Foi vendo este programa -
(17) O QUE É O BRASIL? | GUIA POLITICAMENTE INCORRETO | HISTORY - YouTube - que decidi colocar no papel uma angústia que me cerca faz tempo, a bem da verdade cercou quase toda minha vida: Ô medão de ser caga regras! O que dizer; sou, e quem não é? Simples assim? Quisera. Mesmo com esta desculpa escrota, "que medão", sei do tamanho de meu sentimento de vergonha pelo que fui e que hoje luto para não ser, mas como? Não sei.
Tenho posições, acredito em posições, mas onde ultrapasso o limite e dou uma de caga regras? Como saber quem eu sou sendo brasileiro e vivendo no Brasil?
Foi-se um amigo que se por um lado era um tremendo caga regras, por outro, que poucos conheceram, era alguém que corria atrás de informação da melhor qualidade para fundamentar posições que tinha. De qualquer forma, era um conto de terror sair com ele para tomar um café ou comer fora. Quem o servia não podia cometer um deslize, deslize?, ou o coitado ouvia tudo e mais um pouco, posições corretas, mas absolutamente inapropriadas para o momento e o nível de interlocução.
Qual a diferença entre discutir, ter posições, e cagar regras? A diferença é imensa, e infelizmente, como tudo indica, nós brasileiros temos um sério problema em distingui-los.
Incluiria aqui insegurança pessoal, que tem tudo a ver, mas aí complica; deixa como está.
Desta vez, neste texto, não estou falando do mundo externo, mas sobre mim mesmo, sobre as confusões que se abatem, melhor, bombardeiam minha cabeça e consciência. Estas linhas são para mim próprio, uma forma de repensar o que não paro de pensar.
Se a ideia de escrever veio com o ótimo Guia Politicamente Incorreto, mas o texto ficou no rascunho por meses, com o texto do Karnal no Estadão "Criticar o Brasil" tornou-se impossível de não sair.
Vai Karnal:
Nunca me esqueço do primeiro congresso internacional de História do qual participei. Eu era um pós-graduando e, como tal, tinha limites claros para uso da palavra diante dos “grandes”. Ouvíamos, em silêncio religioso, os professores. A pirâmide do poder era alta, e eu ficava na base olhando para cima...
Eu, Arturo:
Faz parte da vida se afirmar socialmente e para isto nos apoiamos nos heróis e ídolos, aqueles que vencem ou venceram neste mundo selvagem onde uns comem e outros são comidos. É um momento da vida caga regras total, um escalar da pirâmide a qualquer custo: eu sou mais eu. (felizmente não gosto de selfie). Enfim, passei por isto, e demorei muito para passar, que é o que me dói.
Vai Karnal:
Qual foi minha surpresa: doutores titulares, respeitados em grandes universidades, faziam suas falas e, logo em seguida, colegas estrangeiros “desciam a lenha” (adoro a expressão brasileira). Era impressionante: “O trabalho tem méritos, sim, mas é completamente equivocado na conclusão”. Não era uma discreta correção ou suave apontamento: era “porrada” da boa! Eu, brasileiro da gema, imaginava que haveria um duelo armado ao final do encontro. Segunda surpresa: o crítico e o alvo eram vistos, tomando café e sorrindo. Uma diferença com nossa tradição era visível.
Eu, Arturo:
Um dia me olhei no espelho e me vi, o que não é nada fácil acontecer. Um outro dia me defrontei com um destes respeitadíssimos semi-deuses que temos aos montes e para todos gostos, uma das referências mundiais em sua área. Eu não só o questionei, como ele não só respondeu, mas caiu de seu pedestal num tombo sem graça. Eu tinha plena razão. Não imaginava que o ego dele fosse tão alto. Voltei para casa peito cheio, consciente que anos de leitura me tinham ancorado em porto seguro e próspero. Com o tempo caiu a ficha que cada macaco no seu galho, que não interessava passar a moto serra na árvore dele, muito pelo contrário, o negócio é cuidar dele. E foi aí que eu felizmente não ganhei, eu ajudei, ajudei no nosso trabalho e principalmente me ajudei.
Não interessa como você encontra um lugar. Interessa como vai deixar para o próximo que vier. Tem que deixar melhor que encontrou. Tirado de um pensamento ou posicionamento japonês.
Estou revendo minha vida. Sou crítico, começando por um pesado auto-crítico, felizmente, e não está sendo nada fácil. Depois da adolescência vem a velhescência? Tem muito cientista que diz que sim, vem. Cá estou. Mas não é só isto.
"A ignorância é uma benção" ou "A ignorância é uma dádiva", ou ainda, por completo e com seu autor, Dante Belfort, "Ignorância é uma dádiva, talvez seja mais saudável viver no mundo das ilusões e futilidades cotidianas, não tendo acesso a reflexões profundas, mas fazer o que, é inerente ao ser caminhar ao desejo, infelizmente eu gosto da realidade, triste, libertadora e odiável realidade pela qual me apaixonei".
Quanto mais sei mais sei que nada sei, a frase original é do filósofo Sócrates: Sei uma coisa: que eu nada sei.
Quando me peguei aqui e agora, no digitar deste texto, já estava escrevendo em tom de crítica. Caga regras? Tomei uma pedrada na cabeça quando assisti o Guia Politicamente Incorreto falando sobre "O que é o Brasil?". Não quero, definitivamente não quero, me dói demais.
O que deixa feliz é que a cada dia duvido mais. Simples assim. Duvida do que? De tudo. E tenho certezas que espero que não se realizem, mas para tanto precisam acontecer coisas que pelo jeito estão mais próximas a um milagre. O que é o Brasil?
Venho de uma família onde a crítica sempre foi muito forte, esteve muito presente. Minha crítica é atávica.
Politicamente correto. Faço esforço para ser correto, e no meio desta barbárie que vivemos 'ser' em si já é dificilíssimo. "Ou você ri da vida ou a vida ira rir de você" e há uma diferença enorme entre ser correto e o falar politicamente correto, que em muitos casos fica nas palavras.
Seu Creysson fez mais por este país, foi muito mais politicamente correto do que inúmeros heróis nacionais. Adoro Seu Creysson e sua Organizações Tabajara. Quero ter este humor, mas em minha crítica eterna se inclui o medo de ser caga regras.
Verdade é que nunca vivi um momento tão confuso em minha vida. Talvez na adolescência, mas com aquela idade a energia e as perspectivas são muito melhores. Agora? Uau! Salva a certeza que não tenho certeza de mais nada, um salto no vazio.
O Estado de São Paulo
As fraquezas do ensino aumentam a barreira à discussão. Somos bons de briga e ruins no debate
Infelizmente o Estadão não oferece a oportunidade para não assinantes ler alguns artigos como acontece em outros jornais do mundo.