sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Opção pelo negativo

Tive contato com uma quantidade bem grande textos todos relativos a vários aspectos da questão “bicicleta”. A maioria destes, a quase totalidade, precisamente um pouco mais de 90%, com um discurso negativo, tipo “a bicicleta é muito legal, mas também é muito perigosa e o trânsito não respeita...” Já cansou ouvir este disco. Aliás, não dá mais. É impressionante como a maioria dos amantes da bicicleta tem um discurso que vende as piores situações que o ciclista pode experimentar.

Eu não tenho dúvida que o número de usuários da bicicleta está crescendo ‘apesar o que dizem os ciclistas e o setor da bicicleta’. Já disse que o melhor vendedor de motos no Brasil é o setor nacional da bicicleta. E um dos maiores empecilhos para o desenvolvimento da bicicleta como modo de transporte é o discurso dos ciclistas, principalmente de grande parte dos engajados.

Até quem não gosta de bicicleta reconhece as qualidades da bicicleta. Não dá para negar. infelizmente a bicicleta está perdendo oportunidade histórica político por causa deste constante discurso negativo. E pobre! A força de transformação da bicicleta é reconhecida, incrível; as boas lembranças que traz são marcantes para a sociedade, ninguém nega. Liberdade, bem estar, felicidade, meio ambiente..., blá, blá, blá, blá... E mais muito blá, blá, blá, blá, blá... para o discurso negativo. Que coisa mais monótona e chata! Este país precisando desesperadamente de uma transformação urbana. A bicicleta tem muito a oferecer e os amantes dela ficam matando a galinha dos ovos de ouro. Bem Brasil.
detalhe ciclovia Faria Lima, Largo da Batata, São Paulo
Nós, brasileiros, temos “um certo” apego pelo negativo. Parece que não podemos fazer o correto, o simples, o direto, o que dá resultados esperados e perenes, ou parece que negamos nossa identidade. Há uma aceitação do negativo, do “dá-se um jeito”, depois a gente acerta, faz de qualquer jeito...  Por que será? Colonização portuguesa? Influência da igreja Católica? Muito simplista, bobo, infantil. Será resultado ou princípio? Quem vem antes, o ovo ou a galinha? Não temos a capacidade de superar a inteligência galinácea? Ou estaremos fadados a procurar o ovo de cu lombo? Será que fazer correto cansa?

Um amigo fez um comentário assustador. Segundo ele o país tem uma geração de jovens vindos de uma elite e os pais destes não tem limites para empurrá-los para as melhores posições possíveis. O resultado é uma geração que ao primeiro problema começam a chorar “papai, papai...”. Sou professor e só não voltei a dar aulas porque colegas de profissão e donos de escolas pediram que não o fizesse. Afirmam que educação hoje se resume na história, real e muito freqüente, do pai ou mãe que é chamado à escola porque o filho está de mal a pior, entra na diretoria e grita “estou pagando e meu filho não vai ser tratado assim”. Não sei por que, mas estas duas histórias acima me lembram uma criança vestindo capacete.

Futuro se constrói com acertos, na busca constante da qualidade. Quanto mais acertos, menor é o custo, menores são as implicações, menores são os danos colaterais. Desmandos ou deixar a qualidade em segundo plano para chegar de qualquer forma ao objetivo normalmente não dá certo. Minha mãe sempre repetia: “O tempo diz tudo a todos”.

Não me lembro exatamente como é o bordão do Instituto Ethos na rádio, mas aqui está a definição tirada do site: “A ética é a base da responsabilidade social, expressa nos princípios e valores adotados pela organização. Não há responsabilidade social sem ética nos negócios. Não adianta uma empresa pagar mal seus funcionários, corromper a área de compras de seus clientes, pagar propinas a fiscais do governo e, ao mesmo tempo, desenvolver programas voltados a entidades sociais da comunidade. Essa postura não condiz com uma empresa que quer trilhar um caminho de responsabilidade social. É importante haver coerência entre ação e discurso.

3 comentários:

  1. Demais. Texto lindo.
    Como me identifico com isto, Arturo.

    Obrigado por escrever - tão objetivamente - o que me angustia há tanto tempo.

    Abs
    Guth

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  2. Perfeito. Eu acredito muito nisso, em tomar responsabilidade transformadora sobre as coisas. E a bicicleta realmente tem a possibilidade e está deixando passar. Cicliestas e principalmente indústria.

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  3. a boa noticia: a Massa Critica de Salvador, que já é a segunda maior do pais (deu quase 80 pessoas na última, skatista, moleque, pivete, o escambau. virou etcetera, diria Bruno Cava), corre longe de discurso "papai Estado não me deu ciclovia" e "tudo é perigoso".

    é uma pipoca de carnaval sobre rodas. E quem já furou a corda da Timbalada num domingo momesco sabe do que estou falando.

    QUEROVER QUEROVER QUEROVER
    AI
    EU TO FELIZ
    PORQUE TE AMO E NICURI AMENDOINS!

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