domingo, 2 de outubro de 2011

Mudança de regras: novo imposto para bicis

O imposto incidente sobre bicicletas importadas vai aumentar para 30%. O Brasil já viu esta história, lá pelo início da década de 90, não lembro exatamente o ano. Naquela época, que acabou sendo o final da triste era do oligopólio Caloi / Monark, o pessoal do setor responsabilizava o então todo poderoso Bruno Caloi pela mudança de regra. Ele tinha cacife para conseguir com Brasília, em nome da proteção a indústria nacional, um aumento sensível no imposto de importação de bicicletas. A intensão então, como agora, foi pegar os importadores de bicicletas básicas. Ninguém era santo. Ouvia-se as mais diversas histórias sobre os mais diversos trambiques. Mandos e desmandos autoritários, imaturidade geral do setor, tiveram como resultado óbvio uma retração muito grande de todo mercado, que afetou inclusive a própria Caloi, então o único fabricante nacional de bicicletas concorrentes às importadas. Interessante, mas uns anos depois a Caloi quebrou e só não desapareceu por vontade pessoal do Musa pai que segurou uma barca furada sem tamanho.

Como já disse, o imposto vai subir 30%, ou para 30%, a bem da verdade não sei bem. O mercado já começa sentir os efeitos da alta, justamente num momento que parece que a bicicleta está tomando o espaço que todos nós lutamos há tanto tempo. A maioria que veio dar as más notícias afirma que este aumento saiu novamente de dentro da Caloi.
De quem quer que tenha saído esta ideia de jerico, a meu ver é de uma burrice sem tamanho. Ou má fé. Com a escala de produção que as indústrias brasileiras têm para bicicletas com preço venda público acima de US$ 250,00 é praticamente impossível conseguir preencher o mercado das grandes marcas internacionais, a não ser que conte com um protecionismo descarado. Mesmo assim um dia o bicho pega. Não dá para concorrer com a escala de produção e dumping de uma China. A não ser que os fabricantes importem bicicletas e montem aqui naquela maravilha chamada Zona Franca de Manaus. Maravilha para os abençoados. Neste sentido o aumento de imposto não protege a produção e o trabalhador brasileiro, mas o importador dito fabricante nacional. Vão sentar no protecionismo, aproveitando que o mercado brasileiro é patético e aceita qualquer coisa, e continuar vendendo bicicletas com problemas inadmissíveis em qualquer lugar civilizado. Aliás, inadmissíveis pelas leis brasileiras, CTB e Código Consumidor incluídos ai. Bom exemplo é uma mountain bike 21 marchas dita de qualidade produzida com as forquilhas traseiras com abertura própria para 24 marchas, a versão mais sofisticada. Obviamente uma redução de custos patética. Ou será ignorância sobre tolerâncias do alumínio usado?

Se houvesse boa fé a indústria nacional teria pressionado o Governo Federal pela diminuição dos impostos para bicicletas fabricadas no Brasil, principalmente as básicas. Com esta ação equilibrariam o mercado interno, que dizem ser de uma produção interna de 5 milhões de bicicletas/ano, sendo que pelo menos metade destas vem de fabricantes “informais”, piratas, e até literalmente inexistentes. Sim, fabricantes de bicicletas inexistentes, ou seja, sem ter registro em qualquer órgão regulatório. Este é realmente o problema, aliás, um puta problema! Por que não há interesse em diminuir os impostos sobre bicicletas? Por que não conseguimos ser global players?
Se houvesse boa fé com o Brasil teria sido apresentado um plano de reestruturação para todo setor de bicicletas no Brasil, com investimento em pesquisa, desenvolvimento e melhoria de qualidade geral. Não dá para comparar uma bicicleta básica brasileira da faixa de US$ 150,00 com qualquer do mercado americano, europeu ou internacional sério. As nacionais começam a desmontar em poucas semanas enquanto a similar distribuída no mercado internacional irá durar anos sem apresentar defeitos. Há quem afirme que uns 35% dos ciclistas morrem por falha mecânica da bicicleta. Vá até qualquer lugar onde a bicicleta seja usada para valer pela população e converse com os mecânicos locais. Revire o lixo das bicicletarias. “Irresponsabilidade do ciclista” – afirmam alguns cara de pau.

Parte desta baderna é responsabilidade direta do consumidor. Eu apontaria em especial o dedo no sentido do pessoal dito ciclo-ativista, que ainda se recusa entender que para ter ciclistas circulando nas cidades precisa uma coisa a mais que ciclovias e respeito. Para ter ciclistas nas ruas precisa de bicicleta, meus caros. E bicicleta é por lei, CTB, um veículo, portanto tem que ter qualidade. Bom, enfim, a classe média vai ao paraíso e quer que se dane o resto. E nossa maravilhosa esquerda está ai para dar carros para o povo. As cidades que se danem. Bom, melhor não entrar nesta confusão porque a história vai longe, bem longe, para o Brasil de nunca antes. Aliás, não me lembro de ter visto operários e sindicatos em manifestações pró bicicleta.

O setor da bicicleta no Brasil evoluiu, está um pouco mais organizado que há umas décadas, mas muita coisa que ainda acontece de forma patética e a prova disto é este aumento dos impostos sobre as importadas. Triste.

5 comentários:

  1. Olhaí, Arturo, não tinha essa informação sobre o Bruno Caloi já ter usado dessa prática nos 90, embora seja totalmente plausível que também ele pensasse assim em ressonância com a imaturidade do empresariado infantilizado brasileiro.
    Enfim, nesse momento tão favorável à inclusão da bicicleta no ambiente urbano temos que engolir esse revés. Isso vai atrasar ainda mais o que nunca esteve em dia no país.
    Aproveitando que não somos ingênuos, talvez a nova grita atual para a barreira protecionista nem seja só o da atual direção da Caloi(como é comentado à miúda), mas também de outros que estão pouquíssimos interessados que um outro meio de locomoção que não gera demandas milionárias em seu redor venha a crescer. Bom, mas eu não sei de nada, quem sou eu afinal ?

    abraço

    Márcio Campos

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  2. perfeito, artur, perfeito. falta cultura de bicicleta. mesmo entre os ciclo-ativistas mais vale discutir a cor dos quadros que a geometria dos mesmos e até o material nele usados. copia-se modelos externos pela estética. daí dá-lhe ver menina de 1,55 de altura andando torta numa bicicleta holandesa projetada para uma européia de 1,75 altura. dá-lhe ver baixinho metendo o pé na roda pq 700c é hype e não se consegue convencê-lo que sua bicicleta deveria usar aro 26 ou 24... dá-lhe ver gente se estropiando pq usa v-brake ou pior ainda, freio a disco vagabundo pq não se consegue convencê-lo que seria melhor um cantilever de qualidade com boas sapatas.... o que dirá discutir espaçamento pro cubo traseiro. quem vende empurra o que o mercado quer: bicicletas "bonitinhas", preferencialmente com jeitão de competição. por isso a trek do brasil nunca trouxe a 520, e a shimano só agora traz cubos de marchas... não se desenvolve uma cultura de bicicleta, pq brasileiro gosta de comprar marca, não produto. é só ver a cara feia que fazem quando alguém aparece com uma bicicleta mais antiga com um belo quadro de cromo, bons cantilevers, bons thumbshifters... a bike é hype... em tempo, a bicicleta com 21 marchas e quadro pra 24 marchas ainda por cima deve ter uma roda montada pra 24 marchas, com cassete de 21 e espaçador, né? o pior dos mundos...

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  3. Puxa vida... é apenas mais um complicômetro pra quem quer entrar no "negócio" bicicletas.
    Tenho a visão da importação para o nicho de BOAS BICICLETAS URBANAS, mas o protecionismo volta a atacar e, como foi dito acima, vai continuar infantilizando o "empresário" nacional.
    Aliás, um cagão... Que tem medo da concorrência, não investe para ser mais competitivo, não faz parcerias tecnológicas com os mais desenvolvidos, não está nem aí com a ergonometria de seus produtos e, acima de tudo, não respeita os brasileiros, seus clientes mais próximos e fiéis.

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  4. Prof. Arturo,
    Gostei muito do seu artigo sobre a palestra que teve na E.E. Antonio Pratici - dia 30/09.
    Quando li, percebi que muitas vezes nos preocupamos com a sustentabilidade e esquecemos de falar de qualidade de vida, até porque entendemos que se cuidarmos do nosso planeta, vamos encontrar a qualidade tão almejada.
    A verdade é que qualidade é algo que ultrapassa essa questão. Se um adolescente não tiver qualidade de vida, como ele vai entender que é necessário buscar essa qualidade?
    Torço para que dias melhores virão, enquanto isso faço, junto com meus colegas professores, aquele trabalho de formiguinha...
    Obrigada por sua presença.

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