Ordem e progresso demandam ações que nem sempre são fáceis, principalmente quando a sociedade historicamente, como a nossa, tem mais olhos para seus direitos individuais do que deveres. Direitos, que por egoísmo, comodidade, ansiedade e até e principalmente ignorância, facilmente viram espécie de esmolas entregues como legítimas em ladainhas atraentes. Infelizmente passamos a aceitar com incrível normalidade o “Deus lhe pague!” e pouco pensamos e respondemos “Ajuda-te e ajudar-te-ei”. Esmola é um vício, uma bebedeira que te deixa alegre hoje, mas vem com uma trágica ressaca social amanha.
Esmolas transformadoras de nossas cidades.
O que está acontecendo agora com nossas cidades? Cidades são seres vivos, sempre se transformam, ou se deformam. O que aconteceu no passado que levou nossas cidades a esta baixa qualidade de vida de todos, dos pobres aos ricos? Creio que o egoísmo de cada um e de todos, respaldado nos desejos de grupos específicos, e no silêncio conivente de todos, absolutamente todos, sem exceção. “A cavalo dado não se olha os dentes”. “Cuidado com teu telhado de vidro”.
Somos uma fábrica de presuntos. Mortos, se quiser. Ou, como faço questão de afirmar “casualidades de guerra”. Só pára uma guerra quem tem atitude. Só muda uma sociedade quem tem atitude. O resto é subjulgado pelos acontecimentos.
Segregar salva? Vidro preto, muro alto... Segregar é esmola ou futuro? Cidade é coletivo ou individual. Cidade é atitude ou aceitação incondicional? Cidadania é subjulgar-se?
Ter coragem
Hay que tener cojones! Isto aqui é uma guerra!
A Secretária Municipal de Educação de São Paulo está trabalhando para por em prática um projeto audacioso, fantástico e ao mesmo tempo politicamente arriscadíssimo: entregar aos alunos das escolas bicicletas para eles irem e voltarem da escola. O Governo Federal tem um projeto destes, mas em cidade pequena a história é outra. Aqui estamos falando sobre crianças no trânsito de São Paulo, o monstro mitológico. É preciso coragem! Parabéns.
A coisa que mais comum é ouvir que São Paulo não está preparada para a bicicleta. (E precisa?) Eu não perdi a conta quantas vezes ouvi mães e pais ciclistas afirmando que seus filhos jamais pedalarão nas ruas desta cidade infernal. A questão é que um monstro como São Paulo é muito diversificado e a realidade muda de bairro para bairro, de área para área, de rua para rua. Diz que é impossível quem faz questão de ficar dentro de seu castelo medieval, e a estes aviso que a Idade Média acabou já faz um tempinho. Na periferia a bicicleta é realidade. O jogo lá é outro. O pessoal não fica esperando, porque se ficar o bicho pega.
Dar bicicletas para adolescentes e crianças tem um grau de risco alto. Não dá para errar com as escolhas das escolas, professores, pais, bairro, trânsito... A segurança do ciclista depende de detalhes, disto não tenho dúvida. Com criança é inaceitável o “Com o tempo a gente vai arrumando”. Eles são o futuro hoje, agora, já, imediatamente. “Com o tempo a gente vai arrumando” construiu o Brasil atual. Está legal? Foi bom para você?
Se for feito o que tem que ser feito este projeto tem um potencial de transformação da sociedade e da cidade muito grande, imenso, quase imensurável. Bem feito vai desmontar muitas panacéias que estão ai. A sociedade tem apoiar o projeto, ajudar a burilar o processo e principalmente assumir os riscos. O pessoal que está envolvido no projeto tem passado e experiência para fazer bem feito. Cabe a nós sociedade assumir o risco.
Cidade de São Paulo incentiva o uso da bicicleta para ir à escola - http://vadebike.org/2011/12/cidade-de-sao-paulo-incentiva-o-uso-da-bicicleta-para-ir-a-escola/
O artigo do Gilberto Dimenstein sobre a proposta original do “Não dê esmola, dê futuro”, que creio que tenha acabado. Pelo menos não repercutiu na sociedade o que deveria. Deprimente. Vai ver que estou errado, e que o paizão veio mesmo para salvar. Enfim, eu não acredito. Responsabilidade se assume, não se passa para os outros. Quem não assume, subjulga-se. http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd110405.htm .
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