quarta-feira, 8 de maio de 2024

Você acha que tem problema? Olhe para o Rio Grande do Sul

Andou quebrando tudo, uma coisa em seguida da outra, quabrando sem parar, um mês, sem parar. Adianta ter um ataque histérico? Resolve? Definitivamente não resolve. Só piora, mas cá estou eu, um histérico controlado espumando pela boca. Chuveiro, dentista, exames pernas, óculos multifocal que arranhou, bicicleta quebrou, geladeira... , um problema atrás do outro e, muito pior, minha conta bancária indo para o espaço.

Um problema atrás do outro? Ataque histérico?

De fato, tive não um mês, mas um mês e meio de um problema atrás do outro. Iniciei o texto um pouco antes das chuvas e o desastre que o Rio Grande do Sul está sofrendo.
Um problema atrás do outro? Ataque histérico? Só posso estar brincando. "Cada um sabe de suas dores". O que? Como assim?

Tenho grande carinho pelo Rio Grande do Sul desde a primeira vez que passei por lá por volta de 1964. Não tenho palavras para dizer como estou me sentindo com as imagens, os depoimentos, as reportagens que não param de chegar sobre a devastação causada pelas enchentes. A bem da verdade, não acho honesto, e não sei se esta é a palavra certa, dizer que tive um problema atrás do outro. Para de reclamar mané!
Olho no espelho e vejo um abençoado. Fico parado em frente a meu reflexo e sinto vergonha, por toda minha vida fui um privilegiado.

Sobre ataque histérico afirmo que cada vez que tenho um, e tive muitos pela vida, sou jogado ao pior dos infernos. Felizmente não tenho a mais remota dúvida que histeria é mais que ridícula, é profundamente improdutiva, quando não destrutiva.

Estou num cruzeiro onde boa parte dos passageiros são brasileiros. Se estão aqui é porque fazem parte da elite do Brasil, ou não teriam a menor condição de pagar por isto.
A conversa de alguns deles está sendo dura de engolir. Começou com uma reclamação sobre a programação do cruzeiro que, segundo eles, "é toda direcionada para os americanos". Traduzindo, nenhum destes brasileiros fala inglês. Detalhe: viajam neste cruzeiros pessoas de 65 naciolidades, isto mesmo, e só uns poucos americanos, mas como todos falam bem ou mal inglês, fora boa parte dos brasileiros, todos são americanos. Dedução brilhante por parte deles que define muito quem realmente são.
A programação em questão é de shows com músicas internacionais bem conhecidas, de grande sucesso, boa parte clássicos americanos, mais rock, pop music, caribenhas e... e... algumas bossas novas cantadas em inglês, que portanto para eles são músicas americanas. Tom Jobim? Sinatra? Quem?
Ontem o navio fez uma brincadeira coletiva apoiada nas músicas do Queen. Diversão geral, muita gente alegre e cantando, grande sucesso... inclusive para brasileiros - que falam inglês. Segundo os reclamões "foi um absurdo! Eles (navio) não colocam música brasileira".

Me fez muito mal quando a conversa girou para a tragédia riograndense. Os comentários foram de uma total falta de noção do que é a vida real e de compaixão. Não pararam de contar fake news, todas desmentidas por todas mídias, inclusive as que apoiam os grupos de direita.
Os governos são culpados por tudo, sempre. Tudo se resolve num passo de mágica, segundo eles, desde que seja sem a intervenção do estado.
Discurso de direita? Sim, mas sem grande diferença para o fanatismo que ouço com frequência de outros lados.

Segundo notícia do Estadão houve uma diminuição de 78% nos gastos Federais com preventivos para desastres naturais... no governo passado, o terraplanista, e continua mais ou menos a mesma coisa neste que vivemos. Sejamos justos, faz décadas que preventivo não é exatamente a especialidade dos governos, todos, mais aqueles ou aqueles outros. A bem dizer, ninguém neste país se interessa muito por estas besteiras de gastar dinheiro com preventivo, começando pelo esgoto nosso de cada dia.

Qualquer cálculo de serviço público é realizado com base numa média, ou seja, para ser gasto dentro da normalidade, com variações que são calculadas em cima da média  para as ocorrências excepcionais. O que está acontecendo no Rio Grande do Sul está completamente fora da curva, em todos sentidos. O governador teve a honradez de sair a público e avisar a população que o serviço e administração pública não teriam condições de atender uma calamidade desta ordem. Em um dos municípios atingidos a população foi avisada por todos meios que o desastre estava chegando e esta continuou sua vida normal até não ter mais tempo para nada.

O babaca com quem eu estava conversando disse que um bom governo mandaria a polícia combater os assaltos, roubos e outras violências armadas que se está registrando em Porto Alegre. Quando perguntei se a prioridade das polícias deveria ser salvar vidas consegui baixar o nível da besteirada.

Rio Grande do Sul é o 4º maior PIB do Brasil. Tem 497 municípios, com a 6ª maior população. Hoje pela manhã divulgaram que 300 municípios foram gravemente afetados. No final da tarde foi divulgado que 417 estão com problemas. Voltou a chover, ventos de até 110 km/h, amanhã despenca da temperatura. Aviso aos navegantes e aos delirantes: quebrou, acabou. Senhoras e senhores, delirantes de plantão, fanáticos de todas matizes: a senhora de olhar perdido sentada à porta do nada que restou de sua casa numa das cidades que simplesmente desapareceram do mapa é a imagem da realidade que se tem que enfrentar. E teremos efeitos colaterais, muitos, começando pelo preço do arroz e feijão, alimentação básica dos brasileiros, que subir imediatamente. Vai sobrar para todo mundo.

Brasil não sai de seus dramas porque as besteiradas ditas por aqueles e aqueles outros são sempre a solução mágica de todos os problemas.

Os gauchos merecem respeito. Besteirada é o que mais desrespeitoso se pode oferecer nesta ou em qualquer hora. Chega!
Fake news? Que nojo!

J. R. Guzzo, em seu texto do Estadão, é muito mais claro e explícito.





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