Em 17 de dezembro de 2023 fez 50 anos que eu e Tina iniciamos um namoro que teve muitos momentos maravilhosos e acabou de uma maneira que hoje me arrependo e muito, muito mais que possa imaginar.
Fui convidado para uma festinha e no meio de uma meninada para lá de interessante, para lá de interessante mesmo, passou Tina, exótica, diferente, senhora de si, uma beleza quase única. Bomba! Antes e depois. Minha vida mudou.
Quem era eu? Prefiro não comentar! Ok, deixo de besteira, definitivamente não exatamente um adolescente comum, para dizer o mínimo. Outsider, hoje definiria.
Quem era Tina? Definitivamente não era qualquer menina de sua geração e nível social. Com um belo corpo, exótico, sensual, de trejeitos especiais, como o andar, firme, decisivo, sorriso contagioso, mãos de uma delicadeza única, e uma forma de ver a vida leve, muito alegre, socialmente ajustada, positiva, cheia de amigas, pessoas por perto sempre, família ajustada, leve agradável. Palavra de alguém muito apaixonado? Não!
Alucinei com a vida que ela transbordava. Foi um norte seguro a seguir para quem estava um tanto perdido e via a vida por um viés um tanto negativo. Lutei muito por ela, durante anos. E consegui. Insistência pode ser um erro, e neste caso foi o maior erro de minha vida, e para ela também.
Primeiro passo, conseguir ficar junto, tê-la ao lado. Segundo passo prendê-la ao relacionamento. Não, não foram ações premeditadas, mas uma sequência de resultantes de uma luta desesperada para não perdê-la.
Luta burra, erro estúpido, a tragédia que se seguiu carimbou, melhor, tatuou o erro.
Dez anos lutando, momentos bons, principalmente na cama, ah! a cama! o carro, o sofá, o corredor..., onde fosse.
Veio a separação. E veio a volta, ah! a volta, terreno minado onde a maioria se explode, inclusive eu, é lógico.
E da volta veio o casamento. Ah! o casamento! Bem que a família dela tentou evitar, e sinto que não tenha conseguido. Foram conversas amistosas, gente boa, equilibrada, ponderações sensatas. Quisera ouvisse.
Por alguma razão no altar sinos badalaram alto em minha consciência "freia esta relação aqui", mas a coragem ou sensatez, como sempre, tomam de goleada da paixão que se pretende amor. Ah! a imaturidade!
"Vocês tinham quantos anos? Não eram maduros", ouço ainda e não consigo aceitar.
Recife.
Bem vindos à vida a dois. Três meses e vinte dias depois o basta, separação. Ainda tenho a memória viva da conversa final, ela pedindo que eu não fosse porque estava doente, o que não acreditei. Antes deixar Recife conversei com a família dela lá, gente boa, e voltei para São Paulo.
E, São Paulo, já entre os meus, que não falaram uma palavra, mas me deram apoio, acabei descobrindo o que realmente acontecera. Pelo amor que tinha por Tina, e aqui falo sobre amor, amor de verdade, nunca deveria ter casado. Casado, um erro, foi a melhor coisa ter me separado, principalmente para ela.
Tina era o que chamavam então neuro depressiva, ou coisa semelhante, o que hoje se diz bipolar. Em Recife teve o primeiro surto depressivo, ou o que o valha. Foi rápido, um tanto brutal, e esta é a expressão correta, e eu achei que tinha sido uma situação intempestiva, coisa do momento. Ela me contou em detalhes e o que fiz foi achar que eram águas passadas, sorrir e a convidar para comemorarmos. Concordo que não tinha qualquer conhecimento ou vivência para perceber ou entender a gravidade da situação, mesmo assim...
Eu não era a pessoa ideal para estar ao seu lado, muito longe disto. Ao mesmo tempo carrego o peso de tê-la deixado lá, mesmo que amparada pelos ótimos familiares. De nada serviu ou serve aqui que em São Paulo especialistas terem afirmado com todas letras que teria sido um erro maior ainda ter ficado lá com ela.
Sou estéril, não tivemos filhos. Sorte.
Não consegui continuar escrevendo no dia e ano dos 50 anos, e não consigo continuar agora, quase um ano depois. Há detalhes que preservo aqui, por ela e pela família dela. Ela se foi faz muito. Hoje tenho certeza que não estaríamos juntos.
Voltei a escrever sobre esta história depois que vi um clip de uma atriz com tanta beleza e força vital quanto a de Tina, coisa rara entre os comuns, mas não tão incomum entre bipolares. Hoje sei que esta força, melhor, explosão vital, faz parte da bipolaridade e vejo o clip que me traz a escrever este rezando para que a mágica explosão de vida da atriz seja interpretação, não resultado de processo clínico. Hoje se sabe o que é, a avaliação é quase certeira, ainda não totalmente precisa, mas bem assertiva. O tratamento, bem feito, funciona, mas apaga um pouco da beleza incendiária que só os fora da curva têm.
Obrigado Tina. E não tenho como pedir desculpas. "Éramos jovens" cansei de ouvir. Não me justifico por aí. Nem quero. Aqui se faz, aqui se paga.