segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Bikefit e Cleber Anderson


Cleber Anderson deu uma palestra sobre bikefit no sábado de comemoração de um ano da criação do Ciclo Cidade - http://www.ciclocidade.org.br/ . Para uma palestra normal foi longa, para o assunto foi curta, pela atenção prestada pelo povo que estava lá poderia ter ido mais longe não fosse o resto da programação. Ajustar uma bicicleta para o ciclista é um tema vasto e aqui no Brasil é novidade, ainda dá espaço para muitas dúvidas.

Conheço Cleber há muitos anos, desde 1989, quando trabalhamos juntos na extinta Bicisport. Acabei conhecendo toda sua família, seis irmãos ligados ao ciclismo de competição, um deles, Clovis, um dos melhores ciclistas olímpicos da história do Brasil. Com eles aprendi um bocado. Cleber, em particular, sempre teve a curiosidade para ir além dos usos e costumes do ciclismo. A razão, como o próprio contou na abertura da palestra, foi sua formação como técnico em mecânica e a faculdade de educação física. Bem vindo à biomecânica.

O curioso de ouvir Cleber falando agora é que nós, da Escola de Bicicleta, estamos preparando uma nova página para o site, exatamente sobre bikefit. O pouco que conheço sobre o assunto vem de leitura, da minha formação de faculdade (fisiologia para desenho), da necessidade do conhecimento do meu próprio corpo por causa das inúmeras lesões causadas pela diabete e as molecagens. Cleber esclareceu detalhes sobre a evolução das técnicas de bikefit, confirmou minhas suspeitas que fórmulas prontas costuma levar a erros de postura, alguns até grandes.

Valéria, ótima parceira e webmaster do site, é mais que uma curiosa, é uma estudiosa do assunto e conhece todas estas coisas muito melhor do que eu. Sempre está mostrando sites com formas e formulas diferentes de bikefit, o que nos faz pensar muito sobre como dar aos iniciantes uma melhor orientação. De minha parte sempre houve algo que eu não achava que estava no ar, afinal não tenho dúvida que somos todos um tanto diferentes, corpos e mentes tão próximos e tão distantes para os quais fórmula matemática pode até servir como referência, mas não como verdade definitiva.

Cleber matou minha xarada, óbvia por sinal: a diferença na forma e tamanho da bacia é o fator que fórmulas. Distâncias entre o acetábulo / cabeça do fêmur e os ísquios varia muito, o que faz com que o cálculo para chegar à altura do selim pela medida do cavalo não seja uma relação matemática exata. Cleber contou, mostrando várias anotações suas destes anos fazendo bikefit, que a diferença chega a alguns centímetros de pessoa para pessoa. Pela maneira que ele usa para chegar a altura correta basta o ciclista sentar no selim, largar as duas pernas e subir o canote até o calcanhar raspar no pedal. Dê uma olhada em http://www.andersonbicicletas.com.br/ ; > equipamento; >> bike na medida.

O velho genérico é este:


Outro ponto interessante foi sobre a questão da forma do selim. Dependendo da forma da bacia e alongamento do ciclista, (e digo eu do modelo de bicicleta que se vai pedalar, mais em pé ou deitado) o ponto de apoio dos ísquios no selim é diferente. Quanto mais alongado for a musculatura posterior do ciclista mais fino provavelmente será o selim ideal. Quanto menos alongado, mais largo. Forma da bacia!

Seguindo os passos da palestra, traseira da bicicleta ajustada corretamente para a perna, joelho e pé, então se vai para dorso e braços. Acertar posição correta de selim é possível até numa bicicleta errada para o ciclista, mas esta é traseira da bicicleta, falta a frente. O bikefit para dorso e braços só é possível com uma bicicleta de tamanho e geometria corretos para o ciclista que irá usá-la. Ai começa a sutileza que o público geral tem dificuldade de entender: ter uma bicicleta no tamanho apropriado não é necessariamente ter a bicicleta correta. Por que? Porque há diferenças na geometria empregada pelos fabricantes. De forma muito simples a diferença pode-se ver naquele desenho explicativo sobre pró / esportivas / básicas que temos no site. Para que e para quem aquela bicicleta foi projetada é algo que o mercado e compradores tem muita dificuldade de entender. Para este caso Cleber deu o exemplo das bicicletas femininas. Para algumas marcas menos sérias são simplesmente bicicletas masculinas com tubo rebaixado ou em tamanhos menores pintadas de maneira feminina. A geometria é a mesma da masculina, o que não atende à corpo feminino que é bem diferente. Não dá para fazer um bikefit correto.

No final fiz questão de lembrar aos formadores de opinião que eles têm quase uma obrigação de saber o que é uma bicicleta correta para o ciclista porque modelo, tamanho ou geometria errada é uma das principais razões para possíveis ciclistas se afastar dos pedais. Prova disto é o baixo índice de mulheres usuárias da bicicleta no Brasil. Mesmo os poucos modelos tamanho 17, que já é grande para a maioria das mulheres, vem com o mesmo avanço das masculinas, muito longo para elas. Tudo em nome da redução de custos.

Bicicleta chique não é a bicicleta status social, mas a luva que veste o ciclista. Fazer bikefit, que pode parecer um luxo ou frescura, ajuda demais a entender o que é de fato pedalar. E partir daí brincar de pedalar vira uma outra história, muito mais ampla, divertida e livre. Bicicleta é uma experiência humana mais ampla que parece; ao alcance de qualquer um, profissional, amador, transporteiro ou domingueiro.

Um comentário: