segunda-feira, 9 de abril de 2012

Acidente em Paris e segurança no trânsito

Ontem, voltando da escola de francês aqui em Paris, dei de cara com um atropelamento, ou pelo menos o final dele. O senhor atropelado já estava na ambulância, e dois policiais, um homem e uma mulher, estavam tomando as providencias tranquilamente com a motorista de um pequeno Toyota que tinha seu para-brisa trincado. O que impressionou foi a absoluta tranquilidade com que corria toda a cena. O policial preencheu o formulário e terminado o processo dispensou a senhora, que por sua vez entrou no carro e foi embora. Em nenhum momento ouvi qualquer alteração no tom das vozes, não houve demonstração de agressividade, angustia; nada. Tratou-se ali de um acidente, aliás, bem incomum por aqui, e foi tratado dentro do que determina a lei, como um fato que todos sabem que será encaminhado à justiça, que provavelmente será rápida, eficaz e justa. Ponto! Os números de acidentes de trânsito daqui são ridiculamente baixos (ver link no fim da matéria) quando comparados à carnificina brasileira. A razão principal é que acidente é tratado com a seriedade devida, sem drama, nem qualquer efeito pirotécnico. Aconteceu? Cumpra-se a lei. O parisiense faz besteira no trânsito? Olha, faz, muita. Em algumas situações talvez até mais que os paulistanos. Nós cometemos bem menos infrações leves, do tipo as de estacionamento. Parisiense para tranquilamente em fila dupla e até simplesmente larga o carro no meio da rua e vai almoçar, sem se importar com quem está estacionado corretamente e não pode sair. Faz a descarga do caminhão e para todo trânsito porque sua vaga de carga e descarga está lotada de infratores. A grande diferença para nós é que o parisiense tem um senso de conjunto, de cidade, de cidadania, que infelizmente não temos. Há um grau de aceitação de algumas barbaridades porque todos sabem a realidade da cidade. As coisas por aqui, de certa forma, se acomodam. É óbvio que buzinam, é óbvio que ficam irritados, é óbvio que são humanos como nós. A diferença é que em movimento são realmente civilizados. Por aqui é regra desacelerar ou frear bem antes. A civilização está na clara direção defensiva praticada pela maioria. Param para pedestres, deixam o ciclista se acomodar... O desenho da cidade e técnica de sinalização das vias faz com que todos os fluxos, de veículos, pedestres, bicicletas e motos, se movimentem de uma forma harmoniosa. De certa forma a fluidez lembra Buenos Aires, mas muito mais organizada. Não peguei o carro ainda e talvez venha alugar uma scooter, mas imagino que a forma de conduzir seja bem parecida. Você vai se acomodando, se ajeitando com suavidade. Em Buenos Aires aprendi a dirigir praticamente sem uso dos espelhos, simplesmente fazendo movimentos antecipados, longos e suaves, técnica muito comum ao que se usa em rotatórias. Cruzar as grandes rotatórias de Paris pedalando é o máximo. Tudo vai se ajeitando na sua frente; basta seguir em frente. Nestes quase dois meses só um taxi fez uma aproximação agressiva que poderia ter resultado em acidente. O trânsito de Paris é uma baba para os ciclistas. Quem é exceção? Infelizmente e como em qualquer parte do mundo, principalmente entre os endinheirados e suas possantes máquinas maravilhosas, há o grupo que se considera acima do bem o do mal. Não é difícil ver carro grande, de luxo, dos bem caros, em velocidade alta ou indo para cima do pedestre. Com as motos acontece o contrário do que se vê no Brasil. Boa parte são motos e scooters grandes e normalmente o pessoal que as leva tem um comportamento bastante tranquilo e educado. Infelizmente há uma molecada de scooter pequena que faz barbaridades, principalmente cruzar sinal vermelho e desrespeitar pedestres. Vi policiais parar infratores, o que é relativamente comum. Eles são a lei, ditam a regra, não há qualquer concessão, como bem deve ser. Ponto final! Há uma quantidade grande de guinchos circulando. Carro sendo rebocado aos montes, inclusive os caros, como por exemplo uma Maserati e uma BMW 750i novas. Fiquei pasmo. Repito sempre que somos todos humanos, tupiniquins ou não todos iguais. A diferença entre paz e guerra é a consciência geral da necessidade do respeito restrito pela lei. Não há outra forma de sobrevivência social civilizada que não seja o legalismo.

Policiais controlam invasões na ciclovia e corredor de ônibus.

Números sobre acidentes de transito na França publicado em artigo da Motorbiker.org: http://news.motorbiker.org/blogs.nsf/dx/france-2007-official-traffic-accident-statistics.htm

Um comentário:

  1. O problema é que no Brasil o legalismo vale, mas vale só para os ladrões de galinha. Não vale para os apadrinhados (ricos ou pobres). Aí pode ficar um pouco assustador.

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