Cara, isto aqui pode dar um texto bem divertido, isto se eu não esquecer o que tenho que escrever.
Falha de memoria, demencia ou o quê? O que eu tenho? Melhor, o que sempre tive? Um artigo do Estadão fala exatamente sobre este drama que atinge montanhas de idosos, e alguns tantos outros também. Eu mais que incluído.
Momentos de esquecimento ou sinais de alerta?
Pode ser difícil avaliar quando os problemas de memória exigem atenção médica. No entanto, você provavelmente deve consultar um médico se apresentar qualquer um dos seguintes sintomas:
- Episódios frequentes de esquecimento, como não lembrar de uma conversa recente ou perder compromissos;
- Dificuldade frequente em reter novas informações, como um número de telefone ou endereço;
- Erros no pagamento de contas ou na administração de medicamentos;
- Dificuldade em encontrar o carro estacionado, problemas para se localizar em áreas familiares ou pequenos acidentes de carro.
As recomendações deste artigo não me atingem. Esqueço delas com facilidade.
Itém 1: não lembrar de conversa recente... Não me lembro o que estou conversando no meio da conversa, o que dizer sobre conversas passadas, recentes? Para os que são novinhos - ainda - aviso: quando chegarem a terceira idade, a melhor idade ou a porra que seja, vão engastalhar o pensamento no meio da fala, vai dar um branco total, o outro vai entender, e os dois vão rir muito - isto se os dois forem da porra que seja, leia-se velhos.
Itém 2: dificuldade frequente de reter novas informações... Se algum dos meus professores estiver vivo pergunte a eles que maravilha de aluno eu fui. Faça cara de paçoca caso algum deles desandar a chorar, que não se saberá se de riso ou raiva, e não se saberá porque estão todos mortos. Minha mãe ficava desesperada com minha falta de atenção. "Meu filho compra uma dúzia de ovos..." e voltei com uma dúzia de laranjas, laranjas de verdade, rindo que era um absurdo ela ter pedido uma dúzia de óvos. Quem não fez uma destas?
Itens 3 e 4 não são para mim, a não ser quando me perco na maldita digitação do código de barras. Não ria, aposto que você também colocou o leitor de código de barras uma vez, duas, três, e vá para a...
Remédios? Não tomo, e quanto tenho que tomar sou meio religioso. Óbvio que aos domingos lembrei do remédio quando o padre me deu a hóstia.
Em que garagem deixei o carro? Opa! Como vou lembrar se sequer olhei em que garagem entrei?
Quando era adolescente, e isto faz muito tempo, fui com minha mãe para o supermercado com nosso Fusca 1200 branco. Saímos do supermercado, entramos no fusca branco, chegamos em casa, e quando estávamos tirando as compras minha mãe perguntou rindo se o estofamento de nosso fusca não era branco. Voltamos ao estacionamento do supermercado com o fusca de estofamento preto, paramos ao lado do nosso, trancamos bonitinho o fusca roubado, entramos no nosso e em profundo silêncio voltamos para casa. Quem não fez desta?
Minha memória mostra o buraco negro, aquele para onde tudo é sugado e desaparece, com nomes das pessoas, ou seus rostos. Das bicicletas me lembro. Cachorros também, de vez em quando. Nomes? Como assim. Não! Mas como nunca consegui lembrar nomes criei uma técnica quase perfeita para contornar a situação. A única coisa que não pode acontecer é a pessoa perguntar se eu me lembro o nome dela, aí lascou!
Eu tive uma memória invejável para mapas e caminhos, mas deprimente para nomes de ruas, avenidas e localidades.
Quando trabalhava com projetos urbanos o pessoal sabia que o trabalho só funcionaria com mapa extendido na mesa. "O que se faz no bairro X?", e eu ficava com cara de completo idiota. Mapa estendido na mesa e eu era capaz de descrever o que tinha em cada esquina do dito bairro, não raro com detalhes. Isto em boa parte de toda cidade.
Numa das reuniões, 1983, com três cardeias da CET SP, a sala tinha um mapa na parede, como era usual. Fui explicando o que pretendia e dando exemplos do que se teria que fazer em vários pontos da cidade para introduzir a bicicleta como modo de transporte. Um deles não acreditou no que minha memória era tão precisa. Para me testar, foi até o mapa e apontou uma esquina aleatória, e eu respondi descrevendo detalhe por detalhe do local, poste, valeta, local da banca de jornal, placas de sinalização... O segundo achou que eu tinha dado sorte, foi e apontou uma segunda esquina do outro lado do mundo, e de novo descrevi o que fazer em detalhes. O terceiro perguntou se eu tinha memória tudo e respondi "Experimenta" apontando para o mapa de São Paulo.
Repeti o mesmo em várias reuniões, mas não serviu para nada. Um grande amigo um dia me ensinou "Cuidado ao mostrar conhecimento. Pode ser perigoso ou ofensivo para o outro". E foi.
Uma coisa é ser desmemoriado, outra é ter medo de sua própria memória e perder confiança nela, que é o que vem acontecendo comigo, e descobri que não só comigo, mas com um monte de gente. "Chama o Google" é um crime contra a segurança memorial.
Um dia pediram informação de onde era uma rua, no caso a rua onde nasci. Mais, estávamos a um quarteirão dela. Literalmente entrei em pânico e não soube responder.
Estive em Córdoba, Argentina, uma única vez na casa de uma tia avó, isto em 1966. Num jantar, meu pai falou sobre esta casa, eu disse que me lembrava onde ficava. Ele respondeu irritado que não poderia lembrar, já que estivera lá uma única vez com 11 anos de idade. Abri o maps.google e localizei. Meu pai quis me matar.
O que eu fiz ontem? Você vai me forçar a procurar na minha porca memória? Confesso que tenho feito uma revisão do dia antes de dormir, e isto está ajudando a manter a memória fresca.
Quais são as memórias que se perdem e as que ficam. As que ficam são muitos de meus pesados deslizes da vida, aqueles que daria a vida para voltar atrás e desfazer fazendo da maneira correta, sensata. Estas memórias pesadas não saem da minha cabeça, um "aqui se faz, aqui se paga".
Minha infância? Tenho algumas vagas memórias. Outro dia lembrei que quando estavam fazendo uma reforma em casa deixaram uma táboa com um prego solto no quintal. O anjinho foi lá, pisou, e voltou para dentro aos berros usando uma sandália de madeira. O prego perfurou todo meu pé e a tábua ficou grudada. No embalo desta memória também lembrei que um dia na casa do visinho consegui enfiar o único prego de uma parede na nuca e fiquei pendurado para o horror de minha irmã, santa irmã.
Quer mais historinhas do meu passado de anjinho? Eu conto, muitas me lembro, para a infelicidade de minha família.
Memórias inesquecíveis?
Entram no elevador do Guarujá eu, um casal amigo e um senhor com porte de lorde inglês. Meu amigo, também um anjinho, bem mais anjinho do que eu, soltou um peido muito audível e terrivelmente fedido, e automaticamente enfiou um saco de papel na cabeça, enquanto sua mulher ria e dava bronca, eu cai na gargalhada querendo desesperadamente que o elevador parasse para fugir. A cena foi mais hilária porque o lorde inglês da baixada santista continuou lorde inglês como se absolutamente nada estivesse acontecendo.
O mesmo amigo, um anjinho como já disse, ligou para minha casa e pediu para eu ir socorrê-lo porque estava meio chapado, só meio. Ele morava com os avós, era hora do almoço, eles nos chamaram para sentar à mesa. Avô numa cabeceira, avó, santa avó noutra, eu e ele frente a frente. Serviram para ele um belo prato de arroz e feijão, tudo ia bem até que, ainda sem dar uma garfada, o avô comentou algo gosado, meu amigo que uma garagalhada e literalmente desmaiou com a cara enterrada no meio do arroz e feijão. Lembro de todos os detalhes, principalmente porque eu entrei em pânico, que só passou com a reação calmíssima da avó mais que acostumada.
Memória. Que tipo de memória? Recente, passada, memórias úteis, inúteis, com qual delas se tem problema.
Sim, estou preocupado com minha memória. Confesso que não sei se estou ficando desmemoriado ou o stress está agindo para não torrar o resta de consciência.