Qualidade do asfalto
Foi
exatamente um buraco em mais de 3.000 km dirigindo um carro pelas estradas
francesas. Sim, exatamente um buraco, passando por todo tipo de estrada, desde
autopistas para limite de 130 km/h até estradinhas vicinais bem estreitas onde
dois carros pequenos praticamente tocam espelhos. Exatamente um buraco. E só em
raríssimos trechos apareceu sinalização avisando sobre irregularidades no
asfalto, que para o padrão brasileiro é estrada de boa qualidade. Dá raiva
lembrar a condição de nossas ruas, avenidas e estradas.
Lembro da
primeira pedalada que dei em Miami. Depois de uns 20 km eu comecei achar que
havia algo realmente estranho. Demorei a tomar consciência que o rodar da
bicicleta era absolutamente macio, sem qualquer tranco, e depois de quase meia
hora sobre o selim ainda não havia sentido sequer um defeito ou irregularidade
no asfalto. Foge a nossa lógica tupiniquim.
Aqui em
Paris, que parece estar passando por tempos mais difíceis, tive o desgosto de
pegar somente um buraco maior, pelo menos para a bicicleta de pneus finos que
estava usando. Pouco seria sentido num carro ou moto. Por aqui é relativamente
comum encontrar o pavimento com algum tipo de problema, rachaduras, suaves
irregularidades, nada comparado com a baixíssima qualidade que normalmente temos
em qualquer cidade brasileira. Mesmo quando há paralelepípedo o rodar é bem
mais macio, não só por conta do tamanho das pedras, que na França são quadradas
e bem menores que as brasileiras, mas também pela forma de assentamento.
Vi várias obras
viárias e fiquei impressionado com a grossura do pavimento cortado. Aqui eles
cortam a rua e sai um bloco grosso e inteiriço, como um pedaço de boa cocada ou
pé de moleque. No Brasil o asfalto sai meio quebradiço, em pedaços bem menores
e irregulares, uma espécie de farofa mal feita.
Tenho um
amigo que trabalha com asfalto e ele diz que o maior problema brasileiro é que
a base da maioria de nossas ruas está subdimensionada para a carga de trânsito
que temos hoje e que para corrigir definitivamente só retirando tudo, asfalto,
brita, base e tudo mais, e refazendo tudo do zero. Difícil de acontecer.
Qualquer
remendo no asfalto Francês tem a qualidade das realizadas em nossas melhores
rodovias concessionadas. O resultado final praticamente não deixa irregularidade,
degrau, bolha, deformidade ou um novo buraco. O remendo fica absolutamente liso
e passa desapercebido. Eles usam uma compactadora mais pesada e com uma área de
compactação bem maior, completamente diferente da usada (quando usada) no
Brasil que mais vibra o operário que compacta o asfalto. A diferença é da água
para o vinho.
Aqui não
existe esta história de liberar o trânsito com a obra em andamento, com buraco
aberto. Caso tenham abrir passagem eles fecham cuidadosamente o buraco com
paralelepípedo, corretamente assentado.
Confesso
que não consigo entender como nós, brasileiros, aceitamos algumas coisas. Já
passei por vários países e cidades da América Latina, América do Norte, Europa
e Turquia (que está entre dois mundos e é fantástica) e o pavimento sempre teve
boa qualidade. Não dá para entender o nosso lixo. Não dá para entender nosso
silêncio.
Tua viajem está me dando uma vontade louca de cair no mundo. Ai, que delícia!! Mas meu comentário, mesmo, é que você poderia se dedicar a literatura... você escreve muito bem! Beijos e saudades!
ResponderExcluirPrima Ciça