com inteligência, ordem e respeito. O grande
charme é que de fato uma cidade livre, como talvez nenhuma outra.
Amsterdã, como
todos os Países Baixos (Holanda), sempre usou a bicicleta no que ela oferece de
melhor: modo de transporte. Como no resto do mundo, no início dos anos 70 o
carro estava em alta e a bicicleta em baixa. Com a crise do petróleo de 1972 a
bicicleta foi retomada, a sério. Um parto dolorido, com problemas de trânsito,
ciclistas machucados e mortos, protestos, pressões dos proprietários de
automóveis... Enfim, a história se repete, mas quem tem coragem e usa o
bestunto acaba na frente. Enfim: Amsterdã hoje é conhecida mundialmente como a
cidade das bicicletas. Há muitas cidades que têm o mesmo índice de uso, umas
poucas até maior, incluindo no Brasil, mas Amsterdã ganhou a fama, e com isto
muito dinheiro com turismo.
Já estive aqui
três vezes, o que dá uns quase 40 dias caminhando, pedalando e muito bonde.
Hoje conheço boa parte da cidade, do centro à periferia. Caminhar ou pedalar no
centro histórico está muito chato, algumas horas até desagradável, por conta da
quantidade absurda de turistas. Meus últimos três dias foram feriado na Europa
e algumas ruas pareciam uma 25 de Março em época de Natal. Desagradável. Infelizmente
este público não conhece nem tem interesse no resto da cidade, que em alguns
pontos é de uma riqueza urbana difícil de encontrar. Quem gosta de art-decot
tem um prato cheio. Ou arquitetura moderna inteligente, uso do solo, mobiliário
urbano, tratamento paisagístico... Amsterdã tem uma qualidade de vida de dar
inveja. Escolha seu modo de transporte, que não um carro ou moto, e divirta-se
muito.
A grande mudança
na paisagem de Amsterdã é a quantidade de scooter pequenas, abaixo de 50CC,
trafegando nas ciclovias; o que me incomodou demais. Um policial de trânsito me
disse que a partir do ano que vem será obrigatória carta para condução, o que
não creio que resolva problemas futuros que certamente irão aparecer. Ciclovias
devem ser exclusivas para ciclistas, principalmente os mais sensíveis e frágeis,
como crianças, mulheres e idosos. As pequenas scooter devem rodar junto ao trânsito
motorizado, até para forçar a diminuição geral da velocidade em ruas e avenidas
e aumentar a segurança de todos. Espero que um dia seja resolvido o problema da
poluição sonora delas, que é muito alto. O mesmo para algumas motos. Em cidades
silenciosas incomoda demais. Amsterdã é deliciosamente silenciosa.
O trânsito de
bicicletas é grande, rápido e fluido. A maioria pedala forte e usa da melhor
forma possível a inércia da bicicleta. Tudo vai se ajeitando e usasse pouco os
freios, pelo menos onde não há semáforo. Onde há, se estiver vermelho, a
maioria para e espera normalmente, mesmo entre os esportistas e suas bicicletas
de estrada em ciclovias de bairro ou periferia. Como em qualquer país
civilizado a lei e os policiais são respeitados. Quem não conhece pensa que é
fácil pedalar ali, mas não é tão fácil. Conversei com vários turistas que
alugaram bicicleta e boa parte estava assustada.
Peguei uns dias
bons, até um pouco de sol. É divertido sentar num bar de esquina, pedir uma
ótima cerveja, e ficar olhando as belas mulheres passando em suas bicicletas.
Muitas estão com mini saias e suas maravilhosas pernas de fora. Não me lembrava
que as meninas de Amsterdã fossem tão lindas. Algumas são imensas para o padrão
feminino brasileiro e é fácil encontrar as que tenham 1,85m ou mais. É raríssimo ver uma gorda (ou um gordo). É
muito provável que o intenso uso da bicicleta, desde muito pequenos, tenha a
ver com a beleza dos corpos claramente sadios.
Amsterdã tem um
bom espírito. Seus habitantes são educados, simpáticos, demonstram estar bem
resolvidos, felizes. É uma cidade é leve, agradabilíssima (pelo menos com
temperaturas quentes). O que se vê claramente em cada rosto, palavra,
expressão, é fruto de uma cidade, um país, que foi criado e existe porque teve
lutar contra a água para existir. Só se controla a água quando todos estão
juntos envolvidos no mesmo trabalho, destino. Todos! Para isto é necessário
conviver e tolerar, o que a bicicleta naturalmente oferece ao usuário; ao
contrário do transito motorizado e individual que só isola. Por incrível que
possa parecer, os Países Baixos tem um dos maiores índices de motorização do
planeta. A opção pela bicicleta é resultado de racionalidade.
Bom, enfim, “I
Am sterdan”. É uma daquelas experiências que não podem passar em branco na
vida.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Bruxelas, Belgica, bondes e velhinhas ciclistas
Estou em
Bruxelas e na TV5, francesa, passa um especial sobre policiais que ficam
girando por Paris em dupla, numa moto, a paisana. Ficam caçando contravenções,
desde uso de celular ao volante até entregador de pizza pilotando scooter e
furando sinal vermelho para entregar mais rápido.... Só se apresentam na hora
de mandar parar o carro ou moto, o que o pessoal faz imediatamente. Como já
contei, por aqui não tem moleza, conversa, brincadeira. Policial é educado e tem
autoridade, que é respeitada; o que não pode ser de outra forma.
O trânsito de
Bruxelas é mais agressivo que o do Centro de Paris. É lógico que param para
pedestre, que respeitam os poucos ciclistas, mas aceleram com mais vontade e
descontração. Assisti um pequeno acidente estúpido que resultou em portas
abrindo, pessoas conversando em voz baixa e resolvendo o problema com calma.
Civilizado.
Parte da
circulação de Bruxelas é por bonde e eu estou me divertindo. Não é uma questão
de saudosismo, mas do que acredito que deve ser uma cidade. Bonde (e ônibus
elétrico) não costumam deixar um rastro de degradação que nossas linhas de
ônibus deixam. Ok! Aqui o transporte é pensado para pessoas, seres humanos. Não
se transporta gado, como fazemos no Brasil. De qualquer forma eu prefiro o
bonde, mesmo que os custos de implantação sejam bem mais elevados. A qualidade
de vida resultante é outra.
Em Bruxelas
bonde vai pela rua, serpenteia pelo bairro, desce para as profundezas, segue como
um metro, volta para a rua, e assim vai.
A forma como é aproveitado o espaço disponível nas vias públicas é
diferente do que fazemos em nossas cidades brasileiras. Quando voltar vou
procurar entender melhor o que realmente acontece e ai escrevo algo.
Ontem vi descer
de um bonde duas bicicletas, uma aro 26 com alforges de cicloturismo e uma
dobrável aro 20com com reboque de carga acoplado, isto em pleno horário de
trabalho. Gostaria de estar dentro do bonde na hora que o ciclista colocou o
trambolho articulado lá dentro. Com certeza o reboque ficou no meio do
corredor, a circulação deve ter ficado quase impossível, mesmo o bonde sendo
dos mais modernos e mais largos. Não foi a primeira vez que vi volumes grandes
sendo transportados em ônibus e bonde, como duas malas jumbo transportados por
uma brasileira em horário de pico, mas o sujeito exagerou. Veja a foto. Bicicletas
dentro de trem normal é comum, principalmente em curtas distâncias. Em TGV, os
de alta velocidade, é necessário uso de mala-bike e pagar uma taxa de 10 Euros.
Tenho encontrado
até senhoras, algumas já na casa dos 70, fazendo cicloturismo. Alguns usam
bicicleta elétrica, mas só acionam o motor em raras exceções. Muitos idosos,
alguns provavelmente na casa dos 80 e até 90, usam a bicicleta como modo de
transporte. O ritmo de alguns é bem forte. Vai atrás... Mas colocar a bicicleta
no trem ou bonde só vi jovem fazendo.
Amanha chego em
Amsterdã, minha paixão. Não por causa das bicicletas, mas pelo espírito livre
da cidade. Quero voltar a sentar num bar de uma das ruas centrais por onde só
pode passar bonde e bicicleta. A diversão é ver os ciclistas distraídos que
deixam a roda dianteira entrar nos trilhos, o que é relativamente frequente. Tombos
também. De certa forma bonde e bicicleta não convivem em plena paz.
Provavelmente a
velhinha holandesa da cadeira de rodas com um motor 2 tempos provavelmente já deve
ter morrido. Ela circulava pelas ciclovias do centro de Amsterdã a pleno
acelerador numa mão e batendo a campainha de bicicleta com a outra. Ai de quem
não saísse da frente! Na minha primeira vez fiquei olhando para rua a procura
de uma Mobilite alucinada e só quando ela estava praticamente tocando minha
traseira é que olhei para trás. Se não tivesse jogado a bicicleta no meio dos
pedestres, que riram, ela teria me derrubado.
Paris, França, eleição
No domingo rodei de bicicleta um pouco mais de 40 km, em pleno dia de eleição presidencial. A cidade estava bem mais agitada que o normal. Tirando uns poucos cartazes de tamanho padronizado colados aqui e ali, a eleição é muito discreta. Excepcionalmente havia Velib disponível. Normalmente aos domingos é muito difícil encontrar alguma Velib disponível, a qualquer hora do dia. Estão todas pelas ruas. Muita gente prefere pagar a multa pelo tempo excedente do que correr o risco de devolver a bicicleta e não encontrar outra para voltar a pedalar. Infelizmente vi muitas Velib danificadas por vândalos. Cheguei a ver uma estação de 30 bicicletas com mais de 10 destruídas. Deprimente! Aliás, vandalizar qualquer bicicleta é normal por aqui. Gostaria de entender o porque.
Como qualquer turista pedalando, andei fazendo umas besteiras no trânsito. É comum a sinalização para ciclistas estar apagada e quando você se dá conta já está fora do espaço definido para ciclistas. Outro problema é que a cidade é realmente interessante e pedala-se com olho na paisagem. Mesmo assim é muito raro ouvir uma buzinada, um grito de repreensão, um palavrão, ver um gesto grosseiro. Quem conhece Paris diz que no passado era muito diferente.
Ontem passei o dia caminhando. Foi 12 horas de rua e um único buraco numa faixa de pedestre. Por muita sorte não cai ou torci o pé. Repito mil vezes: buraco por aqui é muito raro. Que inveja, que vergonha! Você caminha sem interferências, sustos, problemas, principalmente postes de fiação. Você consegue enxergar a arquitetura, as pessoas, os veículos em movimento; você se integra à vida da via, bairro, da cidade. Sente-se calmo; dá prazer. As pessoas são leves. Postes, como os que temos em nossas cidades, cria uma parede, uma barreira, que prejudica não só a visão, mas também gera algumas distorções sociais. Quando fiz rádio falei várias vezes sobre o assunto o que me resultou numa não muito discreta ameaça a minha integridade.
Cadeirantes tem dificuldade de locomoção. Muitas calçadas são realmente estreitas, cheias de obstáculos para a passagem da cadeira, incluindo bicicletas estacionadas. Guia rebaixada não é regra. Se os ônibus transportam com facilidade e cortesia cadeirantes e carrinhos de bebe, no sistema de metro e trens metropolitanos praticamente inexiste elevador e até mesmo escada rolante até a rua é pouco comum. Taxi não se encontra com facilidade.
A quantidade de desabrigados e pedintes pelas ruas é grande, chega a incomodar. Tenho lembrado muito da Nova Iorque que vi em 1994, ainda em plena crise, a palestra de um dos responsáveis pelo “Tolerância Zero” que vi na Prefeitura de São Paulo, e da mesmíssima Nova Iorque que tive o imenso prazer de vivenciar no ano passado. A melhora de qualidade de vida para todos é clara. Paris parece desconhecer a experiência, ou ter outra visão do caminho para a solução de seus problemas. Francês tem uma visão própria do universo; interessante, mas muito particular. Somos todos humanos, apesar dos egos. As soluções não diferem muito onde quer que seja (incluindo no Brasil).
Elegeram um socialista, François Hollande, um pouco porque não gostam da pessoa Sarkosi como porque acreditam que ele possa gerar as mudanças sociais desejadas. Um dos pontos de seu programa é o congelamento do preço dos combustíveis usando o estoque regulador das empresas petrolíferas. Infelizmente mesmo aqui há muita gente que cai na ilusão inocente de que as coisas se resolvem com soluções milagrosas. Todas as experiências desastrosas resultantes de congelamento de preço não vale nada, mesmo num país de bem educados. Por outro lado, entre todos candidatos não foi colocada uma proposição para resolver a questão da segurança no trânsito, que custa ao dinheiro público uma barbaridade. Quem chamou atenção para o fato foi um jornalista que participava de uma mesa redonda num dos principais canais de TV. Os outros cinco presentes olharam para ele com espanto e fizeram ponderações por puro ego e obrigação de trabalho.
Como curiosidade, até patética: Hollande e Sarkosi, os dois candidatos do segundo turno, prometeram não assinar a anistia de todas as multas de trânsito de todos franceses, como é a tradição de primeiro ato praticado por todos presidentes da história da França. Quando me contaram pensei que fosse piada. Não é. Somos todos humanos.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
qualidade do pavimento
Qualidade do asfalto
Foi
exatamente um buraco em mais de 3.000 km dirigindo um carro pelas estradas
francesas. Sim, exatamente um buraco, passando por todo tipo de estrada, desde
autopistas para limite de 130 km/h até estradinhas vicinais bem estreitas onde
dois carros pequenos praticamente tocam espelhos. Exatamente um buraco. E só em
raríssimos trechos apareceu sinalização avisando sobre irregularidades no
asfalto, que para o padrão brasileiro é estrada de boa qualidade. Dá raiva
lembrar a condição de nossas ruas, avenidas e estradas.
Lembro da
primeira pedalada que dei em Miami. Depois de uns 20 km eu comecei achar que
havia algo realmente estranho. Demorei a tomar consciência que o rodar da
bicicleta era absolutamente macio, sem qualquer tranco, e depois de quase meia
hora sobre o selim ainda não havia sentido sequer um defeito ou irregularidade
no asfalto. Foge a nossa lógica tupiniquim.
Aqui em
Paris, que parece estar passando por tempos mais difíceis, tive o desgosto de
pegar somente um buraco maior, pelo menos para a bicicleta de pneus finos que
estava usando. Pouco seria sentido num carro ou moto. Por aqui é relativamente
comum encontrar o pavimento com algum tipo de problema, rachaduras, suaves
irregularidades, nada comparado com a baixíssima qualidade que normalmente temos
em qualquer cidade brasileira. Mesmo quando há paralelepípedo o rodar é bem
mais macio, não só por conta do tamanho das pedras, que na França são quadradas
e bem menores que as brasileiras, mas também pela forma de assentamento.
Vi várias obras
viárias e fiquei impressionado com a grossura do pavimento cortado. Aqui eles
cortam a rua e sai um bloco grosso e inteiriço, como um pedaço de boa cocada ou
pé de moleque. No Brasil o asfalto sai meio quebradiço, em pedaços bem menores
e irregulares, uma espécie de farofa mal feita.
Tenho um
amigo que trabalha com asfalto e ele diz que o maior problema brasileiro é que
a base da maioria de nossas ruas está subdimensionada para a carga de trânsito
que temos hoje e que para corrigir definitivamente só retirando tudo, asfalto,
brita, base e tudo mais, e refazendo tudo do zero. Difícil de acontecer.
Qualquer
remendo no asfalto Francês tem a qualidade das realizadas em nossas melhores
rodovias concessionadas. O resultado final praticamente não deixa irregularidade,
degrau, bolha, deformidade ou um novo buraco. O remendo fica absolutamente liso
e passa desapercebido. Eles usam uma compactadora mais pesada e com uma área de
compactação bem maior, completamente diferente da usada (quando usada) no
Brasil que mais vibra o operário que compacta o asfalto. A diferença é da água
para o vinho.
Aqui não
existe esta história de liberar o trânsito com a obra em andamento, com buraco
aberto. Caso tenham abrir passagem eles fecham cuidadosamente o buraco com
paralelepípedo, corretamente assentado.
Confesso
que não consigo entender como nós, brasileiros, aceitamos algumas coisas. Já
passei por vários países e cidades da América Latina, América do Norte, Europa
e Turquia (que está entre dois mundos e é fantástica) e o pavimento sempre teve
boa qualidade. Não dá para entender o nosso lixo. Não dá para entender nosso
silêncio.
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