domingo, 9 de janeiro de 2022

Terror! um dia inteiro dentro de shopping

Fazia muito que não ficava tanto tempo dentro de um shopping center. A bem da verdade não me lembro de algum dia ter entrado às 10:00 h e saído às 18:00 h. Barbaridade!, que dia mais estranho!

Nestes últimos anos venho me apaixonando cada dia mais pela vida na rua, no vento, sol, chuva, paisagem aberta, noite, frio... Me incomoda não ver o sol, ter sempre a mesma temperatura, estar no meio de gente que parece viver numa espaçonave. 
Ficar longe da vida artificial dos shoppings é algo que está mudando até na vida dos americanos. No país dos shoppings cada dia mais e mais fecham suas portas.

Sei bem o que é um shopping center. Vi a construção do Shopping Iguatemi pela janela de onde morava. Lá tive bons momentos de minha vida. O tempo fez com que todos shoppings, talvez em especial o Iguatemi, crescessem e mudassem de perfil, só não sei se eles formaram novas gerações ou se mudaram por causa da transformação delas; mas fico com a primeira hipótese. 
O Iguatemi por muito tempo foi um centro de compras, serviços e diversão, nada mais. Confesso que não consigo definir no que se transformou, mas posso afirmar que um pouco antes da pandemia voltei ao Shopping Iguatemi sei lá por que e fiquei bastante incomodado com que vi. Não consigo definir porque, mas nada a ver com o centro de compras, serviços e diversão que vivenciei nos idos tempos. 
 
Marquei com Green para gravar vídeos sobre a história da primeira mountain bike que foi trazida para o Brasil por ele em 1985 e a história da Moonbike, aberta no final de 1988, a primeira bicicletaria com altíssimo padrão de oficina, praticamente o mesmo usado na manutenção de aviões comerciais. Não consegui gravar no bar fora do shopping porque sempre era interrompido por algum pedinte. Depois do segundo lanche que paguei para ver se tinha silêncio desisti e fomos para dentro do Shopping Ibirapuera.

Nos levantamos do bar que fica numa esquina dos fundos do shopping, caminhamos até a porta da garagem e é óbvio que fomos informados que o único bicicletário só tem acesso pela frente do shopping. Burrice da administração; boa parte da rentabilidade dos shoppings é alavancada pela praça de alimentação ou na compra de pequenos volumes, em outras palavras, ciclista é público-alvo ou pela lógica deveria ser, mas vai lá saber.
A bicicleta só pode ficar no bicicletário se seu dono assinar um termo de responsabilidade; em outras palavras, o que acontecer no bicicletário é única e exclusiva responsabilidade do próprio ciclista. "Assina aí e tira o meu da reta" é a regra do jogo. Enfim bicicleta estacionada.

Shopping ainda vazio escolhemos uma mesa bem iluminada, sentamo-nos e no segundo seguinte vem o barulho chato de uma carrinho elétrico 'pilotado' por um pentelhinho seguido de perto pelo pai que não desgruda da telinha do celular. Shopping vazio, olho em volta e vejo uma mesa longe o suficiente do barulho do motor (que mesmo assim aparece no vídeo), mas próxima ao barulho de um liquidificador. Que seja, boa luz, lá ficamos. Vez ou outra o maldito barulho do liquidificador voltava a vida, mas a gravação foi realizada, melhor, as gravações, muito mais longas que eu desejava, mas bem interessantes.

Terminada as entrevistas Green diz "Vou almoçar aqui com uma amiga e suas filhas. Quer ir conosco?" e lá fomos. Meio-dia e meia e por pura sorte conseguimos uma mesa no restaurante ao fundo de uma praça de alimentação muito ruidosa já praticamente lotada.
A conversa foi boa, o almoço longo, nos despedimos com forte abraço. Quando chego para pegar a bicicleta está chovendo. Olho o céu e vejo que não demora muito a chuva passar. Volto para dentro do shopping e fico assustado com a agitação do povo. Tomo um gelato na Bacio de Latti, espero um pouco, pego a bicicleta e saio com uma garoa fina. Uau! finalmente para casa. Meio do caminho me lembro que tenho que pegar meus óculos no Shopping Eldorado. 

Passo pela frente do Shopping Iguatemi cheio de lembranças de um passado leve e divertido. O shopping não era o centro do universo como para muito hoje é. Talvez isto que me incomode tanto. Iguatemi pode ser tomado como um símbolo de isolamento social dos ricos e famosos, seja lá o que isto signifique. O velho Iguatemi era muito menor, de todas as partes entrava luz do dia, a ventilação era natural. Em outras palavras, era um centro comercial até integrado a vida externa. 

Entro no Shopping Eldorado, estaciono fácil a bicicleta, subo para a ótica, demoram para terminar o atendimento do casal. Sento, sou atendido, confirmam a troca por defeito, tudo muito rápido. Saio da ótica, olho pela imensa janela e a chuva apertou novamente. Saco! Desço, compro mantimentos no supermercado, olho a chuva veio forte com vento, não dá para sair nem de capa. Me resta sentar e pedir um café e ficar olhando o zoológico passar. Público completamente diferente em cada shopping, talvez deste, gente mais simples e sem tanta procura por status, me deixe mais confortável, mas é shopping.
A chuva pesada não passa. Cansado e querendo muito minha casinha me dou conta que já está começando a anoitecer. "Como?" Pergunto as horas e tomo um susto; 17:54 h. Dane-se, chego em casa ensopado e vou para o banho. Pura sorte a para chuva exatamente até eu entrar em casa. Estou exausto. Tomo banho, abro a cama, até pego um livro, mas não consigo ler, o coloco sobre a barriga e fico pensando no longo dia estranho que tive. Shopping de novo quando? Fico feliz quando me dou conta que o conserto dos óculos só vai ficar pronto dentro de uns 10 dias.

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