segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O custo de uma morte sem sentido

Eu, Arturo Alcorta, não acredito nas instituições brasileiras. Não tenho porque acreditar. Como cidadão, vejo o produto final em geral de baixíssima qualidade. Pelo contato que tive e sigo tendo com vários setores e instituições, principalmente da coisa pública, acredito que a ineficiência não vem de incompetência generalizada, má fé e roubalheira, como acredita a maioria. Este é um problema muito menor do que se imagina. A coisa pública está cheia de gente séria, competente, esforçada e trabalhadora, mas que serve a uma máquina que funciona pessimamente mal. Somos uma sociedade tão rica e ao mesmo tempo tão precária, frágil, pobre é a palavra mais apropriada. Da mesma forma que quando o Brasil era uma colônia, nossas riquezas continuam sendo jogadas ao vento. É fácil culpar o outro, prática tão comum hoje em dia.

Dia 22 de Fevereiro deste 2011, à 01h da madrugada, morreu atropelado no quilômetro 13 da Rodovia Raposo Tavares o calouro da FEA USP Leonardo Araujo dos Santos. O que se sabe é que naquele seu primeiro dia de aula aconteceu o trote, que durou até lá pelas 22h. Do fim do trote até seu atropelamento na rodovia, 3 horas depois, há um vácuo. Quem conheceu a vida da família Araujo, este menino, mãe e irmão, sabe que Leonardo era um jovem fora da faixa de risco. É uma família de classe média sobrevivente. Os três são centrados, objetivos, tranqüilos, lutadores, positivos e construtivos. Gente do bem e da paz. Seguindo os passos do irmão mais velho Leonardo também entrou na USP. A forma como chegaram lá aumenta muito o valor da conquista. Muito.

http://tvig.ig.com.br/354755/aluno-da-usp-morre-atropelado-em-rodovia.htm

Pode até ter sido um simples atropelamento. Simples atropelamento! Que absurdo! Pode até ter sido, mas que não se deixe de investigar os fatos. Muito fácil para ser realidade. Meninos com o valor deste são raros aqui ou em qualquer parte do mundo e não podem ser desperdiçados. A perda deles é um tiro no pé do próprio futuro do país. O que se sabe até agora é que Leonardo passou pelo trote na av. Faria Lima e depois sumiu. Morava com a mãe em Vila Maria Alta. Não gostava de beber, não era chegado a grandes festas, gandaias, divertia-se dentro de seu habitual equilíbrio e calma. Como foi parar na Raposo Tavares, o que estava fazendo caminhando na pista, porque não viu e ouviu o carro vindo em um ponto que isto é relativamente fácil? Teve morte instantânea. Os fatos podem ser simplesmente estes, mas a morte de um jovem, principalmente valoroso não é.

Nesta mesma semana veio a tona os números sobre a violência no Brasil, que vem aumentando assustadoramente nestes últimos anos. O número de jovens mortos é absurdo. Mesmo em guerras, as mais sangrentas, jovens são preservados. Aqui no Brasil Leonardo e milhares de outros viraram estatística. E aceitamos. Os cidadãos deste país fogem do drama humano. A ignorância geral, sem exceção, faz com que o brasileiro não consiga vislumbrar sequer o custo destas perdas. Acredita-se que acovardar-se escondido em pseudo-castelos medievais nos salvará da realidade selvagem. Lá fora não importa que um valiosíssimo Tim Lopes seja trucidado e logo depois débeis mentais arrastam por 7 km de ruas e matam um menino de 6 anos, João Hélio. Só 50 pessoas foram ao manifesto. Estas cenas mudam de roteiro e se repetem de maneira vergonhosa, mas todos aceitam a vergonha como normal.

Responsabilizo a sociedade brasileira, que continuamente se prova frouxa, em todos os sentidos da palavra, pela inoperância das instituições. Confio que a história de Leonardo, muito estranha, seja esclarecida porque sei que há gente de valor nestas mesmas instituições. Gente que quer construir um país, um futuro, mesmo sendo chamados por grande parte da sociedade de incompetentes e corruptos. Peço a estes bravos servidores que busquem a verdade.

2 comentários:

  1. Para variar, muito bem dito Arturo. Nossa passividade frente à selvageria é impressionante. E tem algo de errado com nossos valores. O final da rápida reportagem que você mencionou da TVIG parece a frase final do Cotidiano retratado pelo Chico Buarque :"Por conta do horário, o trânsito na rodovia não foi comprometido". Não é semelhança nem coincidência, é doença crônica.

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  2. pelas comunidades que ele tem no orkut, parece que ele era chegado na bebida sim. Mais um caso em que a propria familia nao deveria conhecer a pessoa direito.

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