quarta-feira, 28 de maio de 2025

Mais que um simples desrespeito a Marina Silva, Ministra

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Por que chegamos a este ponto? A resposta passa por pela nossa dificuldade conversar, discutir, ouvir, e saber o momento certo de falar, regra básica na troca de ideias. O desrespeito com Marina Silva foi tratada no Congresso é só mais uma ocorrência trivial no planeta de nossas autoridades, nada demais. Não trocamos ideias, atropelamos o outro com verdades particulares. Temas de extrema importância para o país são discutidos de forma pouco ou nada produtivas, isto quando são discutidas. A prova irrefutável? Brasil, o país do futuro (que nunca vem). Se constrói o futuro agregando, não acuando.
Marina tem o respeito e reconhecimento internacional, o que já bastaria para fazer aqueles senhores (?) ouvi-la com atenção, mesmo que ela estivesse ou esteja errada. Da forma como se levou o encontro fica a pergunta: aqueles senhores sabem sobre o que estão falando? Sim, sabem, porque falam com pleno conhecimento de questões particulares, imediatistas, quem sabe em proveito próprio. "Serei reeleito?"  

O Ministério do Meio Ambiente atrasa o progresso do Brasil, disse um deles. Faltou aos distintos políticos perguntar à Sra. Ministra do Meio Ambiente se a demora na definição da liberação das licensas não se deve à falta de pessoal, estrutura e verbas, e a uma discussão séria sobre o que é economia ambientalmente correta e qual a qualidade de futuro - econômico, se quiserem - que ela trás. Pecuaristas estão descobrindo que o que os mesmos ambientalistas que atrasam o futuro do Brasil estavam certos, e adotando medidas produtivas por eles há muito recomendadas. Se estão tão interessados no futuro do bem estar da população afetada pelas demoras, deveriam se perguntar por que eles mesmos, Congresso e Senado, não colocou em urgência urgentíssima dispositvo para o fortalecimento das várias investigações pendentes no meio ambiente, principalmente a lavagem de dinheiro e saída de bens de forma criminal do país. Brumadinho que o diga.

Está claro que estes Congresso e Senado não têm sérias dificuldades para falar sobre meio ambiente. Pelo que já demonstraram, não lhes interessa destravar o futuro de todos, sem exceção, mas deixar a boiada deles passar. 

O Brasil é mestre em perder janelas de oportunidade. Há momento apropriado para tudo, inclusive para baixarias que sempre devem ser evitadas, mas infelizmente acontecem. Tratar alguém muito respeitado mundo afora de forma que este venha a se levantar e sair de uma reunião oficial que está divulgada por todas as mídias, aos quatro ventos, é dar mais uma prova que as autoridades brasileiras são imaturas, imprevisíveis, pouco polidas, o que, isto sim, sem nenhuma dúvida, atrapalha uma barbaridade o Brasil. Não só faltou sensibilidade, faltou inteligência, o que infelizmente também é fato corriqueiro. Não coloco aqui se foi ele ou ela, o que só piora a baixaria, mas o estrago sem tamanho para a imagem, comercial inclusive, de um país que já está vergonhosamente enrascado com a COP 30. 

Em entrevista para o Estadão, Kenneth Medlock, coloca que, por exemplo, a exploração de petróleo na faixa equatorial poderia financiar o frear da extração de madeira e o garimpo ilegais. "Poderia", mas no Brasil real terá alguma chance de ir? Quem se interessa de fato pelo meio ambiente. Interessante, a cada dia quem vem se interessando nos resultados ambientais é o agrobusines. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

PPP para o Parque Dom Pedro

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

Faço meus mais sinceros votos que saia a PPP do Parque Dom Pedro II. Dizer que está degradado é de uma gentileza sínica. A deprimente transformação que aquela área sofreu por décadas deixa claríssimo a total falta de respeito e completa ignorância com que São Paulo vem sendo impiedosamente tratada.

Cito em particular Paulo Salim Maluf, seus assessores e apoiadores, inclusive os dentro da população, que bateram e seguem batendo palmas para o absurdo tamponamento do Rio Tamanduateí e a implantação do Expresso Tiradentes da forma que se fez, o que ajudou e muito a degradar não só a aérea do parque. 

O uso de espaços públicos, áreas verdes, e praças para resolver problemas diversos atenta contra a qualidade urbana, o que parece que só agora começa a ser percebido pela população, isto com bem mais de um século de atraso em relação as grandes cidades do mundo. Urge retomar o bem publico que é de todos ou nunca, repito, nunca alcançaremos a qualidade de vida mínima desejada, incluindo aí para os mais necessitados.


Resta saber a quem interessa a degradação existente.



domingo, 25 de maio de 2025

Dor pela perda de uma adolescente

Que merda! Sem saber quem são os pais, meu mais profundo pesar. Perder uma filha nesta idade é uma porrada, a bem da verdade um conto de terror

Que merda de dor! Não conheci a menina, ou talvez a tenha visto alguma vez. Ainda não sei quem é. A notícia chegou como uma pedrada no olho. Quando adolescente perdi alguns amigos. Na época não foi tão pesado. Hoje, como avô, a simples hipótese virou um conto de terror. Depois que dois amigos, M e J, perderam os seus filhos, a escala de sentimentos desapareceram sobre as mais altas nuvens, lá nos céus.

A família de minha filha morou dois anos em Roma, morando a uns 700 metros da Estação Termine de trens, redondezas normalmente mais problemáticas em qualquer cidade. Total segurança, zero perigo. Paz, tranquilidade.

Não sei como aceitamos o que aceitamos por aqui. Amanhã ou depois saberei a causa morte da menina. Qualquer que tenha sido, não é normal que pais enterrem seus filhos. Agora, nesta minha dor, não tenho como pedir desculpas pela tragédia diária de tantas mães, pais e familiares das periferias.

A família, meu profundo e sincero pesar

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Mudar nomes de logradouros é um desrespeito à história

SP Reclama
Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

A História é a história do vencedor ou é a história? Sim, a história contada sempre tem um viés do vencedor, mas a verdade verdadeira só vem quando não se apaga a força nomes e fatos dos derrotados.

Av. Robert Kennedy virar av. Atlântica? Costa e Silva virar João Goulart? Resolve? Definitivamente não, tanto pelos usos e costumes da população quanto e principalmente porque se sai de uma história mal contada para outra história mal contada, ao gosto de quem pode. Aliás, a verdadeira história não interessa a ninguém. Se for contada como deve ser e foi, é muito provável que não sirva a causa e os interesses de ocasião.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Comentário sobre Opinião de Lusa Silvestre a respeito do Pacaembu

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 



Não sei qual a relação do Lusa com o Estadio e Conjunto Esportivo Pacaembu, mas sei qual foi a minha e de minha família. Meu avô , Fernando de Azevedo, comprou a casa modelo da City Pacaembu, rua Bragança 53, no lançamentos do loteamento. Sim, de fato, havia uma bica de água onde minha mãe ainda criança ia pegar água. Desde que comecei a nadar no Pacaembu, em 1974, a cabeça de leão encrustada numa pedra que um dia fez parte da bica estava seca e jogada num canto. O corrego que passa por baixo foi problema que tentou se resolver não é de hoje. Espero que finalmente sido resolvido. Só não frequentei o Pacaembu em 1986, quando morei fora. Ele faz parte de minha vida. E ano após ano vi aquilo tudo se desfazer, cair aos pedaços, literalmente. Fiz parte de restrito grupo de frequentadores que colocou dinheiro e mãos a obra para manter a área esportiva aberta. Tive a sorte de jogar futebol no estádio e a infelicidade de vê-lo cada dia mais cheio de problemas. Campo, arquibancadas, banheiros, tudo do estádio estava muito deteriorado. Tobogam? Primeiro, foi construído com a distribuição da concha acústica, o que foi um crime contra o projeto original, e porque não dizer, contra a população. Para os torcedores? Assisti jogos de lá e não era exatamente legal. Gostava dali quem acha ruim normal, aceitável. Quem fala a favor do tobogam desconhece sua história, as críticas pesadas que recebeu ao ser construído e, pior, o aborto da engenharia que ficava atrás, sob a arquibancada. O hotel que está em seu lugar é uma solução inteligente, acompanha o que de melhor e mais inteligente que se faz mundo afora. O Pacaembu que foi deixado para trás, pelo que ouvi em tempos passados de Secretários Lazer e Esporte do Município e de diretores do Pacaembu, aliás publicado na imprensa, aquele importante, custava R$500 mil por mês só para não deteriorar mais ainda, isto para um número de usuários muito aquém do potencial. Fora outros problemas que prefiro esquecer. Ah! roubos e assaltos, definitivamente não são novidade, lá e em toda cidade. Toda esta falácia vem de quem não frequentou muito, todo ano, todas estações, por mais de 40 anos, acompanhando quase dia a dia o drama que este patrimônio histórico, cultural e principalmente público, querido Pacaembu, passou. Realmente espero que este novo projeto de certo, porque o que vi é vivi foi deprimente, reflexo de um Brasil tacanho, que não consegue entender o futuro. Aliás , Lusa, nosso futebol que o diga.

Poly

"Minha mãe morreu." A mensagem foi curta e sabendo de quem veio, profundamente dolorida.
Eu perdi as pernas. Senti uma exaustão, um vazio, duro.
Foram poucas as vezes que sentei com Poly e conversamos com tempo e calma, mas a recordação é farta, rica, muito agradável, fluente. Me sinto culpado por não ter repetido sempre.
Vá em paz, Poly.

Não consigo mais contar quantos amigos e familiares que morreram. Posso brincar que vivenciei morte por baciada. Alguns foram uma perda, no sentido mais bruto. Em poucas situações me desestabilizei, resultado do volume de perdas, enfim, da prática.
Demorei para dormir pensando porque com alguns, em específico, desmoronei. Foi o caso. Preciso chafurdar nos meus pesares para tentar encontrar uma resposta. E chafurdar é a palavra correta.

Beijo Poly. Obrigado.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Falha de memoria ou o quê?

Cara, isto aqui pode dar um texto bem divertido, isto se eu não esquecer o que tenho que escrever. 

Falha de memoria, demencia ou o quê? O que eu tenho? Melhor, o que sempre tive? Um artigo do Estadão fala exatamente sobre este drama que atinge montanhas de idosos, e alguns tantos outros também. Eu mais que incluído.

Momentos de esquecimento ou sinais de alerta?

Pode ser difícil avaliar quando os problemas de memória exigem atenção médica. No entanto, você provavelmente deve consultar um médico se apresentar qualquer um dos seguintes sintomas:
  1. Episódios frequentes de esquecimento, como não lembrar de uma conversa recente ou perder compromissos;
  2. Dificuldade frequente em reter novas informações, como um número de telefone ou endereço;
  3. Erros no pagamento de contas ou na administração de medicamentos;
  4. Dificuldade em encontrar o carro estacionado, problemas para se localizar em áreas familiares ou pequenos acidentes de carro.
As recomendações deste artigo não me atingem. Esqueço delas com facilidade. 

Itém 1: não lembrar de conversa recente... Não me lembro o que estou conversando no meio da conversa, o que dizer sobre conversas passadas, recentes? Para os que são novinhos - ainda - aviso: quando chegarem a terceira idade, a melhor idade ou a porra que seja, vão engastalhar o pensamento no meio da fala, vai dar um branco total, o outro vai entender, e os dois vão rir muito - isto se os dois forem da porra que seja, leia-se velhos.

Itém 2: dificuldade frequente de reter novas informações... Se algum dos meus professores estiver vivo pergunte a eles que maravilha de aluno eu fui. Faça cara de paçoca caso algum deles desandar a chorar, que não se saberá se de riso ou raiva, e não se saberá porque estão todos mortos. Minha mãe ficava desesperada com minha falta de atenção. "Meu filho compra uma dúzia de ovos..." e voltei com uma dúzia de laranjas, laranjas de verdade, rindo que era um absurdo ela ter pedido uma dúzia de óvos. Quem não fez uma destas?

Itens 3 e 4 não são para mim, a não ser quando me perco na maldita digitação do código de barras. Não ria, aposto que você também colocou o leitor de código de barras uma vez, duas, três, e vá para a...
Remédios? Não tomo, e quanto tenho que tomar sou meio religioso. Óbvio que aos domingos lembrei do remédio quando o padre me deu a hóstia. 
Em que garagem deixei o carro? Opa! Como vou lembrar se sequer olhei em que garagem entrei?
Quando era adolescente, e isto faz muito tempo, fui com minha mãe para o supermercado com nosso Fusca 1200 branco. Saímos do supermercado, entramos no fusca branco, chegamos em casa, e quando estávamos tirando as compras minha mãe perguntou rindo se o estofamento de nosso fusca não era branco. Voltamos ao estacionamento do supermercado com o fusca de estofamento preto, paramos ao lado do nosso, trancamos bonitinho o fusca roubado, entramos no nosso e em profundo silêncio voltamos para casa. Quem não fez desta?

Minha memória mostra o buraco negro, aquele para onde tudo é sugado e desaparece, com nomes das pessoas, ou seus rostos. Das bicicletas me lembro. Cachorros também, de vez em quando. Nomes? Como assim. Não! Mas como nunca consegui lembrar nomes criei uma técnica quase perfeita para contornar a situação. A única coisa que não pode acontecer é a pessoa perguntar se eu me lembro o nome dela, aí lascou!

Eu tive uma memória invejável para mapas e caminhos, mas deprimente para nomes de ruas, avenidas e localidades. 
Quando trabalhava com projetos urbanos o pessoal sabia que o trabalho só funcionaria com mapa extendido na mesa. "O que se faz no bairro X?", e eu ficava com cara de completo idiota. Mapa estendido na mesa e eu era capaz de descrever o que tinha em cada esquina do dito bairro, não raro com detalhes. Isto em boa parte de toda cidade.
Numa das reuniões, 1983, com três cardeias da CET SP, a sala tinha um mapa na parede, como era usual. Fui explicando o que pretendia e dando exemplos do que se teria que fazer em vários pontos da cidade para introduzir a bicicleta como modo de transporte. Um deles não acreditou no que minha memória era tão precisa. Para me testar, foi até o mapa e apontou uma esquina aleatória, e eu respondi descrevendo detalhe por detalhe do local, poste, valeta, local da banca de jornal, placas de sinalização... O segundo achou que eu tinha dado sorte, foi e apontou uma segunda esquina do outro lado do mundo, e de novo descrevi o que fazer em detalhes. O terceiro perguntou se eu tinha memória tudo e respondi "Experimenta" apontando para o mapa de São Paulo.  
Repeti o mesmo em várias reuniões, mas não serviu para nada. Um grande amigo um dia me ensinou "Cuidado ao mostrar conhecimento. Pode ser perigoso ou ofensivo para o outro". E foi.

Uma coisa é ser desmemoriado, outra é ter medo de sua própria memória e perder confiança nela, que é o que vem acontecendo comigo, e descobri que não só comigo, mas com um monte de gente. "Chama o Google" é um crime contra a segurança memorial. 
Um dia pediram informação de onde era uma rua, no caso a rua onde nasci. Mais, estávamos a um quarteirão dela. Literalmente entrei em pânico e não soube responder.

Estive em Córdoba, Argentina, uma única vez na casa de uma tia avó, isto em 1966. Num jantar, meu pai falou sobre esta casa, eu disse que me lembrava onde ficava. Ele respondeu irritado que não poderia lembrar, já que estivera lá uma única vez com 11 anos de idade. Abri o maps.google e localizei. Meu pai quis me matar.

O que eu fiz ontem? Você vai me forçar a procurar na minha porca memória? Confesso que tenho feito uma revisão do dia antes de dormir, e isto está ajudando a manter a memória fresca.

Quais são as memórias que se perdem e as que ficam. As que ficam são muitos de meus pesados deslizes da vida, aqueles que daria a vida para voltar atrás e desfazer fazendo da maneira correta, sensata. Estas memórias pesadas não saem da minha cabeça, um "aqui se faz, aqui se paga". 

Minha infância? Tenho algumas vagas memórias. Outro dia lembrei que quando estavam fazendo uma reforma em casa deixaram uma táboa com um prego solto no quintal. O anjinho foi lá, pisou, e voltou para dentro aos berros usando uma sandália de madeira. O prego perfurou todo meu pé e a tábua ficou grudada. No embalo desta memória também lembrei que um dia na casa do visinho consegui enfiar o único prego de uma parede na nuca e fiquei pendurado para o horror de minha irmã, santa irmã.
Quer mais historinhas do meu passado de anjinho? Eu conto, muitas me lembro, para a infelicidade de minha família. 

Memórias inesquecíveis? 
Entram no elevador do Guarujá eu, um casal amigo e um senhor com porte de lorde inglês. Meu amigo, também um anjinho, bem mais anjinho do que eu, soltou um peido muito audível e terrivelmente fedido, e automaticamente enfiou um saco de papel na cabeça, enquanto sua mulher ria e dava bronca, eu cai na gargalhada querendo desesperadamente que o elevador parasse para fugir. A cena foi mais hilária porque o lorde inglês da baixada santista continuou lorde inglês como se absolutamente nada estivesse acontecendo.
  
O mesmo amigo, um anjinho como já disse, ligou para minha casa e pediu para eu ir socorrê-lo porque estava meio chapado, só meio. Ele morava com os avós, era hora do almoço, eles nos chamaram para sentar à mesa. Avô numa cabeceira, avó, santa avó noutra, eu e ele frente a frente. Serviram para ele um belo prato de arroz e feijão, tudo ia bem até que, ainda sem dar uma garfada, o avô comentou algo gosado, meu amigo que uma garagalhada e literalmente desmaiou com a cara enterrada no meio do arroz e feijão. Lembro de todos os detalhes, principalmente porque eu entrei em pânico, que só passou com a reação calmíssima da avó mais que acostumada. 

Memória. Que tipo de memória? Recente, passada, memórias úteis, inúteis, com qual delas se tem problema. 
Sim, estou preocupado com minha memória. Confesso que não sei se estou ficando desmemoriado ou o stress está agindo para não torrar o resta de consciência. 

Carros oficiais pretos, símbolo de poder e irregularidades que venceu

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Carros pretos se tornaram um dos símbolos marcantes das mazelas da ditadura, com seu poder desmedido, autoritário, "sabe com quem está falando?", corrupção deslavada, muita mediocridade, etc... Enfim, falo de seus motoristas, os donos de uma burocracia infernal, que, sejamos justos e coerentes, são fruto muito anterior à ditadura, mas que sob seu manto se fortalecem. Quem viveu aquela época deve lembrar que terminada a ditadura com a volta da democracia, o carro na cor preta, com toda sua pesada simbologia, de veículo oficial passou imediatamente a objeto de desejo, símbolo de status entre os simples mortais. Significativo? A maioria dos carros de então, principalmente os populares, eram coloridos, algumas cores fortes, chamativas, próximas as da nossa natureza, de um Brasil de esperanças no futuro, mas o "sabe com quem está falando" dos carros pretos com toda sua nefasta simbologia democratizou-se. Coincidência? Nós, brasileiros, aceitamos, silenciamos e, porque não dizer, incorporamos com toda naturalidade mazelas inaceitáveis até piores que de tempos autoritários. Como explicar a barbárie generalizada que estamos vivendo, agora generalizada, muito além dos que circulavam em carros pretos como portentosos livres no meio do trânsito, no meio de todos nós. Não resta dúvida, este e outros símbolos tempos passados, pesados, com tantas más lembranças e prejuízos para o país, venceram. 

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Bicicletas elétricas e a escala humana

SP Reclama
Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

As bicicletas mal entraram em nossas vidas urbanas brasileiras de classe média e já vieram as ditas "bicicletas elétricas". "É a mesma coisa", vão dizer. Não é. "É mobilidade ativa, melhor que usar automóvel. É ambientalmente correta." Será? Mobilidade ativa não é exatamente, porque em boa parte delas não é necessário pedalar. Algumas são pequenas scooters. Ambientalmente corretas só se saberá em alguns anos. Suas baterias têm vida útil limitada. Para onde vão as baterias velhas? Recondicioná-las não é nada barato, fora o custo diário de recarga. Mas tem um ponto que pouco se fala: o impacto na escala humana. Bicicletas estão sendo estimuladas em todo mundo porque auxiliam na recuperação da escala humana dos transportes, portanto na qualidade de vida das cidades. A razão é simples de entender: a velocidade média de um automóvel em área urbana, origem / destino, gira em torno ou abaixo de 25 km/h. Um pedestre caminha numa média de 4km/h. A velocidade média de um ciclista comum é de 15 km/h, ou seja, mais ou menos entre o pedestre e o automóvel. Por ter uma diferença de velocidade para o automóvel menor que a que o pedestre tem, as bicicletas foram e são usadas para diminuir os perigos de quem caminha e dos com necessidade especiais nas mobilidades, o que inclui idosos, crianças pequenas, mães com bebes, cadeirantes e outros. Está mais que provado, bicicleta é eficiente, acalma as ruas, faz diferença - bem entendido, quando o sistema cicloviário é bem implantado - no recuperar a qualidade de vida de todos cidadãos, indiferente do modo de transporte usado. Esta é uma das muitas qualidades de escala humana que a bicicleta nos oferece, incluindo uma velocidade compatível com o olhar, sentir, ouvir, perceber a cidade, melhor conviver com o meio ambiente e outros cidadãos, melhora na saúde individual e pública, etc... 
Bicicletas elétricas têm sua velocidade máxima limitada a 25 km/h. É o que manda a lei, mas não é difícil burlar. Como qualquer veículo propulsionado a motor elétrico, bicicletas têm uma aceleração muito forte, alcançando a velocidade máxima rapidamente, uma grande diferença para o acelerar e manter a velocidade em escala humana de uma bicicleta convencional. Em outras palavras, bicicletas elétricas se deslocam quase ou como um automóvel.
Os sistemas cicloviários implantados foram dimensionados para ciclistas normais, os que pedalam no arroz e feijão. Ciclistas usuários de bicicletas elétricas usam as ciclovias e ciclofaixas em velocidade e principalmente com atitude que pode ser comparada a de motoristas e motociclistas, o que tem sido um desagradável problema para ciclistas comuns. Não sei qual é o índice de ocorrência entre os elétricos e pedestres, mas pela rapidez e silêncio na aproximação, e pelos conflitos com ciclistas normais, não acharia difícil que os atropelamentos tenham aumentado. 
A definição do que deve ser escala humana vem mudando, mas nunca deixará de ter como base a biologia humana e não a dita "eficiência" de algo. Eu arrisco a dizer que "bicicletas elétricas" já começaram a deixar de ser bicicletas para passar para a categoria dos 'auto-moveis'. De qualquer forma, a escala humana deste novo meio de mobilidade já se perdeu. Não percebe quem não quer. 

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Acidente na porta do vagão do metrô: como evitar

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo 

Quantos passageiros por acidente fatal? Qual a causa real do acidente fatal? Quais as circunstâncias/ fatos / elementos causa da ocorrência? Etc... Quantas perguntas mais devem ser respondidas antes de se chegar ao que realmente aconteceu? Muitas, muitas mesmo.

Aviação é o modo de transporte mais seguro porque investiga sem apontar responsáveis ou causas. Interessa a verdade para que se evite que se repita. Esta técnica de investigação foi criada pelo sistema ferroviário a partir do século XIX. Desde então, trens têm índices de acidente / passageiro baixíssimo.

Brasil tem um dos piores índices de ocorrência no trânsito do planeta, provavelmente o pior entre países ricos. Uma das razões é a falta de investigação adequada, melhor, minimamente adequada, e divulgação de achismos que acabam distorcendo a realidade para o grande público, que é o que e quem realmente interessa.

A cada mensagem errada mais de 80 recebem, entendem e acreditam. Mensagens corretas fazem o efeito desejado em menos de 5 pessoas.

Quem já trabalhou com segurança, qualquer que seja, sabe que "eu acho", o achismo, literalmente mata.

Sinto pela perda deste jovem e promissor pai de família, mas antes de falar e apontar culpados urge saber o que realmente aconteceu para só então definir em que sentido trabalhar para que não volte acontecer. O que a princípio parece lógico e solução nem sempre o é.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Papa Francisco. Melhor, Francisco, além da igreja e de seu futuro

Bergoglio, Papa Francisco. Agora Francisco. Foi diferente, teve coragem, falou e se posicionou muito pensando em e como Cristo, e menos como igreja. Disse algo como "tirar Cristo das igrejas e levar para as ruas, não manter Cristo trancado", em outras palavras, derrubar os dogmas da própria igreja. Como leigo nas questões religiosas eu diria "expulsar os vendilhões do templo". Não foi pouco.

O posicionamento de Francisco vai muito, mas muito além da religião ou de uma igreja, esta foi sua diferença, e que diferença!
Neste momento absurdo que vive o planeta, a perda deste Francisco é imensa. Vá em paz. Muito obrigado. E agradeço como gente, simplesmente gente.

A baderna que vivemos vem sendo estampada faz muito em todas as partes e pode bem ser definida na patética, inacreditável, foto de Trump vestido como papa, que fica mais absurda ainda, quando se sabe ter sido divulgada pela própria Casa Branca. Simples falta de respeito? Uma brincadeira de mal gosto? No caso não é mau, mas mal mesmo. Nada mais que um reflexo amplo de nossos dias. 
Penso que vivemos o fim de uma "neo belle epoque", um desvario total, com a diferença que o planeta está no limite e praticamente não temos mais espaço para recuperação, se é que temos qualquer.

A história mostra que o que conseguimos construir deve-se muito ao que aprendemos, e aprendemos ao usar rituais sociais apropriados para uma boa conversa, as ditas formalidades que são preciosíssimas e a cada dia são menos respeitadas. Religiões tem muito a ver com organização social, isto se não for só e simplesmente um código de conduta social, mas esta é outra história. E nada a ver com pensamento de direita, retrogrado, ou o que seja. O politicamente correto, que até onde sei é o fruto mais doce da atual esquerda ativa, não deixa de ser uma tentativa, para mim mal feita, dos rituais sociais, até com um forte viés que se pode dizer religioso, bem carola.

Muitos de nossos erros, de nossos desastres, ocorreram e seguem ocorrendo porque ritos e formalidades foram e continuam sendo usados para disfarçar ou esconder erros, malandragens, roubos e todo tipo de sacanagem, inclusive as inaceitáveis perceptíveis ou não. Não falo só da igreja, mas de tudo e toda a forma de agir da sociedade. Por que não incluir aí as praticas "politicamente corretas". Francisco, o Bergoglio, o Papa Francisco, não só gostava, como respeitava e usava a piada, o bom humor, em outras palavras, a comunicação inteligente, uma forma de chutar o pau da barraca de ritos e formalidades dogmáticos, ou politicamente corretos.

O pontificado de Papa Francisco apresentou uma saída, uma porta aberta para uma possível mudança social, porque mexeu para valer com códigos da igreja católica, derrubando muitos que estavam seguros. De novo, não falo sobre religião, mas sobre perspectiva social e, usando as palavras do próprio, "independente de credo ou religião". Lembre-se que o Vaticano tem um poder geo político que vai muito além do que é a igreja ou o Cristianismo.

Ninguém sabe o que vai dar a eleição do novo papa. Outro Papa Francisco é impossível, mas que não se dê um passo atrás no progresso que ele trouxe. Não é uma questão de religiosidade, nem de fé, nem de crença, mas consciência que no caos que vivemos não se pode perder mais uma peça neste tabuleiro alucinado do xadres.

Barbárie como regra social aceitada

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

O vigilante é atropelado, fica estendido gravemente ferido no chão, o motorista foge, aí, para completar a barbárie, vem um e o assalta, tira tudo que o vigilante moribundo tem? Prestam socorro horas depois, o que leva ao óbito. É inegável que este é o Brasil e não é de hoje. É o Brasil, inegável.

Em 1994 um caminhão de cerveja capotou na altura de Queluz. Em vez de socorrer o motorista, boa parte dos motoristas pararam para saquear a carga.

Histórias como esta se repetem com uma normalidade impressionante. Inaceitável em qualquer parte do planeta.

Enfiar o "berro" na cabeça e apertar o gatilho antes de anunciar o assalto é trivial. Mais um, adolescente agora se foi nesta "brincadeira".

Repito sempre: culpar as autoridades é negar a responsabilidade nossa de cada dia, e no final das contas a responsabilidade final é nossa, desta verdade não se pode fugir.